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"Um Dia no Parque": mobilização pelas áreas protegidas é a maior ação no país

"Um Dia no Parque”: ação que valoriza parques e reservas do Brasil acontece neste domingo

*Priscila Correia, do Aventuras Maternas, colunista de AnaMaria Digital Publicado em 22/07/2022, às 08h20

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'Um dia no Parque' terá uma programação de lazer, cultura e educação ambiental. - Arquivo pessoal
'Um dia no Parque' terá uma programação de lazer, cultura e educação ambiental. - Arquivo pessoal

Assunto recorrente aqui na coluna, o meio ambiente não é importante apenas para quem gosta do assunto, é uma questão importante para garantir o futuro dos nossos filhos e de seus descendentes. Afinal, se hoje já sofremos tanto com a interferência do homem na natureza, imagine se nenhuma providência for tomada e muito rapidamente?

Mas aflorar essa consciência não é tarefa fácil. E não basta apenas ensinar aos nossos filhos na teoria. É preciso, sim, colocar a mão na massa com eles, seja por meio de reciclagem, reaproveitamento e reuso do que temos; seja incentivando nossos pequenos a terem mais contato com a natureza mostrando suas infinitas belezas e importância para nossa vida; ou por um choque de realidade, falando sobre as temperaturas cada vez mais descompensadas em todo o planeta, pelo alto valor que já pagamos hoje pela água, pelo desmatamento causado pela pecuária e madeireiras etc.

Hoje, vamos falar sobre um movimento que, para muitos, pode ser visto como o primeiro passo para esse despertar em relação ao meio ambiente, o 'Um dia no Parque', a maior ação de valorização de parques e reservas do Brasil, que, este ano, acontecerá no próximo domingo, dia 24, e terá uma programação de lazer, cultura e educação ambiental.

EXPERIÊNCIA VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS

Boas experiências são fundamentais para que as crianças aprendam sobre qualquer assunto. E por isso movimentos como o 'Um Dia No Parque' são tão importantes, pois elas aprendem sobre a natureza na prática - desde 2018, quando o projeto foi criado, as Unidades de Conservação (UC) preparam uma programação especial em um determinado dia do ano.

A ideia do movimento partiu de Angela Kuczach, Diretora Executiva da Rede Pró-Unidades de Conservação, uma ONG ambientalista que faz parte da Coalizão Pró UCs, e é parte de um grupo de instituições que se propõe a congregar empresas e organizações da sociedade civil comprometidas com a valorização e a defesa das Unidades de Conservação da Natureza. “A ideia do Um Dia No Parque teve duas inspirações. Eu moro perto de um parque em Curitiba. Um dia, estava assistindo ao pôr do sol da minha janela e pensei que todos deveriam poder fazer o mesmo. Então, me inspirei na National Parks Week, dos Estados Unidos, quando milhões de pessoas visitam os parques nacionais daquele país, e sugeri para as outras instituições da Coalizão Pró UCs, que toparam na hora”, conta. “A ação é uma oportunidade de conectar as pessoas às nossas áreas protegidas”.

Para Mariana Napolitano, Gerente de Ciências do WWF-Brasil, a campanha tem prioritariamente um caráter de engajamento. “O objetivo principal é aproximar as pessoas da natureza para que valorizem seus benefícios e a necessidade de conservá-la. Mas, além disso, há também o incentivo ao uso público e visitação dessas áreas que, além de gerar renda para a proteção dos parques e reservas, pode beneficiar uma ampla gama de atores locais”, afirma.

De cada 10 horas de vida de uma criança, nove elas passam em ambientes entre paredes, concreto e cimento, segundo pesquisa do Instituto Alana de 2021. O contato com a terra, o ar livre e outros elementos comuns às crianças moradoras de áreas rurais é escasso para aquelas que vivem nos centros urbanos, o que traz prejuízos físicos e cognitivos para a faixa etária de 0 a 12 anos que não convive com estes espaços.

“Incentivamos que crianças desde muito pequenas tenham contato diário com estes espaços”, afirma Maria Isabel Amando de Barros, pesquisadora do programa Criança e Natureza do Instituto. Bebel, como é conhecida, explica que é muito comum que as crianças urbanas cresçam “confinadas”. “Elas estão o tempo todo sendo monitoradas em casa, na escola, são sempre conduzidas por adultos em ambientes fechados. Já na natureza, elas se sentem livres”, aponta.

O contato com esses elementos é tão importante que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ministério da Educação tem como diretriz o “campo das experiências”, regulação que incentiva experiências fora do espaço da escola para apresentar aos pequenos as transformações da natureza e outros sons, cores e formas.

