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Famosos / Entrevista

Flávia Monteiro relembra depressão após perder o emprego: ‘‘Ia do choro a uma raiva profunda’’

Em entrevista exclusiva, atriz comenta os desafios enfrentados na pandemia e a maternidade aos 43 anos

Karla Precioso Publicado em 03/07/2021, às 08h00

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Recentemente, Flávia voltou às telinhas com 'Gênesis' - Instagram/@flaviamonteiro
Recentemente, Flávia voltou às telinhas com 'Gênesis' - Instagram/@flaviamonteiro

Flávia Monteiro, 48 anos, enfrentou um período de dura batalha contra a depressão e a ansiedade, mas deu a volta por cima. “Ia do choro a uma raiva profunda.” Os primeiros sinais vieram entre o fim de 2018 e início de 2019, período que coincidiu com um momento de instabilidade profissional.

“Sem contrato você passa a estabelecer hierarquias de gastos. Posso gastar com isso, não posso gastar com aquilo... Com filho para cuidar, você tem que repensar tudo. Aí, corta terapia, corta outras coisas para ficar com o que é prioridade. Como havia feito cursos de coach e autoajuda, eu tinha uma boia de salvamento. Mas tem uma hora em que você segura muito a peteca, e aí já era!”. 

Com o apoio da família e ajuda profissional, ela começou a se recuperar. “Sou muito natureba, fui ao médico e ele explicou que iria controlar com remédios − opções que não fossem de tarja preta, e sim manipuladas. Medicamentos que ajudam a química do corpo. Paralelamente, continuei fazendo ioga, exercícios e aulas de respiração, que estava descompensada.” 

Mas, de verdade, o trabalho foi o que a ajudou de fato a se reconectar consigo mesma, e voltar a olhar para a vida com o encanto, a esperança e o otimismo de antes. A artista se refere à sua entrada no elenco de ‘Gênesis’, da RecordTV: “Sinto um frio na barriga ao encarar um desafio diferente de tudo o que já fiz na carreira: viver a camponesa Aya, responsável pelo parto de Abrão”. 

Não há dúvida de que esse trabalho tem sido um divisor de águas em sua trajetória. Além do desafio diferente de tudo o que já fez na carreira, a personagem encantou o público por ser uma mulher madura e ponderada. 

Mãe de Sophia, de 5 anos, do casamento com o empresário Avner Saragossy, a atriz traz em seu currículo outros trabalhos marcantes. No cinema, o filme ‘A Menina do Lado’. Na televisão, atuou nas novelas ‘Pantanal’, ‘Éramos Seis’, na Globo; ‘Os Mutantes’, também na RecordTV, e ‘Chiquititas’, no SBT. Numa conversa repleta de esperança, Flávia conta detalhes de como deu a volta por cima e, hoje, vive um momento pleno, feliz e de realização. 

Confira a entrevista completa à AnaMaria:

Você fez um relato em suas redes sociais, afirmando que foi assolada por crises de ansiedade no passado. Como foi isso e de que maneira superou o problema?
Eu sempre fui uma pessoa muito agitada, desde pequena, sempre tive muita energia. A correria e as responsabilidades (filhos, família), com o passar do tempo, me tornaram uma pessoa bipolar − eu ia da euforia para o choro. Consequentemente, comecei a ter preguiça de fazer as coisas, queria ficar mais quieta, em casa. Foi aí que me dei conta de que estava rolando um problema comigo. Procurei um médico e foi confirmado. Foi tudo junto: perda de contrato, pandemia... Sentia muita insegurança e medo. Por meio da respiração, exercício físico, alimentação saudável, remédios e ajuda de amigos, consegui superar. Família e amigos foram muito importantes para isso! 

O que desencadeou a crise?
Uma junção de fatores, como o fim de um contrato de 12 anos, acabado de ter minha filha, pandemia. Como falei anteriormente, isso me gerou muito medo e insegurança, afinal sempre fui muito independente financeiramente. Acho que a idade também contribuiu, assim como uma pré-menopausa, que dizem que existe… 

Ter enfrentado um problema relacionado à saúde mental mudou sua visão sobre a vida e sobre você mesma?
Percebi que somos muito frágeis. Se não trabalhamos profundamente o coração e a mente, você fica perdida. É a tal máxima: coração são e mente sã. Você precisa estar bem internamente. E quais os aprendizados que a questão lhe trouxe? Se conhecer e se conectar profundamente, ter muita fé e não deixar-se levar pelos acontecimentos externos. Precisamos ser uma fortaleza e nunca fraquejar. Resiliência sempre!

