Médico psiquiatra informa como o TDAH pode impactar a vida dos adultos afetados
A influenciadora Bianca Andrade, também conhecida como Boca Rosa, recentemente compartilhou nas redes sociais sua busca por disciplina e equilíbrio na rotina diária. Em uma série de declarações, ela destacou a importância de ter um estilo de vida organizado, com horários bem definidos para dormir, acordar cedo, estudar, treinar e passar tempo de qualidade com seu filho. No entanto, a empresária revelou que enfrenta obstáculos por conta do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que afeta sua capacidade de foco e gerenciamento das atividades.
"Fatos sobre mim: eu gosto muito de disciplina! Dormir cedo, acordar antes de todo mundo, ter meu tempo pra ler, estudar, ter tempo de qualidade com meu filho, treinar todo dia, comer saudável, trabalhar com inteligência e estratégia", declarou. "Nem sempre consigo dar conta de tudo, até porque, o TDAH me atrapalha bastante, mas eu gosto muito de dar vários checks no meu dia, me faz um bem danado", declarou Bianca Andrade por meio dos Stories do seu perfil no Instagram.
Então, para entender melhor sobre o TDAH em adultos e como esse transtorno pode impactar suas vidas, a AnaMaria Digital conversou com o Dr. Henrique Bottura, psiquiatra e diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista (IPP).
De acordo com Bottura, o TDAH é um transtorno que possui uma base neurobiológica, com disfunções neuroquímicas que afetam a capacidade do indivíduo de focar a atenção, priorizar tarefas e lidar com impulsividade. Em adultos, o TDAH pode persistir e se apresentar de diferentes formas, divididas em três subtipos principais: desatento, hiperativo e combinado.
Ainda segundo o médico, na infância, o TDAH pode ser percebido como agitação, impulsividade e dificuldades de concentração, enquanto no adulto, as dificuldades executivas, como a dificuldade de organizar tarefas e procrastinação, podem ser mais evidentes.
O diagnóstico do TDAH em adultos é clínico e requer uma avaliação detalhada, conforme explica o especialista. O histórico do paciente desde a infância é importante para identificar sintomas presentes desde cedo, seja de agitação e impulsividade ou de desatenção. É fundamental perceber esses sinais tanto na escola quanto em casa e em outros ambientes que a pessoa frequenta. Além disso, existem avaliações de apoio que podem auxiliar no diagnóstico, como avaliações da funcionalidade atencional e de memória.
"O psiquiatra é o profissional mais habilitado pra esse diagnóstico e manejo, analisando a história clínica desde a infância, buscando elementos desse período, principalmente ali na fase dos sete, oito anos de idade, em que você já identifica dificuldades atencionais, impulsividades e hiperatividade. Então, o profissional tem que ter essa essa história. Também existem avaliações de apoio que podem ajudar a tirar dúvida, a fazer avaliações mais precisas da funcionalidade atencional, da memória, do QI, as quais ajudam no diagnóstico. Mas o diagnóstico é clínico, feito a partir de uma sequência de conversas com o médico", explica Henrique Bottura.
De acordo com o psiquiatra, é comum o diagnóstico do TDAH ser feito em adultos que não apresentavam sintomas evidentes na infância. Isso acontece porque, em alguns casos, as manifestações do transtorno podem não ser percebidas ou serem menos aparentes. Por exemplo, crianças com subtipo desatento e inteligência acima da média podem passar desapercebidas, já que conseguem apresentar um desempenho acadêmico satisfatório. No entanto, com o aumento das demandas na vida adulta, como planejamento e organização, esses sintomas podem se tornar mais evidentes.
Adultos que vivem com TDAH podem enfrentar diversos desafios no dia a dia, conforme destaca o especialista. Essas dificuldades podem se refletir em prejuízos na vida profissional, acadêmica e afetiva. A atenção constantemente exigida pelo mundo moderno, com distrações como celulares e notificações, pode ser particularmente difícil para aqueles que já têm dificuldades de concentração.
"No mundo de hoje, a nossa atenção é muito exigida, mas ela é o tempo inteiro usurpada pelos estímulos do dia a dia, a gente tem o celular, as notificações, diversas coisas interessantes que nos aparecem. Então, aqueles que já tem uma dificuldade maior pra lidar com isso primariamente, estão vivendo em um mundo que é muito desafiador, sendo necessário desenvolver uma série de técnicas e mecanismos pra poder administrar", explica Bottura.
Segundo o especialista, o tratamento do TDAH em adultos pode envolver abordagens terapêuticas como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), terapia comportamental e intervenções educacionais. Aprender a gerenciar o tempo, organizar o ambiente e lidar com as dificuldades é essencial para um tratamento bem-sucedido. Além disso, medicamentos podem ser indicados para tratar o transtorno em si e suas comorbidades frequentes.
O depoimento de Bianca Andrade sobre seu desafio em conciliar disciplina e TDAH destaca a importância de compreender e abordar o transtorno em adultos. A busca por tratamento personalizado e adequado para cada caso pode permitir que indivíduos com TDAH enfrentem os desafios diários com mais equilíbrio e qualidade de vida. Por isso, a conscientização acerca do transtorno e o apoio de profissionais especializados são fundamentais para ajudar na superação de obstáculos.
