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Vamos falar sobre Dislexia?

Especialista explica transtorno da aprendizagem que pode interferir na alfabetização

Especialista Juliana Amorina fala sobre Dislexia - Divulgação
Especialista Juliana Amorina fala sobre Dislexia - Divulgação

No próximo domingo, 28 de abril, é celebrado o Dia da Educação
– por aqui, a educação é um direito garantido por lei (Art. 6º) e assegurado na Constituição Federal. E um assunto tão importante para a criação de nossos filhos, é claro, merece atenção especial.

Por isso, o assunto será abordado em duas partes. Nesta primeira semana, vamos explorar os transtornos de aprendizagem relacionados à leitura, a dislexia, e como pais e escola podem trabalhar em conjunto para criar um ambiente de apoio e compreensão para essas crianças. Vamos buscar estratégias eficazes e recursos disponíveis para ajudar a superar esses obstáculos e garantir que todas as crianças tenham a oportunidade de se desenvolver no mundo da leitura. Vale lembrar, porém, que cada crianças e adolescente tem seu próprio ritmo e desafios únicos no processo de alfabetização.

Na coluna de hoje, conversamos com Juliana Amorina, fonoaudióloga e diretora presidente do Instituto ABCD, que vai responder as principais dúvidas dos pais sobre o assunto.

VOCÊ CONHECE A DISLEXIA?

Caracterizada como um transtorno específico da aprendizagem que compromete habilidades básicas de leitura, a Dislexia tem um impacto importante na vida dos alunos.

De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, a dislexia pode afetar entre 5% e 15% da população mundial, posicionando-se como um desafio importante na vida da pessoa que não possui o acompanhamento adequado. Entretanto, esse transtorno permanece desconhecido por grande parte das pessoas, e frequentemente é confundida com outras dificuldades.

Para promover a conscientização sobre o tema, o Instituto ABCD, uma organização social sem fins lucrativos que se dedica a divulgar conhecimentos cruciais para a qualidade de vida das pessoas com dislexia no Brasil, compartilha cinco conceitos esclarecedores sobre o transtorno.

1. Desafio e superação: Para aqueles que enfrentam a dislexia, as palavras podem se transformar em um labirinto desafiador. A leitura e a escrita, que muitas vezes são tarefas cotidianas, podem se converter em obstáculos complexos, gerando frustração e uma sensação de desafio constante. A dislexia pode envolver dificuldades na decodificação de palavras, na fluência da leitura e na ortografia, afetando o processo de aprendizagem e o acesso ao conhecimento. No entanto, ao entender e enfrentar esses desafios, é possível desencadear um incrível potencial de superação e crescimento pessoal. 

2. Diagnóstico feito por equipe multidisciplinar: Não há apenas um profissional específico que possa diagnosticar uma pessoa com dislexia. Uma equipe multidisciplinar, composta por professores, fonoaudiólogos, neuropediatras e psicopedagogos, é ideal para guiar o processo de diagnóstico e definir tratamentos eficazes para a pessoa com o transtorno da aprendizagem.

3. Dislexia em todas as fases da vida: É durante a infância e a fase de alfabetização que a dislexia pode se manifestar de maneira mais evidente, afetando diretamente o desenvolvimento educacional. Entretanto, é um desafio constante que persiste por toda a vida. Para que pessoas com dislexia desenvolvam ferramentas e habilidades adaptativas, é extremamente importante que tenham suporte adequado.

4. Habilidades potencializadas: A dislexia não é uma doença e, por isso, não tem cura. Mas com um diagnóstico apropriado, uma intervenção de alta qualidade e apoio emocional é possível alcançar sucesso na escola, no trabalho e na vida. É fundamental saber que as pessoas com dislexia têm consigo um conjunto de habilidades que podem ser verdadeiros trunfos em várias esferas da vida. Muitos possuem pensamento criativo e visual excepcionais, facilidade em enxergar soluções únicas para problemas complexos, capacidade para pensar fora da caixa, associando ideias e conceitos de maneiras inovadoras. Para potencializar essas habilidades, é fundamental que vivam em ambientes de aprendizado que valorizem e estimulem seu desenvolvimento. Um exemplo notável é a escritora Agatha Christie, que possui dislexia e se tornou um ícone literário de renome mundial.

