Selecionamos algumas obras que vão fazer nossos filhos entrarem no mundo da leitura para nunca mais sair. - Adam Winger/Unsplash
FIlhos

Livros: como estimular crianças e adolescentes a abraçarem a leitura

Selecionando algumas obras que vão fazer nossos filhos entrarem neste mundo para nunca mais sair

*Priscila Correia, do Aventuras Maternas, colunista de AnaMaria Digital Publicado em 14/04/2023, às 09h20

Sabe aqueles dias em que o tédio se instala dentro de casa? Que os filhos ficam tentando achar algo pra fazer ou reclamando de tudo, deixando a gente perdida e querendo achar algo para entretê-los? A solução para esse ‘problema’ é mais simples do que você imagina: livros.

Toda infância e adolescência perpassa pela leitura, já que, mesmo que não queiram, nossos filhos são ‘obrigados’ a ler diferentes títulos pela escola. Alguns acabam deixando o hábito de lado com o tempo. Outros se tornam grandes leitores. E há os que vão além e se apaixonam pelos livros, abraçando a Literatura como profissão ou hobby.

E para celebrar o Dia Nacional do Livro Infantil, que acontece no próximo dia 18, conversamos com pedagogos e jovens escritoras, selecionando algumas obras que vão fazer nossos filhos entrarem nesse mundo para nunca mais sair.

CONSTRUINDO UM HÁBITO

Pergunte a uma criança o que ela gosta de fazer no tempo livre. Provavelmente vai responder atividades como brincar, encontrar os amigos, ir ao parque, entre outras. Entretanto, embora essas atividades tenham o seu valor, é claro, nem sempre temos tempo para levá-los aonde querem. E é aí que podemos – e devemos – apresentar o mundo da Literatura. Afinal, livros constroem saber, estimulam a imaginação, ensinam coisas novas.

Luciana Barros, que atualmente é adulta, conta que aos 13 anos passou por um período difícil, quando descobriu que tinha câncer. A doença, que acabou afastando a menina da escola e dos amigos do prédio por conta do tratamento feito em outra cidade, acabou sendo o ponta pé para começar a ler. “Comecei a ler para passar o tempo e, quando percebi, estava pegando os livros do meu pai, que sempre foi um leitor voraz. Lembro-me muito dele lendo antes de dormir, a cada semana com um livro diferente. A leitura, literalmente, me salvou. E nos mais diversos sentidos", conta.

Ela diz que, além de trazer alegria em um momento de tristeza. "Me deu esperança quando eu achava que não viveria, me deu conhecimento sobre assuntos que eu nem imaginava que existiam”, conta, emocionada. E o hábito da leitura também deu a profissão. “Quando era adolescente, queria ser engenheira. Sempre fui a aluna que adorava matemática e odiava português. Mas os livros mudaram totalmente os meus planos. Eu ficava fascinada em como alguns autores conseguiam detalhar cada acontecimento e prender a gente em páginas e mais páginas; em como a literatura tinha o poder de fazer a gente gargalhar e chorar como acontecia em um filme; em como um livro poderia se tornar, de verdade, uma companhia”, lembra a hoje jornalista.

E a inspiração que Luciana tinha no pai faz total sentido. Afinal, as crianças aprendem muito pelo que têm como referência. Lidia Pinto, mãe de Manuela, de 14 anos, lembra que a filha sempre gostou de ler e que o hábito começou quando ainda bem pequena, com gibis. “Eu tenho revistinhas que eram dos meus pais, que adoravam a Turma da Mônica. Herdei deles e Manu também. Com o tempo, ela começou a se interessar por títulos mais atuais, como Harry Potter. Hoje, emenda um livro no outro e tem uma vocabulário muito superior ao que eu vejo em outras crianças com a mesma idade. E acredito que seja pelo hábito da leitura”, conta. Ela levanta, também, um dado interessante sobre o tema: como a paixão pelos livros foi fundamental para o equilíbrio emocional da filha durante a pandemia. “Depois do primeiro mês em casa, a vida das famílias virou um caos. Lembro das minhas amigas comentando sobre o dia a dia, que não sabiam mais como entreter os filhos, o que inventar para que as crianças ficassem menos entediadas. Com a Manu isso não aconteceu e realmente acho que os livros foram a companhia perfeita para aquele momento de caos”.

A IMPORTÂNCIA DO SABER

Quando falamos sobre leitura para crianças, o primeiro pensamento é sobre uma literatura lúdica, com histórias que divirtam. Mas o hábito de ler carrega muito mais do que entretenimento. Gustavo de Carvalho Afonso, que é professor do Ensino médio e supervisor de área português do ensino fundamental do Colégio Universitário, explica que a leitura tem um papel fundamental no desenvolvimento de diversas habilidades e competências, pois ela enriquece o vocabulário da criança e do adolescente, assim como permite uma compreensão de organizações textuais que refletem organizações mentais mais complexas - ou seja, uma vez que o indivíduo entra em contato com leituras cada vez mais elaboradas, e à medida que ele vai amadurecendo e lendo livros mais complexos, consegue também se apropriar dessas elaborações e raciocínios mais complexos que essas próprias leituras oferecem.

“A leitura, além de ser por si só um mecanismo formador importante nas capacidades, nas habilidades e competências, sobretudo as que são mais dirigidas a sua capacidade de expressão, também serve como elemento enriquecedor no que tange ao contato com diferentes conteúdos. Além de oferecer a possibilidade da pessoa fazer um treino até mesmo neurológico pelo contato com sentenças, frases e textos cada vez mais longos e extensos, também propicia que, durante o processo, aprenda sobre o que ele está lendo e que entre em contato com assuntos variados”, pontua. Já a pedagoga Gloria Rocha, que é coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental Anos Inicias do Pensi+, lembra, ainda, que “desde a formação de importantes conexões cerebrais - cognitivas, léxicas e afins -, a leitura alicerça foco, compreensão e, o mais importante, é alimento para o sonho e a fantasia.”

