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Ensino Bilíngue: como ajudar seu filho a falar outra língua desde pequeno?

Pensando nas múltiplas possibilidades que um 2º idioma pode oferecer às crianças, fizemos um dossiê sobre o estudo bilíngue

*Priscila Correia, do Aventuras Maternas, colunista de AnaMaria Digital Publicado em 11/02/2022, às 09h00

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A escola bilíngue certa pode ajudar no futuro do seu filho. - Unsplash
A escola bilíngue certa pode ajudar no futuro do seu filho. - Unsplash

Chegou o momento de matricular as crianças na escola, e o primeiro pensamento dos pais costuma ser: como essa instituição vai ajudar a formar um indivíduo correto e ético? Ou, como vai dar suporte às necessidades da minha família? A partir daí, buscamos um colégio que tenha a ver com o que pensamos sobre o mundo, valores que são importantes e, é claro, como a nossa criança será tratada quando estiver longe dos nossos olhos.

E, além do caráter, também queremos um local que prepare o nosso filho para o que ele vai enfrentar quando se tornar adulto. Neste mundo cada vez mais globalizado, nós, adultos, sabemos como aprender um segundo idioma é importante para abrir oportunidades relacionadas a diferentes áreas da vida. Justamente pensando nas múltiplas possibilidades que um segundo idioma pode oferecer às crianças, hoje vamos falar sobre bilinguismo, desde a primeira infância.

ANTES DE TUDO, É PRECISO ENTENDER

Laís Campos, mãe de Gisele, de 8 anos, conta ter pesquisado bastante antes de colocar a menina em uma escola, pois queria entender melhor o conceito de ensino bilíngue. Em muitas instituições, acho a explicação confusa. "Algumas informam que metade da carga horário é em um segundo idioma, outras que algumas matérias são inteiramente em duas línguas. Somente depois de pesquisar muito foi que entendi que escolas bilingues dão absolutamente todos os conteúdos em dois ou mais idiomas”, conta. 

Ou seja: o primeiro ponto para escolher uma escola bilíngue é entender que existem diferentes tipos de ensino de línguas estrangeiras no dia a dia: escolas internacionais, escolas bilingues e educação bilingue. Nas primeiras, além de 80% do currículo ser em outro idioma, sendo cerca de 20% em português, estas seguem o currículo e o calendário do país a que estão vinculadas.

“Este tipo de escola era originalmente frequentado por filhos de expatriados que não falavam o idioma local. Com o passar dos anos, porém, a procura por parte de famílias de não estrangeiros aumentou. Ao final do curso, os alunos têm mais facilidade em serem aceitos em universidades internacionais”, explica Maria Claudia Amaro, CEO e fundadora da Rhyzos Educação, detentora da marca Twice Ensino Bilíngue. Já as escolas bilíngues ou de imersão, segundo ela, têm, em sua maioria, o período integral e normalmente ensinam 50% do dia em português e a outra metade no segundo idioma, quase sempre o inglês.

“Alguns conteúdos não serão ministrados em português, apenas na segunda língua. Ou seja, as aulas de matérias como ciências e matemática, por exemplo, são ministradas apenas no segundo idioma. Os alunos serão testados não apenas no idioma, mas também no conteúdo. Este tipo de instituição tem um custo elevado, pois exige todo o corpo docente bilíngue, ou seja, os professores de matemática e geografia devem ter altos níveis de proficiência e fluência no segundo idioma, o que, por muitas vezes, leva estas escolas a buscar profissionais estrangeiros”, esclarece.

Por fim, ela explica que a educação bilíngue costuma ser a que causa mais confusão, pelo conceito mais amplo. “Nem sempre o ensino bilíngue presente na escola significa que a escola seja, de fato. Na educação bilíngue, estão as escolas com programas bilíngues, como o Twice, por exemplo. Elas oferecem carga horária estendida com aulas diárias de inglês integradas ao currículo. Neste caso, o idioma é ensinado através de conteúdos que fazem parte do currículo escolar, como matemática, geografia, história e ciências, além de projetos transdisciplinares", ressalta.

