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Conselho de amiga: será que estou velha demais para isso?

Estou velha para ser politicamente correta e dar atenção para quem não me interessa

Da Redação Publicado em 29/12/2019, às 08h00

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Estou velha para que a dor dos meus joelhos justifique não dançar mais - Banco de Imagem/Getty Images
Estou velha para que a dor dos meus joelhos justifique não dançar mais - Banco de Imagem/Getty Images

Estou velha demais para perder shows e peças de teatro que estão no meu ranking de programas imperdíveis. Velha demais para abaixar a cabeça e seguir passos que vão por onde nunca escolhi. 

Velha para cuidar da casa e dos outros quando o que quero mesmo é cuidar de mim e dos meus quereres. Estou velha e farta de engolir sapos em vez de engolir cerveja gelada sozinha em bares que estaria velha para frequentar se pensasse como uma.

Estou velha para esperar sobrar dinheiro para a viagem dos sonhos. Velha para fazer contas porque, no final das contas, o saldo será sempre negativo. Estou velha demais para sair com outros velhos e gastar um tempo precioso falando de assuntos velhos. E de velhos. 

Estou velha para ser politicamente correta e dar atenção para quem não me interessa só para parecer uma velha boazinha e centrada. Estou velha para que a dor em meus joelhos justifique não dançar mais. 

Porque essa é a última chance de dançar. Velha para achar que desafino cantando e que, por isso, não devo cantar. Estou velha para permitir que os outros façam coisas no meu lugar e escolham por mim porque posso até escolher errado, mas não porque sou velha, mas porque sempre fui pelos caminhos mais difíceis.

Estou velha para não providenciar a terceira tatuagem e para optar pelo passeio de bugue “sem emoção”. Porque ainda quero emoção. Estou velha para continuar esperando que as coisas melhorem com o tempo porque o tempo anda rareando. 

Velha para adiar sair na escola de samba do coração e ainda jovem para ter como única opção a ala das baianas. Estou velha para deixar pra lá, quando quero mesmo é xingar a mãe do cara que me fechou no trânsito. 

Velha para fingir que relevo o que me magoou profundamente, mas também velha para levar mais bagagens do que consigo carregar. Velha para ficar lamentando o que não fiz porque ainda tem um monte de coisas que dá tempo de fazer, antes de sentar no assento preferencial e deixar o bonde da vida me levar.

WAL REIS é jornalista e profissional de comunicação corporativa. Escreve sobre comportamento e coisas da vida: www.walreisemoutraspalavras.com.br/blog/