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Dá para curar a gagueira? Distúrbio afeta milhões de brasileiros

Conheça as particularidades da gagueira, distúrbio da fala que afeta milhões de brasileiros

Beatriz Cresciulo Publicado em 28/10/2019, às 08h00

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Gagueira, conheça as particularidades deste distúrbio - Getty Images
Gagueira, conheça as particularidades deste distúrbio - Getty Images

O estudante de Educação Física, Lucas Luis Pallerini, lembra-se com exatidão de um dos episódios mais sufocantes de sua vida causados pela gagueira, que o acompanha desde os oito anos de vida.

Era 2017 e o jovem, que mora em São Simão, no interior de São Paulo, estava em meio a uma apresentação de um seminário na faculdade. O nervosismo de falar para os diversos alunos da classe despertou sua gagueira, o que deixou tudo ainda mais difícil. 

"Toda a vez que começava uma frase, eu não conseguia terminar. Aí vinha um colega meu completando o que estava tentando dizer. Só que isso me causava ansiedade e ainda mais nervosismo, consequentemente fazendo a gagueira aumentar", relembra. 

Episódios do tipo são uma realidade para muitos brasileiros. No país, estima-se que aproximadamente 10 milhões de pessoas sofrem de gagueira. As origens deste distúrbio de fala são muitas. Ela pode acontecer após traumatismos causados por lesões neurológicas, ou se manifestar desde a infância. 

Foto: Arquivo pessoal 

O QUE CAUSA A GAGUEIRA? 

É possível que uma pessoa apresente os sintomas sem uma causa exata até os doze anos. Já na vida adulta, alguém que se comunica normalmente pode começar a gaguejar caso tenha algum tipo de dano cerebral, causado por um acidente vascular cerebral, traumatismo craniano, ou após um episódio de anóxia, por exemplo, que é quando falta oxigênio em algum momento. 

Mais raramente, na chamada 'Gagueira psicogênica', o distúrbio acontece por causas psicológicas. Em quadros como este, pessoas que nunca gaguejaram antes passam a manifestar o sintoma depois de terem passado por um grande trauma psicológico. No entanto, após realizar um tratamento com o psicólogo, elas voltam a verbalizar normalmente. 

CRIANÇA  GAGUEJA? 

Apesar de poder se manifestar na infância, engana-se quem pensa que é comum que crianças gaguejem. Ao contrário do que o credo popular diz, se uma pessoa apresentar repetições de palavras, sílabas e sons, ou até mesmo alguns movimentos corporais, como piscar, ou estalo de língua durante essa fase da vida, isto pode indicar que sofre do distúrbio. 

O rápido diagnóstico pode ser a chave para a cura do problema, uma vez que a gagueira só pode ser revertida completamente durante a infância. Segundo a fonoaudióloga especialista em fluência de fala, Tatiane Cristina Gonçalves, do Hospital Estadual de Ribeirão Preto, isso acontece graças à plasticidade do cérebro infantil, que possui um funcionamento cerebral ideal para absorver a maneira correta de se comunicar. 

“Na idade adulta não tem mais cura, mas tem tratamento. Inicialmente, é realizada uma avaliação para caracterizar a fluência do paciente e, depois disso, traçamos um planejamento terapêutico individual, onde podem ser trabalhadas técnicas de  respiração e fala, articulação e emissão suave das palavras”, explica a especialista. 

TÉCNICAS DE ORATÓRIA COMO SOLUÇÃO 

Após ser diagnosticado, Lucas deu início ao tratamento com a fonoaudióloga e permaneceu se consultando até a adolescência, aos 16 anos. Alguns anos depois, o estudante de educação física descobriu outro tipo de terapia que poderia auxiliá-lo: exercícios de oratória. 

“Pensava que não ia mudar nada, não ia melhorar nunca, mas quis persistir. Atualmente, apresento os trabalhos na sala de aula normalmente. Independentemente da quantidade de pessoas, consigo falar bem”, comemora o jovem, hoje com 21 anos. 

COMO FUNCIONA? 

De acordo com Junior Fernandez, um dos fundadores da escola de oratória Vox2you, os exercícios são eficientes graças à sua praticidade, pois trabalham o lado comportamental dos pacientes.

“O aluno vai para o palco, duas ou três vezes por aula, faz aquecimento vocal, trabalha a parte de dicção. Ele vai se adaptando àquele ambiente e o fator químico dele internamente, vai se acostumando com aquela situação. Isso torna tudo mais leve para o aluno, que automaticamente vai se ambientando com a turma e melhorando a gagueira, além de adquirir mais segurança e confiança com aquele tipo de situação”, assegura. 

O analista comportamental ressalta ainda que uma das principais atividades da técnica consiste no “auto feedback”, pelo qual o paciente poderá notar os avanços alcançados: “O aluno começa a se aproximar da pessoa que ele é e passa a identificar os pontos de melhoria”, diz. 

DICAS DE OURO 

O especialista listou algumas dicas importantes para pessoas que lidam com o distúrbio da fala. 

1) Crie o hábito de sempre falar de forma lenta e consciente, não importando se gagueja ou não. Isso induz uma maneira de falar mais relaxada e variado de dizer as palavras, o que responde melhor aos procedimentos terapêuticos de controle.

2) Analise e identifique o que seus músculos da fala estão fazendo inadequadamente quando você gagueja. Já que você está usando os seus músculos da fala de forma incorreta quando gagueja, é importante descobrir como, para que possa conseguir sua adequação.

3) Faça o melhor possível para interromper todos os hábitos de fuga, adiamento ou substituições. Por exemplo: se o telefone toca e você se recusa a atendê-lo, porque tem medo de não conseguir falar sem gaguejar, significa que evitar esta situação somente irá contribuir para que cresça o seu medo de usar o telefone.

4) Mantenha contato visual com a pessoa com quem você fala. Se você ainda não faz isso, comece a olhar seu ouvinte no olho, de modo contínuo e com naturalidade. É especialmente importante que você não desvie o olhar quando gagueja ou pressente que vai gaguejar. 

5) Siga sempre em frente enquanto você fala, a não ser que repita, de propósito, para enfatizar uma palavra ou pensamento. Se você gaguejar, gagueje para frente, não prenda ou repita qualquer som. Algumas pessoas que gaguejam têm o hábito de repetir os sons difíceis quando estão tentando completar uma palavra (b-b-b-bala, etc.).