Mas isso não significa que os alunos deixarão de ter aulas de ciências em português, para terem a matéria ensinada em inglês. "Na educação bilíngue, o foco é o aluno bilíngue. As aulas são lecionadas por professores de inglês, que recebem treinamento e acompanhamento de consultores pedagógicos do programa”, complementa Maria Claudia. Outra dúvida, comum entre as famílias, é em relação às diferenças entre escolas que tenham um ensino mais puxado em outro idioma (independentemente de serem classificadas como internacionais ou bilingues) e os cursos de línguas.

Marcela Tavares Ribeiro, pedagoga e Coordenadora Pedagógica Sênior na Edify Education, empresa que oferece às escolas a capacitação necessária para se tornarem bilíngues, explica que na escola regular que oferta educação bilíngue, o objetivo é preparar o aluno para atuar globalmente. “Para isso, serão desenvolvidas competências nos alunos que os permitam participar de acordo com o contexto no qual estão inseridos. Isso tudo é feito através do inglês. Nesse caso, o idioma passa a ser uma ferramenta de comunicação e todo esse aprendizado é calcado em autenticidade, ou seja, o uso social da língua com significado. O inglês está ali para auxiliar na comunicação e essa necessidade de se comunicar em uma língua adicional torna o aprendizado do idioma mais natural e relevante também. No curso do idioma, o foco está no aprendizado do idioma. O foco são as 4 habilidades linguísticas: leitura, escrita, fala e escuta. Na educação bilíngue, nós vamos além dessas habilidades, desenvolvendo o aluno para se comunicar em qualquer contexto com naturalidade e segurança”, exemplifica.

PRECISA DO CURSO DE IDIOMAS POR FORA?

back to school
Crédito: Unsplash

Marcela pontua, ainda, outra questão importante: crianças e adolescentes que estudam em escolas bilíngues não precisam, necessariamente, frequentar cursos de idiomas. Isso porque os alunos destas escolas serão expostos a uma carga horária maior do que aquela oferecida nos cursos de idiomas, sendo uma grande vantagem essa imersão no idioma. Além disso, a proposta da educação bilíngue é ajudar os alunos a se tornarem cidadãos globais, capazes de participar da prática social na qual o texto está inserido.

Para Cuca Righini, coordenadora de currículo da Camino School, entre as principais vantagens oferecidas pelas escolas bilíngues está a imersão dentro do segundo idioma considerando o contexto cultural. “O bilinguismo traz o contato com outras culturas, por intermédio da linguagem. Além disso, estudos comprovam que o bilinguismo traz vantagens cognitivas importantes. Por um lado, essa prática estimula o desenvolvimento de conexões neurais, principalmente na região do córtex cingulado anterior (CCA), pois os bilíngues estão constantemente exercitando essa parte do cérebro. Por outro, essas pessoas exercitam mais as funções executivas cerebrais relacionadas à autorregulação, pois o cérebro precisa constantemente escolher entre uma língua e outra”, diz.

APRENDENDO DOIS – OU MAIS – IDIOMAS

Além de tudo que foi dito acima, sobre como “funciona” cada tipo de escola, é preciso entender como a sua criança vai se adaptar a todo o processo. Ana Claudia Guimarães, mãe de Luiza, de 9 anos, e Lucas, de 6, conta que os filhos nunca apresentaram problemas em ter uma educação bilingue na escola e falar apenas português em casa. “Normalmente, eles nem se confundem ao falar com a gente ou com outras pessoas da família, mesmo que na escola falem a maioria do tempo em inglês. Costumo conversar com meu marido que eles parecem esponjas. Até mesmo quando têm qualquer contato com um americano ou inglês, eles conseguem conversar e passam a usar inclusive gírias como se tivessem contato o tempo todo com aquele jeito de falar”, comenta.

E esse “entendimento” do idioma faz total sentido. Afinal, é na infância que existem as tais “janelas de oportunidade”. Cuca, da Camino School, explica que essas janelas referem-se ao processo de desenvolvimento cerebral ligados à aprendizagem. “Ao longo da vida, o cérebro passa por um processo denominado poda neural. As principais podas neurais acontecem nas faixas etárias de 3, 5 e 7 anos, quando a criança recebe centenas de estímulos, e na adolescência. O cérebro infantil nessa fase é como uma “esponjinha”, pronto para absorver novas aprendizagens. Contudo, isso não significa que adultos não podem aprender. Podem e devem, entretanto, poderão ter diferenciais como o sotaque, por exemplo”, diz.

