AnaMaria
Busca
Facebook AnaMariaTwitter AnaMariaInstagram AnaMariaYoutube AnaMariaTiktok AnaMariaSpotify AnaMaria

O desafio de ser quem você realmente é

Na novela A Força do Querer (Globo), Ivana descobre que é um homem transgênero. Nós ajudamos você a entendê-lo!

Ana Bardella Publicado em 26/09/2017, às 17h21 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h45

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
O desafio de ser quem você realmente é - João Miguel Júnior/Globo
O desafio de ser quem você realmente é - João Miguel Júnior/Globo
Parar em frente ao espelho e não reconhecer o próprio reflexo. É assim que Ivana, personagem de Carol Duarte na novela das 21 h da Globo, se sente. Hábitos estimulados por sua família, como usar vestidos, sapatos de salto e maquiagem a deixam desconfortável. E os conflitos não param por aí: seu próprio corpo lhe parece inadequado. A filha de Joyce (Maria Fernanda Cândido) só começa a descobrir a natureza da questão após se submeter a muitas sessões de terapia. Com orientação profissional, ela é capaz de compreender que sua biologia (o sexo feminino) não está de acordo com seu gênero (que, na verdade, é masculino). Enfim, ela é um homem transgênero. Confusa com tanta informação nova? A gente te ajuda a entender essa história.

O que quer dizer gênero?
Quem determina se somos do sexo feminino ou masculino é a natureza. Mas a maneira como nos comportamos e nos vestimos é assimilada ao longo da vida. Exemplo: se um menino brinca de boneca e alguém o repreende, dizendo que se trata de “coisa de menina”, é como se estivesse delimitando os contornos do seu gênero. Logo, “as diferenças entre homens e mulheres não são absolutamente naturais, mas influenciadas pelo convívio social”, explica Maria Lucia Pereira, psicóloga especialista em sexualidade humana. Apesar disso, nada impede alguém do sexo feminino de se identificar mais com o comportamento esperado para um homem. Portanto, o gênero é uma mistura de como a pessoa se percebe e se expressa. Em geral, classificado entre masculino e feminino. “Mas há autores que questionam essa dualidade e concluem que novas formas de expressão são possíveis”, diz a especialista.

Sexualidade: o que tem a ver?
Se Ivana se identifica com o gênero masculino, ela gosta de mulheres, certo? Nem sempre. Tanto é que, mesmo após iniciar sua transição, ela continuará apaixonada por Claudio (Gabriel Stauffer). E a terapeuta irá ajudá-la a esclarecer que, caso ela continue com a mudança, se tornará um homem transgênero gay. “A sexualidade é uma necessidade básica do ser humano. Ela se revela
pelo desejo de receber e expressar afeto (não apenas por meio das relações sexuais, mas também pelo toque, abraço e afeto)”,
esclarece Maria Lucia. É por causa dela que nos motivamos a encontrar o amor e a intimidade. E assim como existem homens e mulheres homo ou bissexuais, também há homens e mulheres trans que se interessam por pessoas do mesmo gênero ou por ambos os gêneros.

Vida real
Durante a pesquisa para escrever a novela, a autora Gloria Perez pediu a ajuda de transgêneros, como Tarso Brant – que surpreendeu Carol Duarte com seus relatos impactantes. A sintonia foi tanta que o ator de 24 anos fará um amigo de Ivana que a ajudará em sua transição. “Me identifiquei com várias cenas da Ivana, principalmente quando ela bate nos seios. Me emocionou,
pois passei por tudo aquilo”, disse o rapaz em entrevista ao site GShow.

Dá um tempo, Joyce!
Se já é difícil passar por tantas descobertas, imagine enfrentar tudo isso com uma mãe controladora como Joyce! “Muitos
transgêneros não se abrem com familiares ou pessoas próximas por acreditarem que eles não entenderiam sua condição”, afirma Sarah Lopes, psicóloga da seguradora Hapvida Saúde. Por isso mesmo, a presença dos pais tem um peso e tanto nessa fase de descobrimento. O primeiro passo é estar de ouvidos atentos para as falas dos filhos – ou seja: fazer o contrário da socialite, que vive impondo à moça que satisfaça suas vontades. Quem vive essa experiência pode ter dificuldade em expressar seus sentimentos, já que no início muitos deles não compreendem o que está acontecendo. Nesses casos, o acompanhamento de um psicólogo bem qualificado faz toda a diferença.

Pequeno dicionário
■ Transgênero: é o que chamamos de conceito “guarda-chuva”. Ele abrange um grupo diversificado de pessoas que não se identifica (em diferentes graus) com os comportamentos do gênero que lhes foi determinado logo após o seu nascimento.

■ Homem transexual: pessoa que reivindica reconhecimento social e legal como homem. Quem pertence a esse grupo adota nome, aparência e comportamentos masculinos. Quer e precisa ser tratado como qualquer outro homem. Por considerar que seu corpo não está adequado à forma como pensa e sente, procura corrigir isso. Essa correção pode ser feita por meio de tratamentos hormonais
ou procedimentos cirúrgicos. O mesmo vale para as mulheres transexuais, mas adotando comportamentos femininos.

■ Travesti: pessoa que vivencia papéis de gênero feminino, mas não se reconhece como homem ou mulher, e nem reivindica ser tratada como tal. O correto é dizer “as travestis” e nunca “os travestis”. Na novela A Força do Querer, o personagem Nonato
(Silvero Pereira) se identifica dessa forma.

“Passei anos sem me olhar no espelho”
“Cresci ao lado do meu irmão, que é apenas dois anos mais novo do que eu. Minha mãe sempre foi liberal com relação às nossas roupas quando nós éramos crianças. Logo, não sofri tanto durante a infância. Ainda assim, mais ou menos aos 6 anos de idade, me lembro de pedir a Deus que um dia eu pudesse ser homem, mesmo que isso acontecesse em outra vida. Aos 11 anos, entrei na puberdade e começaram as mudanças corporais. Mesmo não querendo usar sutiã, fui meio que obrigado. Passei anos sem me olhar no espelho porque não conseguia. Tinha vergonha de sair de casa também. Lá pelos 14 anos, decidi me assumir homossexual (eu gostava de meninas). Minha mãe não reagiu bem, achou que isso era influência de outros colegas. Nós discutíamos muito, mas ela acabou aceitando. Só aos 20 anos comecei a ler sobre a transição. Foi quase um ano de pesquisa antes de tomar a decisão definitivamente. Então, comecei a tomar os hormônios com orientação médica. Depois vieram as sessões com o psicólogo, a cirurgia... Hoje, como homem transexual, enxergo o mundo de outra forma.”
Henri Lace, 25 anos, de São Paulo

FONTE: ORIENTAÇÕES SOBRE IDENTIDADE DE GÊNERO: CONCEITOS E TERMOS, DE JAQUELINE GOMES DE JESUS, DOUTORA EM PSICOLOGIA SOCIAL, DO TRABALHO E DAS ORGANIZAÇÕES.