Reciclagem: como envolver as crianças desde cedo? - Julio Lopes/Unsplash
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Como trabalhar a reciclagem na educação infantil? Veja dicas para abordar o assunto

Dicas de como envolver as crianças com reciclagem desde cedo?

*Priscila Correia, do Aventuras Maternas, colunista de AnaMaria Digital Publicado em 20/05/2022, às 09h00

O Dia Mundial da Reciclagem foi celebrado na última terça-feira (17). E quando se trata de pauta materna ou infantil, este tema também é prioridade. Sabe por quê? Porque estamos falando do futuro das nossas crianças e da relação que estabelecemos com os resíduos, o descarte de materiais e o consumo.

E quem acompanha o Aventuras Maternas no Instagram, sabe como esse assunto é importante por aqui. Além de conversarmos muito sobre como podemos ajudar a melhorar o planeta em que vivemos, com ações práticas e simples no nosso dia a dia, literalmente colocamos a mão na massa - e quando não é possível aproveitar nada, procuramos sempre fazer o descarte correto.

E não é à toa. Dados preocupantes, como “em 2050, haverá mais plásticos do que peixe nos oceanos” estampam as capas de jornais. E mudar a forma como lidamos com essa informação faz parte da rotina na educação infantil. A introdução do tema desde os primeiros anos é estratégia fundamental para sensibilizar as crianças sobre o cuidado com o meio ambiente, especialmente, com atividades lúdicas que motivem o desenvolvimento sustentável e a preocupação com os recursos do planeta, mas também introduzindo práticas de reaproveitamento de materiais no cotidiano das famílias, que ajudem a ensinar pelo exemplo.

Por isso, na coluna de hoje, vamos sugerir algumas práticas, para pais e filhos, que estimulem a reciclagem e o reaproveitamento na rotina das famílias. Vocês vão perceber que algumas dicas são para os adultos, outras para as crianças e algumas para serem realizadas por todos. Mas um detalhe importante: os pequenos aprendem, acima de tudo, pelo exemplo. Então, não adianta apenas orientar, é preciso fazer também. Confiram!

NA HORA DE MONTAR O ENXOVAL

Já pensou em usar fralda reutilizável? Crédito: Laura Ohlman/Unsplash

 

Para vestir as crianças

Crédito: Markus Winkler/Unsplash

 

Comprar roupas em brechós virou moda, mas esse conceito é muito maior que apenas algo passageiro. Há casas especializados em roupas infantis e com preços muitos atrativos. E a maioria segue o que falamos acima sobre sapatos: peças pouco usadas, quase novas, com preços muito menores que nas lojas.

Roupas de tecidos naturais, além de mais confortáveis, são a garantia de que não foram descartados resíduos tóxicos no meio ambiente. Embora as vezes possam parecer um pouco mais caras (se procurar bem, é possível encontrar por um valor igual a qualquer peça de tecido sintético), a qualidade é infinitamente maior.

Existem empresas que já se preocupam em reutilizar materiais na hora de fazer suas coleções, como a Malwee, que criou o "fio do futuro", tecido desenvolvido a partir de roupas usadas que seriam descartadas. Por enquanto, o novo moletom ainda é parte de uma ação da marca para gerar a reflexão sobre a importância da reciclagem das roupas, mas a marca também vai iniciar um processo contínuo de estímulo e coleta de roupas usadas de qualquer marca para transformar em novas peças e anunciar a criação de 65 pontos de coleta de roupas usadas espalhados pelo Brasil;

Outra marca preocupada com essa questão é a Moomoo, criada por três mães que largaram seus cargos de executivas no universo corporativo para investir suas energias no empreendedorismo materno e transformar o mundo em um lugar melhor. As coleções levam sempre em consideração a adoção de práticas sustentáveis e comunitárias que valorizam as pessoas e o desenvolvimento social.

Essa preocupação vai desde a escolha do material, como algodão reciclado e desfibrado, fibras e tecidos de materiais reutilizados e introdução de materiais que seriam descartados por uma visão tradicional linear, até a elaboração do design do produto, que é pensado para ter uma vida útil longa, com vestidos que podem se tornar camisetas conforme o crescimento da criança, por exemplo.

Suas estampas também valorizam a natureza e a cultura brasileira e sua produção fomenta um relacionamento justo e saudável com produtores e mão de obra da comunidade. Hoje, a marca possui lojas próprias em Curitiba, no Paraná, e está em expansão para Santa Catarina. De acordo com as empresárias o objetivo é aumentar a presença da MooMoo no Brasil com novas lojas em cidades estratégicas e mini franquias para pequenos empreendedores no formato venda direta;

Não esqueça também que crianças, especialmente as menores, perdem calçados muito rapidamente. Então, quando for comprá-los, opte por um número maior que o atual. Dessa forma, a criança poderá usar um pouco mais. Além disso, ao descartar, não jogue no lixo. Há instituições que buscam essas peças e certamente elas serão reaproveitadas por quem precisa (até porque, muitas vezes, elas estão quase como novas, já que as crianças normalmente usam por pouco tempo);

E por falar em calçados, a Alme, marca 100% carbono neutro do grupo Arezzo &Co, acaba de lançar sua primeira linha Kids e apresenta o conceito “Eu, Você, o Planeta e as próximas gerações” para o mercado. Trazendo a ampliação da grade do já conhecido Tênis Lume, feito de algodão e borracha reciclada, agora o modelo 100% carbono neutro pode ser usado por toda a família. A marca já tinha notado a grande demanda de produtos para crianças e percebeu o desejo das mães por vestir seus filhos com produtos de menor impacto para o planeta. 

