Episódios de engasgo acontecem com frequência em todas as faixas etárias e podem levar a morte. Saiba reconhecê-lo e o que não fazer para piorar.
por Dra. Maura Neves, colunista de AnaMaria Digital
michelly@updatecomunicacao.com.br
Publicado em 02/04/2024, às 11h18
Olá a todos! Esta semana falo um pouco sobre engasgo, uma ocorrência muito frequente em todas as faixas etárias com potencial de causar desde tosse até a morte. Por ser muito frequente é importante reconhecer a ocorrência dele, saber o que fazer e acima de tudo o que não fazer para piorar.
Então como sempre, vamos por partes!
1-O que é engasgo?
O engasgo ocorre quando algum corpo estranho (pode ser alimentos, saliva, líquidos, ou qualquer outro objeto) causa obstrução a passagem do ar na via respiratória. Na maioria das vezes essa obstrução ocorre na hipofaringe, laringe ou traqueia, regiões da garganta e início da área respiratória inferior.
2-O que favorece o engasgo?
O engasgo pode ser apenas acidental associado a desatenção. Mas, em outras ocasiões há fatores que facilitam sua ocorrência. E aqui cito os extremos de idade: as crianças e os idosos. Em ambos o risco de morte é mais elevado quando ocorrem engasgos.
Nas crianças abaixo de 3 anos de idade a forma anatômica, desenvolvimento de habilidades e coordenação de deglutição, ausência de todos os dentes na boca além do hábito de levar objetos a boca fazem do engasgo uma causa importante de mortalidade.
3-O que mais causa engasgo nas crianças?
Temos 2 grupos importantes: alimentos e não alimentos.
Dentre os alimentos os mais perigosos são as balas duras, nozes e outras sementes, uvas inteiras, pipoca, goma de mascar, cenoura e maca. Nas crianças maiores de 3 e menores de 10 anos os estudos citam os cachorros-quentes como alimento de grande chance de engasgo. Isto se deve ao fato de a salsicha ter o diâmetro semelhante ao da via respiratória e ser um alimento compressível, que se molda ao formato da via respiratória. E entre os não alimentos temos balões de látex, moedas, peças de brinquedos de plástico, bolas de gude ou outros objetos redondos ou ovais menores que 3,17 cm de diâmetro e 5 cm de profundidade.
4-E nos idosos?
Nos idosos os engasgos estão muito associados a disfagia, ou seja, a dificuldades de deglutição dos alimentos. Nesta faixa etária isso decorre de alterações cognitivas (demência), doenças neurológicas (que afetam a capacidade de coordenação da deglutição dos alimentos) além de outros problemas de saúde. Nestes casos a disfagia e o engasgo levam a pneumonia aspirativa, condição que leva muitos idosos a piora de suas condições e até a morte.
5-O que fazer em caso de engasgo?
Ajudar uma pessoa engasgada pode evitar complicações graves como já mencionei acima.
Mas, o que podemos fazer? Siga essa ordem:
-Verificar se a pessoa consegue tossir, falar ou respirar. Se sim, estimule a tosse e bata em suas costas com a mão aberta.
-Manobra de heimlich: caso o engasgado não consiga falar, tossir ou respirar a manobra de Heimlich deve ser realizada. Ela consiste em abraçar a pessoa por trás, colocar o punho sobre o estômago e pressionar para dentro e para cima, repetindo até que objeto saia.
-Se a pessoa perder a consciência, ela deve ser deitada no chão, abra sua boca e tente retirar o objeto/alimento com o dedo, caso esteja visível. Se não for possível, busque ajuda.
No caso de idosos os engasgos devem ser avaliados para melhor condução do tratamento. É muito importante realizar uma avaliação médica. Como citei acima as causas principais são alterações neurológicas e cognitivas que nos acompanham no nosso envelhecimento.
Tossir após ingerir alimentos, necessidade de beber líquidos para empurrar alimentos, dificuldades com alimentos sólidos e secos e perda de peso são alguns dos sinais sugestivos de que o engasgo esconde algo mais. Portanto fique atento!
O que não fazer quando uma pessoa está engasgada?
-Dar água ou outro líquido: isso aumenta o risco de aspirar o líquido para os pulmões, o que causa pneumonia ou edema pulmonar
-Comer miolo de pão: ao engasgar-se muitas pessoas comem pão para tentar empurrar o alimento. Na mesma condição acima, não deve ser feito.
-Colocar o dedo na garganta: essa atitude pode causar lesões na garganta e sangramento local, o que dificulta a retirada do objeto.
-Levantar os braços: esse movimento não ajuda em nada a pessoa com engasgo.
Espero ter deixado mais fácil de entender os riscos de engasgos! Fiquem atentos e até a próxima.
Dra. Maura Neves (@dra.mauraneves) é formada na Medicina pela Faculdade de Medicina da USP, com residência em Otorrinolaringologia pelo HC- FMUSP, fellow em Cirurgia Endoscópica pelo HC- FMUSP, doutorado pela Faculdade de Medicina da USP e médica assistente do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo -SP. Aqui em Ana Maria, quinzenalmente, publica um conteúdo novo sobre a saúde do ouvido, nariz e garganta.
