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Os riscos da dieta sem glúten

Cortar a substância do dia a dia sem orientação médica pode aumentar as suas chances de desenvolver doenças no coração e diabetes

Raquel Maldonado Publicado em 27/09/2018, às 10h00 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h46

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Os riscos da dieta sem glúten - iStock
Os riscos da dieta sem glúten - iStock

Há algum tempo ele é o vilão, o culpado de todo problema digestivo. Está com prisão de ventre? Corta o glúten! A barriga anda inchada? Coma pão sem glúten! A perseguição é tanta que muita gente tem aderido à moda do glúten free (livre de glúten) como estratégia de prevenção. Isso sem falar nos famosos que creditam o sucesso de suas dietas ao cardápio sem a proteína, influenciando
milhares de pessoas em busca de um corpo perfeito. E essa onda não é só de brasileiro, não. O mundo todo está achando que eliminar o glúten é a solução para os problemas. Cerca de 1% da população mundial sofre de doença celíaca, que tem como única forma de tratamento uma dieta sem glúten. “O resto é modismo. As pessoas acham que tirando a proteína do cardápio vão emagrecer e ficar mais saudáveis, mas isso não é verdade, e o pior: é um perigo”, alerta o cardiologista Marcelo Ferraz Sampaio, do Instituto Dante Pazzanese e do Hospital Beneficência Portuguesa. A nutricionista Camila Torreglosa, do HCor, concorda e acrescenta: “O glúten não é um vilão na vida de pessoas saudáveis, ao contrário, ele ajuda no bom funcionamento do organismo, controlando a glicemia e os níveis de triglicérides, além de melhorar a absorção de vitaminas e minerais, e fortalecer a nossa flora intestinal”.

Pesquisas comprovam

Um grupo de pesquisadores americanos resolveu investigar os efeitos de uma dieta sem glúten na vida de quem não tinha a doença
celíaca. E o que eles andaram descobrindo não é nada animador. Um dos estudos mostrou que restringir a substância sem necessidade aumenta o risco de problemas cardiovasculares. Após acompanhar o comportamento alimentar de mais de 100 mil pessoas sem doença celíaca durante 26 anos, cientistas das universidades de Columbia e Harvard (EUA) concluíram que o consumo de glúten no longo prazo não aumentou os risco de problemas cardíacos. Já quem restringia a substância apresentou mais chance
de desenvolver infarto e AVC. “Uma dieta com restrição de glúten pode resultar no consumo reduzido de grãos integrais e outros alimentos que fazem bem ao coração”, explica o cardiologista João Vicente da Silveira, do Hospital Sírio-Libanês. Outro estudo
também descobriu um efeito colateral desse tipo de dieta: pessoas que eliminaram a substância radicalmente estão mais propensas a desenvolver diabetes tipo 2. A explicação também está ligada ao novo padrão alimentar adotado, ou seja, o baixo consumo de
alimentos integrais, ricos em fibras, deixa as pessoas mais vulneráveis também ao diabetes. “Para compensar a falta do glúten, a indústria coloca mais gordura e açúcar na preparação de pães e bolos, deixando os produtos menos saudáveis. O consumo em
excesso pode comprometer todo o controle metabólico”, diz Marcelo.

Nos celíacos

Quando o portador de doença celíaca não se trata, ou seja, não corta radicalmente o glúten da alimentação, as chances de enfermidades no coração também aumentam. “O consumo de glúten, nesse caso, provoca uma inflamação intestinal aguda, que pode chegar à corrente sanguínea e afetar o coração”, afirma João Vicente. Essa dinâmica ainda tende a acelerar o processo de  aterosclerose (fechamendo dos vasos sanguíneos) e, consequentemente, levar à doença arterial coronariana. Mas, então, isso quer dizer que o celíaco vai ter um risco aumentado de doenças cardíacas de qualquer jeito, já que cortando o glúten as chances também são maiores? Calma, não é bem assim. Segundo os médicos, os pacientes que são obrigados a cortar a proteína de forma radical precisam ficar atentos ao consumo de outras fontes de fibras, que auxiliam na prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares e diabetes. Um regime rico em frutas, verduras, legumes e grãos suprem essas necessidades.

O que é glúten?
É uma proteína encontrada em cereais como trigo, aveia, malte, centeio e cevada. Então, não só o pãozinho, mas todos os alimentos
com esses ingredientes têm glúten, como o macarrão, o pastel, a pizza e até a cerveja. Nas receitas, o glúten forma redes que aprisionam o gás carbônico e fazem com que pães e bolos cresçam e fiquem fofinhos.

Quem não pode comer?
Em geral, apenas quem tem doença celíaca deve excluir a substância da dieta. O mal é uma desordem autoimune desencadeada exatamente pela ingestão de glúten. Ela é caracterizada pela inflamação crônica da mucosa do intestino delgado, que pode resultar na
atrofia das vilosidades intestinais. Com isso, o órgão perde a capacidade de absorver os nutrientes dos alimentos. E, então, a pessoa começa a desenvolver problemas como desnutrição, anemia, déficit de crescimento e até osteoporose. É comum aparecer na infância, mas pode surgir em qualquer idade, inclusive em adultos. Os sintomas variam, porém, os mais comuns são diarreia crônica ou prisão de ventre, falta de apetite, vômitos frequentes, dor abdominal e barriga inchada. Atualmente existe um exame de sangue que aponta a doença, mas o diagnóstico precisa ser confirmado com análise de parte do intestino delgado. A doença não tem cura e o tratamento é o corte do glúten para sempre. Qualquer quantidade, por mínima que seja, é prejudicial para o celíaco.

Doença celíaca X Sensibilidade ao glúten

Enquanto 1% da população mundial é celíaca, 5% sofrem com sensibilidade não celíaca ao glúten, ou seja, a pessoa tem os sintomas quando consome a proteína, no entanto, não possui os anticorpos no sangue que confirmam a doença. Esse tipo de paciente ainda é
uma incógnita para os médicos. “Nesse caso, o tratamento é individual, dependendo das queixas. Existe restrição ao glúten, mas não tão radical”, diz Marcelo. O médico afirma que o número de pessoas neste perfil está aumentando. “Ainda não sabemos o motivo, mas pode estar ligado à transformação sofrida nos últimos anos na forma de processar o trigo, além da mudança do padrão alimentar, com o consumo exagerado de produtos industrializados.”

Afinal, cortar o glúten emagrece?

Os especialistas dizem que não. Mas por que, então, as pessoas que fazem uma dieta sem glúten conseguem bons resultados? “Ora, não consumir a proteína significa não ingerir pães, bolos, massas... É claro que se a gente deixar de comer esse tipo de alimento o resultado será a perda de peso. Não tem nada a ver com o glúten, é uma falsa impressão”, esclarece Marcelo Sampaio.

Não é apenas pão que contém glúten. Todos os alimentos feitos com farinha de trigo têm a proteína. Se você acha que é intolerante, procure um médico para fazer o diagnóstico antes de começar qualquer dieta.