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Qual é a importância do brincar para o desenvolvimento infantil?

Crianças são extremamente criativas, investigadoras e naturalmente exploram o ambiente

*Priscila Correia, do Aventuras Maternas, colunista de AnaMaria Publicado em 21/05/2021, às 08h20

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As brincadeiras ajudam a desenvolver o cérebro. - Hai Nguyen Tien/Pixabay
As brincadeiras ajudam a desenvolver o cérebro. - Hai Nguyen Tien/Pixabay

Vamos começar a coluna desta semana propondo um teste simples: dê uma tampinha de garrafa ou um brinquedo tradicional na mão de uma criança pequena. A resposta a esta experiência pode te surpreender. Isso porque tampinhas, papéis picados, garrafas, caixas de papelão e água num baldinho, entre outros itens simples, costumam chamar mais a atenção dos pequenos, gerando momentos de faz de conta e gargalhadas divertidas.

Exatamente por isso, nunca é tarde para lembrar que crianças precisam ter oportunidades para brincar. Uma panela e uma colher viram um brinquedo se ela for estimulada para isso. "O envolvimento dos pequenos no momento de fazer um bolo com a mãe, por exemplo, pode virar uma brincadeira”, exemplifica a neuropsicóloga clínica Andréa Soares Delfin, da Clínica Inaspe. 

criança com panela na cabeçaUma simples panela vira a maior brincadeira. (Crédito: Dadion Gomez/Pixabay)

Funciona porque crianças são extremamente criativas, investigadoras e naturalmente exploram o ambiente, experimentando inúmeras situações. "Já o brinquedo caro, 'pronto', não estimula tanto a criatividade e a capacidade de construir delas, pois normalmente vêm com uma 'bula', um manual de como brincar, restringindo a uma maneira de brincar específica", complementa.

CONSTRUINDO ESSE BRINCAR
Andréa Delfin explica ainda que brincar é uma grande mola propulsora para estimular os circuitos nervosos do cérebro, constituídos por bilhões de células. "Elas farão conexões com outros tantos neurônios, criando os circuitos necessários para executar as mais diferentes funções”, esclarece.

E foi pensando neste estímulo que a professora Vanessa Pavão decidiu empreender durante a pandemia, na tentativa de buscar uma solução para o próprio filho, seus alunos e outras famílias. A ideia era encontrar estratégias simples para deixar a criatividade se libertar pelas mãos das crianças. 

O projeto 'Brincar Juntos' leva mini mundos em caixas para a casa dos pequenos. "Os kits são organizados e instruídos para que um adulto participe também. Iniciei com a faixa etária de 2 a 4 anos, mas, aos poucos, foi surgindo a necessidade de ampliar isso. E comecei a sugerir brincadeiras para as famílias realizarem em casa com materiais que temos à mão", comenta.

Vanessa Pavão cria brincadeiras educativas para o filho e outras famílias (Crédito: Arquivo pessoal)

Vanessa conta que muitas das propostas são realizadas com o seu filho de 10 anos, a fim de deixar as telas e eletrônicos um pouco de lado. Para isso, ela criou uma caixa de brincar com material não estruturado e sucata, pois queria também levar a conscientização do reaproveitamento. "A criança que brinca, seja sozinha ou em grupo, independentemente do material usado, está transformando o seu mundo. Não dá para imaginar uma criança que não brinque. É um dever do cuidador permitir o brincar”, completa.

BRINCAR TAMBÉM É SAÚDE
Segundo um estudo publicado pela Academia Americana de Pediatria (APP), a brincadeira diária, principalmente nos primeiros dois anos de vida, é essencial para o desenvolvimento social, emocional, cognitivo e fonético dos bebês. Ela é tão importante que a Organização das Nações Unidas(ONU) a considera como um direito universal das crianças.

As brincadeiras têm um papel fundamental no desenvolvimento do cérebro, ativando as sinapses e desenvolvendo habilidades importantes para serem usadas ao longo da vida. "Habilidades essas que não são passadas dentro de uma sala de aula”, explica a pediatra Felícia Szeles. Segundo ela, o desenvolvimento comportamental e neurológico conquistados com o brincar são importantes para a criança aprender a lidar com sentimentos e emoções. Além disso, as brincadeiras também estimulam o aprendizado de vocabulário e números, por exemplo.

ADULTOS CANSADOS
Com a sobrecarga da pandemia, porém, muitas vezes o brincar se torna mais uma cobrança a mais para os responsáveis. E como lidar com essa necessidade de forma equilibrada e saudável para pais e filhos? A pediatra indica que o ideal é que os adultos tirem pelo menos 30 minutos por dia para brincar com os pequenos.

Caso não seja possível, por conta da rotina agitada, uma dica é transformar algumas obrigações em brincadeiras. Que tal transformar a hora de comer em um momento lúdico, com aprendizado sobre cores, alimentos, porções e sabores? "Ler um pouco antes de dormir e estimular a imaginação com boas histórias também é uma excelente alternativa e ainda ajuda na qualidade do sono da criança", sugere.

Já as brincadeiras mais afetivas ganham uma importância maior com o distanciamento social, pois cumprem esse papel da conexão pessoal e sociabilidade tão fundamentais para o nosso desenvolvimento. Estimular o afeto em pequenas atitudes do dia a dia é importante para deixar as crianças seguras até para dividirem com os pais qualquer problema que estejam enfrentando.

APOSTE NO FAZ DE CONTA
Ainda meio perdido sobre como entreter os pequenos em casa? Pois saiba que sugestões de brincadeiras simples e possíveis não faltam, tais como massinha, jogos sensoriais, cozinhar, pintar e desenhar, além de leitura, dançar e cantar, entre outras. 

