AnaMaria
Busca
Facebook AnaMariaTwitter AnaMariaInstagram AnaMariaYoutube AnaMariaTiktok AnaMariaSpotify AnaMaria

Readaptação escolar: é preciso ajudar as crianças na volta às aulas

É importante cuidar da saúde mental após as férias e prestar apoio parental na rotina de volta às escolas

*Priscila Correia, do Aventuras Maternas, colunista de AnaMaria Digital Publicado em 16/02/2024, às 08h00

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Veja como ajudar as crianças na readaptação escolar - Unsplash
Veja como ajudar as crianças na readaptação escolar - Unsplash

Com o fim do carnaval, abre-se oficialmente a temporada das aulas para crianças e adolescentes em todo o Brasil. Mesmo que a maioria das escolas já tenha retornado na primeira semana de fevereiro, agora acontece, de fato, o momento de reconexão com a escola e a rotina, marcado não apenas pelo reencontro com colegas e professores, mas também por desafios que acompanham essa transição anual.

Na coluna de hoje, vamos abordar os aspectos da readaptação escolar, desde novas amizades até as preocupações recorrentes, como o bullying, a ansiedade e as dificuldades em algumas disciplinas, que vieram na bagagem do ano anterior.

SAÚDE MENTAL APÓS AS FÉRIAS

Apesar de muitos estarem ansiosos pela retomada da rotina escolar e pelo reencontro com amigos, é muito importante tomar certos cuidados com a saúde mental neste momento de transição.

Para Cleyson Monteiro, psicólogo e professor do curso de Psicologia do UNINASSAU (Centro Universitário Maurício de Nassau Paulista), durante as férias, é comum que as crianças e os adolescentes desfrutem de um período de diversão e lazer, o qual tem uma funcionalidade no impacto cognitivo e desenvolvimento deles. Mas, nesse momento, também podem surgir problemas de saúde mental. "A falta de rotina, a exposição excessiva às telas, a pressão por atividades extracurriculares e a preocupação com alguns temas, como a aparência física, podem contribuir para o surgimento de sintomas de ansiedade, depressão e estresse”, ressalta.

Em virtude disso, é essencial que pais, responsáveis e educadores estejam atentos a possíveis sinais de alterações no comportamento dos jovens. Mudanças abruptas de humor, irritabilidade constante, isolamento social, perda de interesse por atividades que antes eram prazerosas, alterações no sono e no apetite são alguns dos sintomas que podem indicar problemas emocionais. Eles também precisam tentar, ao máximo, reduzir o uso de telas dos mais jovens. Isso inclui celulares, televisores e tablets. É preciso buscar por mais atividades lúdicas.

“Quando a criança apresenta quadro de ansiedade, deve ser estabelecida uma rotina saudável, como ler, dançar, brincar, cantar e agregar o uso de telas. Isso não significa proibir que joguem ou assistam séries e desenhos, mas controlar. A modernidade exige dos pais um trabalho muito intenso e, muitas vezes, eles não têm tempo nem paciência. Portanto, é necessária uma harmonia familiar, na qual a criança esteja equilibrada, recebendo apoio e sentindo-se segura. É fundamental promover um ambiente favorável ao diálogo e à expressão de sentimentos, permitindo que os mais jovens compartilhem suas preocupações e questões internas. Além disso, é importante oferecer opções de atividades que estimulem o bem-estar emocional e físico, como exercícios físicos, momentos de lazer longe das telas, leitura e contato com a natureza”, explica Cleyson.

O ideal é procurar, por meio de indicações e apoio do próprio colégio, profissionais habilitados que possam orientar os pais sobre darem um suporte para que a criança ou o adolescente tenham uma condição de volta favorável. As escolas também têm um papel crucial na promoção da saúde mental dos estudantes. Além de oferecer um ambiente acolhedor, é importante que os profissionais estejam preparados para identificar sinais de problemas emocionais e encaminhar os alunos para acompanhamento psicológico, se necessário.

“É importante entender que a saúde mental não deve ser negligenciada, especialmente neste período de volta às aulas, em que crianças e adolescentes enfrentam uma série de mudanças e readaptações. Portanto, é fundamental que todos os envolvidos – família, escola e sociedade – estejam comprometidos em garantir o bem-estar emocional dos mais jovens. Lembrando que a busca por auxílio profissional é sempre indicada caso os sintomas persistam ou se agravem. Afinal, cuidar da saúde mental deve ser uma prioridade em todas as fases da vida”, pontua o psicólogo.