Maria Claudia, da Twice, faz, inclusive, uma associação interessante: quando compramos um smartphone na loja, este está com a memória ainda vazia e tudo roda mais rapidamente (e o contrário acontece quanto o smartphone está com a memória lotada). “Esse processo é o mesmo no cérebro de uma criança, que tem ainda “espaço” para armazenar informações e aprender mais rápido e com maior facilidade. Não podemos esquecer de falar sobre as sinapses que acontecem em milhões de quantidades se comparadas a um cérebro que já não tem toda a disponibilidade. Dessa forma, dizemos, sim, que existem as janelas de oportunidade quando mais cedo aprendemos não só línguas estrangeiras, mas em relação a outros aprendizados também. Entretanto, vale a pena ressaltar que isso não invalida o aprendizado de crianças mais velhas, adolescentes e adultos”, pontua.

E existem crianças que não conseguem aprender o segundo idioma? Sobre isso, Sandro Souza, Professor de Matemática e Empreendedorismo da Maple Bear Mooca, relata casos de crianças que não conseguem aprender Português ou o Espanhol, o Inglês ou a Matemática ou a História ou a Geografia, dentre outros. “As limitações do aprender estão diretamente ligadas às crenças limitantes que foram pouco a pouco sendo sugestionadas na formação cerebral do estudante. Pequenas frases, às vezes ditas sem qualquer intenção negativa, constituem fortes pilares que são, por vezes, construídos no inconsciente do estudante que desenvolve, ao longo do tempo, medos, bloqueios ou outras restrições pois se fundamentou no modelo cerebral “Eu não sou capaz.” Logo, mais uma vez, o papel do mediador é fundamental para estimular o aluno a perceber que ele é capaz de aprender e de aprender muito. O próprio mediador deve, primeiramente, compreender suas próprias limitações e não transferir seus medos ou bloqueios aos estudantes”, comenta.

Outro questionamento bastante comum entre os pais é em relação ao processo de adaptação escolar quando a criança parte de uma escola “normal”. Claudia V. Xavier, que é Professora de Inglês e Coordenadora do núcleo Bilíngue da Bem Viver Creche e Pré-escola, explica que a criança é acolhida naturalmente e seu tempo de fala é respeitado. “É possível que, inicialmente, fique retraída, pois está em outra comunidade escolar, onde tudo é novidade, inclusive o segundo idioma. Nesse momento, é de fundamental importância a figura do professor para estabelecer uma conexão de segurança e de afetividade. Quando esta acolhida é feita de forma pacífica, é mais tranquilo o passear entre língua materna e o segundo idioma”, diz. Mas ela faz um alerta: ao escolher colocar sua criança em uma escola bilíngue, freie suas expectativas: "Cada pessoa tem um tempo diferente de aprendizado e deve ser respeitado”.

E EM CASA?

Se, por um lado, o aprendizado está garantido dentro do ambiente escolar, como deve ser o dia a dia dessas crianças ao voltarem para casa para que continuem imersas nos dois idiomas? Roberta Castro conta que o filho Filippo, de apenas 5 anos, já está tão inserido nesse universo português/inglês, que naturalmente ele fala no idioma, como se a mãe também fosse fluente.

“Meu filho aprendeu sozinho. Desde muito cedo, com pouco mais de 2 anos, ele começou a demonstrar interesse em assistir a desenhos em inglês. Mas foi durante a pandemia que ele, de fato, aprendeu. Foi algo muito natural, pois nunca incentivei, já que é muito pequeno e nem começou a ser alfabetizado ainda. Ao perceber essa facilidade, inclusive pelo fato dele ter o diagnóstico de superdotação, o caminho natural foi procurar uma escola bilingue. Hoje, ele estuda em uma instituição trilingue (português/inglês/espanhol), onde tem se desenvolvido ainda mais. Tem horas até que ele não lembra uma palavra em português, por exemplo, mas já sabe em inglês, isso é bem interessante. O engraçado é que eu não falo inglês perfeitamente e ele quer conversar no segundo idioma. Então, dessa forma, eu também estou aprendendo”, diz. E confessa: “não gosto do inglês, prefiro espanhol, mas tive que voltar a ter aulas para entender o Filippo”, diverte-se.

