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Daniel Cravinhos envia carta para Andreas von Richthofen; leia a mensagem

Daniel Cravinhos e Andreas von Richthofen eram amigos e cunhados na época do crime

O assassino do casal cumpre a pena em regime aberto desde 2017, após 17 anos na cadeia. - Reprodução
O assassino do casal cumpre a pena em regime aberto desde 2017, após 17 anos na cadeia. - Reprodução

Daniel Cravinhos, um dos condenados pela morte de Manfred e Marísia, em 2002, enviou uma carta aberta para Andreas von Richthofen, filho do casal. O rapaz executou os dois junto com o irmão, Cristian Cravinhos, a mando de Suzane, que trocou o sobrenome recentemente.

Em entrevista ao O Globo, o assassino da dupla pediu perdão ao ex-cunhado, que tinha 15 anos quando perdeu os pais. Agora, ele deseja se reaproximar do irmão da famosa criminosa, mas teme as consequências dessa tentativa de encontrá-lo.

Uma denúncia do ex-amigo, hoje com 36 anos, poderia mandá-lo de volta à cadeia: “No passado, antes do julgamento, Suzane tentou encontrá-lo, e ele foi até a delegacia registrar um boletim de ocorrência contra ela. Tenho esse medo”, admite Daniel, que cumpre pena em regime aberto desde 2017. 

Atualmente, Andreas vive isolado em um sítio no interior de São Paulo, a 450 quilômetros da capital: "Somos vizinhos em São Roque. Meu sítio fica a três quilômetros do seu. Sinto vontade de tocar a sua campainha, mas temo sua reação [...] Morro de medo que você se sinta ameaçado com a minha presença".

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RELAÇÃO PRÓXIMA

"Sei que a sociedade me vê unicamente como o assassino de seu pai. E você? Como você me enxerga além disso?", quis saber. Segundo o jornal, um amigo em comum tentou intermediar uma primeira conversa entre eles. O irmão de Suzane, porém, teria ficado abalado ao ouvi-lo pelo no celular.

"Se você permitir, gostaria de ter a oportunidade de falar pessoalmente, olhos nos olhos, e abrir meu coração [...] Mas, se você preferir manter distância, respeitarei".

Ainda na carta, Cravinhos afirmou que sempre pensa em Andreas, considerado por ele como "a maior vítima de tudo o que aconteceu". Além disso, relembrou a relação próxima que tinham: "Lembra do mobilete que construímos juntos?".

CULPA E REMORSO

Daniel Cravinhos também deu detalhes sobre o próprio sentimento quanto ao assassinato do casal von Richthofen. Culpa, remorso e angústia são alguns dos sentimentos abordados por ele: "Há duas décadas, desde aquele fatídico dia, carrego o peso do arrependimento".

Leia na íntegra

"Querido Andreas,

Após sete anos de reflexão, finalmente encontro coragem para escrever a você. Sinto-me apreensivo com a sua possível reação ao ler essa carta. Recentemente, tomei conhecimento de notícias suas por meio de amigos em comum e pela imprensa, o que me levou a tomar a decisão de pôr para fora o que estou sentindo.

Minha mente está em turbilhão, pois meu desejo mais profundo é ter o seu perdão. As palavras mal conseguem expressar a intensidade de minha angústia e remorso. Minhas mãos tremem enquanto escrevo, e cada linha é uma batalha contra os fantasmas do passado.

Há duas décadas, desde aquele fatídico dia, carrego o peso do arrependimento e da culpa, ciente de que minhas ações trouxeram tamanha tragédia para nossas vidas. Desde sempre penso em você, a maior vítima de tudo o que aconteceu. Hoje, ao praticar motovelocidade, a imagem do seu rosto vem à minha mente. Como seria bom ter você ao meu lado, correndo em uma moto. Lembra do mobilete que construímos juntos?

Somos vizinhos em São Roque. Meu sítio fica a três quilômetros do seu. Sinto vontade de tocar a sua campainha, mas temo sua reação. Morro de medo que você se sinta ameaçado com a minha presença. Além disso, sei que a sociedade me vê unicamente como o assassino de seu pai. E você? Como você me enxerga além disso?

Saí da prisão em 2017 após perder 17 anos de minha liberdade. Mas você perdeu muito mais do que eu. Desejo compreender seu luto e fazer parte dele. Lembro do dia da reprodução simulada feita na sua casa duas semanas após o crime, quando você abraçou o Cristian e me olhou emocionado. Quando íamos nos abraçar, os policiais não deixaram. Entendi o seu gesto de carinho como um perdão. Contudo, você era apenas um adolescente. Hoje, você é um homem adulto. Gostaria de conversar contigo e expressar meus sentimentos.

Desde que saí da prisão, reconstruí minha vida, assim como Suzane, sua irmã. Aos trancos e barrancos, o Cristian também está tentando recomeçar. No entanto, a culpa continua a me perturbar. Parte de minha família me rejeita, e sinto que um dedo acusador aponta para mim constantemente, me lembrando do que fiz. Essa culpa não desaparecerá com a sentença que me condenou a 39 anos. Seguirá comigo até o fim dos meus dias.

Espero, do fundo de minha alma, que você encontre no coração a compaixão para me perdoar. Sei que minhas palavras podem parecer insuficientes diante da magnitude do que aconteceu, mas é com toda a sinceridade e humildade que peço por tua misericórdia. Estou disposto a enfrentar as consequências de meus atos e a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para tentar reparar o enorme dano que lhe causei. Se você permitir, gostaria de ter a oportunidade de falar pessoalmente, olhos nos olhos, e abrir meu coração.

Mas, se você preferir manter distância, respeitarei. Apenas desejo saber o tamanho do abismo emocional que nos separa para saber se é possível atravessá-lo. Hoje, serias capaz de me dar o abraço que não aconteceu 22 anos atrás?

Daniel Cravinhos".