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Bem-estar e Saúde / SINTA & LIGA

Quarentena: como lidar com o revezamento de personalidades em um dia

Tentamos fazer nossa parte e manter otimismo e sanidade diante do “absolutamente sem precedentes” que estamos vivendo

Wal Reis Publicado em 12/05/2020, às 09h40 - Atualizado em 25/06/2020, às 23h14

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Não é fácil domar a bipolaridade nas 24 horas convivendo com a gente mesmo - Banco de Imagem/Pixabay
Não é fácil domar a bipolaridade nas 24 horas convivendo com a gente mesmo - Banco de Imagem/Pixabay

É mais ou menos como ter duas personalidades revezando o protagonismo nas 24 horas do nosso dia.  A pessoa que acorda, antes do relógio com um pique de monitor de colônia de férias, é o otimista que está enxergando o lado bom da quarentena devido à pandemia do coronavírus. Reverencia o sol e a pachamama, coloca música techno e treina seguindo a videoaula do professor – visivelmente mais gordo – da academia fechada há dois meses. 

Fala pelos cotovelos, usando as palavras da live de autoajuda da noite anterior, toma café da manhã sem glúten e sem lactose, por conta da dica da nutricionista no Instagram. Em seguida, engole os polivitamínicos que comprou em uma dessas madrugadas insones na frente do computador, quando decidiu levar uma vida saudável às 4 horas da manhã. Dois dias depois, a encomenda chega via motoboy – aqueles aparentemente imunes ao coronavírus – e nem se lembrava mais para que os comprimidinhos coloridos serviam. 

Então pega o celular disposto a dar só uma espiadinha nas mensagens apocalípticas, científicas, memes, teorias da conspiração e na briga política dos grupos e, uma hora e meia depois, quando consegue finalmente soltar o aparelho e ir para o banho, metade da positividade vai para o ralo. 

Mas reúne forças e se veste semicorporativamente, como apregoam os manuais do #fiqueemcasamastrabalhecomosenãoestivesse, rouba a cadeira da sala de jantar, expulsa as crianças e o cachorro do recinto, senta-se em frente à escrivaninha improvisada e dá início ao seu turno home office. Ao olhar o relógio do computador, percebe que conseguiu a proeza de chegar atrasado para o expediente dentro de sua própria casa e que a vídeo chamada começa em um minuto. 

#VAIPASSAR...OU NÃO?

Depois de uma hora de teleconferência está claro que seus líderes olham desconfiados, como se estivesse em liberdade provisória e prestes a tentar soltar a tornozeleira eletrônica. Levanta com o objetivo de tomar fôlego e alongar o corpo – como ensinou a terapeuta holística que você segue – e buscar um café. Porém, muda de ideia antes de alcançar a maçaneta por dois motivos: não vai ter café na cozinha e, se ao abrir a porta algum membro da família te vir, vai entregar a vassoura e o aspirador de pó.

A essa altura sua convicção sobre o #vaipassar travou o download na metade. Encontra o chocolate na gaveta do escritório, aquele que não pretendia comer antes de perder cinco quilos, e decide pegar um pedacinho para ganhar energia porque, afinal, até o verão de 2025 vai dar tempo de emagrecer. O mesmo raciocínio justifica, horas mais tarde, trocar a salada sem agrotóxico, que foi lavada com o otimismo da manhã, pela lasanha congelada da falta de convicção de agora.

Conforme as luzes do dia vão se apagando, sua crença em tempos melhores também esvanece. O hábito faz ligar a TV e o coronanews não é o melhor remédio para acreditar no futuro da humanidade. Resolve optar por um canal de entretenimento e estaciona naquele que mostra as praias do Caribe. Pega uma dose de uísque e a caixa de lenços e chora como se estivesse assistindo a um filme da Lassie. 

Quando o amigo liga querendo ouvir umas palavras de incentivo porque a rotina dele não está fácil, há um esforço para demonstrar serenidade e controlar a voz ébria. Pede para chamar no dia seguinte, antes das 9h: caso resista a mais uma noite desanimada terá prazer em motivá-lo.

WAL REIS é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida. Blog: www.walreisemoutraspalavras.com.br