criança brincando
Crédito: Markus Spiske/Unsplash

Mas será que, em algum momento, a língua nativa pode ser “mal aprendida” caso a criança se identifique mais com o segundo idioma? Para Sandro, da Maple Bear, ao contrário do que se pensa, expor os pequenos a diferentes idiomas favorecem seu desenvolvimento em diversos aspectos. Ao exercitar seu cérebro diariamente, a criança está se preparando para que este seja mais plástico, isto é, que sua capacidade de aprender se torne cada vez mais ampla, o que favorece a aprendizagem ao longo da vida e sua adaptação ao ambiente. Sendo assim, o medo de algo ser ‘mal aprendido’ não possui fundamentação teórica plausível, garante ele, ressaltando ainda que o fato da criança experienciar idiomas diferentes ao longo do seu dia torna-a ainda mais capaz de desenvolver sua plasticidade cerebral, uma vez que sua capacidade de code-switching (mudança de idioma) se amplia à medida que vai interagindo com diferentes pessoas e em diferentes ambientes.

"É claro que a afetividade influencia na aprendizagem, mas não somente de idiomas. Os mediadores, quer sejam os pais ou os professores, devem proporcionar a melhor interação possível do estudante com o objeto de estudo. Tal mediação perpassa pelo desenvolvimento da curiosidade discente por meio questionamentos que o levem à investigação e à descoberta. A cada descoberta, o estudante é capaz de perceber o quanto sabe e o quanto ainda é capaz de aprender. E, este ciclo virtuoso se repete sempre que a estimulação mediadora se fizer adequada. Logo, para que o estudante aprenda de maneira eficaz, é fundamental o alinhamento entre os principais mediadores do processo educacional: a família e a escola. Quanto mais alinhados, melhor e mais natural será o processo de aprendizagem do estudante não apenas no ambiente escolar, mas para vida”, diz.

Claudia, da Bem Viver, pontua, ainda, que as crianças não confundirão os dois idiomas. “A princípio, no bilinguismo podem ocorrer trocas entre vocabulários, ou seja, alternar língua materna e segunda língua, isto sendo perfeitamente normal. Mas logo o cérebro começará a organizar/categorizar os idiomas. Esse cérebro infantil estará em processo de novas conexões neurais, expandindo assim seu desenvolvimento”, complementa.

Para os pais que quiserem estimular ainda mais seus filhos em casa no segundo idioma, boas dicas são ouvir músicas, assistir a vídeos, ler livros, brincar com a criança incentivando a criança a falar nomes de objetos e alimentos na língua estudada. “Ofereça a oportunidade de explorar recursos na língua estrangeira que maximizem a exposição da criança, como vídeos, programas de TV com desenhos animados e atividades lúdicas, jogos, recursos online, livros/comics, imagens, receitas, contato com os colegas que falam essa segunda língua (playdates), museus/centros de cultura/casas de memória (muitos possuem tours ou explicações em outras línguas). Sempre atividades lúdicas e interativas, que estimulem e revisem o que foi aprendido na escola. As atividades lúdicas também podem facilitar o aprendizado dessa língua pelos responsáveis de uma forma divertida e leve, estimulando e celebrando o tempo de família juntos”, conclui Cuca Righini, da Camino School.

INCENTIVO Á EDUCAÇÃO BILINGUE

A seguir, Claudia, da Bem Viver, lista 10 motivos para escolher o ensino Bilíngue desde a primeira infância

  1. A criança aprende mais rápido que um adulto, pois o desenvolvimento cerebral infantil é mais acelerado;
  2. O cérebro é mais estimulado ao ouvir uma língua desconhecida;
  3. A habilidade da escuta aumenta através da diferenciação de sons e pronúncias;
  4. Ajuda a aprender outros idiomas futuramente;
  5. Desenvolve a concentração ao tentar entender o que está sendo dito;
  6. Exercita a memória, pois há construção de um vocabulário diversificado da língua materna;
  7. Desenvolve a criatividade ao ser exposto a situações comunicativas desconhecidas;
  8. Tem acesso às literaturas em uma segunda língua;
  9. Ser mais empático e aceitar melhor as diferenças;
  10. Comunicar-se com pessoas de diferentes culturas estabelecendo novas relações sociais.

*PRISCILA CORREIA é jornalista, especializada no segmento materno-infantil. Entusiasta do empreendedorismo materno e da parentalidade positiva, é criadora do Aventuras Maternas, com conteúdo sobre educação infantil, responsabilidade social, saúde na infância, entre outros temas. Instagram:@aventurasmaternas.