O preconceito e a intolerância contra pessoas gordas ainda se camuflam como piada nas rodas de amigos, mas precisam ser debatidos porque causam marcas psicológicas profundas
Sabe aquele conhecido que você não vê há anos? Se encontrar com ele por acaso hoje e notar que seu peso mudou consideravelmente, isso vai te deixar incomodada a ponto de comentar mais tarde sobre o assunto na mesa do jantar? Já parou para pensar por que o comentário “Fulano engordou tanto nos últimos tempos...” é para muitos de nós mais relevante do que “ele conseguiu o emprego que tanto queria” ou “ele estava tão sorridente e feliz”? De acordo com a psicóloga Livia Marques, nossa sociedade é muito ligada à estética, mais especificamente um padrão estético que prega: para ser bonito é preciso ser magro. Graças a essa cultura, a intolerância contra pessoas gordas cresce e se camufla em torno de piadas e brincadeiras, algo que pode magoar e trazer consequências negativas para quem vive a situação.
Onde a gordofobia se esconde
“É difícil encontrar alguém que assuma que sente aversão por pessoas gordas. Geralmente, esse preconceito aparece por meio de comentários do cotidiano”, explica a psicóloga. Por exemplo: dizer que alguém “é bonita de rosto” é um desrespeito com a outra pessoa. Afinal, o que deveria ser um elogio está, na verdade, deixando subentendido que o corpo da pessoa não é tão bonito assim... E por que ela não poderia admirar a si mesma? Outra expressão comum é soltar, ao comer um alimento gorduroso, que “está fazendo gordice”. Isso apenas reforça a ideia de que pessoas gordas se alimentam mal e são pouco saudáveis – quando, na verdade, cada organismo é um organismo: uma pessoa considerada gorda pode se alimentar bem melhor do que outra, que é magra. Além disso, cada um é livre para fazer suas próprias escolhas! Para finalizar, Livia dá outro exemplo: dizer para alguém que conhece uma dieta que pode ajudar a emagrecer sem que a pessoa tenha expressado interesse em perder peso. Além de indelicada, a fala sugere que há algo de errado e que precisa ser corrigido. Tudo isso magoa!
Consequências psicológicas
O que para alguns podem parecer simples comentários, na verdade contribuem para reforçar a ideia de que somente as pessoas magras são bonitas e podem se sentir bem com seu próprio corpo. Nas redes sociais, inclusive, há diversos perfis que alimentam esse pensamento sob o pretexto de incentivar um estilo de vida saudável. Mas o assunto é coisa séria: “Graças a essa rejeição, transtornos como bulimia, anorexia e compulsão alimentar podem ser desenvolvidos”, diz a profissional. Outros problemas, como crises de ansiedade, pânico e até depressão podem ser iniciados. Tudo depende da educação emocional de cada um: se a pessoa que receber a agressão estiver bem-resolvida, pode nem se abalar. Mas, para outras, as indiretas podem se transformar em tristeza ou raiva.