Rafa enfrentou a síndrome do impostor e revela ter desistido de um emprego por não se achar boa o suficiente. Mas ela deu a volta por cima! - Instagram/@rafabrites
Superação

Rafa Brites fala sobre batalha contra a síndrome do impostor

A jornalista lutava contra o sentimento de que não merecia estar onde estava

Karla Precioso Publicado em 23/01/2021, às 08h00

Rafa Brites, 32 anos, foi repórter do Mais Você, Superstar e Vídeo Show, na Globo. Antes, apresentou um programa diário e ao vivo na extinta Mix TV, Comando. Como influenciadora de jornadas, ocupação que ela designou para si desde que deixou a televisão, em 2019, ela ministra cursos para ajudar as pessoas a obter melhor desempenho na vida profissional e pessoal. 

Formada em Administração de Empresas, pós-graduada em Neurociência e Comportamento com especialização em Programação Neurolinguística, Self-Management Leadership e High Performance Coaching, a busca por autoconhecimento é uma paixão de família, tanto que ela fez o primeiro curso de meditação aos 9 anos.

Atualmente, Rafa se dedica ao projeto Transformando Sonhos em Realidade (TSER), que envolve técnicas motivacionais, de liderança e desenvolvimento pessoal, e é direcionado às mulheres, num bom exemplo de “juntas somos mais fortes”.

Após enfrentar um período de autossabotagem, a mãe de Rocco, de 3 aninhos, e esposa do jornalista Felipe Andreoli, lançou 'Síndrome da Impostora' (Ed. Planeta), em que fala diretamente com quem sofre do problema, definido como falta de autoestima e segurança, e relata detalhes desse período até a sua superação, dando dicas para outras mulheres se desvencilharem da sensação de incapacidade.

A seguir, ela responde a questões sobre a síndrome e compartilha trechos da obra para você também não embarcar no sentimento de inferioridade.

 

SENTIR-SE UMA FRAUDE
A síndrome do impostor é um fenômeno que afeta principalmente mulheres, em especial pessoas que sofrem de burnout (estado de exaustão causado pelo excesso de trabalho), baixa autoestima, ansiedade e estresse. 

Rafa Brites foi uma delas. Uma carreira de sucesso, um filho fofo, um marido companheiro... Essas conquistas deveriam ser suficientes para que ela não questionasse o próprio valor, mas só geraram mais pressão, justamente porque a raiz da síndrome não está nos fatores externos. “Enquanto a gente não mergulhar em nosso interior para encontrar as raízes que nos levam a ter esses sentimentos, não teremos forças para combater a impostora que existe em nós”, afirma. 

Ela já teve pensamentos de autossabotagem: desistiu da vaga de trainee na época em que cursava Administração, adiou por anos os planos de escrever um livro por não achar que ele seria bom o suficiente... Durante muito tempo, ela não teve a dimensão do problema, até se deparar com relatos de Michelle Obama e Emma Watson, que já se sentiram uma fraude.

Então, decidiu mergulhar no tema e chegou até Pauline Clance e Suzanne Imes, psicoterapeutas e professoras na Universidade da Geórgia, que estudaram mulheres de diferentes perfis e constataram que um sentimento unificava todas: o de que elas não mereciam estar onde estavam, vivendo o que chamaram de fenômeno do impostor.

“Ao ver tantas mulheres se subestimando como eu, concluí que esse sentimento é reflexo de toda uma construção histórica patriarcal. São fatores externos que se refletem, de maneira brusca, em nosso interior. Foi quando surgiu a ideia de publicar um livro para abordar questões como a diferença na criação de meninos e meninas, machismo no mercado de trabalho e estereótipos empregados às mulheres, que geram dificuldade de lidar com o poder e o reconhecimento. Nele, mostro como enfrentar os fantasmas internos e discorrer sobre a importância da sororidade, acolhimento e autoconhecimento, relatando minhas experiências, o enfrentamento da síndrome e como superei tudo isso”, explica Rafa.

 

Algumas mulheres pensam que, se elas se esforçarem demais, virá a recompensa. Já quando fracassam, presumem que faltou experiência. Como lidar com esse pensamento?

