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Últimas Notícias / Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino

Empreendedorismo feminino: mães falam dos desafios de conciliar negócios e maternidade

Ao todo, existem cerca de 24 milhões de empreendimentos liderados por mulheres no Brasil

Juliana Ribeiro Publicado em 19/11/2020, às 08h20 - Atualizado às 11h37

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Lory, Larissa e Priscila se dividem entre a maternidade e os negócios - Arquivo Pessoal
Lory, Larissa e Priscila se dividem entre a maternidade e os negócios - Arquivo Pessoal

Ser mãe, trabalhar, ter o próprio negócio… será que é realmente possível conciliar todos esses desejos? Entre as diversas mudanças que chegam com a maternidade, a relação com o trabalho acaba sendo uma das principais. 

Isso porque, na maior parte dos casos, falta sensibilidade e acolhimento às mães que retornam às atividades após o nascimento do bebê. Além disso, muitas delas encontram as portas do mercado de trabalho fechadas depois do fim da licença-maternidade.

Foi exatamente o que aconteceu com Priscila Leutwiler de Almeida França, de 42 anos, pedagoga de formação e, como ela mesmo diz, uma empreendedora por paixão. Mãe de três filhos, ela foi demitida após o final do prazo de estabilidade e retorno da licença-maternidade de seu terceiro bebê. 

"Com eles pequenos, passei os seis anos seguintes me dedicando à maternidade e fazendo cursos para tentar uma recolocação profissional. Com esse retorno cada vez mais difícil, e vendo os filhos já crescidos, resgatei um hobby da adolescência e costurei peças de enxoval para presentear minhas sobrinhas", conta. 

E foi da parceria com a amiga e engenheira Daniela Braga Ramos que nasceu a Pekenitos, empresa que oferece peças diferenciadas e práticas para o enxoval de bebês. "Logo surgiram as primeiras encomendas e assim percebemos a possibilidade de transformar o hobby em negócio", lembra. 

Daniela e Priscila começaram a empreender em 2013FOTO: arquivo pessoal

ONDE NASCE UMA MÃE, NASCE TAMBÉM UM NEGÓCIO

Segundo Helena Costa de Andrade, do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), existem ao todo cerca de 24 milhões de empreendimentos liderados por mulheres no país, e grande parte delas optou pelo empreendedorismo como forma de encontrar mais tempo para estar perto da família.

E quando o assunto envolve maternidade, os números são ainda mais significativos. De acordo com uma pesquisa feita pela Rede Mulher Empreendedora (RME), 68% das donas de negócio do país começaram a empreender depois de ter filho.

Este foi o caso da empresária Lory Buffara, que enxergou o empreendedorismo como uma verdadeira saída para ser dona do próprio negócio e, desta forma, conseguir conciliar a maternidade com o trabalho. 

Formada em Negócios da Moda e Decoração de Interiores, Lory, que é mãe de dois meninos, se mudou para o exterior em 2012, por conta da carreira do marido e, após a chegada do primeiro filho, viu sua vida mudar completamente.

“Já morando em Miami (EUA), passei a receber visita de amigas que vinham fazer o enxoval. Notei que muitas mulheres chegavam às lojas com listas enormes de produtos que nem sabiam para que serviam e me identifiquei. Já estive do outro lado”, explica. 

Foi a partir daí que surgiu a ideia de abrir uma consultoria especializada na orientação e montagem do enxoval, a Mommy´s Concierge. Para empreender no ramo, Lory combinou seu conhecimento de mãe, profissional da moda e consumidora. “Sempre garimpei muitas lojas e tenho um ótimo relacionamento com os estabelecimentos. Isso me permite conseguir negociar preços para as minhas clientes e conseguir bons descontos”, afirma.

Lory viu no empreendedorismo a saída para conciliar a maternidade com o trabalhoFOTO: arquivo pessoal

TRABALHO X MATERNIDADE

Já a empresária Larissa Novaes de Souza, de 34 anos, atuava no segmento de jóias e semijóias antes mesmo do nascimento do filho, Matteo, hoje com quatro anos. Mas foi após a chegada do herdeiro que as coisas começaram a mudar. 