Segundo Bebel, na natureza as crianças têm outra noção de espaço e tempo, sendo este um lugar para explorar e criar suas próprias brincadeiras. “São nessas oportunidades que a gente se conhece, entende do que gosta e do que tem medo, são experiências muito ricas que influenciam o resto da vida como pessoas”, assegura.

UM DIA PARA TODA A FAMÍLIA

floresta
Crédito: Arquivo pessoal

O Um Dia no Parque é um evento pra toda a família. Porém, é preciso observar os locais em que as crianças terão mais liberdade e atividades. Para pais que quiserem levar os filhos, a principal dica é: decida a atividade com a criança. Escolha feita, o indicado é levar roupa extra, lanche e água. Além disso, dá pra levar binóculos, ou lupa, para as crianças observarem a natureza. No entanto, é preciso cuidar para que os pequenos (ou adultos) não toquem em insetos ou qualquer outro animal, pois isso pode oferecer risco para ambos.

“No parque, dá pra deixar a criança livre pra correr, fazer descobertas, se sujar, tudo sob o olhar dos responsáveis e respeitando as normas do parque, é claro. As crianças são curiosas e querem entender como as coisas funcionam. Então, mães, pais e responsáveis podem pesquisar sobre a área que vai ser visitada e contar sobre o rio, as árvores, algum animal. Isso ajuda a iniciar uma consciência ambiental na criança”, pontua Angela.

Os locais têm atividades variadas. Há palestras em alguns lugares, mas a maioria é atividade ao ar livre, guiadas ou não, ou seja, com orientação de alguém ou autoguiadas. Alguns parques vão oferecer atividades específicas para crianças. No Parque Estadual Rio Guarani, em Três Barras do Paraná, no Paraná, haverá criação e pintura com tintas naturais. Em Uberlândia, Minas Gerais, vai ter atividade de educação ambiental para crianças e adolescentes com apresentação de animais da fauna local.

“A variedade de atividades é grande. Então, o ideal é visitar o site umdianoparque.org. Se não encontrar um parque na região desejada, a sugestão é escolher uma que sempre quis conhecer, se inspirar nas atividades programadas e fazer sua própria atividade. Nosso parceiro institucional, Criança e Natureza, oferece uma ferramenta que ajuda a escolher uma atividade de acordo com a idade da criança. Para conhecer as atividades, é só entrar no site”, sugere Kuczach.

DE VOLTA AO PRESENCIAL

Nos últimos dois anos, por conta da pandemia, o encontro foi realizado de forma hÍbrida, já que nem todos os parques estavam abertos para visitação. Mas no próximo domingo, finalmente, as pessoas poderão novamente fazer parte do movimento de forma presencial. E melhor: com algumas novidades.

“No primeiro ano, as atividades eram totalmente relacionadas com ecoturismo, como trilhas e palestras de educação ambiental, organizadas pelas Unidades de Conservação e por pessoas ligadas à área ambiental. Hoje, as atividades continuam em contato a natureza, mas temos também grupos religiosos, escoteiros, empresas particulares, universidade, além das próprias UCs e grupos ligados à área ambiental. A maior conquista é o Um Dia No Parque já ser reconhecido na área ambiental e a data ser aguardada. Temos apoio de secretarias estaduais, grupos de trilhas, montanhismo, empresas de ecoturismo, além da parceria com a Rede Brasileira de Trilhas, Programa Criança e Natureza, além do ICLEI”, comenta Angela Kuczach.

Como anteriormente, as atividades serão variadas e vão abranger todos os biomas. Na Mata Atlântica, por exemplo, no Rio de Janeiro, o visitante poderá participar de oficina de compostagem, plantio de mudas nativas ou fazer uma visita guiada no Parque Estadual do Grajaú ou, ainda, conferir uma exposição fotográfica e uma peça teatral no Monumento Natural das Ilhas Cagarras. Já em São Paulo, no Parque da Cantareira, o visitante poderá fazer uma visita monitorada nas trilhas da floresta e conhecer aspectos históricos desde a criação do parque, até os dias atuais, as espécies da flora em destaque na floresta e os aspectos geológicos durante o percurso.

Ainda na Mata Atlântica, no Parque Nacional do Iguaçu na cidade de Foz do Iguaçu (PR), as pessoas poderão conferir uma exposição do Projeto Onças do Iguaçu, participar de caminhada com visita às Cataratas ou fazer observação de aves no Parque Linear Samambaia em Maringá (PR). Já o Parque Estadual Vitório Piassa, em Pato Branco (PR), oferecerá oficinas de yoga, meditação, trilha guiada e contação de história.

