Volta às aulas 2023 é desafio para crianças, pais e a própria escola. - Jerry Wang/Unsplash
Ensino

Volta às aulas 2023: como pais, professores e a escola podem vencer os desafios

Bem-estar da criança é ponto importante na volta às aulas 2023

*Priscila Correia, do Aventuras Maternas, colunista de AnaMaria Digital Publicado em 03/02/2023, às 08h00

A volta às aulas traz consigo alguns desafios: novos amigos, professores e até mesmo a escola – para os menores, inclusive, este pode ser o primeiro ano que vão à este ambiente. É momento também de aprender a lidar com novos sentimentos, como timidez, euforia, vergonha e resiliência, mas de comemorar as próprias conquistas e alcançar novas etapas,  além de aprender a lidar com dificuldades sociais e escolares.

Contudo, muito mais do que os desafios, novidades e ansiedade com o retorno (ou início para alguns), a volta às aulas também requer alguns outros cuidados para que tudo isso transcorra da melhor forma possível. Por isso, para a coluna de hoje, conversamos com alguns especialistas que dão diversas dicas sobre assuntos variados ligados à saúde física e mental, como ter uma boa alimentação, cuidados com a rotina de aprendizado, entre outros detalhes.

ATENÇÃO E CUIDADOS INDIVIDUALIZADOS

Cada aluno é um indivíduo único, com características diferentes e que devem ser tratadas pelo corpo docente da escola com a devida atenção e de forma inclusiva.

Crédito: Note Thanun/Unsplash

Estudantes com TDAH

Planejar e organizar métodos de estudo é ponto fundamental. Para a neuropsicóloga Bárbara Calmeto, diretora do Autonomia Instituto, regras e limites sobre as atividades e estudos começam em casa, mas é fundamental valorizar a autoconfiança e oferecer suporte para que a criança consiga desenvolver suas habilidades de forma plena dentro da escola.

Ela sugere alguns cuidados importantes para começar o ano letivo da melhor forma possível, como conversar com os professores para que a criança possa obter sucesso no processo de ensino-aprendizagem; não sobrecarregá-la com excesso de atividades extracurriculares; testar diferentes métodos de estudo e encontrar a forma que funciona melhor para aquela criança – tudo deve ser tentado, mas se o resultado final não corresponder às expectativas, reavalie após algumas semanas e peça novas opções; vá tentando até chegar à situação que mais favoreça o desempenho). “É importante também que pais e responsáveis tenham contato próximo com os professores a fim de acompanhar melhor o que está acontecendo na escola e que todas as tarefas sejam subdivididas em tarefas menores que possam ser realizadas mais facilmente e em menor tempo”, avalia.

Estudantes com TEA

Lívia Aureliano, psicóloga, doutora em comportamento humano e diretora do TatuTEA, explica que, embora a criança com TEA necessite das intervenções em clínicas especializadas, não há necessidade de os pais a matricularem em uma escola dedicada a crianças com autismo. Colégios regulares devem receber e dar suporte à criança, disponibilizando profissionais treinados e dedicados a acompanhar o seu desenvolvimento em todo ano letivo. A especialista afirma, ainda, que os pais não devem aceitar que a criança seja excluída de algumas atividades em grupo.

“A escola é fundamental para a criança se socializar e desenvolver habilidades, principalmente relacionadas ao ensino”, diz. Ela fala, também, que embora existam diversos métodos de ensino (tradicional, montessoriano, construtivista, waldorfiano, entre outros), todos possuem uma forma para ensinar a criança desde a alfabetização até o ensino médio e priorizam técnicas diferentes para isso. “Todos podem ser aplicados às crianças com TEA. Então, o importante é checar se o método está de acordo com os valores da família. Além disso, é fundamental conversar a respeito com a equipe de intervenção quanto a essa questão, pois eles sabem como a criança aprende e poderão dizer se algum método atende melhor às demandas dela”, pontua.

E complementa: “A proposta pedagógica é como esse ensino é aplicado no ambiente escolar e inclui número de alunos por sala, atividades, quantidade de professores em sala de aula, entre outros. Essa proposta pedagógica é bem importante para crianças com TEA, já que o número de coleguinhas, estrutura da sala, sons, entre outros fatores podem influenciar na adaptação e aprendizagem da criança. Outro ponto importantíssimo sobre a proposta pedagógica se refere ao material didático. Muitas escolas utilizam apostilas e livros didáticos. O mais importante é saber se a escola está preparada para fazer as adaptações nos materiais que poderão ser necessárias para que a criança consiga acompanhar o conteúdo e as atividades propostas. Por lei, as escolas são obrigadas a realizarem a adaptação dos materiais para crianças com deficiência, mas infelizmente nem todas as escolas cumprem com esse dever e delegam aos pais a responsabilidade de fazerem isso, através de profissionais especializados nessa tarefa (psicopedagogos, educadores especiais)”.

