O problema da positividade tóxica começa quando generalizamos tudo a um estado feliz e otimista
Karla Precioso Publicado em 29/05/2022, às 14h30
Você já recebeu um conselho para deixar os problemas de lado e ser otimista, sem levar em consideração a tristeza ou preocupação que sentia no momento? Pois é... O otimismo faz bem, claro, mas, em excesso, pode ser prejudicial.
É diferente ser otimista e se esconder em um otimismo constante. Quando essa busca pela positividade começa a ser uma pressão, ela se torna algo tóxico. Aí vem a ideia da positividade tóxica, como explica Pablo Vinicius, psiquiatra especialista em saúde mental e medicina do sono: “É um problema sério a obrigação que o ser humano tem de ser o tempo inteiro positivo diante da sociedade. Temos a impressão de que devemos reprimir, rejeitar, não aceitar os sentimos ditos negativos. Se você está sentindo uma tristeza, precisa rechaçá-la, colocá-la para fora. A realidade atual, erroneamente, não nos permite mais sentir raiva, ódio e ira. Parece que isso desqualifica o ser humano”, relata.
Estudos atestam que, ao negar os aspectos negativos da vida, reprimimos alguns sentimentos. Quando entramos nessa bolha de que tudo tem que ser maravilhoso, fica difícil lidar com momentos de tristeza. Mais para frente, isso pode gerar transtornos maiores, como depressão e ansiedade. Entenda os efeitos da positividade tóxica e livre-se dela!
De acordo com o psiquiatra, antigamente, se dividia os sentimentos entre positivos e negativos: os que traziam prazer e os que traziam desconforto. Então, colocavam-se a alegria nos sentimentos prazerosos e a tristeza, o ódio, a ira e a raiva nos desconfortáveis, que o ser humano não gosta de sentir.
A positividade tóxica passa pelo conceito de que, se falarmos algo negativo, caímos em termos de conceito social. Temos que estar sempre alegres, de bem com a vida. As redes sociais, em especial, valorizam demais isso, justamente o que está por traz da rejeição às emoções ditas negativas.
“O que temos hoje é a não separação de sentimentos bons e ruins, no entanto, todos os sentimentos são saudáveis e necessários. Sentir tristeza na hora certa é saudável, raiva na hora certa é saudável, alegria na hora certa é saudável... Profissionais da saúde mental estão numa luta para que as pessoas tenham o direito de sentir, porque isso é saudável”.
O compromisso de ficar bem quando as coisas não estão bem causa estresse e mexe com a autoestima. Então, como preservar o otimismo de maneira saudável? Não negando acontecimentos, situações e sentimentos desconfortáveis. Faz parte do processo de amadurecimento ter consciência das dificuldades e buscar maneiras de lidar com elas. E uma das principais formas de trabalhar isso é falando sobre, seja realizando sessões de terapia ou conversando com pessoas próximas e de confiança.
Para quem ainda tem dificuldade em falar sobre esses sentimentos, é interessante começar a escrever e colocá-los para fora - um ótimo exercício para refletir e ainda ganhar mais autoconhecimento.
O problema de represar os sentimentos ruins é que, em algum momento, eles vão se manifestar. Bruxismo, ansiedade, falta de ar, dores no corpo, inflamações e outros sintomas podem surgir em decorrência de situações emocionais. A partir do momento em que a felicidade e a positividade são apresentadas como a única possibilidade de ser, a tratativa com os sentimentos negativos é de reprimi-los e, então, não entendê-los, sendo que esse processo faz parte do autoconhecimento e da evolução.
Não adianta fingir que está bem. O jeito de lidar com as frustrações, a raiva e todas as outras emoções que geram desconforto é senti-las. Aceitar que esses sentimentos existem e lidar com eles faz com que sejamos mais empáticos e haja um amadurecimento emocional.
Pablo Vinícius responde: “As consequências serão piores do que sentir tristeza. Se a pessoa estiver passando por um momento difícil, é claro que a tristeza terá um desconforto, porém, caso ela rejeite o sentimento, o preço vai ser muito mais caro - a tristeza não vai sumir, ainda que a pessoa a rejeite. Doenças psicossomáticas, como alergias, diarreia, problemas de pele, queda de cabelo, alteração de metabolismo... Sentimentos rejeitados geram patologias”.