5. Suporte escolar é essencial: A Lei 14.254/21, aprovada em dezembro de 2021, garante o acompanhamento integral e específico para alunos com dislexia, TDAH e outros transtornos de aprendizagem. O suporte escolar é indispensável para assegurar que crianças com dislexia superem as barreiras na aprendizagem, consigam ser alfabetizadas e se desenvolvam plenamente no processo educacional. 

“Com as informações corretas, é possível eliminar barreiras, apoiando de maneira eficaz aqueles que vivem com essa condição”, pontua Juliana.

DIRETO AO PONTO

Por ser desconhecida por boa parte da população, as pessoas costumam ter uma série de dúvidas sobre o transtorno. A seguir, Juliana Amorina elucida algumas questões sobre o assunto.

AVENTURAS MATERNAS - Quais são os sinais que os pais podem verificar em casa que indicam que o filho seja Disléxico?

Juliana Amorina - A Dislexia apresenta um conjunto de características que variam em sua manifestação e intensidade de pessoa para pessoa. No caso da leitura, a criança pode apresentar dificuldades para aprender o nome das letras e decodificar palavras e cometer erros na identificação de palavras. A leitura oral, em geral, é lenta e imprecisa, com falta de fluência, ritmo inadequado e entonação aquém do esperado para a idade e escolaridade. Quanto à linguagem oral, os sintomas incluem atraso no desenvolvimento da fala e dificuldade em formar palavras corretamente, como trocas na ordem dos sons e confusão entre palavras semelhantes. Já na escrita são observados erros frequentes de ortografia, mesmo em palavras comuns, além de omissões, substituições e inversões de letras e sílabas. A produção textual é caracterizada por uma velocidade inferior ao esperado para a idade e a escolaridade, com dificuldades na coesão e coerência do texto.

AVENTURAS MATERNAS -Na escola, como os professores avaliam essa condição? Há testes específicos ou é por observação?

Juliana Amorina - O diagnóstico da dislexia deve ser feito preferencialmente por uma equipe multidisciplinar composta idealmente por médico, psicólogo, fonoaudiólogo e psicopedagogo. Mas os primeiros sinais podem ser identificados por familiares e professores. Se a criança apresentava um bom desenvolvimento geral e começa a enfrentar dificuldades no período de escolarização formal, como aprender o nome das letras, perceber que algumas palavras são semelhantes porque terminam com o mesmo som (rimam), aprender a sequência do alfabeto, esses são sinais de alerta. Cabe ressaltar que alguns sinais da dislexia podem ser identificados ainda no início do desenvolvimento infantil, como atraso ou trocas na fala, dificuldade em aprender músicas, nome das cores e sequências.

AVENTURAS MATERNAS -Como ensinar para crianças com dislexia?

Juliana Amorina - Um caminho que pode ajudar o educador é sempre ter claro o objetivo da proposta pedagógica, assim, as acomodações podem ser realizadas considerando o objetivo de aprendizagem e as características linguísticas do aluno com dislexia. Por exemplo, se a proposta da atividade for trabalhar a compreensão leitora, ao invés de pedir um registro escrito de respostas dissertativas, pode ser proposto uma elaboração oral com o registro de um áudio ou vídeo, um mapa conceitual. Assim, o professor pode avaliar a competência de compreensão leitora sem a interferência das dificuldades de elaboração de escrita, característica da dislexia.

AVENTURAS MATERNAS -Há perda na aprendizagem enquanto não acontece o diagnóstico correto?

Juliana Amorina - Sim. O diagnóstico correto da Dislexia é crucial e quanto antes for feito, melhor para não comprometer a capacidade de aprendizagem. É importante buscar ajuda de profissionais especializados tão logo seja percebido algum sinal. Na maioria das vezes, equipes multidisciplinares, que reúnem médicos, psicólogos, fonoaudiólogos e psicopedagogos, fazem uma avaliação cuidadosa para identificar corretamente o transtorno do neurodesenvolvimento e apontar os tratamentos adequados.