Estudantes com Dislexia

A Lei nº 14.254/21 que prevê o acompanhamento integral de estudantes com dislexia (além de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou outros transtornos de aprendizagem). De acordo com ela, escolas das redes pública e privada devem garantir acompanhamento específico, direcionado à dificuldade e da forma mais precoce possível, aos estudantes com Dislexia, TDAH ou outro Transtorno de Aprendizagem. Em tramitação há treze anos na Câmara e no Senado, a Lei contou com a participação ativa dos profissionais do Instituto ABCD em sua composição e cooperando para disseminar informações, estabelecer parcerias e buscar políticas mais inclusivas.

Segundo a presidente do Instituto, Juliana Amorina, a nova legislação garante a perspectiva do atendimento integral ao educando com dislexia. "Antes da lei, a condição estava vinculada ao diagnóstico e ao tratamento ou à inclusão escolar. Agora, a lei une os dois lados e é fundamental que seja assim, porque o indivíduo funciona de forma integrada", declara a presidente. O projeto prevê que as escolas garantam aos professores da educação básica, a capacitação adequada para identificar os primeiros sinais relacionados aos transtornos de aprendizagem, assim como para o atendimento educacional escolar dos estudantes.

"É importante ter em mente que é na escola, onde se inicia o processo de aprendizagem e de leitura, que se observam os primeiros sinais do transtorno. Não adianta o diagnóstico sem todo o acompanhamento educacional e especializado para trabalhar com as características da pessoa com dislexia. Por outro lado, de nada serve termos uma escola preparada sem o diagnóstico e o acompanhamento adequado", diz Amorina.

A lei chega para retirar oito milhões de brasileiros da condição de invisibilidade. O próximo passo é a regulamentação. Para se ter uma ideia, hoje, alguns estados e municípios brasileiros já contam com legislação específica para garantir os direitos da pessoa com dislexia e outros transtornos da aprendizagem: Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Rio de Janeiro são alguns deles. Somente no estado do Mato Grosso são sete leis em torno do tema. "Em um país continental, as diretrizes são essenciais, principalmente para garantir os direitos das crianças que residem em estados mais afastados ou em municípios menores, geralmente, sem acesso à saúde e à educação. Aliás, esse foi justamente o cenário identificado no Perfil do Transtorno Específico da Aprendizagem, Mapeamento lançado em 2021 pelo Instituto ABCD", finaliza a presidente.

O QUE DEVE PARTIR DE CASA?

Crédito: Andrew Ebrahim

 

Como sabemos, o desenvolvimento de uma criança acontece, em boa parte, devido à parceria de pais/responsáveis e escolas. Se por um lado as instituições precisam se adequar para receber todos os estudantes, por outro é preciso que os pais também cumpram o seu papel no que diz respeito à saúde daquele aluno, como a compra do material correto para uso no dia a dia, como a mochila, e também em relações à ações importantes para o coletivo, como manter a carteira de vacinação da criança atualizada. A seguir, listamos algumas responsabilidades que os pais precisam ficar atentos.

Coluna: Com o início das aulas, muitas famílias estão indo atrás do material, uniforme e utensílios escolares das crianças. Mas um item merece atenção especial: a mochila. A neurocirurgiã Danielle de Lara, que atua no Hospital Santa Isabel (Blumenau/SC), explica que com o corpo em crescimento acelerado, sobrecargas mecânicas nesse processo podem ser muito prejudiciais às crianças. “Por ser uma idade em que a criança está em pleno desenvolvimento, o peso em excesso faz com que o centro de gravidade do corpo mude e a criança adote uma postura inadequada, prejudicando a coluna e toda a musculatura responsável por manter a nossa posição ereta”, explica.

Danielle alerta, ainda, que os sintomas podem aparecer através de dores intensas nas costas, ombros, joelhos, tornozelos e pescoço. “Além disso, dores de cabeça tensionais são causadas pela sobrecarga mecânica nos músculos do pescoço e ombros, comprometendo o dia-a-dia e até mesmo o desempenho das crianças”, alerta. É importante lembrar que o Ministério da Saúde recomenda que o peso das mochilas não ultrapasse em mais de 10% o peso da criança, ou seja, uma criança de 30 quilos não pode carregar mais do que 3 quilos de material. Inicialmente, Danielle orienta para que o responsável pela criança ou adolescente analise com os professores se há locais na própria escola para deixar os livros e materiais extras.

