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Leona Cavalli abre o jogo sobre solteirice aos 50 anos e machismo

Em entrevista exclusiva, Leona Cavalli comenta sobre solteirice aos 50 anos e machismo

Fabricio Pellegrino Publicado em 28/09/2019, às 08h30

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Leona Cavalli - Reprodução/Instagram
Leona Cavalli - Reprodução/Instagram

Às vésperas de completar 50 anos de idade, Leona Cavalli segue fazendo arte em várias frentes: no ar como Teresa da novela das 18h, ‘Órfãos da Terra’, da Rede Globo; em cartaz com o espetáculo ‘Gatão de Meia Idade’ no teatro; cheia de projetos no cinema e divulgando seu livro infantil ‘Belabelinha’. 

E ela ainda canta, dança e pinta! Solteira e sem filhos, está feliz com as próprias escolhas. 

Para Leona, mesmo que de forma lenta, cobranças machistas estão saindo pouco a pouco de cena. 

“Muito mais pessoas estão conscientes da necessidade de respeito às diferenças, às opções de cada um, e do quanto o convívio com a diversidade é fundamental para todos”, declara. 

A atriz conversou com AnaMariae você confere a entrevista exclusiva completa!

QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DA TERESA QUE MAIS A COMOVEM? 
A generosidade, o desejo dela em ajudar os outros e sua paixão pela arte, pelo canto. Creio que me identifico de alguma forma com isto, o fato de ela ser uma personagem muito humana. 

VOCÊ JÁ DECLAROU QUE, DIFERENTEMENTE DA TERESA, ABANDONOU UM CASAMENTO PELA CARREIRA. CHEGOU A SER PRESSIONADA A FAZER UMA ESCOLHA? 
Já terminei um casamento em função da minha carreira, sim, porque se tornou incompatível conciliar as duas coisas, no momento em que eu estava começando, precisava de dedicação integral ao meu trabalho. Houve, sim, uma pressão, mas o sonho de fazer o que eu queria e viver disso falou mais alto. 

POR OUTRO LADO, VOCÊ TAMBÉM JÁ FALOU QUE ENTENDE A ESCOLHA DE TERESA. O QUE A FEZ COMPREENDÊ-LA? 
O fato de muitas mulheres passarem por este momento de decisão. Neste período da novela recebi muitos depoimentos de pessoas que precisaram abandonar seus sonhos em função de um casamento. Algumas conseguiram se resgatar, outras não. Sei o quanto é difícil esta situação. 

QUE PERSONAGEM VOCÊ JÁ INTERPRETOU E, NA SUA OPINIÃO, DISSE EXATAMENTE AQUILO QUE VOCÊ GOSTARIA DE FALAR NAQUELE MOMENTO DA SUA VIDA? 
Alguns... Como a pintora mexicana Frida Kahlo, na peça Frida Y Diego, de Maria Adelaide Amaral, que fiz de 2015 a 2017. Ela era uma mulher humanista, ousada, libertária. Acredito em muitas coisas que ela acreditava e defendia. Mesmo a Teresa, de Orfãos da Terra, também diz algo que eu gostaria de falar, no sentido de seu apoio às pessoas em situação de refúgio, de ir além do preconceito, ter coragem de resgatar seu sonho e se reinventar.

RECENTEMENTE, VOCÊ LANÇOU UM LIVRO INFANTIL, BELABELINHA. POR QUE DECIDIU ESCREVER PARA CRIANÇAS? 
Belabelinha surgiu de um desejo de exercitar o humor, uma personagem que brincasse com a realidade. A partir daí, a identificação com as crianças foi natural, pela brincadeira, falando de coisas sérias, como a finitude da vida e as diversas formas de amar, de forma leve e divertida.

