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''Andamos para trás, para um falso moralismo, preconceito e maldade'', diz Claudia Raia

No ar como a tresloucada Lidiane da novela global Verão 90, atriz mergulha nos anos 80 e 90

Bianca Portugal Publicado em 10/03/2019, às 12h30 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h46

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Confira a entrevista exclusiva com Claudia Raia - Reprodução/Instagram
Confira a entrevista exclusiva com Claudia Raia - Reprodução/Instagram

Claudia Raia mergulha nos anos 80 e 90 para relembrar a estética, a moda e as músicas do período que considerava mais livre do que hoje. 

“Andamos para trás, para um falso moralismo, preconceito, maldade, vontade de acabar com o outro. Isso é triste e não era comum antes”, desabafa. 

E, claro, não deixamos de perguntar sobre os cuidados que mantiveram seu corpo incrível para brilhar, aos 52 anos, no figurino justo e transparente de sua personagem.

Qual o desafio em interpretar a Lidiane?
Tenho 38 anos de TV e o desafio já começa aí: não me repetir, fazer um personagem de comédia com essa temperatura, que já fiz alguns, mas não ser igual aos outros. A Lidiane é extremamente rica, com muitas emoções ao mesmo tempo. É difícil interpretá-la. Ela vai do choro ao riso em cinco segundos, é muito emocional e engraçada. Comédia é uma tarefa árdua, mas a gente se entrega nas mãos do Jorge Fernando [diretor] e tudo dá certo.

A estética da década de 90 era bem diferente. Você prefere se ver naquela época ou hoje?
Acho que estou melhor hoje [risos]. Era muito exagero. Nos anos 80 havia aquelas ombreiras, brincos, cabelos... Em 90 a gente tentou atenuar, mas ainda tinha as cores muito fortes... Para a novela, você está com o cabelo mais vermelho... Estou com os fios bem merthiolate,
que é uma cor da época. Na novela eu uso o cabelo bem crespo, como nos anos 90. O visual é muito legal. O figurino é inaceitável. A Lidiane erra tudo da cabeça aos pés. Mas é um erro com um olhar da Marília Carneiro [figurinista da novela], que é uma gênia. Então, não sei como, tudo tem uma harmonia.

Lidiane é inadequada, toda errada. O corpo naquela época também era outro? 
Era. Hoje a gente é mais sequinha, mais magrinha... Você foi musa nos anos 90. Fui musa de um tudo, até do verão, mesmo com essa cor que eu tenho. Naquela época musa bombava, fazia capa da revista Manchete... Em 30 anos de carreira, hoje eu já tenho 35, eu tinha feito 480 capas de revista, em uma época em que havia ‘as capas’. 

E as músicas dos anos 80 e 90, você gosta?
Muito! São dançantes, disco, alegres... Eu ouço em casa! As minhas playlists sempre são dos anos 80 e 90. Adoro tanto as internacionais quanto as nacionais. E a novela tem muitos musicais dos anos 90: Tim Maia, Cazuza, Marina, Gretchen, Rosana. Os temas aparecem e os artistas surgem com seus clipes de época.

Do que mais sente falta de lá para cá?
Tudo! Até o telefone com fio, a secretária eletrônica... [risos].

O que era mais assustador na década de 90: o ET de Varginha, o Chupacabra ou o Cadeirudo? 
Chupacabra é maravilhoso, mas vamos lembrar com carinho das ombreiras [gargalhada].

O que você faz para manter esse corpo?
Esse corpo não é de agora, ele é cultivado. Há 48 anos que sou bailarina, que eu malho, como bem...

E mesmo com show, gravações, você consegue manter essa rotina por anos?
Consigo porque sou bailarina, então isso não é um sacrifício para mim. É disciplina e o que eu amo fazer.

Há alguns anos, você declarou que fazia 800 abdominais por dia, faz isso até hoje?
Hoje meu treino é metade do que ele era porque existe a maturidade muscular. Hoje dou o estímulo e o músculo vem. Antes, precisei construir isso. 

Então você treina cerca de uma hora por dia?
Não, treino mais: faço uma hora e meia de dança, uma hora de musculação... O treino depende da minha agenda. Malho a qualquer hora, final de semana quando preciso... Isso é disciplina.

Sua alimentação também mudou daquela época para hoje?
Muito. Não sou vegana, mas como menos carne do que comia por uma questão de saúde. Sempre fui muito disciplinada comendo, sempre carreguei marmita... Tive uma mãe que me ensinou a comer. Para mim, você é muito do que come. Às vezes, saio da dieta? Saio. Se tenho
vontade de comer coisas calóricas, como, tudo bem, pois é ser feliz também. 

Você aderiu a essa coisa de tomar chá-verde, suco verde...?
Eu tomo! Até porque minha nutricionista é muito rígida e me enfia umas coisas de que não gosto muito, mas tomo. Tomo suco verde quando ninguém tomava. Quando eu tinha uns 10, 11 anos, e já era bailarina,
a minha mãe me fazia tomar suco verde de manhã e ninguém falava disso ainda. 

Que tipo de mãe a Lidiane é?
Uma louca! E a Manuzita é uma sobrevivente dessa mãe. Aliás, a Isabelle está muito bem na novela. Vocês vão vê-la fazer comédia, ela está uma comediante. Como ninguém sobrevive a essa mãe, a Manuzita virou uma panterinha, uma Lidianinha. A gente construiu isso junta e ficou mais do que uma relação de mãe e filha, ficou uma dupla.

Você se sente mais à vontade em comédia?
Não se trata de ficar mais à vontade... Gosto de fazer comédia, sou comediante. Mas, antes de ser comediante, sou atriz. E uma boa atriz fará comédia. Já uma boa comediante não sei se será boa atriz.

O que apontaria como uma evolução nossa da década de 90 para cá?
Em relação ao aspecto humano, evoluímos pouco. Aliás, a gente involuiu, infelizmente. Andamos para trás, para um falso moralismo, muito preconceito, retrocesso, maldade, vontade de acabar com o outro, espezinhar o outro. Isso é triste e não era comum nos anos 90.
Ao contrário, você dava a mão para as pessoas, ajudava.

Tem a ver com as redes sociais também?
A rede social mascarou e desmascarou muita gente. Infelizmente nós evoluímos. Por isso acho que essa novela é necessária neste momento. A gente vai falar, também, de liberdade, que estará implícita na década. A Lidiane dá uma aula de jazz e sai de lá com a malha com a qual deu aula. E não porque é doida, mas porque as pessoas andavam assim na rua. Já hoje nada pode, todo mundo olha, nota, fotografa, coloca nas redes. Tinha uma liberdade que, infelizmente, nós perdemos. 

Como você analisa a sua química com o Klebber Toledo em cena?
Será risada do começo ao fim. É um casal muito legal. Acho necessário esse casal que, embora seja de comédia, fala de um amor verdadeiro de um jovem com uma mulher mais madura, como a Lidiane. Ele, um fã que, aos 14 anos, via as pornochanchadas que ela fazia. Então é uma relação, aparentemente, improvável, mas necessária para se falar dessas diferenças e de como isso pode dar certo. O Klebber é ótimo ator, companheiro, alegríssimo. A gente está se divertindo e o casal é uma delícia.