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Avós: como a relação com os netos é importante para toda a família

Sejam mais tradicionais ou modernos, é inegável que eles ocupam um espaço importante na vida dos nossos pequenos e vice-versa

*Priscila Correa, do Aventura Materna, colunista de AnaMaria Publicado em 23/07/2021, às 08h20

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Vínculo afetivo com os netos fortalece a vitalidade dos mais velhos - Pixabay/FuSuSu
Vínculo afetivo com os netos fortalece a vitalidade dos mais velhos - Pixabay/FuSuSu

Responda rápido: se alguém te pedir para descrever uma imagem da sua infância que seja carregada de afeto e amor, qual seria? Quem estaria nela? Embora as experiências de vida de cada um sejam diferentes, posso quase garantir que a maioria terá a presença dos avós. Acertei? Imagino que sim, afinal, ter avós é uma das melhores coisas da vida - eu, por exemplo, sempre morei perto deles e pude desfrutar de suas presenças diariamente; da mesma forma, busco oferecer o mesmo contato rotineiro para meus filhos se cercarem desse amor avoengo.

Terminei este primeiro parágrafo usando a locução adjetiva para “de avós” e fiquei surpresa sobre o fato de não usarmos esta palavra. Mas acredito que isso acontece porque usar “colo de vó”, “gostinho de vó”, “casa de vó” ou “cheirinho de vó” tornam as expressões carregadas de memórias afetivas e muito mais acolhedoras. Importante destacar, porém, que avós não são sinônimo de "Dona Benta”, com óculos, bolinho de chuva e cadeira de balanço. Esse afeto, antes confundido com um estereótipo ligado a figuras doces com cabelo branco, está ligado unicamente ao sentimento de acolhimento que vem da relação pura e com menos cobranças, do que as que cercam as relações maternas e paternas.


João e Heitor curtem os avós, com benefícios mútuos. (Crédito: Arquivo Pessoal)

Sejam mais tradicionais ou modernos, mais novos ou mais velhos, é inegável que os avós ocupam um espaço extremamente importante na vida dos nossos pequenos e vice-versa. Um exemplo dessa relação tão especial é o que acontece na família de Daniela Passos, mãe de João, de 10 anos, e Heitor, de 6. Viúva há pouco mais de um ano, ela resolveu se mudar para o interior para ficar mais próxima dos pais, que se tornaram sua principal rede de apoio. 

“Além de me ajudarem com meus filhos na correria do dia a dia, eles são muito importantes também no suporte que preciso para educar os meninos e para eu estar bem emocionalmente. As crianças adoram passar o tempo com os avós. E por mais cansados que meus pais fiquem, já me disseram, mais de uma vez, que tê-los em casa é ter vida e ficam mais dispostos, inclusive. Eles moram sozinhos e os netos, os meus filhos e os das minhas irmãs, são como vitamina pra eles”, conta.

Já na família de Carolina Serra, mãe de Isabella, de 6 anos, e de Matheus, de 18 meses, os encontros com os avós paternos acontecem apenas nas férias ou quando há um feriado prolongado. “As vezes, por morarmos muito longe, ficamos muito tempo sem visitá-los. Mas quando estão juntos, abraçam muito, querem ficar perto o tempo todo. Mesmo não encontrando sempre, há muito afeto envolvido, uma relação muito forte. Tanto que as crianças choram muito na despedida e já perguntam quando vamos voltar. Minha mãe já faleceu e as crianças, infelizmente, não a conheceram, mas meu pai mora perto de nós. Estamos juntos todos os finais de semana e meus filhos são muito ligados a ele”, comenta Carolina.

Para a psicopedagoga Patrícia Selofite, mãe de Sofia, de 13 anos, e Marina, de 8, não há dúvidas de que o relacionamento entre avós e netos traz benefícios para todos. Dizem que ser avô é como “ser pai em dobro”, e ter uma segunda oportunidade de participar da criação das crianças, mas desta vez de forma mais leve e tranquila. A convivência com o idoso também traz muitas aprendizagens para os netos, além, é claro, de fortalecer os laços afetivos. 

"De um lado, os avós podem se sentir mais úteis e felizes por poderem colaborar, de alguma forma, com seus pequenos e, por outro, os netos fazem experiências que servirão como aprendizado para a vida inteira, como, por exemplo, o respeito aos mais velhos, aprender com suas experiências de vida, saber que cada um tem o seu tempo, que o corpo já não é mais o mesmo, e nem a velocidade para realizar as tarefas também", avalia. 