Você foi mãe após os 40 anos. E falou: “Estiquei o máximo que pude”. Por quê?
Por causa do trabalho. Sou muito workaholic, amo a minha profissão, o meu público. Quando me dei conta, estava com 42 anos, e resolvi fazer fertilização. Já tinha tido dois abortos espontâneos, um em 2011 e outro em 2013. Com a fertilização, veio a Sophia, minha realização de vida.

A possibilidade de ser mãe assustava você?
Nunca! Eu sempre quis ser mãe. Sempre tive essa certeza. Só não estava preparada antes. Deus sabe o que faz. Minha filha veio no melhor momento da minha vida, me trouxe a renovação. Por meio dela revivo minha infância. 

A maternidade tardia tem mais vantagens? 
Você tem mais experiência, mais tranquilidade. Mas tem a desvantagem de não ter tanta energia. Temos outro ritmo, outro posicionamento.

E a vida realmente fica mais bela com um filho?
Só fica mais bela com filho! Filho te renova, ele é a sua melhor parte. Nós aprendemos muito com eles, são seres sábios – nós vamos desaprendendo com a vida, e os filhos nos ensinam tudo de novo. Eles trazem leveza, o lúdico, o amor, a liberdade, a pureza.

Seu marido, Avner Saragossy, e sua filha, Sophia, foram diagnosticados com a Covid-19 em 2020. Como encarou mais esse episódio difícil?
Meu marido deu positivo logo depois que minha filha havia retornado para a escola. Todos nós fizemos exame em casa. Eu e minha funcionária demos negativo. Minha filha deu positivo, mas ela não teve nada, não apresentou nenhum sintoma.

A pandemia lhe trouxe algum aprendizado?
Tudo na vida nos traz aprendizado, até a dor. A dor existe, mas o sofrimento é uma opção. A Covid nos trouxe muito aprendizado. Achávamos que o luxo era ter bens materiais, mas hoje vejo que luxo é abraçar a família, os amigos, poder comemorar, caminhar na praia, viajar sem ter medo de ser feliz. Esse enclausuramento veio para olharmos para dentro, e ver que somos todos iguais perante esse vírus. Não existe pobre, rico, preto, branco. Todos somos iguais, e ele pega todos nós e cada um de um jeito. Devemos, portanto, viver o dia de hoje, e não o amanhã. Não deixar os problemas nos consumirem. Uma oportunidade enorme para o mundo mudar, porém reconheço que é difícil, bem difícil.....

Os interesses políticos e empresariais giram em torno de monetizar tudo. A perda do Galvão [Eduardo] me tirou o chão. Esse vírus pegou meu amigo aparentemente forte e saudável e o levou embora. Pegou o Paulo Gustavo, um ser humano alegre, cheio de vida, que nos fazia enxergar uma vida leve e de frescor. Vírus muito danado.

Aos 48 anos, você mantém um espírito jovem. Chegou até a dizer “Vou fazer 50 com cabeça de 12”. A maturidade é algo leve para você?
A maturidade nos traz emponderamento, segurança, muitas coisas boas. No meu caso, ela chegou para me dar prumo, malícia. Eu sempre acreditei em tudo, sempre fui muito dada, muito transparente. Hoje em dia, tenho mais consciência sobre com quem posso ser assim. Mas minha alma é infantil, da alegria, da diversão. Me permito ser assim quando estou com as crianças.

Flávia Monteiro não abre mão de que hoje em dia?
Da minha paz de espírito, meu equilíbrio interno, de exercitar a minha sabedoria, o meu eu, de estar em contato comigo. Não abro mão da minha filha, morro por ela. E não abro mão da minha felicidade e da minha saúde, nem da felicidade e saúde da minha filha. E, óbvio, não abro mão da minha família e amigos. Ah, também não abro mão do meu trabalho.

Como foi interpretar a parteira Aya, que traria ao mundo Abrão, filho de Ama, na trama Gênesis?
Gênesis foi um grande presente, me colocou de volta ao trabalho. Aya faz tudo para a família. É aquela companheira incondicional. Eu tive o prazer de trazer Abrão, fazer o parto dele, esse homem que transformou nossa vida. E depois o parto da Sara. Fiz dois partos históricos. Tive muita honra de fazer esse papel, de trabalhar de novo nessa casa, que sempre me recebeu com muito carinho e amor.

Quais seus projetos para o futuro?
Tenho o documentário da Ana Botafogo, que está em processo de produção e filmagem. Vamos tentar retomar agora, porque paramos em decorrência da pandemia. E tenho um projeto com Claudia Mauro, Helena Fernandes, Helena Ranaldi, Lucia de Sá, Clara Garcia. O título provisório é ‘As Mulheres Dele’ – será em homenagem ao nosso querido amigo Galvão.