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Você sabe como sua filha se enxerga?

Transtornos alimentares são mais comuns em meninas adolescentes. E a maneira como os pais se comportam faz toda a diferença no tratamento. Descubra como!

Ana Bardella Publicado em 20/10/2017, às 10h00 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h45

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Você sabe como sua filha se enxerga? - Shutterstock/Eduardo Martins
Você sabe como sua filha se enxerga? - Shutterstock/Eduardo Martins
Comer exageradamente ou deixar o estômago vazio por tempo demais: se para uma mulher madura pode ser complicado estabelecer uma relação saudável com a comida, imagina então para uma adolescente. Nessa fase de mudanças, por um lado existe a preocupação em ser aceita pelos colegas. E por outro, um bombardeio das redes sociais com fotos de atrizes, modelos e “musas” fitness da internet... Todas elas esbanjando um corpo magro e bem definido. Não à toa que estudiosos consideram que, nesta fase, o risco de desenvolver um transtorno alimentar aumenta muito. Leia mais sobre o assunto e saiba como proteger sua filha dessa cilada!

Para começo de conversa
“Transtornos alimentares são problemas de ordem psicológica”, esclarece Fabíola Luciano, psicóloga colaboradora do ambulatório de bulimia e transtornos alimentares da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Quem sofre com esses problemas tem uma alimentação “disfuncional”, e por isso pode acabar perdendo muito peso, engordando ou prejudicando a saúde em função disso.

Quais são os principais tipos?

ANOREXIA
Tem como característica a recusa alimentar (e, portanto, a perda de peso). Geralmente, a motivação é uma preocupação extrema com o corpo, um perfeccionismo com relação ao próprio peso. Muitas das pessoas que desenvolvem o distúrbio acabam sofrendo também uma distorção da própria imagem, enxergando seus corpos maiores do que eles realmente são.

BULIMIA
Quem sofre com o problema come muito e compulsivamente. Depois começa a se sentir mal e assume comportamentos
compensatórios para eliminar as calorias. Isso pode se dar provocando o vômito ou usando laxantes e diuréticos.

COMPULSÃO ALIMENTAR
Neste caso a pessoa também se alimenta de maneira exagerada durante alguns episódios. A sensação é de que se está perdendo o controle, pois o comer já não está vinculado à fome: ou seja, a ingestão de comida é muito maior do que a sua real necessidade.
Em seguida, vem o sentimento de culpa e de frustração.

As mulheres são as mais afetadas
Para cada dez mulheres que desenvolvem um transtorno alimentar, apenas um rapaz é afetado. “Existem questões sociais envolvidas. Em geral, são elas que sofrem mais pressão com relação ao corpo e à estética”, ressalta a psicóloga.

Participação dos pais
Quantas vezes, sem perceber, não reforçamos dentro de casa a ideia de que as mulheres devem estar sempre magras? “Fulana era tão bonita, agora está gordinha”, “Essa blusa marca demais a minha barriga”... E até com os próprios filhos dizendo: “Você precisa parar de comer besteira se não quiser engordar”. Tudo isso impacta na relação que eles constroem com a comida, uma vez que “as crianças e jovens podem internalizar esses discursos”, alerta Fabíola. Em compensação, se os responsáveis prestam atenção em como anda a autoestima dos filhos e conversam sobre esse assunto em casa, a tendência é que os adolescentes se sintam mais acolhidos, entendam que seu valor não está relacionado ao peso e não apelem para as radicalidades. 

“A internet contribui para que as pessoas fiquem doentes”
Conversamos com Daiana Garbin, do canal de vídeos EuVejo, sobre os transtornos. A jornalista, que participou de um evento comandado pelo projeto Força Meninas, em São Paulo, fala sobre sua relação complicada com o próprio corpo e o diagnóstico de distorção da imagem corporal:

Quando você percebeu que havia algo errado?
Não sei exatamente a data... Sei que aos 12 anos comecei a fazer regime. Mas, mesmo antes disso, não me lembro de ter gostado do meu corpo. Lá pelos 17 anos percebi que estava fora do controle. Passei a tomar muitos remédios para emagrecer, diuréticos e laxantes. Mas só fui procurar ajuda há dois anos. O diagnóstico veio em maio do ano passado, quando fui ao psiquiatra. Investigando, descobri que a minha relação doentia com a comida me fazia não gostar do meu corpo. Sofro de distorção da imagem corporal, que é causada por um transtorno alimentar.

Meninas com esse mesmo tipo de problema entram em contato com você? 
Recebo relatos de muitas adolescentes que dizem que não se sentem adequadas no seu corpo. Vivemos um momento de exposição
na internet, e isso contribui para que as pessoas fiquem doentes. A verdade é que todos os corpos são adequados. Mas quando vemos um site julgando o corpo de uma famosa na praia ao dizer “fulana exibe celulites”, como se esse fosse o maior crime da humanidade, a mensagem passada é a de que ser assim é feio, errado. Quando, na verdade, é normal.

Incomoda as pessoas dizerem: “Mas você é tão bonita... Como pode se sentir assim?”
O problema é as pessoas acreditarem que só quem tem um determinado tipo físico pode desenvolver essas doenças. Os índices
de transtornos alimentares em modelos (consideradas as mulheres mais bonitas do mundo) e bailarinas são altíssimos. Temos mania de colocar tudo dentro de caixinhas, mas as doenças mentais e emocionais podem atingir qualquer um. Temos que parar de julgar uns aos outros, porque nunca se sabe qual é a dor emocional pela qual o outro está passando.

Qual o real peso da influência da mídia?
Está comprovado que o padrão imposto pela sociedade pesa muito na insatisfação corporal das meninas e isso pode desembocar no transtorno alimentar. Padronizar corpos e mostrar só um tipo como sendo o ideal é perigoso. Todas as imagens são tratadas no computador. Tirando marcas, poros, rugas, espinhas, manchas... O resultado é uma boneca perfeita, mas que não existe realmente.

Por que esse problema afeta mais mulheres do que homens?
Porque nós somos julgadas pela aparência desde sempre. A menina começa a ser cobrada para estar “bonitinha”, “arrumadinha”.
Por que ela não pode estar feliz e à vontade usando um moletom bem largo, se essa for sua vontade?