Já o tênis Lume é uma proposta sem matéria prima de origem animal, feito de algodão reciclado, disponível em várias cores. Nos detalhes, elástico, que facilita o calce para as crianças, e costura são feitos de fio de garrafa PET reciclada. A palmilha Soft Comfort de EVA verde é respirável, com espuma extra e formato anatômico para garantir o conforto no caminhar. Sem cadarço, o modelo de tênis slip-on é prático e fácil de tirar e por.

Ideias para compartilhar com as escolas

Crédito: Van Tay Media/Unsplah


Nossos filhos passam boa parte do tempo deles na escola. Então, nada mais natural que dividirmos algumas ideias com quem também acaba sendo responsável pela formação das nossas crianças. Segundo o Movimento Plástico Transforma, o plástico é um dos melhores materiais para trabalhar o tema de forma lúdica, sendo fácil de limpar e muito versátil, além de possibilitar várias cores e formatos, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades em todas as idades.

Desde gincanas para encontrar materiais recicláveis até aulas para entender os tipos de plásticos, há infinitas oportunidades para implementar ideias divertidas sobre conscientização ambiental, como a caça ao tesouro ao ar livre, quando os alunos são levados para o pátio da escola, playground ou mesmo uma praça e têm que localizar materiais que podem ser reciclados como garrafas plásticas, sacolas e talheres. Os professores podem aproveitar o momento para falar sobre a importância de limpá-los, minimamente, e descartá-los na lixeira para recicláveis. Essa atividade fará com que as crianças prestem mais atenção nos materiais que fazem parte do seu dia a dia.

Outra atividade sugerida pelo Movimento Plástico Transforma é incentivar a criatividade em sala de aula. Peça aos alunos que levem algumas embalagens plásticas de casa, que seriam jogadas fora, e depois reúna todos os itens em uma mesa e estimule-os a usar a criatividade para construir objetos diversos, como vasos para plantas ou robôs.

Procure vídeos que mostrem o antes e depois dos resíduos plásticos. Mostre para as crianças exemplos de produtos fabricados com materiais reciclados – em 2019, por exemplo, o Movimento realizou a coleta de copos plásticos descartados pelos participantes da corrida de São Silvestre e, posteriormente, eles foram transformados em lixeiras que foram distribuídas gratuitamente para diversas escolas de São Paulo. No segundo ano da ação, realizada no fim de 2021, os copos também foram recolhidos e já estão sendo transformados em caixas organizadoras.

Um dos desafios mais urgentes em todo o planeta refere-se à conscientização das pessoas em relação ao consumo de carne de forma consciente e que minimize o impacto ambiental. E a uma escola de Curitiba, a Interpares, aderiu ao Segunda Sem Carne para uma dieta mais sustentável e saudável. O projeto tem a proposta de contribuir para a sustentabilidade, além de mostrar às crianças que é possível permitir que outros sabores protagonizem o cardápio e o paladar. Segundo a diretora da escola Dayse Campos, quando uma pessoa adota pequenas atitudes sustentáveis, vai gradativamente ampliando seu nível de consciência sobre o assunto. Além disso, com as crianças se tornando mais conscientes, consequentemente toda a família acaba se sensibilizando também.

Outro projeto da Interpares é o Projeto Reciclando, por meio do qual a escola arrecada todos os resíduos recicláveis gerados pelas famílias dos alunos. Por meio dessa iniciativa, já foram arrecadadas mais de 10 toneladas de material. Novamente, o engajamento da família é fundamental, já que todos aprendem a separar, higienizar e encaminhar corretamente cada tipo de resíduo.

NO DIA A DIA EM CASA

Muitas vezes, embora queiramos passar para os filhos hábitos mais sustentáveis, acabamos não conseguindo porque nós mesmos não temos esses hábitos e, muitas vezes, somos avessos a mudanças de atitude (mesmo sem perceber). Mas e se aprendêssemos juntos? Há vários sites, páginas no Youtube e plataformas para escutarmos e assistirmos com nossos pequenos e entender melhor sobre o assunto.

O podcast “Contos da Capivara”, da produtora Poétika e do Verdes Marias - movimento de três irmãs que buscam inspirar pessoas a ingressarem numa vida mais sustentável –, aborda o tema do meio ambiente por meio de contos infantis inéditos de autores nacionais, com leveza e diversão para toda a família. As crianças podem ouvir as histórias junto aos familiares e dialogar sobre assuntos como mudanças climáticas, lixo, água e desmatamento. Ao final de cada episódio, os ouvintes são estimulados a adotar pequenas atitudes diárias – denominadas microrrevoluções – para ajudar o meio ambiente.