Outra dica da especialista é ficar atento na compra da mochila. “A melhor opção de bolsa é aquela que possui rodinhas, que não força a coluna”, sugere. Além disso, outra opção é a prática de atividade física regular. “É importante fazer com que a criança mantenha a rotina de atividades físicas para desenvolver a musculatura, evitando dores e até mesmo fraturas”, aponta. Por fim, Danielle ressalta que é fundamental os responsáveis ficarem atentos aos sinais que podem aparecer para um futuro problema na coluna que pode ser levado no decorrer da vida. “O tratamento para problemas na coluna é feito de acordo com cada paciente, mas, na maioria dos casos, consiste em orientação postural com um profissional, analgésicos e fisioterapia. Alguns casos são mais específicos e podem levar a dores para o resto da vida ou até mesmo, cirurgia minimamente invasiva no local”, conclui.

Vacinação: O Hospital Pequeno Príncipe alerta pais e responsáveis para o risco do aumento, entre crianças, de doenças respiratórias causadas por vírus na volta às aulas. Ao analisar os dados das últimas semanas epidemiológicas, o Serviço de Epidemiologia e Controle de Infecção Hospitalar da instituição observou flutuação na sazonalidade do SARS-CoV-2, influenza e sincicia respiratório. Neste momento há disponibilidade da vacinação contra COVID-19, mas em breve a vacina contra influenza 2023 estará disponível. Por isso, o retorno às escolas exige cuidados ainda maiores com a prevenção. As medidas de higiene das mãos, etiqueta ao tossir (figura) e uso de máscara também auxiliam a evitar a disseminação dos vírus.

As crianças estão mais suscetíveis às doenças, pois o sistema imune delas ainda se encontra em desenvolvimento e é normal o contato próximo entre os pequenos, que também estão nessa mesma fase de desenvolvimento. A boa notícia é que os hábitos saudáveis podem ser adquiridos desde a menor idade. “A imunização traz benefícios imediatos e futuros, pois previne a doença e também possíveis sequelas graves”, explica a coordenadora do Centro de Vacinas Pequeno Príncipe, Heloisa Ihle Garcia Giamberardino. Além de reduzir o risco de uma coinfecção, a imunização também protege aqueles que não podem vacinar-se – como crianças menores de 6 meses ou quem está em tratamento após transplante de órgãos.

“Vacinar é um compromisso de cuidado consigo e com as pessoas próximas. Não temos como prever como nosso organismo irá reagir frente a uma infecção, inclusive às causadas pelo vírus influenza [gripe]. A forma mais eficaz para reduzir os riscos das complicações provocadas pela doença é a imunização pela vacina. É fundamental que toda a família seja vacinada – pais e filhos”, realça a especialista. A infecção aguda do sistema respiratório provocada pelo vírus da influenza alcança taxas altas de hospitalização todos os anos, tem alto potencial de transmissão entre pessoas e pode até mesmo levar a óbito. Portanto, a imunização é fundamental e deve ser realizada anualmente. Tanto contra a influenza quanto contra a COVID-19, os imunizantes podem ser aplicados a partir dos 6 meses de vida. As crianças até 8 anos de idade que nunca tomaram a vacina da gripe devem receber duas doses do imunizante, com intervalo de um mês entre cada aplicação. E a vacina contra o coronavírus pode ser administrada de maneira simultânea com as demais vacinas do Calendário Nacional de Vacinação.

Saúde ocular: Por ainda não terem um domínio significativo do próprio corpo, é comum que os pequenos não percebam quando existe algo de errado com sua saúde. Desta forma, é fundamental que os pais e responsáveis fiquem sempre atentos ao comportamento e às queixas das crianças. “Sinais como aproximar demais os itens do rosto, sentar muito próximo à televisão ou outros aparelhos, tropeçar com frequência em móveis e objetos, além de sintomas físicos como dores de cabeça, lacrimejamento em excesso, presença de secreções anormais nos olhos, vermelhidão, coceira, inflamação, alta sensibilidade à luz, entre outros, podem indicar algo errado no sistema ocular infantil”, explica Makoto Ikegame, CEO e Fundador da Lenscope.