Atividades como trilha, palestras e visitas aos mirantes podem ser conferidos no Parque Nacional do Viruá, em Caracaraí (RR), Parque Nacional do Jaú e Novo Airão (AM) e outros. Quem estiver na Chapada dos Veadeiros poderá conferir atividades como yoga e aproveitar um espaço solidário de venda de produtos das comunidades e artesãos locais no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso.

No Parque das Neblinas, reserva ambiental da Suzano gerida pelo Instituto Ecofuturo, que este ano participa pela primeira vez do Um Dia No Parque, a programação inclui opções como trilhas autoguiadas, trilhas monitoradas, canoagem e cicloturismo. Também haverá um espaço para quick massage e venda de produtos naturais para cuidados pessoais, além de café e lanches produzidos com itens nativos da Mata Atlântica. Por lá, as atividades são pagas e têm valores a partir de R$30.

“Neste ano, o evento volta a ser 100% presencial, convidando todos para se reencontrarem e fazerem atividades e eventos ao ar livre. A cada edição, cresce o número de UCs cadastradas, bem como a curiosidade dos visitantes, que muitas vezes moram próximo a um espaço protegido de conservação e não sabem”, explica Kuczach. “A ação, que é uma oportunidade de conectar as pessoas às nossas áreas protegidas, em alguns casos é o único momento do ano em que se pode fazer isso, já que muitas dessas áreas não são abertas ao público. É emocionante ver a cada ano mais e mais Unidades de Conservação aderindo à ação, assim como um público cada vez mais variado descobrindo que a natureza é um lugar onde a gente mora, vive e que cada visita é uma volta ao lar. No fim das contas, o Um Dia No Parque não é um evento nosso, mas de todos, já que cada pessoa terá a oportunidade de descobrir, valorizar e cuidar de nossas áreas protegidas”, conclui.

Em tempo: para saber quais parques são pagos, é preciso consultar a área que quer visitar para verificar se há alguma cobrança, tanto de entrada como para a atividade. Mas a maioria dos parques e das atividades são gratuitas.

COMO PARTICIPAR DO UM DIA NO PARQUE?

Pela página da ação na internet, os visitantes podem pesquisar a Unidade de Conservação mais próxima de casa em todo o país por meio de um mapa interativo e filtros. Também dá para ficar por dentro da programação de atividades nas redes sociais do Um Dia No Parque. Toda a programação confirmada em quase todos os Estados do Brasil. Confira aqui no site as atividades disponíveis na sua região.

MAIS NATUREZA ‘NA VEIA’

Além do Um Dia no Parque, para as famílias que quiserem aproveitar as férias para levar os filhos para terem ainda mais contato com a natureza, há parques naturais incríveis para ir com os pequenos durante as férias escolares. Além de possibilitar a diminuição do tempo em frente aos computadores, tablets, smartphones e afins, os passeios em parques trazem benefícios à saúde física, mental e emocional, permitindo que a criança melhore a imunidade, memória, sono, aprendizado, sociabilidade e capacidade física.

Essas constatações estão em uma pesquisa liderada pelo Instituto Alana, organização especializada no crescimento e desenvolvimento de crianças inseridas em contextos urbanos. O mesmo estudo revela, ainda, que o contato com a natureza pode reduzir significativamente os sintomas de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), estresse e obesidade na infância.

No ano passado, o Instituto Semeia, organização sem fins lucrativos que atua para a valorização das unidades de conservação do país, lançou o guia “Parques tamanho família: Um novo olhar sobre a infância nas Unidades de Conservação do Brasil”. O material norteia gestores na construção de estruturas e promoção de atividades para melhorar a experiência e acessibilidade de crianças e jovens à essas áreas protegidas. “Evidências apontam que, além de causar impactos positivos na saúde das crianças, o contato com a natureza na infância pode promover comportamentos mais conscientes e favoráveis à preservação do meio ambiente na vida adulta. Portanto, é fundamental mobilizar a nova geração para maior valorização e apoio à conservação da biodiversidade”, afirma Mariana Haddad, coordenadora de Conhecimento do Instituto Semeia.

