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Exclusivas / Entrevista

Em exclusiva, Cristiane Amorim revela decisões difíceis do passado

Cristiane Amorim interpreta Catarina em ‘Amor Perfeito’, da Globo

Karla Precioso

por Karla Precioso

kprecioso@editoracaras.com.br

Publicado em 12/08/2023, às 08h00

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Cristiane Amorim, a Catarina de ‘Amor Perfeito’, conversou com a Revista AnaMaria - Instagram/@cristianeamorim
Cristiane Amorim, a Catarina de ‘Amor Perfeito’, conversou com a Revista AnaMaria - Instagram/@cristianeamorim

Nascida na Bahia, antes de se tornar atriz, Cristiane Amorim trabalhou como garçonete, hostess e vendedora, mas o sonho de viver da arte a acompanha desde criança... Hoje, já são 29 anos de carreira, com um currículo digno de aplausos. Ela atuou em nada menos do que 18 peças teatrais, fez participações nos programas Sob Nova Direção, Faça Sua História, S.O.S. Emergência e A Grande Família, nas séries As Cariocas, As Brasileiras, Ó Paí, Ó, Sob Pressão, nos filmes Nosso Lar, Os Penetras, Se Eu Fosse Você, e nas novelas Cordel Encantado, Joia Rara, Órfãos da Terra e, atualmente, Amor Perfeito, da Globo. 

Porém, como ela mesma diz, “ninguém amadurece sem sofrimento” e muitos foram os perrengues até chegar aqui. “A minha luta é igual a de todos os nordestinos que precisaram sair da sua terra natal por falta de oportunidade. É uma trajetória de sobrevivência. Ela é dura, árdua, difícil. É uma escolha que implica em perdas, distâncias afetivas, falta de apoio e segurança. Uma solidão infinita no meio do caos da cidade grande. É também um lugar de independência, liberdade e autonomia. Quando você descobre esse potencial, a luta tem sabor de vitória”, fala orgulhosa. 

Não é à toa que a artista vem colhendo os frutos decorrentes de tamanha determinação, consciência e talento.

Confira a entrevista completa.

Você é uma mulher nordestina, que saiu de sua cidade natal para ir em busca de um sonho na cidade grande. Como você descreve sua luta?

A minha luta é igual a de todos os nordestinos que precisaram sair da sua terra natal por falta de oportunidade. É uma trajetória de sobrevivência. Na música, temos o exemplo do Luiz Gonzaga, que foi extremamente criticado por conta do seu sotaque, suas expressões, seu som. Queriam moldá-lo a um padrão, mas ele só conseguiu sucesso e reconhecimento quando explorou e enalteceu suas raízes e tradições. É uma luta para não se perder a identidade. O nordestino é um povo arretado, que não foge à luta. Ela é dura, árdua, difícil. Como disse Euclides da Cunha: “O nordestino é, antes de tudo, um forte”. Realmente, é para os fortes. É preciso muita fé e crença no seu potencial. É uma escolha que implica em perdas, distâncias afetivas, falta de apoio, segurança. Uma solidão infinita no meio do caos da cidade grande. É tornar-se nulo em meio à multidão. Mas, como ninguém amadurece sem sofrimento, é também um lugar de independência, liberdade e autonomia. Quando você descobre esse potencial, a luta tem sabor de vitória. Você passa por perrengues, preconceitos, discriminações, mas, quando você não desiste dos seus sonhos e não esquece de onde veio, consegue chegar a lugares inimagináveis.

Como foi precisar se distanciar da família para melhorar de vida?

Como eu nasci numa cidade muito pequena do interior, cresci sabendo que iria me distanciar da família para fazer um curso superior na capital. Portanto, apesar da pouca idade, foi mais fácil do que a vinda para o Rio de Janeiro, já com vivência e amadurecimento.

Hoje, você colhe os frutos dessa luta... Qual a maior lição tirada disso tudo? E o que você diz às outras pessoas que também são obrigadas a deixar suas raízes para batalhar por algo melhor?

A mudança para Salvador foi amparada pela família. No primeiro ano, morei com um tio. Já a vinda para o Rio de Janeiro, sem rede de proteção, foi muito mais difícil. Foi um mergulho sem equipamento, um salto sem rede. E tinha que dar certo porque, praticamente, não tinha para onde voltar. Era toda uma adaptação de cultura, costumes etc. Era zerar seu currículo e recomeçar do zero, ainda mais nessa carreira tão instável. Mas era a realização de um sonho. Valia a pena qualquer sacrifício. E essas dificuldades te levam ao amadurecimento. Pa ra mim, que sempre quis ser livre, me deu autonomia e um leque de possibilidades que você só enxerga saindo da zona de conforto. É uma experiência incrível esse lugar de ‘se virar sozinho’. Se você souber aproveitar cada oportunidade, erguer a cabeça diante das críticas e dificuldades, você consegue uma independência emocional libertadora! Eu diria: desistir não é uma opção. Siga em frente sempre mesmo com todos os ‘nãos’. O sonho é seu. Com fé ninguém te derruba. É difícil, mas aí está o pulo do gato: a transformação. Cada raiva você transforma em força, e não em mágoa.

