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Bem-estar e Saúde / BEM-ESTAR

Se matar na dieta durante a quarentena? Não é o mais saudável a fazer

Além de propiciar um aumento de peso futuro, dieta inadequada podem impactar na imunidade

Beatriz Cresciulo Publicado em 10/06/2020, às 08h20 - Atualizado em 25/06/2020, às 23h14

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Quem nunca ficou contando as calorias loucamente? - Steve Buissinne/Pixabay
Quem nunca ficou contando as calorias loucamente? - Steve Buissinne/Pixabay

A influenciadora digital Tayse Maris notou uma mudança em seus hábitos alimentares durante a pandemia do novo coronavírus. Lidando com os altos e baixos de permanecer em confinamento, a goiana de 25 anos reparou que passou a ingerir mais doces, um costume que não tinha antes da quarentena. 

“Não sou tanto fã, mas passei a sentir essas vontades. Tem sido um processo de vaivém de autoestima, de vivência, de me readaptar em uma rotina e também a essas mudanças’’, afirma a dona do canal ‘’Not Easy’’, onde comenta sobre body-positive e autoaceitação. 

As mudanças causadas pelo Covid-19 e o isolamento social têm afetado o dia dia de milhares de pessoas, especialmente quando falamos de saúde mental, causando sentimentos como medo e incerteza, o que leva a um natural aumento dos níveis de ansiedade. 

Só que tantas questões psicológicas acabam influenciando totalmente nossa rotina alimentar. Sophie Deram, nutricionista doutora pela Universidade de São Paulo (USP) e autora do best-seller ‘O Peso das Dietas’, explica que o ato de comer vai além das questões fisiológicas. “Acontece que os seres humanos se nutrem de alimentos e sentimentos”, diz. 

POR QUE COMEMOS MAIS BESTEIRAS NA QUARENTENA?

caixa de bombom

Quem resiste a um chocolatinho? - Crédito: Jill Wellington/Pixabay

De acordo com a nutricionista, este comportamento é natural do ser humano. Em momentos de maior aflição, uma das respostas biológicas do cérebro é buscar se reconfortar, e a comida, sendo um dos maiores deleites da vida, costuma se transformar em uma válvula de escape. Gorduras, frituras e alimentos com alto teor de açúcar ou sal, possuem componentes que trazem esse prazer. 

‘’As pessoas passam a comer por outros motivos do que somente a fome. Ela se torna meio refém disso, e nesse momento, é claro que não será  no brócolis que ela irá descontar a sua ansiedade’’, brinca. 

OS VÁRIOS TIPOS DE FOME

Uma das explicações para esse processo é que existem tipos diferentes de fome. Além da necessidade física de se alimentar, que faz bem e deve ser saciada, também temos períodos em que comemos por motivos emocionais. 

Saber diferenciar esses dois estímulos, além de identificar o que está por trás dessas necessidades, são passos importantes na busca por uma rotina mais saudável, seja durante o isolamento social ou fora dele. 

Tayse, que enfrentou desafios relacionados à aceitação e reconhecimento do próprio corpo desde a infância até o início da vida adulta, relembra que assimilar estes conceitos foi crucial no seu processo de empoderamento. 

‘’Comer não deve ser algo ruim, temos que procurar entender o motivo de estarmos comendo e acho que compreendi a necessidade disso. Acredito que está muito ligado ao processo de autoconhecimento, que não é apenas conhecer o próprio corpo, mas sim aceitar o mental, entender os nossos limites, procurar processar tudo’’, constata. 

COMO ISSO SE INTENSIFICA?

O problema é que a origem desse comportamento está na própria maneira como algumas pessoas lidam com a comida. De acordo com a tese desenvolvida por Sophie Deram, pessoas que passam por longos períodos lutando contra a fome e seguindo dietas são as mais propensas aos desequilíbrios alimentares em momentos como o atual. 

‘’Se estamos a vida toda fazendo dietas restritivas, quando nos encontramos confinados em casa com a despensa cheia, isso vai ser mais difícil, porque a tendência vai ser descontar na comida’’, diz. 

Já quem se sente mais tranquilo com a própria alimentação não corre o risco de comer emocionalmente, além de acabar até emagrecendo de forma mais natural. Enquanto isso, seguir restrições e tomar medicamentos perigosos para a saúde pode causar o efeito rebote. 

‘’Emagrecer por meio de agressão tem a tendência de voltar a engordar tudo de novo, isso é o efeito sanfona. As pessoas estão com essa ansiedade para emagrecer rápido, mas isso deixa o corpo mais estressado e propenso a engordar. Além disso, coloca em risco a imunidade da pessoa’’, alerta Sophie.