APOIO PARENTAL É ESSENCIAL

O início do ano escolar pode ser um alívio para os pais de crianças e adolescentes que esgotaram os recursos para driblar o tédio e gastar o acúmulo de energia dos filhos. Entretanto, a volta às aulas pode ser desafiadora com a retomada dos hábitos, horários para dormir, acordar e realizar tarefas.

É de se esperar que tenha acontecido uma quebra de rotina tanto na vida das crianças quanto dos pais, nos últimos dois meses, afinal não era necessário acordar cedo, se preocupar com a lancheira, fazer lição de casa, estudar para prova, etc. Porém, quando chegam as aulas, é comum aparecerem dificuldades em retomar os hábitos acadêmicos e do dia a dia. Nesse momento, os responsáveis devem se lembrar que está entre suas funções impor limites e orientar. Nabiah Ohanna, psicóloga infanto-juvenil na Clínica Mundo Neuropsi, explica que para que se torne um processo mais fácil, é necessário o auxílio na construção da rotina.

“Para o filho aderir aos horários estipulados, é preciso que faça sentido a ele, por isso, conversem para que entrem em acordo sobre os melhores momentos para realizar as refeições, as atividades da escola, dormir e, claro, não esquecer dos momentos de lazer”, explica a especialista.

A psicóloga também afirma que deixar a agenda visível, como planners ou quadros, é um facilitador para a execução. Outro fator imprescindível é o estímulo à autonomia do filho, estipulando pequenas tarefas pessoais, como organizar o material escolar no dia anterior, preparar o uniforme e montar a própria lancheira. Isso vale para outros momentos do dia, como arrumar a própria cama, guardar a mochila em um local apropriado após a aula, arrumar o quarto e separar a roupa suja que irá lavar.

Caso o filho troque de colégio ou de turma, questões maiores podem surgir. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a ansiedade presente na infância e adolescência é um dos transtornos mais recorrentes nos tempos atuais, atrás apenas do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Tal emoção não é por si só positiva ou negativa, ela faz parte do desenvolvimento humano: é a ansiedade, por exemplo, que faz com que o filho estude para as provas. No entanto, quando excessiva, leva ao indivíduo criar estratégias compensatórias para evitar contato com aquilo que lhe causa temor. Estar em uma escola nova, com novos amigos, pode ser assustador para as crianças e os adolescentes.

O desconhecido gera insegurança, medo e sentimento de desconfiança: “Será que vou me adaptar ao novo ensino?”, “será que vão gostar de mim?”, “e se eu não fizer amigos?” são questionamentos que atormentam a mente dos pequenos, podendo desenvolver um transtorno de ansiedade de separação - segundo o Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, a ansiedade de separação envolve uma aflição intensa e persistente por estar longe de casa ou de figuras de apego, em geral o pai, a mãe e amigos mais próximos.

Os sintomas mais presentes são chorar na hora de ficar na escola, implorar para que os pais não o deixem sozinhos e se recusar a ir à escola. Por fim, Nabiah explica que em momentos de adaptação escolar, os pais devem ser um bom exemplo de maturidade cerebral para seu filho.

“Converse com ele de forma que valide as emoções e reconheça os desafios que ele está enfrentando nesta etapa da vida. Trazer suas experiências demonstrará empatia e percepção de que todos passam por situações parecidas”, completa.

Glaucia Guerra Benute, coordenadora do Curso de Psicologia do Centro Universitário São Camilo, explica que, para muitas crianças e adolescentes, a volta à rotina após as férias pode ser um momento difícil, seja pela troca de sala, novos amigos e professores e até uma outra escola. Segundo ela, quando a escola é nova, o sentimento despertado pode ser ainda mais intenso, pois nada é conhecido: o ambiente, os processos, os colegas e os professores.

“A preocupação e a angústia são esperadas, mas em algumas pessoas o nível de ansiedade despertado pode ultrapassar o limite do que pode ser tolerado ou superado. As expectativas podem ser as melhores, mas quem na verdade consegue saber o que esperar do que é novo? Mesmo que o ambiente seja o mesmo e que a decoração não tenha mudado, quem serão os colegas e amigos de turma, como será o professor, qual será o meu desempenho no novo processo... são tantas dúvidas que podem gerar angústias intensas. Identificar os sintomas e reconhecer os sentimentos despertados é de suma importância para o cuidado pessoal”, explica.