Com uma análise aprofundada é possível ter um diagnóstico preciso, permitindo estratégias de intervenção eficazes que ajudarão a entender melhor como lidar com as dificuldades de aprendizado associadas à Dislexia, evitando assim que a criança enfrente problemas mais sérios ao ser diagnosticada de maneira incorreta. O diagnóstico correto da Dislexia contribui para a construção do bem-estar e da autoestima.

É importante reforçar que mesmo antes do diagnóstico, o professor pode iniciar o apoio personalizado para o aluno com dificuldades no processo de alfabetização, baseado na avaliação pedagógica. Isso vai ajudar no desenvolvimento da aprendizagem e diminui o impacto no conhecimento acadêmico.

AVENTURAS MATERNAS - Após isso acontecer, a criança/adolescente aprende da mesma forma que o restante da turma?

Juliana Amorina - O processo de aprendizagem é contínuo. Sempre estamos aprendendo algo novo. Já o conteúdo acadêmico é cumulativo e segue uma sequência, ou seja, quando as adaptações e acomodações não são oferecidas precocemente, o aluno fica com lacunas de conhecimento que podem impactar a aprendizagem do próximo conteúdo. Então, uma dificuldade que era pontual no processo de alfabetização acaba impactando todo o desenvolvimento escolar.

AVENTURAS MATERNAS - Há "cura" para a dislexia? Fale sobre isso.

Juliana Amorina - Por ser uma condição crônica que persiste ao longo da vida, a dislexia não tem cura. Crianças que apresentam níveis mais baixos de leitura, geralmente, continuam a experienciar dificuldades ao longo da vida, se não receberem uma intervenção de alta qualidade. Nunca é tarde demais para procurar ajuda. Quando se trata de criança ou adolescente, é importante que a escola também receba um relatório contemplando estratégias de ensino e outras recomendações para atender às necessidades do aluno.

AVENTURAS MATERNAS - Quais são as estratégias mais eficazes no processo de aprendizado de quem tem dislexia?

Juliana Amorina - Como não há prescrição de medicamentos para quadros de dislexia, uma das estratégias é seguir com adaptações pedagógicas aliadas ao atendimento especializado de um profissional da área de saúde ou educação (psicólogo, fonoaudiólogo, psicopedagogo ou professor de educação especial). Neste caso, o processo de intervenção varia de acordo com a dificuldade e as necessidades do indivíduo.

O foco do trabalho interventivo deve ser fortalecer o processamento fonológico da pessoa com dislexia. Para tal, devem-se considerar as habilidades, as dificuldades e a idade da criança, adolescente ou adulto.

Como a maior dificuldade da dislexia é aprender a ler, o trabalho interventivo deve se basear em métodos de alfabetização considerados eficientes para alunos com dificuldades de leitura. A alfabetização estruturada, com ênfase nas habilidades específicas que o disléxico precisa adquirir e/ou fortalecer, acaba por contribuir com o processo de aprendizado. A pessoa com dislexia se beneficia do ensino explícito, direto, individualizado, multissensorial, sequencial, diagnóstico e preventivo.

AVENTURAS MATERNAS - Em casa, há algum tipo de exercícios que os pais possam fazer para incentivar a leitura de crianças disléxicas?

Juliana Amorina - Jogos como caça-palavras e palavras-cruzadas são boas opções de atividades para crianças com Dislexia, por estimular a memória e ajudar na identificação das sílabas que compõem a formação correta das palavras. Os pais também são o maior referencial para a criança, então ler junto com elas é a melhor forma de estimulação.

AVENTURAS MATERNAS - Na vida adulta, a falta de tratamento para a dislexia pode afetar o indivíduo de qual forma?

Juliana Amorina - Percebemos que muitas pessoas na fase adulta continuam com dificuldades na leitura e na escrita, mesmo tendo sido alfabetizadas, o que afeta, inclusive, seu desempenho profissional, caso não seja oferecido os suportes necessários. Além disso, muitos adultos não receberam o apoio necessário durante a infância e a adolescência, acarretando em problemas emocionais e baixa autoestima.