As crianças também adoram se divertir com o famoso ‘Era uma vez…’. "O faz de conta ajuda a desenvolver a imaginação, criatividade, vocabulário e linguagem corporal. Também é uma ótima oportunidade para inserir temas importantes nas histórias, como o respeito ao diferente - bullying - e a solidariedade", lembra a pediatra.

BRINCADEIRAS DIRECIONADAS
Sim, brincar é fundamental! No entanto, é preciso entender que brincadeiras direcionadas a cada faixa etária são essenciais para oferecer benefícios ao desenvolvimento. Na sequência, Andréa Soares Delfin indica os brinquedos ideais para cada idade:

0 a 2 anos
A pequena percussão da Mini Einsten é indicada para bebês desenvolverem os sentidos por meio da música. (Crédito: Divulgação)

Idade para movimentar-se. O bebê começa a conhecer o mundo por meio dos sentidos. Utilize, portanto, móbiles para a experiência auditiva e visual, especialmente os sonoros. Brinquedos de borracha em forma de animais, além de carrinhos, são muito atrativos e desenvolvem o tato.

Se tiver cheirinho, também desenvolve o olfato. Objetos que imitem sons, bonecos de tecido, brinquedos de puxar e empurrar, mordedores e cubos para empilhar também são bem-vindos. Mas, atenção: todos os brinquedos devem ser de tamanho grande para que a criança não engula.

2 a 3 anos
Os bonecos do Mundo Bita, quando associados às canções, ajudam a construir histórias e conexões. (Crédito: Divulgação)

Idade para descobrir. A criança já consegue se movimentar sozinha. Aposte nos que estimulam atividades físicas, como objetos para puxar e empurrar, triciclos, bolas, cavalinho de balanço, blocos de montar. Eles adoram animais de tecido e pelúcias; bonecos; caixas com objetos para tirar, colocar, encaixar; brinquedos que mostram reação a uma ação (por exemplo, uma criança aperta a mão da boneca e ela fala); blocos com diferentes cores. Nesta fase, também é importante os brinquedos sejam de tamanhos grandes para não oferecer perigo de engolir.

3 a 6 anos
A maleta de médico da Multikids estimula o Faz de Contas (Crédito: Divulgação)

Idade para fazer de conta. A criança adquire cada vez mais destrezas, sendo importante nesta fase desenvolver ainda mais as atividades motoras amplas e finas, oferecendo oportunidade de pular com dois pés, depois com um pé, morto-vivo, andar sobre uma linha, entre outros. Eles também gostam de miniatura de objetos que imitem a vida real. 

Para estimular a imaginação, vale a pena investir em fantasias, máscaras e fantoches. Estimule também jogos simples de regras, como dominó e quebra-cabeças com nível fácil. Pintar, desenhar, brincar de massinha, argila, blocos, lego, jogos em turma, casinha, bonecos com acessórios, carros e motos também são apreciados. Nessa fase, podem começar a interagir com as tecnologias, mas sem exceder o tempo de 1 hora.

6 a 11 anos
A arena da Sunny Brinquedos é a dica para aliar atividades intelectuais ao brincar. (Crédito: Divulgação)

Idade para pensar e criar. Mais socializada, a criança se interessa por inovações e descobertas. Ofereça brinquedos que desenvolvam atividades intelectuais, físicas e os que envolvam desafios como, por exemplo, um quebra-cabeça avançado. Eles adoram robôs, patins, bicicletas, brinquedos de construção, jogos no computador, veículos em miniatura, brinquedos com super-heróis ou personagens de desenhos e filmes. Quanto a gadgets, nada além de uma hora por dia.

A partir de 11 anos

O clássico Pogobol estimula o desafio físico de conquistar novos pulos, gerando interesse nas crianças maiores. (Crédito: Divulgação)

Idade para avançar e inovar, sendo uma fase de estimular a imaginação e o raciocínio lógico. O pré-adolescente se interessa por jogos mais sofisticados e complexos. Eles adoram jogos de tabuleiro, de computador, de celulares, pebolim, pingue-pongue, autoramas, ferroramas, bicicletas e skates. Ainda assim, estabeleça um horário para a criança brincar com os jogos eletrônicos. Nessa idade, a restrição é de duas horas por dia, não mais do que isso. 

O uso excessivo das tecnologias deixa as crianças mais passivas, com dificuldades em interagir ou ter contato físico com outras pessoas. E existe grande possibilidade de ter prejuízo na atenção e concentração, podendo limitar também o movimento e, consequentemente, o rendimento acadêmico e a alfabetização, sem contar que podem prejudicar o sono e desenvolver a obesidade.

EM TEMPO: Brincar vai muito além de brinquedo. E, neste momento de pandemia, é essencial promover a construção da infância também dentro de casa. Por isso, ações como a Semana Mundial do Brincar, que acontece desde 2020, são tão importantes. Realizada pela Aliança pela Infância, a SMB é uma campanha de sensibilização sobre a importância do brincar, do direito à infância e da necessidade de respeitar o brincar mesmo em tempos de pandemia. 

Este ano, a SMB vai acontecer a partir do próximo sábado (22), até 30 de maio. O tema será “Casinhas das Infâncias”, com a proposta de valorizar o brincar de casinha, a casa e as tradições de brincadeiras, cantigas e jogos lúdicos passados de geração em geração. A ação é coletiva e todos podem participar, postando ideias de brincadeiras com a #semanamundialdobrincar.

*PRISCILA CORREIA é jornalista, especializada no segmento materno-infantil. Entusiasta do empreendedorismo materno e da parentalidade positiva, é criadora do Aventuras Maternas, com conteúdo sobre educação infantil, responsabilidade social, saúde na infância, entre outros temas. Instagram:@aventurasmaternas