Ela pontua, ainda, que quando essa angústia começa a interferir nas atitudes, impedindo a criança ou o jovem de ir naturalmente à escola, ou quando ela começa a chorar e tem o comportamento alterado é um alerta - a ansiedade tem como sintomas a inquietação constante, os tremores, as dificuldade de concentração, a taquicardia e a sudorese, entre outros.

“O acolhimento é sempre muito importante e também são necessários o diálogo, a escuta e a compreensão daquilo que está acontecendo com a criança”, afirma. Além disso, diz, os pais têm papel muito importante nessa fase e devem prestar atenção quando uma criança afirma ter medo de voltar à sala de aula. “Minimizar esse pedido de ajuda pode piorar a situação. Então, a escuta e o acolhimento são formas de auxiliar nesse processo. A orientação é que, no caso de persistência dos sintomas, o acompanhamento psicológico pode ser indicado”, determina.

readaptação-escolar
Colégio Santo Anjo, em Curitiba (FOTO: Divulgação)

VOLTA À ROTINA COMEÇA EM CASA

Independentemente do motivo que leve nossos filhos a terem alguma dificuldade com a volta às aulas, boa parte desses desafios podem ser resolvidos em casa. Afinal, depois de um período longo de férias, é normal que muitos, em um primeiro momento, não consigam se adequar a dormir e acordar mais cedo, ter horário certo para as refeições, reduzir o tempo dos eletrônicos etc.

Para a pedagoga Bruna Duarte Vitorino, que atua como coordenadora e especialista em educação na rede Kumon, há cinco pontos fundamentais para garantir que a retomada às atividades escolares seja não apenas tranquila, mas também inspiradora para alunos, pais e educadores.

1. Organize a rotina: Ajude seu pequeno herói a criar uma rotina. Defina horários para estudos, brincadeiras e descanso, criando um "mapa do tempo" personalizado. Com organização, a volta às aulas se torna mais leve e produtiva. A autonomia e independência são conquistas gradativas e diárias e precisam do apoio afetuoso dos pais e, também, dos professores.

2. Prepare um espaço para os estudos: Organize um cantinho especial para os estudos, com boa iluminação, materiais à mão e tudo que a criança precisa para se concentrar. Uma mesa organizada e livros coloridos podem transformar o ambiente e torná-lo mais atrativo. Vale lembrar que a criança que estuda um pouco todo dia em casa tem a oportunidade de desenvolver habilidades como: concentração, análise, interpretação de texto e elaboração de hipóteses, além de ajudar a desenvolver a independência.

3. Leitura diária: Incentive o hábito da leitura, abrindo as portas para um mundo mágico de histórias e aventuras. Reserve um tempo para lerem juntos, explore diferentes tipos de livros e deixe a imaginação da criança voar alto. A leitura é um superpoder que abre portas para o conhecimento e a criatividade.

4. Cada um no seu ritmo: Respeite o ritmo de cada criança. A adaptação à rotina escolar pode ser mais rápida para alguns e mais lenta para outros. Ter paciência, oferecer apoio e incentivar a autonomia da criança está entre as tarefas dos pais e cuidadores. Cada um tem seu superpoder e seu tempo para brilhar.

RETORNO DOS MENORES

O período que compreende os pequenos de 0 a 5 anos é repleto de descobertas, vivências e experiências que contribuem para a aprendizagem e desenvolvimento. E a volta às aulas e os desafios da adaptação na educação infantil devem receber atenção especial dos pais e responsáveis.

Neste período, a integração da família é essencial. “A entrada na educação infantil é o primeiro contato da criança ou bebê em espaço coletivo ou escolar. Um espaço que não é familiar, com horários diferentes dos habituais. Devemos acolher e respeitar esses momentos, passando pelas situações em que a tristeza é evidenciada pela linguagem do choro, por exemplo. Toda a rotina acaba sendo uma novidade para as crianças”, revela Josué Artigas Machado Junior, coordenador pedagógico do Marista Escola Social Curitiba.