Abaixo, conheça cinco parques naturais para levar as crianças:

1 - Floresta Nacional de Brasília, DF:

Uma das principais áreas de proteção do Cerrado, a Floresta Nacional de Brasília possui 9 mil hectares povoados pela fauna e flora do bioma característico da região central do país. Criada em 1999, a unidade de conservação abriga a maior parte das nascentes que irrigam aproximadamente 70% da maior represa do Distrito Federal. Por lá é possível acampar sob as estrelas, observar e interagir com a natureza e viver experiências inesquecíveis. Há trilhas curtas, como a Murundus, espaço para piquenique e banheiros disponíveis. Para garantir que a experiência seja a melhor possível para todos, a dica é reservar um período de descanso entre as atividades, respeitando o tempo e o interesse das crianças. Não se esqueça de consultar a previsão do clima antes de reservar a visita.

2 - Parque Estadual da Cantareira, SP:

Cantareira
Crédito: Arquivo pessoal

Moradores da capital paulista que não desejam percorrer grandes distâncias para usufruir do contato com a natureza podem recorrer ao Parque Estadual da Cantareira. Uma das maiores áreas de mata tropical nativa do mundo, o espaço abriga centenas de espécies ameaçadas de extinção, como a jaguatirica, o gavião-pomba e o gato-do-mato. Refúgio natural para quem vive no maior centro urbano do Brasil, o parque reúne quatro principais núcleos (Pedra Grande, Engordador, Águas Claras e Cabuçu) e dispõe de atividades como observação de aves, passeio de bicicleta, banho de cachoeira e trilhas sinalizadas. A boa estrutura de visitação do local também inclui uma área social para alimentação. Leve sanduíches, frutas e barrinhas de cereal para compor o lanche da família.

3 - Parque Nacional de São Joaquim, SC:

Em meio aos municípios de Urubici, Orleans e Grão-Pará, o Parque Nacional de São Joaquim se destaca como um dos atrativos mais populares da região serrana de Santa Catarina. Além de possuir dezenas de cascatas, paredes de pedra e mirantes por toda a extensão, o primeiro parque nacional do estado também abriga atrações emblemáticas como o Morro da Igreja e a Pedra Furada. Devido à baixa temperatura média anual na localidade, a ocorrência de neve é muito frequente, especialmente nos meses de junho, julho e agosto.

Nesta época, uma visita ao parque é sinônimo de oportunidade única: estar em um reduto de Mata Atlântica no auge do inverno e presenciar como a natureza se comporta sob essa condição climática. Famílias com crianças pequenas podem se aventurar na Trilha da Cascatinha, caracterizada como uma caminhada leve pelas margens de um rio, com direito à observação de aves e contemplação de belas paisagens ao longo do percurso. A prática de esportes de aventura também é possível, desde que todos estejam vestidos com roupas leves, que permitam a movimentação do corpo.

4 - Parque Nacional de Ubajara, CE:

Ubajara
Crédito: Divulgação

Repleto de belas trilhas e cachoeiras, o Parque Nacional de Ubajara, no Ceará, abriga também uma gruta que recebe o mesmo nome da unidade de conservação. Situada em uma depressão de 535 metros, a Gruta de Ubajara possui 1.200 metros de extensão, 75 metros de profundidade e está disponível para acesso. O teleférico do parque encontra-se desativado para manutenção. Como alternativa, as famílias podem apreciar as paisagens naturais de Ubajara no Mirante Gameleira.

Além da vista panorâmica, o ambiente oferece atividades como arvorismo e banho em olho d’água. Outra opção para incluir no passeio ao ar livre é fazer uma das trilhas na companhia de um guia autorizado, com direito a roteiro histórico-cultural e visita às cachoeiras. Com aproximadamente 300 metros de extensão, a Trilha da Ibiapaba é um exemplo de trajeto leve, curto e acessível para crianças e adultos.

5 - Parque Nacional do Iguaçu, PR:

O Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, abriga uma das maiores e mais impressionantes quedas d’águas do mundo, cuja extensão totaliza quase 2.700 metros. Essa unidade de proteção abriga algumas das espécies representativas da fauna e flora brasileiras que estão ameaçadas de extinção, como o papagaio de peito roxo, a onça-pintada, a ariranha e o tamanduá-bandeira. Patrimônio Mundial Natural da Humanidade pela UNESCO desde 1986, o parque desperta em crianças e adultos o sentimento de valorização do patrimônio natural nacional e o desejo de preservá-lo. Experiências como a observação dos animais e tour guiado auxiliam no desenvolvimento integral de percepções e sentidos infantis, criando lembranças para toda a vida.

*PRISCILA CORREIA é jornalista, especializada no segmento materno-infantil. Entusiasta do empreendedorismo materno e da parentalidade positiva, é criadora do Aventuras Maternas, com conteúdo sobre educação infantil, responsabilidade social, saúde na infância, entre outros temas. Instagram:@aventurasmaternas