Rafaela Ferreira dribla com maestria a ditadura do peso e é referência para milhares de pessoas
Com vários trabalhos realizados na seara teen da TV, como Malhação, na Globo, Rebeldes, na RecordTV, As Aventuras de Poliana e, agora, Poliana Moça, no SBT, Rafaela Ferreira é talentosa, engajada e aprendeu bem a driblar os estereótipos da pessoa gorda. Só no Instagram, ela tem quase 2 milhões de seguidores e não fica atrás quando o assunto é seu canal no Youtube, o Fala Rafa. Ela sabe tirar partido do engajamento com seus seguidores para discorrer sobre preconceito e gordofobia, dando uma lição de autoconhecimento, autocuidado e autoestima.
Você se considera uma porta-voz das pessoas que sofrem com o preconceito? Sou uma incentivadora de vozes.
Quanto mais pessoas descobrirem suas próprias vozes e não se calarem, melhor. Gosto de pensar que sou uma referência que mostra que é possível. Representatividade importa muito. Quando eu era criança, era difícil sonhar em ser atriz quando os poucos personagens gordos que apareciam nas produções eram representados de forma pejorativa e estereotipada. Hoje posso ser uma dessas referências que a Rafa criança não teve.
A gordofobia vai além da discriminação com os gordos?
Sim! O termo gordofobia identifica o preconceito que atinge pessoas gordas de forma afetiva, social e profissional. É também uma opressão estrutural que impede que uma pessoa gorda tenha acesso e direitos básicos, seja no transporte, na moda, nos tratamentos e equipamentos médicos, locais de trabalho e estudo, entre outros fatores sociais e culturais.
Na TV, você acredita que as pessoas acima do peso ainda sofrem preconceito?
O preconceito está em todos os lugares. Quando a pessoa ri do corpo de alguém por ser gordo, quando diz que a pessoa precisa emagrecer por causa da saúde... Tudo isso é gordofobia. Não é difícil notar que não há muitas oportunidades de vida dramatúrgica para o corpo gordo. Concordo que já aumentou bem o número de personagens gordas, mas ainda é preciso mais protagonismo gordo, e também que as personagens deixem de carregar tantos estigmas e estereótipos.
Você se descreve como ‘artivista’ gorda. De onde veio esse termo?
Posso dizer que ele vem da junção das palavras arte + ativismo. Escolhi esse termo porque é pela arte que procuro expressar meu ativismo enquanto pessoa gorda. E o termo ativismo gordo é usado para definir a luta de pessoas gordas por acesso e direitos básicos. Vai muito além da autoestima, é uma luta pela despatologização do corpo gordo, ou seja, que ele pare de ser visto como doente pela sociedade. Sinto que ainda falta muita informação e empatia sobre o assunto. Gosto de contar que é perfeitamente possível ser uma pessoa gorda, saudável e feliz. Ou somente ser uma pessoa gorda. A confusão é tanta, que a palavra gorda, quando usada para definir alguém, já vem carregada de tantos significados, que limita aquela pessoa a um estereótipo. E não vemos o fenômeno contrário quando usamos a palavra magra para se referir a alguém. Essa reflexão não é só minha. Há gente séria fazendo ciência sobre isso. A Agnes Arruda e a Malu Jimenez são duas dessas pesquisadoras, que falam sobre o estigma de ser gorda na sociedade contemporânea.
Com milhares de seguidores no Instagram, você se preocupa com o que fala nas redes?
Me preocupo muito, sim. Somos influenciáveis e influenciadores nesse espaço. Precisamos ter bastante cuidado com as imagens que vemos e criamos. Elas estão modificadas - e com filtros! E, assim, mantemos um olhar de julgamento irreal sobre nós mesmas, ficando vulneráveis às comparações. Por isso, escolho ser uma incentivadora de pessoas como elas são: reais e humanas.
Você pensa em emagrecer? Já fez dietas?
Não, essa realmente não é uma meta. Aliás, nem acredito em dietas restritivas. Uma vez, com um esforço imenso, emagreci 30 kg. Achei que quando ficasse magra o mundo iria sorrir e todas as portas iriam se abrir para mim. Claro que não foi isso que aconteceu. Gorda ou magra, eu continuava eu. E tinha as mesmas questões. Já fiz muitas dietas e percebo que as restrições acentuaram os transtornos e compulsões. Hoje, depois de muito trauma e terapia, me aproximo da nutrição comportamental e do comer intuitivo.
Uma mensagem para as leitoras da AnaMaria…
Invista o seu tempo em você. Não espere aprovação dos outros. Faça o que te faz bem.