Normalmente, a adaptação é feita de acordo com cada idade, período e em pequenos grupos e envolve todos os colaboradores, respeitando o espaço e o tempo de cada criança. E para auxiliar na volta às aulas, Josué dá cinco dicas que podem auxiliar nesse momento.

- Estabelecer parcerias: Os pais e responsáveis também sofrem muito com o processo de separação. Por isso é preciso pensar em estratégias de acolhimento para a família. Buscar um diálogo claro e transparente com os professores é fundamental para que o processo vivido flua de forma natural e tranquila, contribuindo com a adaptação da criança;

- Não mentir para a criança: É preciso explicar, dialogar, mostrar os benefícios da escola e manter uma conversa sincera com as crianças;

- Presença dos pais: É imprescindível a presença da família neste momento. Apresentar a criança para a professora e adultos da escola e contar com a presença de alguém em que ela confie é fundamental, pois trata-se de um espaço ainda estranho para ela;

- Segurança: No começo, a orientação é deixar a criança levar um objeto de sua preferência, que represente uma conexão entre ela e a sua casa. Além disso, é importante que as famílias construam uma rotina em casa para que os filhos consigam compreender os tempos em casa e na escola e a importância de cada um deles.

- Choro: Não banalizar o choro e agir com serenidade são passos fundamentais. O choro será natural e fará parte de todo o processo. É preciso lidar com essa linguagem buscando acalentar e tranquilizar as crianças e as famílias. Se a criança chorar, siga com tranquilidade e transparência, buscando fortalecer a confiança e evidenciando que estará tudo bem e no final do período escolar, ela irá para casa novamente.

Além dos responsáveis, a escola também tem papel fundamental nesse processo. Antonieta Megale, diretora acadêmica da Maple Bear, conta que a preparação começa nos bastidores da escola, onde a equipe educacional deve passar por treinamentos e reuniões de alinhamento pedagógico no início do ano a fim de proporcionar uma integração mais eficiente.

“É ideal que a instituição faça com a equipe escolar um momento de alinhamento pedagógico no início do ano letivo bem como reuniões com os pais para que possam conhecer os professores e tirarem dúvidas sobre o ano que se iniciará. Também é importante que haja um momento para famílias que estão chegando, para que possam apresentar o manual da família, a estrutura da escola e questões operacionais. É crucial que a família esteja ciente e segura durante todo o processo”, pontua.

Iniciada as aulas, é importante dar atenção ao período de adaptação, que pode variar de aluno para aluno. “Pode ser que a adaptação seja mais curta, em torno de duas semanas, mas algumas crianças podem necessitar de mais tempo. É preciso cuidado e tratamento individual com cada aluno; esse tempo também deve ser considerado e planos de ações desenvolvidos conforme a necessidade”, traz a diretora.

Para os pais, Megale enfatiza a importância de transmitir confiança aos filhos, explicando a volta às aulas de maneira positiva. Envolvê-los na compra de materiais e uniformes, permitindo que façam escolhas simples pode ser uma estratégia eficaz. Além disso, a participação ativa da família na rotina diária escolar, desde o primeiro dia, é essencial para criar uma sensação de segurança e normalidade para a criança.

“Os pais precisam estar seguros e confiantes que seus filhos serão acolhidos e que essa é uma etapa importante para o desenvolvimento integral. Eles podem conversar com a criança que ela voltará para a escola, encontrará os amigos e amigas e que vai aprender bastante. Caso a criança apresente resistência, a família deve conversar com o filho(a), ajudando a nomear as emoções e explicando o que pode ser feito para ele se sentir mais seguro”, diz.

Uma outra dica que a diretora traz para os pais é que eles demonstrem segurança e tranquilidade para a criança neste momento, evitando descarregar mais ansiedade sob eles. “Eles podem dizer que também já passaram por isso, que eles se lembram de sentir medo, mas que durante a jornada fizeram muitos amigos e que valeu a pena. Essa é uma oportunidade para ouvir a criança, acolher os sentimentos e buscarem juntos como tornar esse momento mais leve”. Já ao final do dia na escola, a família deve ouvir a criança e mostrar interesse em seu dia com perguntas que possam ser desenvolvidas pela criança - Com quem você brincou hoje? Você ajudou alguém? O que você pode me contar que você aprendeu hoje? Você foi gentil com alguém? Como? “Esse momento é crucial e fará diferença em todo o processo, não só de adaptação, mas também na própria relação entre pais e filhos”, conclui a diretora.