EM NOVEMBRO VOCÊ COMPLETA 50 ANOS DE IDADE E ESTÁ EM CARTAZ COM A COMÉDIA GATÃO DE MEIA IDADE, QUE RETRATA A BUSCA DO AMOR NESSA FAIXA ETÁRIA. E VOCÊ, ASSIM COMO O PERSONAGEM DO ATOR OSCAR MAGRINI NA PEÇA, TAMBÉM ESTÁ SOLTEIRA. O TEXTO, EM ALGUM MOMENTO, REFLETE A SUA PRÓPRIA BUSCA OU O UNIVERSO MASCULINO, NESSE SENTIDO, É COMPLETAMENTE DIFERENTE?
Gatão de Meia Idade é uma peça que fala da busca péla mulher ideal, pela perspectiva masculina. Naturalmente, o Gatão não encontra esta mulher, que só existe na cabeça dele; mas se relaciona com muitas, cada uma com suas qualidades e desafios. É uma delícia brincar com esses tipos, um presente fazer oito personagens, completamente diferentes uma da outra, com personalidade, caracterização, sotaque, jeito, tudo distinto

O QUE VOCÊ APRENDEU SOBRE ESSA FASE SOLTEIRA?
Sempre fiquei muito bem sozinha, sou uma pessoa que ama momentos de interiorização. Mas, ao mesmo tempo, não considero esse convívio comigo mesma como solidão, pois estou sempre bem acompanhada de pessoas que amo. Vivo amando, de um jeito ou de outro, é o que me move, me alimenta, o amor, por tudo.

COMO, DO PONTO DE VISTA DE QUEM VIVE ESSA SITUAÇÃO NA PELE, UMA MULHER BONITA, INDEPENDENTE, DE 50 ANOS, SOLTEIRA E SEM FILHOS SENTE OS OLHOS DA SOCIEDADE? 
Convivo bem com as minhas escolhas, não me sinto cobrada e, sobretudo, não me cobro, nem penso no assunto. Em comparação à geração da minha mãe, a cobrança de determinados papéis sociais era maior. Vivemos uma mudança de paradigmas. Ainda que de forma lenta e coletivamente bem menos do que gostaríamos, as coisas estão melhorando. Muito mais pessoas estão conscientes da necessidade de respeito às diferenças, às opções de cada um, e do quanto o convívio com a diversidade é fundamental para todos.

APROVEITE PARA DIZER, DE FATO, COMO É ESSA MULHER DE VERDADE. 
Mulher de verdade é como cada uma quiser ser, única, livre.

QUE PRECONCEITOS A SUA CARREIRA AJUDOU VOCÊ A DERRUBAR? 
Quando comecei a trabalhar, existia o preconceito pela minha opção de ser atriz, no meu caso, em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, onde não existiam atrizes. Depois, preconceito com atriz de teatro; depois com o cinema brasileiro; depois com a televisão; ou seja, preconceito de todas as formas. O jeito é não ligar, ir vivendo e fazendo o que se ama, que as cobranças e as projeções dos outros vão passando e se transformando. 

O QUE VOCÊ BUSCA QUANDO PRECISA RENOVAR A SUA FÉ? 
A natureza. Tenho um sítio, que amo. Medito, planto, cuido do jardim, ouço música, canto, danço. São formas de oração. 

QUE TALENTO VOCÊ TEM E AS PESSOAS AINDA DESCONHECEM? 
Cozinhar. Pintar. São coisas que gosto de fazer e das quais falo pouco. 

QUE PROBLEMA DO SER HUMANO VOCÊ ACHA QUE PRECISA SER RESOLVIDO MAIS URGENTEMENTE? 
O prazer na violência, que mantém a humanidade em guerra e com medo. Acho que a coisa mais urgente para todos é o desenvolvimento de uma cultura de paz, em que as pessoas tenham prazer no convívio pacífico entre os diferentes, na qual o amor seja realmente o valor maior. 

E QUE PROBLEMA VOCÊ TEM QUE GOSTARIA DE RESOLVER URGENTEMENTE? 
Lidar melhor com o tempo. Às vezes, 24 horas por dia parece pouco pra fazer tudo o que gostaria de fazer! 

QUAIS SÃO SEUS PRÓXIMOS PROJETOS? 
Lançar o longa Águas Selvagens, do diretor argentino Rolly Santos, rodado ano passado. Filmar o longa A Cerca, do diretor Raul Guterres, agora no segundo semestre. Terminar de escrever o livro Palhaço Sagrado. E ainda fazer um monólogo, que já está em fase de pré-produção, com o diretor Eduardo Figueiredo.