Especialista traz dicas de como amenizar os sentimentos negativos desencadeados no final do ano
Com a chegada do fim do ano, muitas pessoas passam a refletir sobre o que fizeram e o que deixaram de fazer, planejando as metas para os doze meses seguintes. Entretanto, todo esse ritual pode desencadear sentimentos opostos a renovação, como a ansiedade, frustração e medo.
A combinação de tais fatores culmina em um problema conhecido como “depressão de fim de ano”. Segundo a psicanalista Taty Ades, pós-graduada em neuropsicologia, trata-se de uma depressão sazonal, que surge em determinadas épocas do ano.
“A depressão de fim de ano é extremamente comum e o aumento de suicídios também. A pessoa se sente melancólica, sem vontade de qualquer atividade. E, geralmente, se isola e evita contato com outras pessoas”, explica.
Ela ainda diz que o problema pode atingir qualquer pessoa, mas quem já tem a depressão como diagnóstico médico têm uma propensão maior a desenvolvê-la, além da possibilidade de os sentimentos serem amplificados.
Existem muitos motivos para alguém desenvolver a depressão de fim de ano, mas a psicanalista explica que existem alguns gatilhos mais comuns para o surgimento do problema.
O primeiro deles é a solidão que se manifesta, principalmente, pela saudade dos entes queridos, que não estão mais presentes. “A lembrança nostálgica se instala de forma agressiva, e a pessoa se sente em estado de luto. Querendo reviver o convívio com pessoas que já não estão presentes”, esclarece Ades.
A sensação de solidão pode afetar algumas pessoas em um momento de comemoração, seja em festas de família ou amigos. Nesse instante, o indivíduo se percebe sozinho e os sentimentos negativos se potencializam.
Neste ponto, segundo Taty, a pessoa começa a se desvalorizar e acredita que não é merecedora das festas e companhias em volta. Assim, ela se sente humilhada, melancólica e até mesmo pensamentos suicidas podem surgir.
Outra possibilidade para o problema é a frustração de metas não cumpridas. Existe uma quebra de expectativa com a vida do início e fim do ano, uma frustração com algo que foi desejado e não alcançado: “Essa pessoa pode entrar em estado depressivo, se sentindo desvalorizada, sem capacidade de traçar suas metas e entrando em estado de tristeza e desvalorização de si mesma”, diz.
A pandemia de covid-19 fez com que todos se isolassem por um grande período. Nesses dois anos, muitas mudanças ocorreram na vida das pessoas e o afastamento social contribuiu para o crescimento de doenças mentais.
Um estudo feito pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em 2020 mostrou que no primeiro ano da pandemia houve um aumento de 25% de doenças como ansiedade e depressão.
A psicanalista conta que os sentimentos de solidão, apatia e falta de vontade de fazer algo cresceram durante a pandemia. Com isso, o número de pessoas com depressão de fim de ano teve um pico do período de forte isolamento social para esse “novo” modo de viver.
Caso você esteja passando por algo parecido, é possível fazer com que esses sentimentos negativos sejam amenizados, especialmente evitando se isolar. Fora isso, é importante manter contato com pessoas próximas para conversar e desabafar.
“Não é momento para isolamento, e sim, de busca para se agrupar de alguma forma. Caso a pessoa não tenha ninguém e sentir que a tristeza está forte demais é de muita importância a procura por um profissional de saúde ou o CVV (Centro de Valorização da Vida), que ajuda centenas de pessoas nessa época, evitando diversos suicídios”, afirma a psicanalista.
Se você conhece alguém que esteja passando por essa situação, saiba que é possível ajudar essa pessoa. Taty Ades explica como: “Converse ao máximo com essa pessoa e mostre-se presente e compreensiva”.
Além disso, tente estimular a pessoa a falar e não a deixe sozinha por muito tempo. “Caso ela lhe confidencie pensamentos suicidas, não deixe a pessoa sozinha de maneira alguma e já busque apoio de um profissional, pois, muitas vezes, ela não terá forças para fazer sozinha. Acolha, mostre amizade, falta de julgamento e tente fazê-la se sentir menos solitária”, finaliza.