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Diversos / Qualidade de vida

Trabalhar viajando? Rentável, ser nômade digital faz bem para a saúde

Viajar trabalhando: te contamos como ser nômande digital pode ser rentável e benéfico à saúde

*Paty Moraes Nobre Publicado em 28/09/2023, às 11h50

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Paty Moraes Nobre, de 40 anos, em Lisboa, Portugal. - Crédito: Arquivo Pessoal
Paty Moraes Nobre, de 40 anos, em Lisboa, Portugal. - Crédito: Arquivo Pessoal

A vida como nômade digital deixou de ser um grande mistério para mim há um ano. E o desejo de viajar trabalhando me encorajou a deixar um apartamento próprio, em São Paulo (SP), para me aventurar em dezenas de países, até então desconhecidos, nas Américas, África e Europa. Nos últimos meses, passei a viver mochilando e consegui aplicar R$ 10 mil, algo impossível na minha realidade anterior.

A mesma sensação começou a ser vivenciada por muita gente no início da pandemia de covid-19, quando trabalhar em home office, modelo funcional temido por muitas empresas, tornou-se uma realidade necessária. Na época, muitos profissionais também trocaram seus imóveis de alto custo nas grandes cidades por ambientes novos ou no meio da natureza.

Desde então, viajar e trabalhar simultaneamente é a rotina de mais de 35 milhões de pessoas, segundo dados do Relatório Global de Tendências Migratórias 2022 da Fragomen, companhia especializada em serviços de imigração. O documento prevê, inclusive, que o nomadismo digital será o estilo de vida de 1 bilhão de pessoas até 2035.

ELA APOSTOU EM UMA NOVA CARREIRA

Chelsea Maura Guimarães
Chelsea Maura Guimarães (Crédito: Arquivo Pessoal)

Apesar de parecer desagradável, conter os gastos com um dia a dia mais econômico pode abrir caminhos para novas amizades e aprendizados preciosos. É o caso do encontro com a arquiteta e cantora angolana Chelsea Maura Guimarães, de 26 anos, no quarto coletivo de um hostel próximo ao Coliseu, em Roma, na Itália.

Após passar por uma temporada desfrutando de convites em hospedagens de luxo, a tentadora diária equivalente a R$ 70, com direito a wi-fi livre, pareceu importante para segurar a grana. "E esse preço não foi dos mais baratos", alerta Chelsea, que também possui nacionalidade portuguesa e é formada pela Florida International University, em Miami, nos Estados Unidos.

"Fui à Tailândia para poder poupar e morei na quinta de permacultura Sahainan, onde pude dormir e comer em troca de trabalho voluntário na construção de casas de bambu", conta Chelsea, que paralelamente presta serviços online para uma empresa e recebe cerca de R$ 5 mil por mês.

A rotina sem ponto fixo, garante ela, permitiu investir na paixão pela música. "Em uma dessas viagens, candidatei-me a uma vaga de cantora em um resort na Grécia, onde estou atualmente. Avisei o meu chefe e, durante o dia, sigo como arquiteta e, à noite, posso ganhar mais cantando", revela Chelsea, que está prestes a cruzar novas fronteiras a convite da rede hoteleira.

VIVÊNCIAS DIVERSAS

Nas redes sociais, como no Instagram, e nas plataformas de vídeos, como no Youtube, aventureiros costumam relatar suas vivências apresentando as frustrações e as conquistas pelo caminho. Nessas plataformas, o cálculo de custo de vida para casal nômade se locomovendo pelo mundo costuma ser de R$ 252 (US$ 50) por dia.

"Mas isso é uma média porque, em alguns dias, não se gasta nada e, em outros, gasta-se mais¨, garante o brasileiro e ex-diretor comercial Sérgio Plumari, de 57 anos, que conheci em uma jornada de
autoconhecimento durante o Festival Pura Vida, na Ilha do Farol (CE). Há 15 anos, o executivo de multinacional odontológica optou por um estilo de vida diferente, mais minimalista e com responsabilidade ambiental.

"Tinha uma equipe gigante, com muita responsabilidade, cobrança e muita pressão. Comecei a me questionar onde me sentia bem, feliz, leve e realizado. Era na estrada, vivendo um dia de cada vez, no flow (fluxo, em inglês), deixando as coisas acontecerem. Foi quando decidi começar a segunda metade da minha vida assim', recorda, após abandonar um bom salário com estabilidade e criar o projeto 50 Mundos.

"Foquei tanto nisso que, mesmo se ganhasse menos, já estaria realizado cuidando de mim, da minha cabeça e do planeta. Deu frio na barriga, sim, mas o sentido da vida é seguir em frente. E deu certo", incentiva o vegano, pai de quatro filhos.

Atualmente no Chile, Sérgio se mantém com o apoio de 14 marcas e a cobrança de palestras, garantindo que, agora, vive apenas com o correspondente a 30% do que gastava com condomínio, IPTU, seguro do carro, passeios, restaurantes e "tudo mais da estrutura consumista oferecida pela capital paulista."

"Trabalhar na estrada é perfeitamente possível. Principalmente após a pandemia, engenheiros, advogados, escritores e pessoas de TI (Tecnologia da Informação), por exemplo, estão trabalhando cada vez mais remotamente", lista ele, que adaptou seu transporte como moradia.

