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Sexo oral pode dar dor de garganta? Especialista responde dúvidas

Qualquer contato físico pode transmitir doenças e o sexo oral não está fora desta lista

*Dra. Maura Naves, colunista de AnaMaria Publicado em 25/10/2021, às 15h02 - Atualizado em 06/02/2023, às 09h30

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Sexo oral também é sexo, viu? - Becca Tapert/Unsplash
Sexo oral também é sexo, viu? - Becca Tapert/Unsplash

Olá a todos! Esta semana escolhi escrever um pouco sobre algumas causas de dor de garganta ou feridas na garganta associadas ao sexo oral. Por conta das mudanças comportamentais sociais crescentes das últimas décadas, acredito que seja importante chamar a atenção para este assunto.

Na ciência, as manifestações orais de doenças tradicionalmente “apenas” sexualmente transmissíveis (DST) têm sido cada vez mais descritas. E, se considerarmos que muitas pessoas acreditam que “sexo oral não é sexo” e “sexo oral é seguro” -por não haver risco de gravidez e nem de transmitir ou pegar doenças- esse problema se torna mais importante. 

Isso porque qualquer contato físico pode transmitir doenças, e o sexo oral não está fora desta lista. Mas o que posso pegar durante o sexo oral? Doenças infecciosas, tumorais ou secundarias a trauma, que muitas vezes causam lesões na boca. Entre as causas infecciosas, temos vírus e bactérias. Vamos entender as principais delas:

1. HPV
É a DST mais frequente atualmente. Quando falamos da região da boca, o HPV tem diversas apresentações, indo desde as mais simples, como papiloma escamoso, verruga vulgar e condiloma, chegando até o carcinoma escamoso. A transmissão para a boca ocorre mais frequentemente por contato orogenital, mas a autoinoculação através de lesões genitais também pode ocorrer. 

Manifestações como verrugas vulgares e condilomas estão mais associadas aos subtipos 6 e 11, enquanto os cânceres estão associados aos subtipos 16,18, 31 e 33. Neste caso, o câncer de garganta ou boca ocorre independentemente de hábitos como tabagismo e alcoolismo, anteriormente entendidos como fatores causadores principais. Nas últimas duas décadas, o HPV tem sido associado de maneira crescente a esses tumores, sendo que a transmissão deste vírus para a boca está fortemente associada ao sexo oral.

2. HERPES
Temos o tipo 1 e 2. Após a primoinfecção, o vírus fica latente no corpo. Sua ativação ocorre espontaneamente ou após algum estímulo, como estresse. O tipo 1 está mais associado a lesões labiais recorrentes. Ja o tipo 2 é, principalmente, transmitido via sexual entre adultos jovens. Além das lesões genitais, podem ocorrer vesículas (pequenas bolhas) muito dolorosas na boca e garganta, além de febre.

3. HIV
A transmissão do HIV através de sexo oral é mais baixa do que as demais formas, porém existe. Clinicamente, a infecção pelo HIV na garganta se apresenta de duas formas, a depender do estágio da doença. Na infecção inicial pelo vírus, pode ocorrer uma amigdalite ou faringite, ou seja, uma dor de garganta. Nos demais estágios, a lesão na boca depende do quadro imunológico. Já entre as bactérias, as mais frequentes são sifilis, gonorreia e clamídia.

1. SÍFILIS
Nos últimos anos, com o controle da epidemia de AIDS, os casos de sífilis tem aumentado, especialmente devido a mudanças nas práticas sexuais. Assim temos casos de sífilis não apenas na região genital, mas na região oral. A apresentação inicial é semelhante em ambas regiões, com o aparecimento de ancro, úlcera com bordos elevados e não dolorosa, muito contagiosa e que dura de três a seis semanas. A chance de contaminar outra pessoa através de uma lesão na boca nesta fase pode chegar a 80%, caso ocorra contato sexual. Se não tratada, a lesão desaparece e a doença evolui para a fase secundária onde podem ocorrer lesões orais em 30% dos casos, além de lesões na pele, queda de cabelo, etc. Há ainda a fase terciária, chamada de goma.

2. GONORREIA
Pode se apresentar como faringite, amigdalite, gengivite, estomatite e ate glossite ( infecção da língua). A maioria das pessoas terá uma infecção sem sintomas, facilitando a transmissão da doença. Quem tiver sintoma apresenta uma dor de garganta forte, com aparecimento de úlcera coberta com uma placa amarela ou cinza.

3. CLAMÍDIA
Esta é a infecção bacteriana mais frequente nos países desenvolvidos. Não tem sintomas orais característicos, mas estudos sugerem que 53% dos homens homossexuais e 32% das mulheres tem essa bactéria na garganta, sem infecção genital concomitante.  A maioria dos casos é assintomático e, quando os sintomas ocorrem, podem ser gânglios no pescoço, dos de garganta e úlceras na língua.

Finalmente, as dores de garganta causadas por trauma durante o sexo oral são decorrentes de pequenas lesões na mucosa oral. Esta descontinuidade da proteção da mucosa da boca e da faringe aumentam a chance de contágio das doenças que citei acima.

COMO TRATAR?
O tratamento é específico de cada doença, envolvendo antibióticos para as bactérias. Nas infecções virais não temos cura, apenas controle. Assim, prevenir é a saída! Pesquisas recentes mostram que o uso de preservativo durante o sexo oral é fundamental para prevenção desse tipo de caso!

*DRA. MAURA NEVES é formada na Medicina pela Faculdade de Medicina da USP. Residência em Otorrinolaringologia pelo HC- FMUSP. Fellow em Cirurgia Endoscópica pelo HC- FMUSP. Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP. Médica Assistente do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo -SP. Aqui na Revista AnaMaria, trará quinzenalmente um conteúdo novo sobre a saúde do ouvido, nariz e garganta. Instagram: @dra.mauraneves