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“Acho que as pessoas deviam se ouvir mais”

Juliana Caldas, a Estela de O Outro Lado do Paraíso, comenta sobre o preconceito, a sociedade e o que o mundo precisa para melhorar!

Luciana Bugni Publicado em 27/04/2018, às 19h02 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h46

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MUITO CONTEÚDO: Juliana fala abertamente sobre preconceito - Pino Gomes/Divulgação
MUITO CONTEÚDO: Juliana fala abertamente sobre preconceito - Pino Gomes/Divulgação

Em sua estreia em novelas da Globo, a atriz Juliana Caldas, no papel de Estela, enfrenta o preconceito escancarado da mãe, Sophia (MarietaSevero). Por outro lado, vive uma história de amor com idas e vindas com Amaro (Pedro Carvalho) que, parece, terá final feliz. Na vida real, ela demonstra encarar tudo com bom humor: nas redes sociais e entrevistas, está sempre alegre e cheia de vida, fazendo piadas com tudo. Mas não deixa de lutar pelo que acredita: “Gostaria que o respeito que o público tem por mim desde que estreei na novela se estendesse a todos os outros pequenos e deficientes”, ela diz. Confira trechos da entrevista:

O que mudou na sua vida de maneira prática no antes e depois da novela?

Mudou o anonimato, agora sou reconhecida em momentos em que estou desprevenida, como no mercado. E até demoro a assimilar que estão falando comigo por causa da novela. Mas também mudou o tratamento das pessoas. Se antes havia o deboche, as risadas e os dedos apontados, agora me abordam com muito respeito e carinho, sempre chamando pelo meu nome ou pelo da personagem. Gostaria que esse respeito se estendesse a todos os outros pequenos e deficientes.

Recentemente você posou nua. Como foi fazer essas fotos?

Foi um ato de libertação. Topei posar para o projeto do Brunno Rangel e do Marcelo Feitosa porque a ideia é, justamente, mostrar que por baixo da roupa somos todos iguais, somos todos pele. Sem roupa, é difícil julgar quem é rico , quem é pobre, de onde você veio ou o que faz. É essa ideia que faz do Pele um projeto tão lindo e que me motivou. Eu aprendi a aceitar e amar o meu corpo, apesar de todas as discriminações e estigmas da sociedade que me ensinam que eu não deveria gostar de mim como sou, me expor, rejeitar mudanças. O ensaio foi algo que fiz para mim, mas fico muito feliz que sirva como motivação para outras mulheres.

Muitas mulheres têm dificuldade de aceitação do corpo, mas você parece dar aula sobre o assunto. De onde vem essa sua forma de encarar os padrões impostos pela sociedade?

Acredito que da educação que minha mãe me deu. Ela criou a mim e a meu irmão em uma casa sem adaptações, para que aprendêssemos, desde cedo, a lidar com o “mundo real”. Ela me ensinou a não me diminuir nem aceitar que os outros me diminuam, a encarar os obstáculos e perseguir meus sonhos. Sei que tenho que me provar constantemente, mas aos poucos estou abrindo meu caminho e a persistência está dando resultados.

O que mais te cansa nessa luta?

O preconceito, o desrespeito e a ignorância, claro. Muito da discriminação é fruto de desinformação. Ainda hoje tenho que explicar às pessoas, em locais públicos, que estamos incluídos nos direitos dos deficientes, por exemplo. Os deboches e as piadas também incomodam, mas acredito que a novela tenha conscientizado muita gente sobre a nossa situação e a tendência é que esse tratamento diminua. Quero acreditar nisso.

Ter bom humor melhora a vida? Por quê?

Com certeza. A vida já é cheia de obstáculos, então ajuda muito se os enfrentarmos sem valorizar tanto a gravidade deles, ou se soubermos aproveitar os bons momentos tanto quanto lamentamos os ruins.

Estela sofreu com o jeito de sua mãe tratá-la, mas permaneceu firme. Você acha que o jeito de os pais tratarem os filhos influencia sua personalidade?

Claro. Eu tive pais muito carinhosos, que sempre me incentivaram, mas não sei como seria a minha personalidade hoje se eu tivesse tido uma criação de rejeição como a da Estela.

Estela diz que mulher não precisa de homem para viver. Você concorda com a personagem?

Concordo muito. Claro que é bacana ter alguém, mas precisamos aprender a nos bastar. Não dá pra sua autoestima e motivação dependerem de um relacionamento.

O amor pelo outro é importante ou basta se amar? Por quê?

Acho o amor pelo outro muito importante, mas não necessariamente um amor romântico. Em comum com a Estela, eu tenho o cuidado com as pessoas que amo. Ela está sempre disposta a defender os irmãos, a Rosalinda [Vera Mancini]... eu ajo da mesma forma com a família e meus amigos. Eles me apoiam e me dão força para enfrentar o que é necessário. Mas nada disso resolve se não houver amor-próprio e autoconfiança.

Quais as características da personalidade de Estela que você considera mais legais? E as suas?

Como disse, a doçura dela, essa disposição de apoiar quem ela ama. Também gosto disso em mim, e da minha garra, que me faz correr atrás do que quero. A Estela está desenvolvendo essa característica também, e estou muito contente com esse rumo da personagem.

Qual você acha que é o grande defeito da sociedade hoje?

A falta de respeito com quem é ou pensa diferente de você.

Você acredita que as redes sociais e os inúmeros debates sobre diversos temas na internet nos fazem evoluir?

Acredito, porque é trocando informações e opiniões que a gente abre a cabeça, evolui e se entende. Mas tenho visto um cenário em que um tenta impor a sua opinião ao outro e, dessa forma, não há diálogo. Gostaria que as pessoas ouvissem mais umas às outras.

Na novela, Estela acolhe o ex. Você considera esse tipo de solidariedade possível?

Acho superpossível. A Estela acolheu o Amaro por compaixão, porque ele é solitário e estava precisando de ajuda. Foi uma solidariedade sem nenhum interesse e eu teria a mesma atitude no lugar dela. Depois eles acabaram se acertando, porque ele ficou mais sensível e percebeu o valor dela, mas não foi a intenção inicial da Estela.