Uma vez detectado, ceratocone precisa ser tratado o quanto antes, afirma especialista
*Jairo Rodrigues, colunista de AnaMaria Digital Publicado em 05/10/2022, às 08h00
Precisei renovar a minha CNH recentemente e, durante o exame oftalmológico, eu praticamente não conseguia enxergar nenhuma das letras do painel. Preocupado, acabei sendo encaminhado para um médico especialista em olhos que, após exames mais completos, detectou que eu estava com ceratocone. Infelizmente, nem mesmo o uso de óculos poderia me ajudar, pois a doença já está no estágio em que será preciso fazer uma cirurgia. Mas, afinal, o que é isso?
A ceratocone é uma doença caracterizada pela mudança na estrutura da córnea, que se torna mais fina e curvada, lembrando o formato de um cone, daí o nome. Ela acontece pela junção de dois fatores: genético, com uma fragilidade natural da estrutura da córnea, e o impacto do ambiente, principalmente por um hábito que quase todo mundo tem: coçar os olhos.
A oftalmologista Kemi Salami, especialista em catarata e plástica ocular, avalia que é preciso educar a população sobre os perigos desse gesto, na tentativa de barrar problemas de visão mais graves. Isso porque o hábito de coçar os olhos pode também causar problemas como conjuntivite e, até mesmo, facilitar o contágio da covid-19.
“Além disso, pode induzir a uma ectasia, deformação da córnea que vai gerar um ceratocone, podendo evoluir para uma doença dos olhos e piorar a visão”, observa a médica, ressaltando que o tratamento em casos do tipo costuma ser complexo.
Uma coisa que aprendi com o que passei é que precisamos ficar atentos com os primeiros sinais de alteração na visão. Isso porque, se não tratada adequadamente, a doença continua a evoluir até precisar do transplante. O ceratocone, inclusive, é a principal causa de transplantes de córnea no país. E quais seriam esses sintomas?
Kemi alerta ainda sobre o uso de soro fisiológico: “Dentro do olho só colírio. O soro fisiológico não tem uma composição específica para a região. Em pronto-socorro oftalmológico, até acabamos usando ele na limpeza externa, mas só isso.”
O diagnóstico é feito por exame biomicroscópico com lâmpada de fenda, com atenção para localização do afinamento da córnea, estrias de vogt (linhas de tensão verticais na córnea posterior) e anel de fleischer (depósitos epiteliais de ferro na base do cone).
Outros exames utilizados para esse diagnóstico são retinoscopia (reflexo em tesoura) e, principalmente, pela topografia (ou tomografia) corneana, que pode demonstrar um aumento de curvatura associado a astigmatismo irregular.
Alguns tratamentos podem ser feitos, como o uso de óculos e lentes de contato, além de cirurgia para correção e, em último caso, o transplante da córnea. “Para a saúde dos olhos, uma dica fundamental é sempre manter os exames em dia”, finaliza a especialista. No meu caso, como não tenho convênio médico particular, estou aguardando uma vaga no SUS, para ser feita a cirurgia de correção. O meu intuito, com esse texto, é que você descubra e trate a ceratocone o quanto antes.
