AnaMaria
Busca
Facebook AnaMariaTwitter AnaMariaInstagram AnaMariaYoutube AnaMariaTiktok AnaMariaSpotify AnaMaria

“Ai, mas que barulho irritante!”

Não é frescura: quem sente aversão a determinados sons pode sofrer de misofonia, síndrome pouco conhecida e que prejudica muito a rotina da vítima

Ana Bardella Publicado em 28/08/2018, às 14h00 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h46

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
“Ai, mas que barulho irritante!” - iStock
“Ai, mas que barulho irritante!” - iStock

Mascar chiclete, tossir, pigarrear, respirar de maneira pesada, tamborilar, digitar, abrir um papel de bala, andar de salto alto... Sons tão comuns, presentes no nosso cotidiano, podem se transformar em uma verdadeira tortura para algumas pessoas. Chamada de  misofonia, a síndrome foi reconhecida há poucos anos e ainda está sendo estudada pelos médicos – mas atrapalha bastante a rotina de quem sofre com ela, uma vez que provoca irritação, problemas ao se relacionar e tira até a concentração! Tanit Ganz Sanches, otorrinolaringologista e fundadora do Instituto Ganz Sanchez, explica mais sobre o assunto e ensina de que maneira os sintomas podem ser amenizados.

O que provoca tanto incômodo?
A misofonia ou síndrome da sensibilidade seletiva a sons é uma aversão a barulhos específicos, de volume baixo e repetitivos. Em geral, os sintomas começam a aparecer já na infância ou mesmo na adolescência – e desde essa época ela pode ser malcompreendida. Isso porque, como muitos pais ou colegas não entendem o motivo da irritação constante da criança, ela pode ser rotulada como antissocial ou ranzinza. Porém, na verdade, ela apenas está com problemas para se adaptar ao ambiente sonoro.

Reações desproporcionais 
A misofonia provoca reações negativas, tais como raiva, ódio e nojo. Tudo isso se dá de maneira forte, rápida, desproporcional e difícil de controlar. A pessoa pode se irritar, por exemplo, com um estalar de lábios, assovio, assoar de nariz, ronco, com o uso de talheres, arrastar de chinelos ou o som de alguém mexendo em chaves. Até latidos e miados também despertam esses sentimentos. Por causa disso, uma das tendências de quem sofre com a síndrome é se isolar.

O que a ciência descobriu 
Faz poucos anos que o problema foi reconhecido pela comunidade médica. Logo, ainda está sendo estudado. Até o momento sabe-se que todos os sons aos quais submetemos os nossos ouvidos são conduzidos até o cérebro para serem analisados e compreendidos. E, no caso da misofonia, duas áreas cerebrais são mais ativadas durante a passagem desses barulhos: o sistema límbico (centro das emoções, que fica entre o meio e a lateral do cérebro) e o córtex pré-frontal (centro da atenção), localizado na parte frontal do órgão. Por isso, entre os efeitos imediatos da síndrome, está a falta de concentração. Afinal, muitas vezes, a pessoa deixa de prestar atenção em uma tarefa importante, como uma atividade de trabalho, e passa a focar nos sons que lhe provocam irritabilidade. Ou seja, para quem sofre com a síndrome, é impossível ignorar esses barulhos, por mais irrelevantes que eles sejam.

Linhas de tratamento 
A redução dos sintomas da síndrome pode ser feita por meio de estimulação sonora (em geral com sons baixos, leves e estáveis) que, aos poucos, muda a ativação dos centros de atenção do cérebro. Medicamentos (principalmente nos casos em que outros problemas, como o zumbido, estão envolvidos) também podem ajudar. Mudanças de comportamento por meio de terapia e meditação são ainda outros recursos úteis quando o assunto é o tratamento da síndrome. Isso porque quem sofre com ela pode desenvolver ansiedade, pânico ou outras doenças. Além disso, conversar com alguém que também sofre com os incômodos faz toda a diferença:
por ser um mal que grande parte da população desconhece, é comum se sentir sozinho ou incompreendido. Descobrir que mais pessoas passam pelas mesmas questões diminui a vergonha e torna mais fácil o enfrentamento do problema.

Companhias desagradáveis 
É comum a misofonia surgir acompanhada de outros incômodos relacionados aos sons. Entre eles estão:

FONOFOBIA: medo de se expor a barulhos que possam prejudicar a audição.
HIPERACUSIA: sensibilidade relacionada ao volume dos sons (como televisão e rádio). Ela pode causar dor nos ouvidos, além de tontura e mal-estar.
ZUMBIDO: ruídos contínuos ou intermitentes que podem se parecer com chiados, apitos, zunidos de animais, entre outros.