Algumas dessas ações são: reduzir o consumo de carne e ingerir mais vegetais, consumir mais produtos de pequenos produtores e contar para os amigos que os povos indígenas são guardiões da floresta e devem ter seus direitos respeitados. Todos os episódios possuem o apoio técnico de organizações como o Greenpeace, Famílias pelo Clima, Sea Shepherd, Instituto Ipê, Menos 1 lixo, entre outras, e contam com a participação da Clara, a Capivara, que traz dicas de como ter uma vida mais sustentável.

O podcast tem 8 histórias inéditas escritas por autores brasileiros da literatura infantil, como Claudia Vasconcellos, Kiusam de Oliveira, Edson Natale, Julia Medeiros, Marcelo Maluf, Thata Alves, Caru Ricardo e Ciro Campos do Planeta OCA. Produzido em conjunto com o Greenpeace, o episódio Arvorícia, por exemplo, narra a história de uma bióloga tão apaixonada pela natureza que deseja virar árvore. Com um pouco de magia, ela consegue realizar seu plano e descobre uma corrente de solidariedade entre as árvores para sobreviver. A história transmite valores importantes como empatia, solidariedade e respeito. Quem quiser acompanhar a série “Contos da Capivara”, pode acessar pelo Spotify (https://spoti.fi/3Lh0v4i) ou pelo Anchor. O conteúdo é gratuito e pode ser escutado diversas vezes, sem moderação. Mais informações, acesse www.verdesmarias.eco.br.

Outro conteúdo muito bacana para dividir com as crianças é a Cartilha do Bem: Aprendendo a Cuidar do Meio Ambiente, uma iniciativa da ABES (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental) – Seção São Paulo (ABES-SP) em parceria com a Reciclus (Associação Brasileira para a Gestão da Logística Reversa), disponível agora também no formato de vídeo animado no YouTube. Na cartilha, as meninas Lara e Bia conversam sobre o que aprenderam sobre o lixo, inclusive que o jeito correto é chamar de resíduo.

E ensinam sobre os tipos de resíduos, como separá-los, as diferentes cores das lixeiras, a importância do descarte correto e de reutilizar e reciclar os materiais, que são responsabilidades de todos nós. A cartilha traz, ainda, um capítulo especial destinado às lâmpadas, explicando o que é a logística reversa e como colaborar. O material é gratuito e integra a campanha de conscientização DIADESOL 2022, cujo foco são as questões relacionadas aos resíduos sólidos e inclui outras ações de educação ambiental da ABES-SP, como os concursos de Desenho Infantil (do qual participam estudantes de escolas públicas e privadas) e Vídeo Amador (voltado a estudantes e público em geral), que serão inspirados pelo conteúdo da cartilha.

E QUE TAL UM POUCO DE DIVERSÃO?

Outra maneira de passar esses ensinamentos é pela diversão. Hoje, há livros e jogos sobre esse tema voltados para todas as idades, até mesmo para os menores. A fim de sensibilizar as crianças sobre a educação ambiental, a Reciclus (Associação Brasileira para a Gestão da Logística Reversa), organização sem fins lucrativos responsável pela gestão da logística reversa de lâmpadas no país, fez uma parceria com a Escola Games, o maior portal de jogos educativos do Brasil, para criar o livro digital “Amigos do Meio Ambiente” e o quebra-cabeças digital “O caminho da lâmpada”.

No livro “Amigos do Meio Ambiente”, escrito por Bob Green e ilustrado por Jarbas Domingos, há a opção de ser lido pela própria criança ou ouvido. Na história, uma lâmpada queima e deixa o quarto no escuro, interrompendo a brincadeira. Esse é o ponto de partida do livro, que conta a história de um menino que acompanha o pai até a loja de material de construção para comprar lâmpadas, e fica conhecendo as de led, que são mais econômicas, eficientes e amigas do meio ambiente, pois não contêm mercúrio.

Depois de trocar todas as lâmpadas da casa, a família vai ao supermercado e as descarta em um coletor Reciclus. Já o quebra-cabeças digital “O caminho da lâmpada”, desenvolvido para crianças de 6 a 9 anos de idade, é dividido em oito telas, que falam sobre a importância das lâmpadas nas nossas vidas, o perigo de descartá-las na natureza, em razão do mercúrio, e como fazer o descarte correto, utilizando os coletores Reciclus.

A atividade aborda também a coleta seletiva e o cuidado necessário para se buscar um coletor específico para as lâmpadas usadas. O quebra-cabeças mostra ainda a separação dos materiais no processo de reciclagem das lâmpadas, assim como o reaproveitamento de parte dos resíduos, que voltam a ser usados pela indústria. Dessa forma, não são retiradas mais matérias-primas da natureza. Por fim, é destacada a responsabilidade de todos na preservação da natureza e na reciclagem do máximo possível de material.

*PRISCILA CORREIA é jornalista, especializada no segmento materno-infantil. Entusiasta do empreendedorismo materno e da parentalidade positiva, é criadora do Aventuras Maternas, com conteúdo sobre educação infantil, responsabilidade social, saúde na infância, entre outros temas. Instagram:@aventurasmaternas

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