Além disso, ela acredita que as crianças se tornam pessoas mais generosas e empáticas, o que de certa forma um dia pode ecoar de maneira positiva para o mundo: “Podemos dizer, então, que esse encontro de gerações é um grande ensinamento para a vida, tanto para os avós quanto para os netos. É certo que há desafios no caminho, mas que podem ser solucionados com muito diálogo, respeito e empatia. Sou muito grata a Deus por poder ver as minhas crescendo na presença de seus avós. Me enche de alegria saber que essa relação, regada do mais puro amor, trará fortes e doces lembranças no futuro”.


Encontro de gerações é ensinamento para a vida. (Crédito: Arquivo Pessoal)

E com tantas histórias lindas sobre esta relação especial, nossa coluna em comemoração ao Dia dos Avós, dia 26 de julho aqui no Brasil, homenageia essa amizade que, mesmo com tanta diferença de idade, é das mais importantes e simbólicas para nossas crianças e nossos pais e avós.

AMOR, CARINHO E APRENDIZADO

O convívio entre avós e netos não se resume à mera conduta de educação e tradição. Os benefícios por ele trazidos são mútuos e diversos, como a fortificação dos laços familiares, a renovação de idéias dentro de um mesmo núcleo familiar e a formação da identidade da criança. É uma simbiose orgânica e engrandecedora para todos os envolvidos.

Nela, os idosos ocupam um lugar de destaque: o da referência. "Neste convívio, ser avô/avó não se resume a cozinhar guloseimas e a mimar os netos. Longe está o tempo em que os vovôs e as vovós sempre usavam bengala, e liam livros em suas cadeiras de balanço. Atualmente, eles não se resumem a essas tarefas tão idílicas. Os avós de hoje são pessoas ativas, esportistas e atualizadas”, pontua Fabíola Kamenetz Bloch’as, psicóloga do lar Bem Estar, gerido pelo Froien Farain, no Rio de Janeiro. 

Segundo ela, o vínculo afetivo com os netos alimenta e fortalece a vitalidade dos mais velhos: “As trocas realizadas são enriquecedoras e esclarecedoras sobre os novos tempos, tanto emocional como socialmente. Os avós experenciam uma renovação de afetos ao desfrutar da companhia de seus netos, que lhe trazem carinho embrulhado em novidades. Já para os netos, esta convivência os ajuda a entender e a interpretar a história da família, fornece uma compreensão maior de continuidade e gera um sentimento de segurança de estabilidade emocional.”

A psicóloga explica, ainda, que o contato dos avós com seus netos oferece aos idosos a oportunidade de executar tarefas, funções e exercício de uma linguagem verbal e corporal que não são realizadas quando longe de seus netos. Durante esses encontros, os idosos têm a possibilidade de exercitar suas capacidades de linguagem, atenção, memória e suas habilidades sociais, o que lhes traz uma melhor qualidade de vida.

E como fica a relação daqueles que vivem em casas geriátricas e acabam ficando mais afastados dos netos? Para Fabíola, um lar deve apoiar e, na medida do possível, incentivar as visitas e os contatos com familiares. “Eu sugeriria às famílias a manter o contato que já tinham antes da mudança do idoso para o local, visitando-o, telefonando, realizando chamada por vídeo, convidando-o para um almoço, visita ou passeio, pois é muito importante a manutenção deste elo. Nesse sentido, proatividade e incentivo dos filhos e familiares dos residentes dos lares colabora para o contato de seus filhos com os avós, zelando assim pelo vínculo afetivo familiar e social”, enfatiza.

AFETO À DISTÂNCIA

Manter netos em contato com os avós é fundamental para o bem-estar de ambos. (Crédito: Arquivo Pessoal)

Apesar dessa relação ser tão importante para os dois lados, não há como, atualmente, não pensar na pandemia e em como ela tem afetado essa convivência. Afinal, com o isolamento social imposto para muitas famílias, especialmente antes da vacinação dos idosos, boa parte deste convívio foi reduzido, quando não suspendido de forma presencial. “Nesse momento, o carinho e amor pelos avós, com o toque, o abraço, a brincadeira e os aprendizados, precisaram ser adaptados e substituídos por chamadas de vídeo. E mesmo em tempos tão difíceis, avós aprenderam a “fazer um zoom” ou “mandar um zap” especificamente para matar as saudades dos netos, mostrando que não há barreiras para o conhecimento quando se trata de estar com quem é importante”, pontua Fabíola.