A primeira coisa é avaliar nosso critério de fracasso e de sucesso, porque, muitas vezes, usamos métricas externas para saber o quanto nós fomos boas em algo. Digo a essas mulheres que pensem: só de ter começado, tentado, independentemente do resultado, foi sucesso. Por exemplo: você abriu uma loja e as vendas do primeiro mês não foram boas. Tudo bem! Você conseguiu abrir, você está trabalhando. Então, você teve uma evolução.

Precisamos entender o ponto que estávamos e o ponto a que chegamos. Quando não vem o sucesso esperado, pode ser falta de experiência, mas como se tornar experiente? Fazendo! Não desista antes mesmo de tentar.

 

O que você diria para as mulheres que se veem patinando na autoestima profissional?

Coloque na cabeça que isso é normal de acontecer, afinal, a mulher tem pouca representatividade nos cargos de liderança e, infelizmente, ainda vivemos numa sociedade machista, que reconhece pouco nosso valor.

A minha dica para essas parceiras é encontrar uma rede de apoio, outras colegas de trabalho para conversar sobre isso. A partir daí, se juntem, se apoiem nos momentos de insegurança que fazem com que elas se sintam impostoras. 

Acertar é bom, mas errar é frustrante. Concorda? É lógico que a gente quer acertar, né? Porém, é preciso parar de ver o erro como o fim do caminho. Os enganos são parte do percurso. Costumo dizer às mulheres que encaram os erros como o fim para que reflitam lendo biografias de empresárias, artistas, pessoas que conseguiram o reconhecimento e o sucesso. Sim, elas devem perceber que, para chegar às últimas páginas do livro, essas vitoriosas passaram por muitos tropeços, pois eles fazem parte do processo. 

A gente erra todos os dias. Estamos aqui para isso: aprender com os enganos, celebrar (e aceitar) as conquistas. Autoconfiança é tudo, mulheres!

 

Como aprendeu a lidar com a síndrome do impostor?

Passando a não me cobrar tanto e a me enxergar como um ser único, sem me comparar com ninguém. A síndrome dá uma sensação de insuficiência. Por mais que você se esforce, se dedique, você nunca acha que fez o suficiente. E isso gera um vazio, uma insegurança. Resultado? A vida empaca e deixamos passar as oportunidades que julgamos não dar conta. Pensamos que sempre haverá alguém melhor que nós… 

Quando entendemos que o nosso valor não está em algo hierarquizado, como ser melhor que alguém, ganhamos segurança.

 

Por que a síndrome atormenta tanto as mulheres nos dias de hoje?

São vários motivos. Entre eles, o machismo estrutural, a falta de representatividade e reconhecimento das mulheres no mercado de trabalho. Acredito que, dificilmente, vamos curar isso nessa geração, mas, como também já falei, se a pessoa tiver uma rede de apoio, conversar a respeito, se informar, pode ser um grande passo para o problema parar de nos travar e empacar a vida!


COMPORTAMENTOS AUTODESTRUTIVOS
Um comportamento observado na maioria dos casos de síndrome do impostor é a autossabotagem. Por medo de falhar, o indivíduo adota posturas e atitudes temerárias, que resultam na decepção que tentava evitar. “Isso pode acontecer, inclusive, em outros campos da vida, como nos círculos afetivos. Por medo de decepcionar os parceiros e provocar o fim de um relacionamento, por exemplo, essas pessoas adotam comportamentos autodestrutivos e induzem a um distanciamento que, por consequência, leva ao término que tentavam prevenir”, explica o psicólogo Gilmar Fidelis.

 

PÍLULAS DA OBRA 'SÍNDROME DA IMPOSTORA', DE RAFA BRITES
“Quando damos um basta à depreciação e passamos a ouvir uma voz acolhedora e motivadora, trilhamos um caminho maravilhoso. Sem volta!”

“Sua beleza e seu valor estão na sua singularidade, e não no quanto você se esforça, se dedica, se empenha.”

“Recompense-se. Comemore uma conquista. Não espere o elogio ou o reconhecimento vir dos outros.”

“Pare de vez em quando na frente do espelho e se ofereça um sorriso, sem reparar se sua pele está ruim ou se a olheira está funda.”

“Quebrar o silêncio e expor seus sentimentos é libertador.”
 

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