Designer de joias, ela abriu a Le Rouge em 2013. "Trabalhava na época em uma fábrica de semijoias, e foi aí que surgiu a ideia de revender as peças que eu desenhava. Acabei saindo de lá e comecei a tocar o meu negócio, vendendo em salões de beleza e em bazares aqui na região do Morumbi, que é onde eu moro. Na época ainda não tinha o Matteo", explicou.

A empresa foi aberta inicialmente com uma sócia que, mais tarde, resolveu deixar o negócio. A partir daí, Larissa passou a tocar a a Le Rouge sozinha, em 2015, mesmo ano em que decidiu engravidar.

"Conciliar a maternidade foi bem complicada no início. Eu tive que abrir mão dos salões de beleza, porque lá eu tinha que trabalhar até muito tarde. Mas o que me ajudou foi que as próprias clientes começaram a me indicar para participar de eventos corporativos, em grêmios e bazares feitos dentro das empresas", explicou.

Larissa procurou conciliar os negócios com os cuidados com o filho, MatteoFOTO: arquivo pessoal

Priscila concorda que nem sempre é fácil conciliar o cuidado com os filhos e o negócio. "Têm sido um desafio desde o começo. Abrimos mão de muitas coisas, seja na empresa pelos filhos, seja com os filhos pela empresa. É uma dinâmica de culpa e realização alternadas, mas quando se faz algo com propósito e com amor, fica mais fácil lidar com a culpa e ficar em paz com as escolhas", destaca a empreendedora.

Ela ainda diz que a chegada dos herdeiros foi o que, de fato, impulsionou a ideia de montar a própria empresa. "Costurando em casa podíamos estar perto deles, levar ao dentista, pediatra e tudo mais que precisassem, sem terceirizar os filhos. Na verdade, isso foi decisivo. Passamos a trabalhar no período em que as crianças estavam na escola e nos sentíamos realizadas", afirma.

APRENDENDO COM OS ERROS

Ao fazer as compras do enxoval de seu primeiro filho sozinha, Lory conta que comprou em excesso, cometeu vários erros, gastou mais do que deveria e deixou de adquirir coisas importantes. "Ao passar por esta experiência com muita dificuldade, percebi que poderia ajudar muitas mamães a comprarem o enxoval, mas sem cometer os mesmos erros", diz.

Desde então, a empresária começou a ir à várias lojas para pesquisar, conhecer as marcas e produtos diferenciados. "Entendi a forma do americano de descontos e cupons, coisa que não era comum para o brasileiro. Analisei todos os meus erros e acertos, e comecei a ajudar amigas e familiares a fazer enxoval de bebê nos EUA", detalha.

E como a procura foi aumentando, inclusive de pessoas que ela não conhecia, Lory decidiu fundar a empresa especializada em consultoria e, assim, atender todas essas clientes de forma profissional.

MUITA ATENÇÃO!

Assim como aconteceu com a empresária, os erros são muito comuns no início de um negócio, mas é importante se atentar para não prejudicar a empresa, como lista a especialista do Sebrae:

Falta de organização e planejamento: é muito importante definir uma rotina de trabalho para não acabar prejudicando as tarefas diárias relacionadas ao negócio.

Não ter horário de trabalho definido: a empresária pode trabalhar demais por não ter o deslocamento diário ou pode passar muito tempo focada nos filhos e nas atividades domésticas dentro de seu expediente.

Não ter um espaço para trabalhar: a falta de um ambiente pode fazer com que a empresária tenha a interferência de outras pessoas da família durante o seu horário de trabalho. Ao ter seu próprio espaço, ela consegue trabalhar de forma mais focada e sem interrupções.

PRIMEIROS PASSOS

De acordo com Helena, o primeiro passo para as mulheres que desejam abrir a própria empresa é fazer um plano de negócios, pois nele será possível identificar a viabilidade do mesmo. Isso minimiza as chances dele dar errado, oferecendo assim mais segurança para essa futura empreendedora, que poderá tomar as decisões com maior embasamento.

