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Por que a fala de Deolane sobre Deborah Albuquerque em ‘A Fazenda’ foi tão problemática?

Deboche de Deolane Bezerra contra Deborah Albuquerque mostra estigmatização da medicação psiquiátrica no Brasil

O psiquiatra Eduardo Perin comenta sobre o preconceito em relação à medicação psiquiátrica - Instagram/@dra.deolanebezerra@albuquerquedeborah
O psiquiatra Eduardo Perin comenta sobre o preconceito em relação à medicação psiquiátrica - Instagram/@dra.deolanebezerra@albuquerquedeborah

As discussões entre Deolane Bezerra e Deborah Albuquerque, ambas participantes de ‘A Fazenda 14’, vêm dando o que falar nas redes sociais. No mais recente confronto entre as rivais, a advogada apontou o uso de medicação psiquiátrica pela influenciadora de modo pejorativo, o que gerou revolta entre os internautas que viram a cena.

Contudo, o comportamento da peoa está longe de ser um caso isolado. “Ainda se tem aquele pensamento - muito antigo - de que psiquiatra é médico de louco, e as medicações acabam entrando nisso também”, comenta o psiquiatra Eduardo Perin, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).

“Se ela tivesse diabetes, e precisasse tomar insulina durante o programa, provavelmente não teria passado por isso, pois ninguém iria insultá-la por essa questão”, avalia o especialista sobre o ocorrido no reality show. Ele lembra ainda que o tratamento psiquiátrico é tão necessário quanto o para outras doenças. “E a pessoa que está usando aquela medicação sofre o preconceito de uma forma muito injusta: ele é fundamental para deixá-la bem.”

PSIQUIATRA? MELHOR NÃO

Na visão de Perin, a crítica feita por Deolane é apenas uma das formas de identificar como ainda existe um forte preconceito em relação aos tratamentos psiquiátricos. Tanto que, segundo o médico, a maioria dos pacientes com algum transtorno procura outros profissionais, como neurologistas e psicólogos, antes de recorrer a essa especialidade, o que acaba impactando no resultado do tratamento.

Eduardo Perin ressalta ainda que a estigmatização dos remédios psiquiátricos vem de uma crença antiga, e que se perpetua até hoje, sobre os supostos efeitos colaterais desse tipo de remédio: “Ainda se tem aquela noção de que deixam a pessoa boba ou estranha, mas hoje isso não acontece mais por conta das medicações mais modernas, além do avanço da psiquiatria, dos diagnósticos e do tratamento.”

IMPACTO NOS FÃS

Questionado sobre o impacto que a fala de Deolane teria nos fãs que também utilizam medicações psiquiátricas, o médico avalia que, além de se sentirem ofendidos, eles poderiam tomar outras medidas que prejudicariam sua saúde, como querer parar de tomar a medicação ou até mesmo parar o tratamento.

“Por isso, figuras públicas têm que tomar um cuidado especial ao fazer certas declarações, pois podem impactar bastante no tratamento desses pacientes”, explica.

E parar o tratamento psiquiátrico no meio é um problema bastante sério: “Depende muito da patologia, mas imagina uma pessoa com depressão. Se ela para essa medicação, a tendência é a piora do quadro depressivo, o que pode torná-la resistente a buscar ajuda novamente [pelo preconceito]”.

PANORAMA

Na opinião do psiquiatra, o estigma em relação a esse tipo de transtorno melhorou bastante em relação ao que era antes. No entanto, apesar de ser menos intenso, ainda existe o preconceito, que depende de um trabalho muito mais amplo da mídia para diminuir.

“Quando vão mostrar a psiquiatria, por exemplo, acabam indo por um lado sombrio, com pessoas muito perturbadas e tratamentos agressivos”, avalia. Para ele, esse preconceito vem sendo quebrado ao longo do tempo, até porque a especialidade se modernizou muito.

“Ainda assim, acredito que educar a população é muito importante. A forma de mostrar as coisas em uma novela, por exemplo, pode fazer toda a diferença”, finaliza.