ORGANIZANDO A VIDA ESCOLAR

No início das aulas, normalmente, os alunos costumam dar uma atenção especial ao material escolar, organizando tudo por cores, matérias etc. Entretanto, com o tempo, nem sempre ficam da mesma forma.

Para Cláudia Gabionetta, coordenadora pedagógica da Qualé, saber organizar a vida escolar é fundamental para que os estudantes consigam realizar conquistas em seus processos pessoais de aprendizagem. “É preciso que pais e educadores ensinem e acompanhem. Assim, à medida que as crianças e jovens ganham autonomia, encontram soluções próprias de organização”, explica a coordenadora. A seguir, Cláudia dá algumas dicas sobre o tema.

- Primeiramente, é necessário levar em consideração que a organização de cada escola pode mudar de acordo com o tipo de material que solicita para os seus estudantes, se alguns ficam dentro do armário da própria escola ou se eles levam para casa, por exemplo. Mas independente das particularidades de cada escola, de cada funcionamento, é fundamental que os professores, logo no início do ano, estabeleçam o que consideram necessário para a organização da sua turma, deixar isso muito explícito para os estudantes e ensiná-los a fazer;

- Algumas dicas básicas de organização são: colocar etiquetas nos materiais com o nome do aluno, a série; explicar sobre o funcionamento de um calendário semanal ou de uma agenda, para que os estudantes os utilizem para anotar datas de provas, trabalhos a serem entregues e outros compromissos escolares. Mas é fundamental, antes, explicar como que funciona uma agenda, como que ela está organizada na semana e nos meses, para que o aluno saiba utilizá-la adequadamente;

- Falar sobre o uso de canetas de cores diferentes, da importância de uma boa organização da escrita nos cadernos, pois isso os ajudará quando tiverem que consultar suas próprias anotações para retomar os conteúdos, por exemplo, na hora de estudar por uma prova;

- Fazer uma lista dos materiais básicos necessários para colocar dentro do estudo, como lápis, caneta, borracha, tesoura e cola. Esse material também pode variar de acordo com o ano escolar e de acordo com a organização da escola também;

- O professor, ao longo do ano, deve continuar ressaltando a importância dessa organização e sempre ajudar os estudantes nesse processo, de forma próxima, lembrando dos combinados e solicitando que os mesmos sejam seguidos. É muito comum que alguns estudantes precisem de um tempo maior para conseguirem internalizar essas etapas de organização e são esses que precisam de maior acompanhamento;

- Outros se tornam mais autônomos rapidamente e até conseguem desenvolver uma organização muito própria. Mas, assim como a aprendizagem dos conteúdos, desenvolver hábitos de organização também é um processo de aprendizagem constante e que precisa de acompanhamento e mediação do professor que está ali na sala de aula com os estudantes.

readaptacao-escolar
Colégio Santo Anjo, em Curitiba (FOTO: Divulgação)

TÉCNICAS DE ESTUDO PODEM AJUDAR NA VOLTA À ROTINA

Foi dada a largada para alcançar as metas de 2024, entre elas, colocar os estudos em ordem, ler mais e, para milhares de pessoas, conseguir a tão sonhada aprovação em vestibulares. No entanto, o início de uma jornada e sua tão sonhada realização inclui mais do que apenas a motivação. Na ausência dela, é a disciplina quem vai ditar as regras para que tudo ocorra como previsto.

Mas como o nosso cérebro entende uma informação nova? Segundo Livia Ciacci, neurocientista parceira do SUPERA – Ginástica para o cérebro, toda vez que lemos ou ouvimos uma nova informação, o cérebro busca na memória algo relacionado ao assunto para fazer correlações. “Todo novo aprendizado será ancorado em algum conhecimento ou percepção prévia e então servirá para reforçar um ponto de vista ou ampliar a visão do tema. Já no caso do aprendizado de procedimentos ou etapas, como resolver uma equação matemática, por exemplo, além de saber o porquê de se fazer esse cálculo é importante praticar várias vezes, para que o cérebro memorize e consiga fazer as próximas contas com menos esforço”, detalhou.

