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Comportamento / Sinta & Liga

A difícil arte de interpretar o outro: não tente, pois a chance de errar é imensa

Parece meio óbvio, mas quando a gente “acha” é porque não tem certeza. Isso já deveria ser o suficiente para oferecermos o benefício da dúvida.

*Wal Reis Publicado em 02/02/2021, às 08h00

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Na dúvida, acredite: porque a responsabilidade é de quem mente, não sua - Tumisu/Pixabay
Na dúvida, acredite: porque a responsabilidade é de quem mente, não sua - Tumisu/Pixabay

Sim, a intuição é um sentido que nos dá pistas fortes de uma realidade que não está muito clara. O problema é que nós, os não-treinados na arte de intuir, na maioria das vezes, não sabemos separar o que é intuição do que é medo, desejo ou vontade. O “estou com um pressentimento de que vai acontecer algo de errado essa noite e, por isso, não vou sair de casa” pode ser só uma preguiça tentando ser justificada.

Mas é quando usamos a tal intuição para adivinhar o outro que a coisa desanda de vez. Porque o leque de possibilidades atrás de uma frase em reticências, de uma meia-palavra e de um olhar enigmático tem a chance, sim, de ser o que você acha que é. E mais 23.548 coisas, incluindo o que seu interlocutor diz ser. Por isso, na dúvida, não tente acertar. Você pode se frustrar, criar uma tempestade num copo d’água ou inventar um conceito errado. Ou tudo isso junto.

Lembro de um amigo que tomou coragem (e dois uísques) e se declarou para uma colega de turma em uma festa. Ela não respondeu nada, fez uma cara engraçada e saiu de perto apressadamente, pedindo que a esperasse ali. Ele, porém, diagnosticou a situação negativamente e foi embora, constrangido. No caso, a musa estava mesmo era com uma cólica menstrual daquelas que só quem teve sabe, que se a tecla morrer estiver ao alcance das mãos corre o risco de ser apertada. Gostava dele há mais de um ano e esperou tanto por aquela declaração que ficou nervosa e precisou vomitar.

SEMPRE NA PIOR DIREÇÃO
Não bastasse queimar neurônios levantando hipóteses aleatórias e desenvolvendo achismos, nossa tendência é ainda sempre pensar o pior. É como um mecanismo de defesa acionado automaticamente, preparando nossos sentidos para uma frustração iminente. Sofrer querendo descobrir o que se passa em uma cabeça que não é a nossa é um exercício inútil, que demanda tempo e energia.

O que fazer então? Acreditar sem tentar espiar por detrás da cena. Você pode ser enganado? Pode, claro que pode. No entanto, é o que se tem de concreto. A única maneira de acessar a caixa preta, que é o pensamento alheio, é confiando no que se diz. Porque o compromisso com o fato é de quem o profere. O papel de quem ouve é traçar teorias em cima do que é dito e não do que é calado. Quando não há questionamentos ou santas inquisições em cima do que está sendo apresentado como fato, ao contrário do que possa parecer, a responsabilidade da outra pessoa em ser correta dobra. Porque ela ganha o compromisso integral de preservar sua confiança, sob o risco de perdê-la, em um deslize, para sempre. Vira brincadeira de gente grande, cuja regra solitária é a verdade.

E a verdade é uma sementinha que gosta de ver o sol. Pode enterrar à vontade, ela ela sempre dará um jeito de aparecer.

*WAL REIS é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida. Blog: www.walreisemoutraspalavras.com.br