É importante dizer, ainda, que a literatura dá maior capacidade crítica às crianças, formando adultos que têm melhor compreensão da língua e, consequentemente, melhor interpretação dos fatos. Para Gloria, a leitura significativa caminha junto à criticidade. “Somemos a isso a possibilidade de alcançar textos que podem alimentar a reflexão. Não há dúvida quanto à organização do pensamento crítico e ao desenvolvimento da capacidade de interpretar. O caminho parece antigo, mas é seguro: a leitura é o movimento para a organização de funções relacionadas à compreensão e à interpretação crítica. Leitura colabora com foco e concentração”, enfatiza.

PEQUENOS GRANDES AUTORES

Cada vez mais encontramos crianças publicando livros. Algumas escolas, inclusive, têm projetos que incentivam os pequenos a embarcarem nessa aventura literária. Para Gloria, projetos que enaltecem e incentivam habilidades e talentos na infância são verdadeiras pontes para realizações significativas na vida adulta. “Desenvolver e proporcionar oportunidades são missões da escola para que o aluno protagonize suas competências. Isso fica para a vida”, comenta.

Já Gustavo lembra que projetos nos quais os alunos são estimulados a produzirem suas próprias obras costumam trazer diversos benefícios para a formação escolar do aluno, tanto em um plano mais imediato quanto mais a longo prazo – no Colégio Universitário tem o nome de Super Autor. “Em um primeiro momento, a gente pode destacar o fato de que o aluno vai conseguir identificar a sua própria capacidade e esse reforço da autonomia. Ele ainda atinge o ápice quando se estende esses projetos de produção textual para a noite de autógrafos, por exemplo, onde acontece o reconhecimento efetivo por meio de aplausos e autógrafos para as pessoas que talvez mais importem para ele, como a família, os professores, amigos”, diz. E continua: “Já em médio e longo prazo, essa segurança para escrever vai repercutir de uma maneira muito positiva também, como quando for prestar o Enem ou outro vestibular, na hora da redação”.

Maria Eduarda Lemos Macieira. (Arquivo Pessoal)

Autora de dois livros – “Violeta” e “Martina: uma aventura na Floresta Folha Seca” –, a aluna do Pensi Maria Eduarda Lemos Macieira, de 12 anos, que conquistou o 3° lugar no Concurso Literário da escola ano passado, na categoria do 6º ano, e este ano vai participar novamente, conta que sua história com a literatura começou com o projeto “Estante Mágica”, uma iniciativa de incentivo da escrita para os alunos.

“Nesse projeto, os alunos criam e ilustram seus próprios livrinhos e, no final do ano, acontece uma sessão de autógrafos. Bom, quando eu estava no 1o ano, eu participei desse projeto na escola e adorei a experiência. Foi incrível pra mim aprender de perto como é fazer um livro. Foi ali que começou meu interesse pela escrita de livros.

No ano seguinte, eu fiz um desenho de uma boneca linda e colorida para o meu pai. Inspirada nela, criei uma historinha: “Violeta”. Eu fiquei tão animada e inspirada, que queria fazer a minha própria história. Assim nasceu o primeiro livro, que publiquei com 7 anos de idade, lançado na 2ª Festa Literária de Paquetá (FLIPA).

Em 2019, levei “Violeta” para a Bienal, para FLIP, participando de mesas e debates literários. Foi muito incrível! Eu tive a experiência, desde pequena, de escrever, ilustrar, apresentar e lançar minha própria obra”, conta.

E ela não parou por aí. Em 2019, inspirada no livro “Reinações de Narizinho”, de Monteiro Lobato, criou a personagem Martina, uma boneca amiga da Emília que se aventura com ela pela Floresta Folha Seca. “O lançamento foi no final de 2022. Foi incrível! O mais legal disso é que, desde o lançamento de “Violeta”, percebi que inspiro outras crianças a acreditarem que elas são capazes de escrever uma história também! Eu fico muito feliz em poder ser inspiração para outras pessoas”, completa.

Outra autora jovem é Julia de Andrade, de 11 Anos, que escreveu "A vida das plantas". Nele, a menina aborda o desmatamento das árvores. “Escolhi esse tema porque precisamos muito nos preocupar com isso. Espero que as pessoas entendam a importância das árvores e do meio ambiente, e se preocupem com o nosso futuro”, comenta.

CAMINHANDO ENTRE LIVROS

Incentivar as crianças a começarem a ler pode ser mais fácil quando encontramos o tipo de leitura e assunto que mais agrada, que chama a sua atenção. A seguir, pedimos algumas sugestões de leitura para Gustavo, Gloria, Maria Eduarda e Julia, para ajudar na conquista do hábito da leitura.

Dicas de Gloria Rocha, coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental Anos Inicias do Pensi+:

Dicas de Gustavo de Carvalho Afonso, professor do Ensino médio e supervisor de área português do ensino fundamental do Colégio Universitário:

Dicas de Maria Eduarda Lemos Macieira:

Dicas de Julia de Andrade:

 

dicas crianças livros Adolescentes leitura jovens

Leia também

Inspiradas pela maternidade, mulheres contam histórias de empreendedorismo


Discalculia: transtorno que interfere no aprendizado de Matemática


Vamos falar sobre Dislexia?


Entenda como a leitura amplia o aprendizado das crianças


Saúde infantil e os riscos da obesidade


Redes sociais e "adultização" precoce das crianças: como lidar?