REEDUCANDO


A influenciadora digital Tayse Maris tenta lidar com as mudanças - Crédito: Divulgação

A influenciadora Tayse lembra que tudo mudou quando, em determinado momento de sua vida ganhou muito peso e percebeu que nunca conseguiria se manter refém das dietas. Optou, então, por alternativas mais saudáveis, como a reeducação alimentar e a aceitação do próprio corpo. 

“A reeducação alimentar me fez muito bem, hoje ainda sigo a maioria das coisas, mas não com o foco de emagrecer e sim de ter saúde. Foi o momento de delinear: 'Eu não quero ter que ficar fazendo uma dieta restritiva para poder manter um peso, não quero entrar nisso, então vou me acolher’”', ressalta. 

PRECISO EMAGRECER NA QUARENTENA?

Além das questões relacionadas à aparência, uma das maiores preocupações das pessoas durante o isolamento social é a relação entre obesidade e as complicações no quadro de Coronavírus. 

Sophie Deram, contudo, assegura que não existem evidências científicas suficientes que comprovem a relação entre a doença e qualquer risco excepcional para quem se encontra somente com sobrepeso, quando a pessoa tem mais peso do que é considerado normal ou saudável para a idade ou tamanho.. 

O problema real existe para os pacientes diagnosticados com o vírus, que já possuem situações pré-existentes de metabolismo, como diabetes ou hipertensão, além daqueles que têm idade avançada.

“É verdade que há pessoas que têm obesidade e alteração metabólica, aí sim corre o risco. Porém, alguém que tem obesidade e zero alterações, têm menos riscos de complicações do que um magro que sofre de diabetes. Há muito estigma contra obesidade, as pessoas acham que estando magras estão saudáveis’’, destaca. 

DE QUE MANEIRA INICIAR AS MUDANÇAS? 

A doutora em nutrição orienta que o mais indicado é tentar manter costumes saudáveis de alimentação, consumindo alimentos frescos e caseiros, investindo no hábito de cozinhar. E melhor deixar as dietas malucas de lado! Além de impor uma rotina para as refeições, preparar os alimentos evita o exagero dos ultraprocessados. 

‘’Faça coisas simples, que vão te ajudar a criar uma expectativa de comer. E não vai ficar com aquele grito de fome, de bater a vontade e não ter nada pronto. É aí que acaba pedindo delivery, que vem em muita quantidade. Isso faz comer demais e tudo vai ficando meio descontrolado’’, sugere.

E na hora de idealizar os pratos, diversidade é a palavra certa. Incrementar as refeições com diferentes grupos alimentares é essencial. O modelo clássico brasileiro, composto por arroz, feijão, legumes e carne, tem tudo para satisfazer as necessidades do corpo. 

E QUANDO A VONTADE DE DOCE BATER?  

A especialista assegura que não há problema algum em comer o que se tem vontade, sendo importante fazer isso com tranquilidade e sem culpa. Na hora do lanche da tarde, por exemplo, Sophie relembra que não tem problema algum preparar um bolo de cenoura. 

‘’Na versão caseira vai farinha, ovo, manteiga, cenoura, tantos grupos alimentares. Nossos avós faziam os lanches da tarde desta maneira e, de repente, o bolo se tornou como um vilão e as pessoas sentem culpa de comer’’, afirma. A profissional reforça ainda que não existe alimento proibido e que não é somente fazendo dietas que a alimentação irá melhorar. 

FAÇA MAIS O QUE FAZ BEM 

Também vale destacar que substituir o comer emocional por outras tarefas pode auxiliar na rotina e nos novos hábitos saudáveis. A especialista em transtornos alimentares relembra que, especialmente em tempos de pandemia, a busca pela saúde deve ser o principal foco. 

“Saúde é o bem-estar social, físico e mental, ou seja é um todo. Fazer coisas prazerosas, comer, se sentir nutrido. Fazer o que podemos para nos sentir bem, conversando, escrevendo, tocando um instrumento. Quanto mais estamos em paz com o corpo, com a comida e conosco, estamos ajudando na nossa imunidade’’, reafirma. 

Tayse conta que no cenário atual, encontrou na prática de yoga uma maneira de manter seu corpo e mente sãos, mas relembra que a autoaceitação não é um caminho em linha reta, são vários altos e baixos. O importante é compreender os limites e as origens das angústias. 

‘’Eu acho que é um processo, as coisas estão acontecendo e você está mudando, então isso também reflete na autoconfiança e  autoaceitação. É preciso entender que está tudo bem ter essas oscilações. Você conseguir identificar quais são os lugares que te ajudam a recuperar isso, ou te dar um ânimo é importante, tanto para a quarentena quanto para o cotidiano’’, indica. 

Contato Sophie Deram: https://www.sophiederam.com/br/autores/sophiederam/