Segundo pesquisa, houve um aumento de 8.6% nos divórcios no país. Psicóloga explica como fazer um casamento dar certo
Segundo uma pesquisa do IBGE, a idade dos cônjuges em casamentos heterossexuais aumentou ao longo dos últimos anos. Em 2000, 6,3% das mulheres que se casaram tinham 40 anos ou mais. Em 2022, o percentual subiu para 24,1%. Entre os homens, foi observado um aumento de aproximadamente 20 pontos percentuais, comparando os anos 2000 (10,2%) e 2022 (30,4%).
Além disso, a pesquisa revelou que os brasileiros passam menos tempo casados. Houve um aumento de 8,6% nos divórcios e uma diminuição no tempo médio entre o casamento e a separação: em 2010, era de cerca de 16 anos. Em 2022, 13,8 anos.
Os dados revelam uma mudança na sociedade. AnaMaria conversou com a psicóloga comportamental Priscilla Souza, para entender porque os casamentos duram cada vez menos e qual é o caminho das pedras para fazer um casamento dar certo.
Em um passado não tão distante, o casamento era uma ferramenta para sair debaixo das asas dos pais e conquistar independência. O matrimônio também acontecia pela cobrança da sociedade, para tornar oficial um longo namoro ou noivado — costume que não é mais tão comum.
Contudo, os paradigmas da sociedade mudaram: hoje as pessoas se casam porque realmente querem dividir uma vida. A forte presença da mulher no mercado de trabalho é outro fator que contribui para os casamentos acontecerem mais tarde. Segundo Priscilla, a mulher tem adiado o casamento por estar cada vez mais focada na carreira.
Ainda do ponto de vista cultural, a psicóloga destaca o espaço da mulher na sociedade como um dos motivos para essa mudança: “A questão cultural envolve principalmente a liberdade financeira da mulher, que está sendo recebida no mercado de trabalho e fazendo um papel bonito. A mulher tem o espaço dela, consegue se manter, há menos dependência financeira e ela não precisa se casar para ser mantida por alguém.”, diz.
“A submissão da mulher tem diminuído muito, continua ruim, mas tem diminuído, então ela se sente no direito de sair de uma relação complicada, ou até de abuso.”, complementa.
Pessoas que se casam mais tarde provavelmente já moraram sozinhas, adquiriram hábitos cotidianos e, ao casar, precisam se adaptar a uma rotina a dois. “A pessoa fica meio sistemática e quer as coisas do próprio jeito. Quando a união acontece, precisa se adaptar, aprender a se doar, a dividir, a se preocupar com o outro e em alguns casos os perfis não batem.”, diz Priscilla.
A psicóloga relaciona os principais aspectos emocionais que desafiam a convivência dos casais: “O casal deve dividir o dia a dia. A questão do lidar com o outro tão próximo e a falta de privacidade incomoda. A pessoa quer ficar junto, mas no sentido de respeitar o espaço de cada um.”.
Os lares, cada vez menores, também inflamam esse cenário. “Hoje os apartamentos estão ficando cada vez menores, porque não queremos uma família grande. Nisso, ficamos em uma espécie de jaula, e os conflitos vão aparecendo com mais facilidade. As pessoas veem que não vale a pena, porque as expectativas não foram preenchidas.”, complementa a especialista.
Em primeiro lugar, é preciso desmistificar a ideia de que existe uma receita de bolo para fazer o casamento dar certo. Diversas razões podem contribuir para uma convivência a harmoniosa — como também serem a ruína de uma relação que poderia ser bem-sucedida. A psicóloga comportamental lista quais elementos são fundamentais para fortalecer a relação conjugal. Confira a seguir:
Comunicação
Uma boa comunicação é benéfica para qualquer relacionamento. Ter a liberdade de falar o que sente e expor a própria perspectiva facilita muito o acerto entre o casal. Isso porque quando trocamos ideias há menos erros de interpretação. A especialista ressalta a importância da conversa olho no olho e de ter atividades em comum, mesmo que sejam as tarefas domésticas.
A escassez de tempo e o acúmulo de tarefas podem tornar a comunicação desafiadora no dia a dia. “Uma dica legal para os casais, é tentar sair do celular um pouco quando está em casa, determinar o período de uso de redes sociais”, orienta a psicóloga, antes de explicar: “A tecnologia, em determinado ponto, afasta as pessoas. Esse cenário é uma realidade que vejo muito no consultório, são queixas comuns entre os casais.”.
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Individualidade vs casal
É crucial manter objetivos individuais, para não colocar em xeque a identidade de cada um, assim como é importante que o casal tenha objetivos em comum. Esse equilíbrio é indispensável.
“Quando duas pessoas dividem uma vida, cria-se outro sistema: o casamento, e os dois têm que estar atentos a isso. A história do ‘eu quero assim, eu vou fazer assim’, precisa mudar. É necessário entrar em acordo com o parceiro. São duas pessoas em uma relação onde há companheirismo, e uma não pode querer sobrepor a outra.”, diz.
Fortaleça a intimidade
A intimidade física é extremamente importante, porque sexo não é tudo, mas é parte do casamento. Nesse sentido, a liberdade entre o casal é muito relevante. Poder ser autêntico, desenvolvendo a sexualidade, é fundamental para criar laços duradouros.
“Outro aspecto que acho importante na construção da intimidade do casal é a admiração mútua. Você tem que admirar o parceiro, e para admirar é preciso conhecer profundamente o outro.”, finaliza Priscilla.
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