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Bem-estar e Saúde / Tecnologia

Futuro do tratamento: como funciona o teste que aponta qual a melhor medicação usar contra o câncer

Para especialistas, avanços da tecnologia são fundamentais para o desenvolvimento de uma medicina de qualidade

*Renata Rode, colunista de AnaMaria Digital Publicado em 13/09/2023, às 08h00

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Lilian Souto Miranda teve seu tratamento oncológico ajustado após testes. - Arquivo pessoal
Lilian Souto Miranda teve seu tratamento oncológico ajustado após testes. - Arquivo pessoal

“Descobri que tinha câncer de mama do tipo hormonal aos 35 anos, já no estágio 4 da doença. Foi um choque, pois fazia ultrassom das mamas todo ano e minha insistência em procurar um mastologista foi o que me fez realmente ter o diagnóstico. A quimioterapia foi pesada, e eu passava tão mal que cheguei até a desmaiar algumas vezes, mas venci a doença de maneira, digamos, convencional”, relembra a fonoaudióloga Lilian Souto Miranda, atualmente com 40 anos.

“Anos depois, quando o câncer voltou, meu oncologista me incluiu na pesquisa com o uso dos Organoides Derivados do Paciente, conhecida como Onco-PDO. Já que eu iria retirar um novo tumor no fígado, a equipe aproveitou e colheu uma amostra específica para o teste. Foi então que conheci e me apaixonei pela medicina de precisão”, conta.

Esse material do teste, após ser colhido, é levado para laboratório visando gerar organoides - que é o mais perto de um ser vivo in vitro que chegamos - justamente para testar medicamentos a partir do tumor do próprio paciente. Com isso, torna-se possível avaliar diferentes quimioterápicos e drogas de terapia-alvo, analisando qual delas funciona melhor para aquele paciente, em específico.

“O procedimento que permite a testagem de 60 medicações em tumores criados em laboratório a partir de fragmentos ou células do tumor do paciente, prometendo mudar o rumo da quimioterapia no mundo. Já utilizamos essa tecnologia na Espanha, Alemanha e Hong Kong e, agora, estamos no mercado brasileiro para proporcionar ao paciente oncológico um tratamento mais assertivo”, ressalta Felipe Almeida, CEO da Invitrocue Brasil.

No caso de Lilian, o teste fez toda diferença. Isso porque foi descoberto que as medicações que mais causavam efeitos colaterais no tratamento de seu câncer de mama eram, justamente, as que menos funcionavam no organismo dela. "Além disso, através do método, descobrimos que duas dessas drogas surtiram efeito de morte celular com taxas acima de 75%", conta.

Por fim, a fonoaudióloga acabou não precisando passar por novas sessões de quimioterapia, pois todos os nódulos foram retirados durante uma cirurgia. "Mas agora sabemos quais medicamentos tinham baixa eficácia e me faziam mal, caso um dia seja preciso retomar o tratamento", avalia, antes de completar: "Meu médico falou que esse é o futuro da oncologia: a personalização de cada caso, para saber o que é mais assertivo para cada pessoa."

MAIS ASSERTIVO

Para o CEO do laboratório, a conquista tecnológica vai além: proporciona a humanização da medicina, pois leva em conta que cada paciente é único, ajudando o médico a traçar a melhor estratégia de tratamento para aquele paciente em específico. "Assim, em vez de submeter a pessoa a um protocolo extremamente agressivo, que envolve até cinco estágios de luta contra o câncer, oferecemos informação sobre como a célula reagiu a cada tratamento, optando por encurtar o caminho e objetivando ter mais eficiência em menos tempo”, detalha.

Para o oncologista Leandro Moreno, Diretor Técnico da Oncoclínicas de Niterói (RJ), os avanços da tecnologia são de fundamental importância para desenvolvimento de uma medicina de qualidade. "Com a incorporação do ONCO-PDO no Brasil, podemos especificar os efeitos de diversas terapias oncológicas, como quimioterapias, no tumor do paciente diretamente, em vez de fazermos previsões acerca do melhor tratamento a ser realizado. Torna-se um movimento mais assertivo, que traz segurança ao paciente e ao médico, na escolha da melhor droga a ser empregada”, avalia.

Procurada, a Sociedade Brasileira de Cancerologia, por meio de sua atual vice-presidente, Nise Yamaguchi, avalia que os avanços tecnológicos na luta contra a doença só tem a somar. "Isso porque os testes feitos com organoides podem trazer importantes informações, mas que precisam ser contextualizadas dentro do tratamento proposto para cada tipo de tumor", ressalta. E, apesar do objetivo das metodologias emergentes ser o de dar o máximo de informações relevantes, a médica avalia a necessidade de validar essa evolução das terapias disponíveis, "para podermos utilizar os dados fora de pesquisas clínicas no dia a dia dos tratamentos."

NÃO É BARATO

O teste está disponível no Brasil para câncer de mama, pulmão, colorretal, pancreático, gástrico, próstata e ovário, permitindo que o médico escolha 8 de 60 drogas para testagem. Gerado em até 21 dias, o relatório fornece informações sobre como os organoides derivados do paciente reagiram aos diferentes tratamentos testados. Como toda grande tecnologia, o custo ainda é alto: cerca de R$ 25 mil por relatório, ainda não disponível no SUS (Sistema Único de Saúde).

Lilian diz ter virado uma espécie de divulgadora por conta própria do método, visando espalhar informações sobre o mesmo. “A tecnologia avança e, quando falamos na corrida contra o tempo que é a luta contra um câncer, o diagnóstico precoce e a certeza da eficiência da combinação das drogas testadas pode e salva-vidas”, desabafa.

*RENATA RODE é escritora nata, desde os 11 anos (idade em que escreveu seu primeiro livro). Repórter, jornalista formada e curiosa, é também autora de livros sobre comportamento e ghost writer. Já foi repórter de celebridades na Record TV, colunista especial do UOL e aqui, na Revista AnaMaria vai falar sobre  assuntos pertinentes ao Universo Feminino, sempre com um toque de irreverência.
Instagram: @renata.escritora