Esta, inclusive, tem sido a rotina de Manuela, de 12 anos, com sua avó. Como moram em cidades diferentes, por mais de um ano elas se encontraram apenas por uma tela de telefone. “Eu aprendi a fazer chamadas pelo celular e usar o Whatsapp para conversar com a minha neta. Ela mora na região serrana e eu no Rio, mas encontrava com ela pelo menos duas vezes por mês. Com a Covid, eu não fui mais e nem ela veio, mas começamos a falar praticamente todos os dias. Quando a encontrei, mais de um ano depois, eu já estava vacinada. Chorei abraçada a ela por uma hora. Na realidade, durante esse tempo todo, só não entrei em depressão por causa da Manu. Ela me dizia que só falaria comigo depois que eu comesse e fizesse minha caminhada. E eu fazia o que ela pedia, ansiosa para conversar com ela depois das minhas tarefas diárias. A gente ama nossos filhos, é claro, mas os netos têm algo diferente”, diz Tereza Dias, a avó, que faz 80 anos no próximo mês.

UMA RELAÇÃO QUE CURA
Márcio Kamada, médico geriatra e professor de Medicina da Universidade Santo Amaro, explica que há vários estudos que mostram que quando os elos emocionais entre avós e netos são fortes, a relação pode ser benéfica para saúde, bem-estar e desenvolvimento de ambos – no Brasil, segundo o Censo de 2000 (IBGE), 466 mil avós e bisavós cuidavam diretamente das crianças, dividindo não apenas a criação dos netos, mas também seus lares e a renda financeira; já em Berlim, estudos revelaram que avós que ajudam a cuidar dos netos vivem por mais tempo, e diminuem em 37% risco de mortalidade; e em Melbourne, na Austrália, as evidências indicam que cuidar dos netos pode retardar o envelhecimento cerebral e as doenças demenciais em cerca de dez anos.

A seguir, Kamada detalha um pouco mais sobre os benefícios que uma boa relação entre avós e netos pode proporcionar para ambos. Confira!

• Menor risco de depressão para avós e netos
A conclusão é de um estudo do Instituto do Envelhecimento da Universidade de Boston. De uma forma geral, a saúde psicológica de avós e netos é melhor quanto mais apoio emocional recebem uns dos outros, e nos casos dos avós, favorecida se esse apoio não impedir que se sintam “funcionalmente independentes”, ou seja, que os avós se sintam uteis.

• Maior agilidade cognitiva
Cuidar dos netos uma vez por semana está associado a um melhor desempenho cognitivo do que não cuidar dos netos ou não ter netos. A conclusão é de estudo realizado na Universidade de Melbourne (Austrália).

• Sentir-se saudável
Os avós que não cuidam dos netos têm maior probabilidade de dizer que têm pouca saúde do que aquele que costumam cuidar dos netos, seja de forma intensiva ou não. Esta conclusão baseada investigação “Grandparenting in Europe”. Tomar conta dos netos pode ser exigente do ponto de vista físico e emocional, mas pode ser recompensador porque permite que avós e netos criem uma relação mais próxima.

• Aprendizagem mútua
Os avós são um recurso multidimensional para a aprendizagem das crianças, concluiu estudo da Universidade de Londres. Os avós apoiam o desenvolvimento do conhecimento linguístico, cultural e científico das crianças; por sua vez, a interação com as crianças estimula o aprendizado dos mais velhos em áreas como tecnologia da informação.

Em tempo: Vale lembrar que em tempos de pandemia, os idosos fazem parte dos grupos de risco e essa interação exige mais cuidados. “Não devemos impor demanda demais ao ponto de tirar o prazer, a alegria e o bem-estar do idoso,ou de deixar de fazer suas coisas, de se cuidar e não conseguir gerenciar sua própria vida. Tem que se reconhecer os seus limites para não ultrapassar e gerar uma tensão emocional. O idoso não pode colocar sua própria saúde em risco. Devem reconhecer os limites e lembrar da individualidade e liberdade que precisam”, conclui o geriatra.

*PRISCILA CORREIA é jornalista, especializada no segmento materno-infantil. Entusiasta do empreendedorismo materno e da parentalidade positiva, é criadora do Aventuras Maternas, com conteúdo sobre educação infantil, responsabilidade social, saúde na infância, entre outros temas. Instagram:@aventurasmaternas.