Reconhecer os sinais da alta carga mental é o primeiro passo para uma vida mais equilibrada e feliz; saiba como lidar com a pressão da sobrecarga
A carga mental é uma questão que afeta homens e mulheres. Porém, devido ao acúmulo de tarefas e à jornada dupla, em que se somam o trabalho formal e os cuidados com a casa e família, a sobrecarga mental atinge especialmente as mulheres. Esse problema tem impactos profundos na saúde emocional feminina.
De acordo com uma pesquisa realizada pela ONG Think Olga em 2023, 45% das brasileiras entrevistadas possuem um diagnóstico de ansiedade, depressão ou algum outro transtorno mental. Os números são preocupantes, mas não surpreendem. A pesquisa ainda revela que mulheres negras são as que vivenciam maior sofrimento com essas condições.
Qualidade de sono das mulheres é pior que a dos homens, indica estudo.
Para abordar o tema com mais profundidade, AnaMaria conversou com a psicanalista Cintia Castro, autora dos livros ‘Mãe de Autista’ e ‘Autismo para Educadores’, que explicou como é possível gerenciar a carga mental. Confira a seguir!
“A pressão psicológica que a sociedade impõe às mulheres chega a ser cruel. A sobrecarga com as cobranças pessoais e sociais, devido a múltiplas tarefas e responsabilidades, faz com que estas mulheres se sintam culpadas por ocupar o mínimo de tempo possível para algo pessoal”, descreve Cintia.
A especialista destaca que é essencial reconhecer os indícios do esgotamento mental. Segundo ela, é extremamente importante que as mulheres entendam que o autocuidado faz parte de ter uma vida equilibrada e feliz. A psicóloga lista os sinais de alerta que indicam alta carga mental:
Falar sobre os fatores que podem ser gatilhos para um desequilíbrio emocional perpassa também por considerar como algumas tarefas podem ser desafiadoras atualmente. Sem dúvida o acúmulo de tarefas domésticas como responsabilidade unilateral de mulheres é um dos principais fatores que levam ao sofrimento mental e a estafa de mulheres, mas o meio corporativo também tem responsabilidade nesse quadro.
Muitas mulheres têm dificuldade de delegar responsabilidade no ambiente de trabalho, elevando a sua sobrecarga. Além disso, há a pressão no ambiente corporativo para construir uma carreira bem-sucedida somado à alta expectativa e cobrança da sociedade em relação ao nascimento de filhos, casamento ou relacionamentos amorosos.
“Esse cenário gera uma eterna cobrança, onde a mulher quando está entrando em uma fase da vida já começam as cobranças para outra fase e assim sucessivamente, chega a ser sufocante”, alerta Cintia, antes de complementar: “Isso sem falar na autoexigência e até culpa quando não alcançam seus objetivos pessoais e corporativos”.
Uma vez que a mulher se depara com a alta carga mental, é indispensável realizar mudanças comportamentais e de hábitos para a redução do peso emocional. Vale ressaltar que, na maioria das vezes, esses ajustes não são fáceis e exigem certo comprometimento, mas são medidas necessárias.
Em primeiro lugar, é necessário colocar limites saudáveis em relação ao trabalho e pessoas próximas, inclusive determinando a divisão de tarefas domésticas. Também é preciso definir como prioridade o autocuidado, incluindo na rotina a prática de exercícios físicos — sempre com acompanhamento adequado para não causar outro tipo de sobrecarga.
Criar momentos relaxantes, fazer meditação e caminhadas em lugares abertos como parques e praias são algumas atividades que auxiliam na autorregulação emocional e promovem bem-estar de modo geral. Procurar ajuda de profissionais da saúde mental capacitados faz parte do processo de gerenciar a carga mental.
Confira algumas atividades para fazer sozinha e praticar o autocuidado!
As expectativas sociais e culturais desempenham um papel significativo no aumento da carga mental em mulheres. Isso porque muitas vezes espera-se que elas exerçam múltiplos papéis e responsabilidades com perfeição, levando a exaustão mental e física.
“Muitas mulheres precisam se provar incessantemente quando falamos de vida pessoal, profissional e bem-estar, trazendo uma desordem quando não há uma distribuição equitativa de inúmeras responsabilidades”, diz Cintia.
Para quebrar essa barreira e promover um maior bem-estar desafiando esses padrões é necessário implementar estratégias para promover a educação e conscientização sobre as desigualdades de gênero.
“Precisamos desmistificar expectativas irreais que impactam as mulheres, incentivar reflexões e mudanças de mentalidades, busca de apoio emocional sempre que necessário, valorizar e promover modelos diversos de feminilidade e sucesso e estimular a comunicação honesta e aberta sobre as expectativas”, acrescenta a profissional.
É possível ajudar estas mulheres com a conscientização da importância do equilíbrio e do bem-estar. A presença da família é fundamental neste processo. Devemos construir bons relacionamentos, sem julgamento, com uma escuta ativa nas necessidades e preocupações para um ambiente seguro. “Ajudar essas mulheres a entender que a vida pode ser leve mesmo tendo responsabilidades pessoais, sociais e corporativas é primordial”, completa Cintia.
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