Além disso, a organização tem extrema importância na assimilação de conteúdos. Ela representa 90% do sucesso do estudo, porque é ela que proporcionará para o cérebro a visão de onde se quer chegar com o esforço. Organizar os estudos significa selecionar os conteúdos, ter clareza de porque eles foram selecionados e quais serão as referências utilizadas, distribuir os tópicos ao longo do tempo disponível e equilibrar o tempo de foco com o tempo de descanso.

A especialista do SUPERA orienta que esta jornada comece pela organização e clareza do que será feito, como e por quanto tempo. “Seja detalhista nesse planejamento, imagine que seu cérebro precisa ser convencido de que o esforço vai valer a pena, mostre pra ele todas as etapas e imagine como será ter sucesso em cada uma delas”, explicou. Segundo ela, não basta listar na agenda que às 13h vai estudar matemática e às 14h português. É necessário detalhar como o estudo será feito. “Durante meia hora vou ler a teoria, por dez minutos vou ver vídeos de exemplos e na próxima meia hora vou resolver 10 exercícios, e se tiver dúvidas vou perguntar para o meu colega João. Só assim teremos uma noção mais realista de quanto tempo leva cada coisa, para então conseguir distribuir as rodadas de estudo ao longo das semanas e dos meses”, detalha.

A seguir, ela dá sete dicas para ter mais organização e rotina nos estudos em 2024:

- Defina e priorize metas claras:

- Estabeleça metas específicas e mensuráveis para o ano.

- Identifique as tarefas mais importantes e concentre-se nelas.

- Divida essas metas em objetivos menores, facilitando o acompanhamento do progresso.

- Use técnicas (como a Matriz de Eisenhower) para classificar tarefas por importância e urgência.

- Crie um cronograma:

- Elabore um cronograma semanal ou mensal para organizar suas atividades. Aqui é o momento de incluir todos os detalhes, para que quando for começar, saiba exatamente o que será feito.

- Inclua tempo para estudo, revisão, atividade física e lazer. Evite o burnout mantendo um equilíbrio entre estudo, descanso e lazer.

- Mantenha horários de estudo consistentes para criar uma rotina.

- Evite procrastinação e mantenha o compromisso com seus horários.

- Tenha um espaço de estudo dedicado:

- Reserve um local tranquilo e livre de distrações para estudar (celular sem notificação e longe da visão).

- Mantenha o espaço organizado e confortável para aumentar a concentração.

- Se possível, que a mesa de estudo não esteja do lado da cama!

- Utilize técnicas de estudo eficientes:

- Experimente diferentes métodos de estudo e encontre o que funciona para você.

- Use técnicas como mapas mentais, resumos e flashcards.

- Utilize aplicativos e ferramentas online para organizar suas tarefas e criar lembretes.

- Aproveite recursos como a técnica Pomodoro para aumentar a produtividade e a noção do tempo.

- Adote hábitos de saúde:

- Priorize uma boa noite de sono para melhorar a cognição.

- Mantenha uma dieta balanceada e inclua exercícios físicos na sua rotina, o cérebro precisa que o corpo esteja saudável!

- Faça revisões periódicas:

- Reserve tempo regularmente para revisar o que foi aprendido.

- Fale sobre o que está aprendendo com outras pessoas, isso fortalece a retenção e consolidação do conhecimento.

- Busque apoio quando necessário:

- Não hesite em procurar ajuda de professores, colegas ou tutores quando enfrentar desafios.

- Participar de grupos de estudo também pode ser benéfico.

E lembre-se: o sucesso nos estudos é uma jornada contínua. A constância e a adaptabilidade são a chave.

LITERATURA PODE AJUDAR NO PROCESSO

Para muitas crianças, a volta às aulas pode parecer assustadora. É um dos momentos que mais representam a separação - ainda que apenas por algumas horas - entre filhos e pais, um dos primeiros passos dos pequenos rumo à independência. É na escola que as crianças geralmente têm um primeiro contato com pessoas fora de sua família, tendo que aprender como funciona o convívio social nessa dinâmica nova. São tantos sentimentos e situações novas para processar que a ansiedade e o medo podem vir à tona.