Trata-se de um caminhão do exército Iron, um modelo do Volkswagen Worker 15.210, ano 2014, ao selo carbono zero. "Fechei contrato com uma marca maneira para fazer várias ações ambientais. O plano, agora, é seguir o rolê até o Canadá", comemora o nômade digital.

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Sérgio Plumari mostra seu transporte, adaptado como moradia, no Deserto de Atacama, no Chile. (Crédito: Arquivo Pessoal)

NOVAS CULTURAS E BENEFÍCIOS

Muito além do bolso, viajar realmente pode ser benéfico à saúde. A vivência com novas culturas e paisagens, além de ampliar os horizontes já conhecidos, pode ser forte aliada no combate ao estresse e, inclusive, minimizar os efeitos depressão.

"Viagens propiciam aumento de dopamina e prazer, melhorando condições e características de um transtorno psíquico", explica o psicólogo José Buongermino Raucci, diretor da Nuovavita. Diferença de cenários pode trazer ainda a "sensação de bem-estar que alivia o cansaço e relaxa o cérebro e o corpo", complementa o psicofarmacologista e terapeuta floral.

"Vivo na estrada e moro no mundo. Entendi que nunca fui nem nunca serei um pai padrão e meus filhos também entenderam. Claro que tem saudade, tem ausência, mas eles não me cobram. Minha missão, ao invés de mostrar coisas protocolares, é fazê-los ver a vida de uma forma mais leve", avalia Sérgio.

QUERO SER NÔMADE DIGITAL, E AGORA?

  • Vistos e residência fora do Brasil

No caso de viagens internacionais, é importante ficar atento às informações de imigração em cada país. Algumas nações exigem vistos especiais para nômades digitais e, em contrapartida, oferecem vantagens de residência. Basta requerer a documentação em consulados brasileiros no exterior.

Na Europa, países como Hungria, Itália, Portugal, Espanha e Croácia, por exemplo, já oferecem tal modalidade de autorização de permanência. "Existem taxas administrativas e alfandegárias aplicadas no momento da chegada ao país que costumam ser ignoradas. Na Angola, por exemplo, o custo de permanência gira em torno de R$ 605 (US$ 120)¨, avisa João Fouad, founder e CEO da Highline.

  • As cidades mais baratas do mundo

No site Nomad List é possível ter acesso ao custo de vida em mais de 500 cidades do planeta, segundo informações de um banco de dados de viajantes. Os usuários também classificaram a segurança para mulheres e a velocidade da internet nos mesmos locais. Separamos informações dos três locais que estão no topo da lista:

  • Bangcoc, na Tailândia, tem custo de vida de R$ 7,1 mil (US$ 1.410)
  • Florianópolis, no Brasil, tem custo de vida de R$ 7,6 mil (US$ 1,5 mil)
  • Madeira, em Portugal, tem custo de vida de R$ 11,7 mil (US$ 2.335)

DINHEIRO SEM FRONTEIRAS

Para quem desempenha funções virtuais de maneira profissional, novas ferramentas prometem ser as grandes aliadas da competência em busca da tão almejada rentabilidade.

Moedas internacionais na palma da mão

Basta pesquisar para encontrar as vantagens de plataformas financeiras de moedas sem fronteiras, que possuem sistemas capazes de auxiliar os usuários a movimentar renda em qualquer lugar do planeta. É importante, no entanto, apresentar informações de nacionalidade e residência, além de comprovação de renda ou vínculo salarial recente.

Esse é o caso do aplicativo Wise, por exemplo, que possui autorização do Banco Central do Brasil como corretora de câmbio e atua com dinheiro eletrônico em 170 países. Assim, receber, realizar pagamentos internacionais sem as taxações costumeiras e comprar (enquanto usufrui de lucros das cotações) são vantagens reais possíveis na palma da mão.

Ter reservas e poupar com gastos desnecessários

Especialistas em planejamento financeiro costumam orientar sobre a necessidade de possuir seguro viagem e reserva de valores para situações mais difíceis, como o caso de doença em terra estrangeira ou instabilidade do salário, por exemplo.

"Quando viajamos, seja no Brasil ou fora, o bom senso deve primar na nossa economia pessoal. Em muitos lugares, os preços são diferentes e há gastos extras com locomoção. Na Amazônia, isso se aplica no transporte, que é fluvial, e há esperas de dias por isso, o que devemos considerar no custo adicional", especifica Fouad.

Conforme o especialista em finanças, despesas extras com passagens aéreas costumam pegar muitos usuários de surpresa na hora do embarque. "Comprar tickets de ida e volta em outros países pode ser mais caro do que no Brasil. É o caso da Argentina e de outras nações que aplicam tributos consideráveis", afirma ele, que complementa: "O segredo, nessas situações, não é nenhum segredo: planejamento e reserva, deixando margem para eventualidades, pois sabemos que vão ocorrer."

Além disso, evitar guias turísticos, hotéis e restaurantes, além de buscar roteiros econômicos por conta
própria, são outras dicas para os momentos de imprevistos.

*PATY MORAES NOBRE é jornalista há 22 anos e com especialização em turismo e gastronomia. Atuou em empresas como Portal iG, Jovem Pan, UOL, Editora Globo e Revista IstoÉ. Nômade digital, a colunista compartilha suas experiências em seu perfil de Instagram (@patymoraesnobre), onde está à disposição para conversar com os leitores.