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Psicopatas do amor: fazem do romance um esporte até que o jogo perde a graça

Ali estavam todos os elementos para uma história feliz, exceto por um detalhe: do outro lado, havia uma pessoa ardilosa, que fingiu amar apenas enquanto a brincadeira era conveniente.

*Wal Reis Publicado em 07/09/2020, às 11h30 - Atualizado às 18h51

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Trata-se de um amor que derrete ou apaga fácil, deixando o vazio de nunca ter existido de verdade. - Marcio Miranda/Pixabay
Trata-se de um amor que derrete ou apaga fácil, deixando o vazio de nunca ter existido de verdade. - Marcio Miranda/Pixabay

Às vezes nem o olhar mais atento captura, mesmo mantendo um pezinho atrás por excesso de zelo. O máximo que se sente é uma certa estranheza quando a perfeição fica meio fora da realidade. Mas aí vem o pensamento reconfortante: “por que, afinal, não tenho direito de viver uma paixão plena?” E agradece o privilégio de ser agraciada por um amor tão completo, com parceria, cumplicidade e paixão.

Por isso é tão difícil engolir o que vem a seguir, quando você percebe que dormiu na melhor parte da história e acordou despejada de seu sonho: o amor não só não está mais ali, como nunca esteve. Nada foi real e não passou de uma miragem no deserto. E o diagnóstico é matador: você foi o brinquedo de um psicopata de relacionamentos.

Como todo psicopata que se preze, não mede consequências dos seus atos simplesmente porque não sente: nem compaixão, nem remorso, nem nada. Ele a escolheu para exercitar seu teatro e foi bem-sucedido, a ponto de te envolver no que parecia ser o romance da vida. Talvez pelo poder da conquista, para afiar as garras ou simplesmente constatar o quanto é fácil manipular a caça. Mas talvez a gente nunca entenda o propósito.

Diferentemente dos interesseiros comuns, esta modalidade não objetiva bens materiais – não focam dinheiro ou o conforto que a presa pode proporcionar, o que torna ainda mais difícil detectar a roubada.

Trata-se de um ser sociável, sem nenhum traço aparente que levante suspeitas sobre sua personalidade. O bom moço parece ter índole e é inteligente. Sabe envolver, dizer as palavras certas, fazer juras de amor eterno olhando no fundo dos olhos, enquanto se esparrama em lágrimas sentidas. Pode esbravejar de ciúme ou se humilhar depois de uma briga, afirmando que não concebe mais um dia sem você. Mas nunca será violento. Também vai oferecer farto material midiático. De playlists a vídeos com declarações rasgadas. Aparentemente, não teme produzir provas contra si. A inconsequência é outro traço deste doente.

VÍTIMA
Por nunca ter sido amor, vai doer mais do que desamor. Aceitar que não havia como se defender da armadilha vai exigir tempo. Tempo para se perdoar, separar o joio do trilho, desvincular o personagem da criatura abominável e, finalmente, aceitar que aquela nunca foi uma experiência a dois.

Sem saber, estava em uma ficção e, na hora que ouviu “corta”, seu suposto par romântico a encarou como se nunca tivesse lhe visto e te deixou perdida em cena aberta, enquanto você tentava desesperadamente arrancar aquela máscara de frieza que cobria o rosto tão conhecido e tão amado, procurando a senha para se comunicar com quem, num passe de mágica, desaprendeu seu idioma. Além de buscar pelo abraço que era seu mundo e onde, mais do que nunca, queria se aconchegar. Mas o que encontrou foi a fronteira fria de braços cruzados sobre um peito onde nunca houve um coração que batesse verdadeiramente por amor.

Talvez essa seja a pior versão da solidão: quando lhe tiram até o direito de lamentar o fim porque o que nem começou também não acaba. Só desaparece. Todos te olham com desconfiança, enquanto a vontade é de gritar que nada foi fruto de imaginação, que qualquer um entraria pelo cano numa situação assim. Que você não foi tola, nem inescrupulosa ou afoita. Foi vítima. E ninguém é vítima porque quer, mas acontece. No assalto, no estupro e no amor.

*WAL REIS é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida. Blog: www.walreisemoutraspalavras.com.br