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Família/Filhos / Exemplo

Como nossos comportamentos podem afetar o futuro dos nossos filhos?

Alguns comportamentos que temos são “absorvidos” pelos nossos filhos ainda durante a gravidez

*Priscila Correia, do Aventuras Maternas, colunista de AnaMaria Digital Publicado em 15/12/2023, às 08h00

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Nossos comportamentos podem afetar o futuro dos nossos filhos. - Xavier Mouton/Unsplash
Nossos comportamentos podem afetar o futuro dos nossos filhos. - Xavier Mouton/Unsplash

Desde os primeiros momentos de vida intrauterina, a influência materna e paterna começa a moldar o sistema operacional da criança. Um software invisível, mas poderoso, é programado através das palavras, ações e até mesmo dos estados emocionais vividos pelos pais.

"Dos primeiros suspiros no ventre materno aos primeiros sete anos de vida, quando a mente ainda não questiona, esse sistema é construído de forma mais sólida. É uma responsabilidade que muitos subestimam: o impacto das nossas interações diárias na formação de quem nossos filhos serão no futuro", explica a mentora e escritora Saschi Schmidt, que lança o livro O Sucesso de ser você", pela Literare Books, em fevereiro de 2024.

Um exemplo vem da pesquisa do departamento de ciências psicológicas da Universidade de Vermont, publicado no “Journal of Social and Personal Relationships”. Quando os pais brigam na frente dos filhos de forma constante, ainda que de forma leve, eles podem desenvolver problemas de comportamento, que vão desde culpa, ansiedade e insegurança até agressividade. Ou seja, o conflito que assistem em casa se tornará presente em outros “locais” que essa criança frequenta e com outras pessoas, como colegas, professores, entre outros.

Um outro  estudo, da Biological Psychiatry, que acompanhou indivíduos entre os 11 e 25 anos, mostrou que uma boa relação e comunicação entre pais e filhos já nos primeiros anos de vida tem um efeito benéfico na saúde mental quando se tornam adultos, inclusive com menos casos de abuso de álcool e transtornos alimentares. Já uma pesquisa realizada pela Escola de Medicina da Universidade da Califórnia (UCLA) apontou que traumas e estresse vividos pelos pais em suas infâncias podem afetar a saúde comportamental dos filhos, ou seja, os problemas podem se perpetuar por gerações. E mais: quando esses problemas são vividos pelas mães, o impacto é ainda maior.  

saschi schmidts e a familia
Saschi Schmidts posa com a familia. (Crédito: Arquivo Pessoal)


Saschi pontua que é muito importante evitar brigas na frente das crianças, principalmente quando elas são muito novas, além de sempre fazer demonstrações de carinho para elas, porque é assim que elas vão aprender o conceito de amar. “O sentimento tem um entendimento. Acontece na mente, enquanto as emoções acontecem no corpo. Então, é importante mostrar esse conceito de amor para a criança desde cedo de uma forma positiva, e não mostrando que é violento, que é dolorido, doloroso etc”, diz.

TUDO COMEÇA NA BARRIGA

Você já deve ter lido ou assistido programadas que falam sobre o fato das crianças assimilarem o que acontece ao seu redor quando ainda são bebês. Mas esse entendimento começa muito antes, durante a gravidez mesmo. Saschi esclarece  ainda que os comportamentos que temos são “absorvidos” pelos nossos filhos ainda durante a gravidez. As emoções que a mãe vivencia geram reações químicas e físicas. Até mesmo os espasmos físicos durante a gestação podem afetar o local onde o feto está vivendo naquele momento. Então, se a mãe começa a contrair muito o útero por conta de estresse, vai torná-lo um lugar desconfortável e isso vai afetar, inclusive, no porte físico da criança e como ela se relaciona também com algumas emoções.

"Por mais que as pessoas, às vezes, não acreditem que durante a gestação, nós, mães, exercemos influência nos nossos filhos, sim, acontece. E os pais também. É importante também que o pai, se existe um pai presente ali, ou uma outra mãe presente, que o carinho entre os dois seja demonstrado, que se respeite as alterações hormonais que acontecem durante a gestação, que o parceiro ou parceira seja presente e atento com a mãe e até converse com a barriga. Tudo isso faz diferença”, diz. Ou seja, é preciso que haja suporte emocional, mental e físico para que essa gestação seja de qualidade em todos os sentidos, para mãe e filho, porque tudo isso vai influenciar em quem essa criança vai ser.

Jeany Cristina Noronha da Costa, mãe de Alice, de apenas 1 ano e 7 meses, conta que conversava muito com a filha durante os nove meses em que ela esteve na barriga e acredita que, sim, a menina, de alguma forma, entendia o que ela queria dizer: “Eu e meu marido passamos por um grande desafio, pois minha filha nasceu nos Estados Unidos, sem rede de apoio. Tive muita ansiedade, pois mesmo planejando como seria ter nossa filha aqui, começando uma vida nova do zero, os desafios foram surgindo e isso me deixava muito aflita e ansiosa. E eu sentia que ela ficava mais agitada na barriga, inquieta e eu acabava mal."