E depois de quase 30 anos de carreira, qual o balanço que você faz dessa escolha?

Aprendi a me virar sozinha... na saúde e na doença, na alegria e na tristeza. Aprendi a ter autonomia e a rir de mim mesma. Foi rindo nas dificuldades que levei mais humor para as minhas personagens. Foi levando uma vida mais leve, nada tão a ferro e fogo, relevando, que aprendi a agradecer pelas conquistas, em vez de reclamar pelas derrotas. Só gratidão. Escolhi ser feliz, fazendo o que gosto. Ser artista é um processo de autoconhecimento também. A arte salva, educa, transforma...

Seu sotaque interferiu em algum trabalho?

Desde que cheguei aqui, em 2004, ouço: ‘tem que tirar esse sotaque’... Então, sim, o sotaque interferiu positivamente e negativamente. Foi primordial para fazer minha primeira novela, Cordel Encantado, uma obra nordestina. Em Joia Rara e Órfãos da Terra, minhas personagens eram nordestinas também. Talvez, até por conta disso, eu seja sempre vista como nordestina – e como se isso impossibilitasse fazer outros personagens. Em Amor Perfeito, estou tendo a oportunidade de desempenhar um papel com outro sotaque, que não o meu de origem. É nisso que acredito. Estudar o personagem com todas as suas características físicas e culturais. E não perder minha identidade.

Muitas novelas atualmente estão valorizando mais o nordestino e a cultura do Nordeste. Como você vê isso?

Isso é maravilhoso! Nosso País é tão rico, tão plural, tem uma cultura tão diversificada. Somos um povo multiétnico, formado por uma vastidão de povos e culturas diferentes. Não há um traço único que caracterize o brasileiro. E o nosso povo precisa se ver retratado nas novelas, já que é o maior produto de entretenimento do brasileiro, principalmente naquelas regiões tão carentes de lazer. A novela é o descanso, o momento de descontração, de sair um pouco da realidade dura e sonhar. É importante se ver representado na telinha. Mas esse avanço ainda é lento. Gostaria de ver o nordestino retratado também numa obra que se passe fora da sua região, numa posição de sucesso e notoriedade, numa posição social de respeito, tratado de forma natural, sem ter maiores explicações e justificativas sobre sua inserção naquele meio.

De todas as personagens que você interpretou, com qual você mais se identificou? Por quê?

Fico entre a Zefinha, de Joia Rara, e a Santinha, de Órfãos da Terra. Ambas nordestinas que vieram para o Sudeste em busca de melhores oportunidades.

Você é engajada em alguma causa?

Sou uma pessoa comprometida com a arte. A minha luta é pela cultura, valorização e reconhecimento da arte, tão fundamental para o desenvolvimento humano. Luto também contra toda e qualquer forma de discriminação. É uma luta contra o preconceito com o povo nordestino, que é criticado pelo seu sotaque, costumes e tradições. É uma luta importante a favor da diversidade cultural.

Tem medo de envelhecer?

Acho que é natural essa expectativa e ansiedade em relação ao futuro, especialmente quando se pensa nas mudanças físicas e mentais, no vigor, disposição, força, na saúde mesmo. Mas, o envelhecimento também traz sabedoria, experiências e oportunidades únicas. É fundamental envelhecer com qualidade de vida. E isso pode ser resultado de escolhas feitas agora, seja na alimentação, na prática de atividade física, tudo que traga longevidade.

Um arrependimento e um grande desejo…

Não vejo nada tão marcante, nenhuma atitude que tenha me levado ao arrependimento. Sou uma pessoa que pensa muito antes de agir. Talvez me arrependa de algo que NÃO fiz, como não ter filhos, já que era um grande sonho e ficou impossibilitado por questões financeiras. Portanto, não posso falar que me arrependi, já que me considero carente desses recursos. Sonho viver confortavelmente como atriz, de maneira mais estável, sem tantos altos e baixos.

Algum ritual para cuidar do corpo e da mente?

Cuido do corpo com uma alimentação saudável e prática de exercícios. Da mente, gosto da psicanálise, de aprofundar o autoconhecimento. Busco equilíbrio entre o corpo e a mente. Faço minhas orações, meus rituais astrológicos, meus banhos, limpezas, banimentos. Busco sempre elevar meu padrão vibracional com bons pensamentos, atitudes de empatia, compaixão e fé.