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Comportamento / Mulheres na política

“Política não se discute”: Por que mulheres tendem a se abster dos debates sobre o futuro do país?

Gabriela Prioli, Luana Xavier, Mônica Sodré e Graziella Testa conversam sobre voto consciente em evento

Participantes levantam a bandeira da participação feminina nas Eleições 2022 - Marcos Suguio
Participantes levantam a bandeira da participação feminina nas Eleições 2022 - Marcos Suguio

As eleições dos futuros presidente, governadores, deputados e senadores do Brasil ocorrerão no próximo dia 2 de outubro. Enquanto algumas pessoas entram em debates fervorosos nas redes sociais - e fora delas também - em defesa de seus candidatos favoritos, existem aqueles que insistem em dizer que'política não se discute'. Mas será que não, mesmo?

Este foi um dos assuntos abordados no evento Mulheres na Política, promovido pela Natura & Co, com a presença da advogada Gabriela Prioli, da apresentadora Luana Xavier e das cientistas políticas Mônica Sodré e Graziella Testa, na última quinta-feira (15).

As entrevistadas defenderam que a participação política é fundamental para a garantia dos nossos direitos - especialmente o das mulheres. Para elas, ao contrário de religião e futebol, temas destacados durante o bate-papo, discutir assuntos políticos traz consequências intransferíveis à democracia e ao futuro do país.

“Futebol, religião e política são assuntos que despertam paixões muito viscerais (...) Então, diante de uma discordância, nós sentimos que a pessoa está questionando a nossa existência. Isso faz com que nós tendamos a evitar essas situações de conflitos”, começou Prioli.

Segundo a advogada, essa tendência é ainda mais forte entre as mulheres. “Nós somos educados a evitar situações de conflito. Mulher tem que dócil, não pode discutir de forma assertiva, tem que agradar (...) A gente quer muito ser querida. Então, como que eu vou falar sobre um assunto que gera essa tensão se não estou preparada para ela?”, questionou.

Luana Xavier, por sua vez, ressaltou a importância de tomar à frente de suas necessidades. “A gente não precisa, necessariamente, chegar a um consenso, o mais importante de tudo é o respeito (...) Se a gente se abstém de votar e até mesmo de debater, está deixando que o outro decida por nós”, pontuou.

A comandante do ‘Saia Justa’ (GNT) deu um exemplo prático dos resultados dessa terceirização de decisões: “Imaginem se, na nossa vida, toda vez que tivéssemos que escolher uma roupa para sair, outra pessoa escolhesse. Aí a gente é super 'friorenta' e a pessoa escolhe uma roupa de calor. Estamos deixando que o outro escolha por nós. E assim é a questão da política, vai pelo mesmo caminho.”

Ao que Gabriela Pioli complementou: “Futebol e religião são assuntos mais relacionados a aspectos íntimos da vida de cada um. O problema da política é que esse tipo de decisão afeta a vida de todos nós, queiramos nós ou não (...) Dizer que política não se discute é difundir um discurso que nos exclui de discussões fundamentais e que terão impacto na nossa vida."

“As soluções seriam lidar com o conflito e entender que a divergência não é, necessariamente, uma briga. É assim que a gente cresce, trocando. Precisamos aprender que esse é um assunto que vai ter impacto na nossa vida de maneiras muito sensíveis. Não dá para não discutir”, concluiu ela.

RAÍZES DO PROBLEMA

Um ponto trazido à tona por Mônica Sodré é a ausência de educação política nas escolas. “Eu não me lembro de algum professor explicar como se elegia um deputado ou qual é a diferença do trabalho do senador e do prefeito. A gente se ressente de discutir política, por todas as questões citadas, mas também porque a escola, o ambiente que deveria nos preparar para a vida e não para uma prova, não prepara”, argumentou.

Para a cientista política, discutir política vai muito além de defender ideologias partidárias, mas entender quais são as consequências das medidas políticas em nosso cotidiano. “São essas pessoas que vão decidir a quantidade de dinheiro que vai para a educação do meu filho ou do seu na escola. São quem vão tomar decisões pela gente todos os dias”, completou.

MAS E SE EU NÃO QUISER DISCUTIR?

As participantes do ‘Mulheres na Política’ não pouparam argumentos sobre a importância de se posicionar, porém, encerram a palestra com a compreensão de que nem sempre é fácil discutir política. “Ninguém precisa discutir política com todo mundo, não precisa se engajar em todas as discussões, e nem participar de todos os debates. É absolutamente legítimo estar exausto”, destacou Prioli sobre pessoas opiniões diferentes.

Por fim, ela enfatizou: “Por mais que não queiramos sair por aí no debate, vamos aprender a exercer a nossa cidadania silenciosamente, se for o caso. Quando você está lá na urna, é só você e a urna (...) Só que, para saber o que eu quero, preciso entender como a coisa funciona. Saiba o que você está fazendo para que suas escolhas reflitam suas expectativas sobre o mundo”.

Para quem se interessou pelo assunto, a AnaMaria Digital preparou um vídeo completo sobre a participação feminina na política ao longo das últimas décadas. Confira!