Ele lembra, ainda, que problemas na saúde ocular infantil podem acarretar sérios danos ao aprendizado, como a queda no desempenho escolar e complicações no desenvolvimento de atividades e brincadeiras em grupo. Por isso, além dos pais, os professores também devem estar atentos ao comportamento dos alunos, relatando aos responsáveis qualquer dificuldade da criança para enxergar a lousa, ler e escrever, brincar com os colegas, entre outros. Outra dica importante para manter a saúde ocular é diminuir o tempo em contato com as telas. Segundo um estudo publicado em 2021 pela revista científica The Lancet, o isolamento social provocado pela pandemia contribuiu para que os índices de miopia progredissem cerca de 40% entre os jovens de 5 a 18 anos, que agora gastam mais tempo em contato com as telas de aparelhos eletrônicos.

“Por esse motivo, é importante limitar o tempo que as crianças passam em contato com dispositivos como celulares, computadores e televisões e incentivá-las a gastar o tempo livre com brincadeiras analógicas e ao ar livre”, avalia Makoto. Além disso, é preciso manter acompanhamento constante junto ao médico oftalmologista. “É necessário que esse acompanhamento seja realizado desde o nascimento do bebê para evitar problemas oculares futuros. Até os 2 anos de idade, é recomendado que as consultas médicas sejam realizadas a cada 6 meses, já que é nesta fase que os olhos se desenvolvem melhor.

Após esse período, é indicado que as crianças visitem o oftalmologista anualmente. Esta é a melhor forma de evitar possíveis doenças, além de promover o tratamento para os casos necessários”, avalia. E mais: uma vez que a criança seja diagnosticada com algum quadro ocular que possa ser solucionado a partir da prescrição de óculos de grau, é importante escolher lentes que irão proporcionar a correção e a proteção necessárias e que sejam resistentes ao dia a dia infantil. “Optar por materiais mais resistentes e leves vão garantir uma vida útil maior aos óculos e proporcionar mais tranquilidade aos pais. Materiais como o policarbonato, por exemplo, são 10 vezes mais resistentes e 30% mais finos e leves que as lentes de acrílico, as mais comuns no mercado”, indica Ikegame.

Alergias: Se o seu filho tem algum tipo de alergia, seja alimentar, de contato ou qualquer outro tipo, esta deve ser informada à instituição para que a criança/adolescente não tenha contato com nenhum agente alergênico.

PLANEJANDO O RETORNO

Os protagonistas na volta às aulas são alunos e professores, mas os pais também têm papel fundamental nesse processo. Afinal, quem, na maioria das vezes, arruma a criança e o material escolar e a leva para a escola? Para ajudar nesse momento, especialistas da LeasePlan, líder mundial no setor de car as a service, listaram nove dicas para auxiliar os adultos no retorno à rotina escolar.

ESCOLAS TAMBÉM PRECISAM SE PREPARAR

Com o retorno às aulas, pais e responsáveis confiam aos professores e pedagogos o seu bem mais precioso: suas crianças. E as instituições precisam estar atentas para transformarem o ambiente escolar em um local cada vez mais receptivo e de crescimento para seus alunos.

A seguir, Fernanda Catunda, Gerente Executiva de Sucesso do Cliente da Agenda Edu, e especialista em escolas, dá algumas dicas para as instituições auxiliarem ainda mais no desenvolvimento de seus alunos.

  1. Ações de acolhimento: Essa é uma ação pensada principalmente nos alunos da Educação Infantil e Fundamental I que estão iniciando a vida escolar. Uma semana antes do início do ano letivo, são propostos os dias de adaptação, quando os alunos conhecem o local e o time de professores e docentes que os acompanharão através de dinâmicas leves e inclusivas. Para alunos maiores, essa ação também é fundamental, visando conquistar a confiança e os deixar à vontade. É importante que todos os profissionais, da recepção à cantina, estejam prontos para transmitir os valores da escola.
  2. Diferenciais importantes: É interessante compartilhar com os responsáveis quais os diferenciais que a escola tem, como ações ligadas à sustentabilidade, ao desenvolvimento socioemocional, aprendizado sobre tecnologias etc.
  3. Aluno protagonista: Uma metodologia adotada com cada vez mais frequência é a de protagonismo do aluno, com atividades como sala de aula invertida e rodas de conversa. Essas dinâmicas oferecem ao aluno uma maneira de se tornar responsável pelo seu conhecimento e desenvolver autonomia, tornando o professor um facilitador não um ponto focal.
  4. Comunicação: É cada vez mais evidente a importância da participação dos pais na vida escolar, mas essa participação depende também da abertura da escola. O envolvimento parental pode ser feito através de muitas ferramentas, como reuniões, enquetes etc. A Agenda Edu, por exemplo, é uma estratégia adotada pelas escolas para fornecer um relatório diário para os responsáveis sobre o rendimento do aluno, além de ser um canal que permite um relacionamento entre escola e família.

 

 

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