Além disso, para quem tem pouco dinheiro para investir, existem alguns tipos de negócios que podem ser rentáveis e não exigem tanto investimento, como explica a especialista:

"Produtos personalizados e com produção sob demanda costumam ter uma boa margem, pois possuem alto valor agregado e não necessitam de estoque, o que acaba reduzindo o investimento", aponta. Ainda de acordo com Helena, a prestação de serviços também costuma ser bastante rentável, pois muitas vezes o único custo envolvido é a mão-de-obra.

"A empreendedora precisa realizar o cálculo de formação de preço de venda dos seus produtos e/ou serviços para aprender a calcular o preço ideal que seja capaz de cobrir as suas despesas e trazer o retorno esperado", destaca.

TIPOS DE NEGÓCIOS MAIS PROCURADOS  

Dentre os negócios mais procurados pelas mães atualmente está o e-commerce, por oferecer a possibilidade de trabalhar em casa agrupando as atividades de acordo com a agenda definida pela empresária.

Com relação aos segmentos, os mais buscados são moda, beleza, alimentação e artesanato. "Normalmente, essas empresárias procuram oferecer um produto/serviço diferenciado e se preocupam em agregar algo à sociedade, em ter um propósito e não apenas vender por vender. Querem construir um legado conciliando negócios e uma vida com mais tempo disponível para a família", explica.

Mas, atenção: a especialista destaca que existem algumas armadilhas do empreendedorismo materno e que é preciso ter cuidado. A falta de tempo, por exemplo, tanto para a empresa quanto para os filhos é uma delas, já que é preciso saber conciliar para que tudo caminhe em harmonia.

"Falta de conhecimento também, pois muitas vezes essa mulher acaba empreendendo por necessidade e não possui conhecimento em gestão e/ou no segmento no qual pretende atuar", diz.

Outro ponto importante é a falta de capital de giro. Todo negócio precisa de um valor inicial que servirá como um 'caixa de emergência' da empresa no início do empreendimento. A falta desse capital pode comprometer o sucesso do mesmo, podendo levar inclusive ao fechamento da empresa.

Helena ainda completa: "Falta de apoio e reconhecimento familiar podem gerar muitas cobranças e fazer com que a empreendedora se desmotive e não acredite que o seu negócio  dará certo. É preciso saber filtrar os comentários negativos e ter resiliência".

PROJETOS QUE APOIAM MÃES

Você sabia que existem projetos que apoiam quem tenta conciliar maternidade e negócios? Helena, do Sebrae, listou alguns abaixo:

Maternativa: A 'Maternativa' é a primeira startup de impacto social do Brasil que tem como propósito discutir e transformar a relação entre mães e trabalho. Reúne uma rede de mais de 22 mil mães e organiza encontros gratuitos para as empreendedoras, com foco em networking e formação para negócios. Idealizadora da campanha #compredasmaes, a startup oferece um espaço de compra e venda exclusivo para as mães.

B2Mamy: A 'B2Mamy' é uma aceleradora de negócios com o objetivo de selecionar mães empreendedoras de alto impacto e conectá-las a outras empreendedoras e ao ecossistema de startups. A empresa de educação e pesquisa especializada na jornada da maternidade realiza cursos de aceleração, promove congressos, tem um clube para divulgar produtos e oferece um programa de mentoria.

Rede Mulher Empreendedora: A 'Rede Mulher Empreendedora' é a primeira e maior rede de apoio ao empreendedorismo feminino do Brasil. Prioriza a integração, capacitação e troca de conhecimento entre mulheres que têm ou buscam o próprio negócio, espalhadas por todo o país. A rede lançou um marketplace para aproximar clientes e negócios, uma ótima oportunidade para as vendas durante a pandemia.

Work It, Mom: O ‘Work It, Mom’ é uma comunidade em que mães que trabalham e empreendedoras podem compartilhar suas experiências, dar conselhos e trocar apoio. Oferece receitas, dicas para organizar o trabalho, arrumar a casa, formas de aumentar a produtividade e orientações para achar motivação e inspiração para reduzir o estresse e enfrentar problemas.

Mompreneurs: ‘Mompreneurs’ é um blog da revista americana ‘Entrepreneur’, voltado para as mães empreendedoras. Oferece textos de histórias reais de sucesso e dicas de empresárias experientes. O jornalismo do site descobriu, por exemplo, oito casos reais de negócios em que as sócias são mãe e filha.