Para amenizar essa aflição, é muito importante que os pais avaliem bem as opções e escolham uma escola cujos valores se assemelhem aos da família, além de procurar saber como é o suporte ao processo de adaptação - se os pais podem ficar um pouco com os pequenos nos primeiros dias, como os educadores lidam com as inseguranças e angústias das crianças, entre outros pontos que valem um olhar atento. Mas, além dessas atitudes, há uma ferramenta que pode ajudar muito as crianças: a literatura.

No livro “Nem sonhando!”, a morceguinha Catarina não quer ir para a escola. Muito nervosa, ela grita tão alto que encolhe os pais e, na segurança da presença deles, parte para a aula. Mas as coisas não saem como o esperado, e ela percebe que, na verdade, ir sozinha para a escola não é tão ruim assim…. Para a pedagoga Maya Eigenmann, “a criança vai sentir de tudo: felicidade, medo e tristeza. Se eu puder dar colo, permitir que ela sinta tudo e permanecer sendo uma constante vida dela, isso vai ser fundamental”. Estabelecer uma rotina de arrumar o material no dia anterior, dormir cedo, contar aos pais sobre o que aconteceu na escola etc é algo que contribui para a adaptação da criança à vida escolar, porque cria um cotidiano novo e leve, além de incorporar - na perspectiva dos pequenos - a escola como um espaço seu. “A angústia da separação não é só uma experiência emocional infantil. Para alguns pais, pode ser muito difícil. E é muito importante que eles tomem consciência dessa dificuldade, para não projetá-la na criança”

A ansiedade da separação é algo muito comum na vida das crianças e dos pais quando o assunto é ir para a escola. É preciso que os pequenos aprendam a confiar em outro adulto, respeitando o tempo para lidar com sentimentos e processos. Além disso, aprender a processar suas emoções, muitas vezes, é algo que demanda muito tempo e maturidade. E, para as crianças, é ainda mais difícil, porque todos os sentimentos são novos. “É a partir das palavras ofertadas por outras pessoas que as crianças compreendem, sentem e pensam. O papel dos adultos é fundamental para que desenvolvam repertório. Quanto mais acesso a formas de linguagem, mais caminhos elas poderão desenvolver para se expressar e dar sentido às suas vivências.” afirma a psicóloga Isabel Gervitz. A seguir, seis livros que dão destaque à vida na escola.

“NEM SONHANDO!”, de Beatrice Alemagna, Editora Companhia das Letrinhas: Uma história divertida e encantadora sobre as angústias e as alegrias das crianças na hora de voltar às aulas. Não importa que todo mundo está indo para a escola: Catarina não quer ir. Não, nem sonhando! E ao declarar sua opinião, a morceguinha grita tão alto que seus pais encolhem. Agora que eles cabem sob suas asas, Catarina pode levá-los escondidos para a escola! Mas essa ideia, a princípio tão genial, pode gerar muito mais confusão do que ela imagina… Neste livro ilustrado da premiada Beatrice Alemagna, as crianças e os adultos vão se encantar com as belíssimas ilustrações com acabamento neon, além de dar muitas risadas ao se reconhecerem nas ambiguidades de Catarina (e de seus pais). Afinal, como muitos dos pequenos leitores, apesar de não querer se separar dos pais para ir para a escola, a protagonista desta história adora aprender e viver novas experiências ― assim como seus pais!

“SOLTEI O PUM NA ESCOLA!”, de Blandina Franco, Editora Companhia das Letrinhas: Geralmente, ficamos nervosos no primeiro dia de aula. Até os cachorros ficam! O Pum, por exemplo, quando visitou a escola do seu dono, ficou todo quietinho no começo. Mas logo se soltou e saiu correndo feito um rojão! Nem a diretora conseguiu segurar o Pum! Com tanto carisma e animação, o Pum é o bicho de estimação que toda criança gostaria de ter. É carinhoso e animado, divertido, brincalhão e totalmente livre. Conquistou inúmeros leitores desde o seu primeiro livro, o Quem soltou o Pum, e nesta segunda aventura, sai de casa para explorar o universo da escola.

“BIBO NA ESCOLA”, de Silvana Rando, Editora Brinque-Book: Da autora do best-seller Gildo, livro inédito da coleção Bibo chega à Brinque-Book. Desta vez, vamos acompanhar o adorável coelho em sua rotina na escola. Bibo vai à escola, e o seu dia está bem agitado. Além de desenhar, descer no escorregador, dançar e tirar soneca, o coelho vai descobrir que podemos contar com os amigos quando enfrentamos uma situação difícil e que compartilhar os brinquedos deixa tudo mais divertido. E, como não poderia deixar de ser, a professora Isabel vai contar uma história. Poxa, só uma? Esta é uma das atividades favoritas do Bibo! A autora Silvana Rando criou a coleção Bibo pensando nas riquezas do dia a dia que esquecemos depois de grandes. O coelho, sua família e seus amigos vivem situações cotidianas com as quais todos os pequenos leitores vão se identificar de imediato e ainda despertam boas lembranças nos leitores nem tão pequenos assim. O texto curto e as ilustrações vivas e bem-humoradas de Silvana são um convite a repetidas leituras.

“TÍMIDOS”, de Simona Ciraolo, Editora Companhia das Letrinhas: Neste livro ilustrado, um polvinho simpático mostra como a timidez não o impede de se divertir pelo fundo do mar. O polvo Maurício não é do tipo que curte chamar a atenção… Na escola nova, ele prefere ficar longe dos olhares de todos ― e às vezes até escondido do leitor, camuflado entre as ilustrações das páginas do livro! Mas esse polvinho tímido tem sempre uma surpresa, e está pronto para surpreender seus leitores. Afinal, a timidez pode ser desafiadora, mas muitas vezes vem acompanhada de empatia e amizades inesperadas.

“A CARTA DO GILDO”, de Silvana Rando, Editora Brinque-Book: Catarina mudou de escola no começo do ano. Um belo dia, os colegas da escola antiga receberam uma carta dela contando suas impressões sobre o novo colégio. Animados – e cheios de saudade – todos resolveram responder. Mas um furo na bolsa do carteiro mudou o rumo das correspondências, que foram parar até no sapato da mulher gorila do parque. Os alunos começaram a receber respostas a suas cartas, mas a de Gildo não chegava nunca. Será que só ele vai ficar sem?

“MIL E UM JEITOS DE SER SABIDO”, de Davina Bell, Editora Brinque-Book: Quem disse que só é inteligente quem sabe fazer conta? Há diversas maneiras de ser sabido, e este livro vai te mostrar de ponta a ponta. Muitas vezes duvidamos de nós mesmos. Achamos que, se não conseguimos fazer determinadas coisas, não somos inteligentes o bastante, especiais o bastante. Com texto todo rimado e ilustrações vibrantes, as autoras Allison Colpoys e Davina Bell valorizam pequenas e grandes ações, atitudes, ideias, invencionices e sonhos, provando que cada pessoa tem um jeito só seu de ser sabido ― seja transformando uma caixa de papelão num barco que navegue pelos sete mares, seja ajudando alguém em dificuldade, seja sonhando acordado no mundo da lua.

EM TEMPO

A volta às aulas neste início do ano letivo de 2024 é marcada por uma nova política que visa enfrentar um desafio urgente que afeta o desempenho de alunos, professores, servidores, pais e responsáveis: a saúde mental. A Lei 14.819, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em janeiro, cria a Política Nacional de Atenção Psicossocial nas Comunidades Escolares, com objetivo central de promover a saúde mental dos membros da comunidade escolar.

A intersetorialidade é ponto chave nessa política, explica Nilza Sacoman, advogada e especialista em direito na saúde: “A integração da participação da comunidade escolar de forma ativa, o serviço de saúde e de atenção psicossocial é a base da nova lei, voltada para o bem-estar da comunidade escolar”. O texto prevê que seja colocado em prática a divulgação de informações verificadas e esclarecimento sobre informações incorretas de saúde mental, formação continuada de profissionais de educação, saúde e assistência social no tema saúde mental. Também está nas diretrizes informar e sensibilizar a sociedade a respeito da importância de cuidados psicossociais na comunidade escolar.

“Na prática, os grupos de trabalho do Programa Saúde nas Escolas (PSE), já existente, ficam responsáveis por desenvolver as ações, com participação de representantes da comunidade escolar e também da área da saúde”, esclarece Nilza. Os grupos terão que apresentar um relatório com avaliação das ações realizadas no final do ano letivo. O PSE é uma política intersetorial da saúde e da educação, instituído em 2007, com a finalidade de proporcionar o desenvolvimento da cidadania e qualificar políticas públicas.