"Então, passei a sempre conversar com ela, que estávamos passando por tudo aqui para dar um futuro melhor para ela e uma oportunidade dela nascer e crescer em um país evoluído, visando uma melhor educação e ótimas oportunidades. Com o tempo, além de conversar e explicar o que acontecia ao meu redor, passei a fazer planos com ela, literalmente. E sempre que eu falava que daria o melhor por e para ela e ficava mais calma”, conta. 

Raquel Soares Fontes, que é psicóloga na Casa Sou e trabalha com perinatalidade, educadora parental em disciplina positiva na primeira infância e especialista em neurociência e teoria do apego, lembra que, antigamente, pensava-se que o bebê nascia e era uma tabula rasa, uma folha de papel em branco, mas hoje já temos diversas evidências que comprovam que desde os primeiros meses de gestação, ele sofre influências não apenas genéticas como epigenéticas, relacionadas ao ambiente, as interações que acontecem mesmo na gestação e as emoções e sentimentos que a mãe passa durante esse período.

Dentro do útero, o bebê está em pleno desenvolvimento do cérebro, da visão, audição, paladar e demais órgãos. Estresse, medo, ansiedade ou mesmo sintomas relacionados à depressão materna, moldam a experiência desse bebê desde antes do nascimento. "Sabemos que o período gravídico puerperal é uma fase extremamente sensível e 75% das mulheres que gestam passam por momentos de vulnerabilidade emocional com dúvidas, incertezas, ansiedade e medos. No entanto poucas passam por um pré-natal psicológico adequado, até mesmo pela pouca oferta de profissionais capacitados", observa.

Por isso, é cada vez mais clara a necessidade de olhar para essa fase com menos romantismo e muito mais atenção. "Costumo dizer que assim como o leite materno nutre o corpo físico quando o bebê nasce, interações afetivas são o alimento da mente e de todo o futuro desenvolvimento social e cognitivo dessa criança.  Quando uma mãe, ou mesmo um companheiro, passa por algum transtorno mental e, por este motivo não consegue ser presente ou entregar experiências saudáveis para o bebê, isto vai interferir diretamente no desenvolvimento emocional e cognitivo desse bebê”, detalha.

EFEITO CASCATA

Certamente todos nós já ouvimos falar que criança aprende por repetição. Ela vê os adultos, especialmente os pais, fazendo algo e replica no seu dia a dia. Isso acontece, como explica Saschi, porque depois que o bebê nasce, durante os primeiros sete anos, a mente analítica está em formação e não há a capacidade de análise como acontece com adultos. “Tudo que o pai e a mãe falam e como eles reagem a algumas situações no dia a dia, são absorvidos pela criança como memória efetiva, real. Então, tem que ter muito cuidado com o que a gente fala para os pequenos. Se ela cresce em um ambiente hostil e ouve da mãe o tempo inteiro que aquele ambiente é a verdade para ele, que é o que tem que esperar da vida etc, é o que aquela criança vai esperar da vida”, pontua. 

Para se ter uma ideia, esse efeito cascata não acontece apenas em ambientes em que as crianças vivem muito tempo com algum tipo de pressão. Às vezes, situações pontuais podem afetar quase que imediatamente o comportamento dos filhos. Paula Ribeiro, mãe de Luiza e Laura, de 12 e 5 anos, conta que percebe isso em atitudes simples. “Quando estou estressada com o trabalho, ou mais sobrecarregada, e grito com minhas filhas ou fico mais áspera na forma de conversar com elas e resolver problemas, acontece um movimento imediato. As duas começam a ficar mais irritadas, gritam, repetem meus comportamentos entre si. Aí respiro fundo, presto atenção nas minhas atitudes e é como mágica. Ambas começam a ficar mais calmas, a se tratar mais respeitosamente", lembra.

Para ela, é fundamental que os pais prestem atenção nas atitudes que têm no seu dia a dia com quem os cerca, e não somente com os filhos. “"Realmente faz muito sentido, tratar nossas crenças, traumas e questões que marcaram a nossa criação. Porque se um grito traz mais grito delas, imagine como nossas dores se infiltram nas crianças sem percebermos?", complementa.

Alessandra posa com o filho, Arthur
Alessandra posa com o filho, Arthur. (Crédito: Arquivo Pessoal)


Alessandra Tiemi Myada, mãe de Arthur, de 4 anos, conta como as próprias experiências de sua infância influenciam a forma como ela cria seu filho. Ela acredita que o aprendizado e referência das crianças são obtidas na rotina, naquilo que damos evidência e na forma de construção do raciocínio. "Eu me lembro de algumas coisas da rotina que eu tinha que foram boas para mim, e ensino ao meu filho, como, por exemplo, ter horário para tudo, o respeito, valorização pelo conhecimentos dos mais velhos, assim como algumas tradições culturais, já que tenho ascendência japonesa. Então, eu dou muito valor em preservar alguns costumes que foram passados para mim na infância e isso vem refletindo na educação do meu filho”, comenta.

Entretanto, ela procura entender as suas próprias emoções ou memórias passadas para garantir que suas experiências negativas não afetem Arthur. “Algumas coisas que passei, eu consigo entender apenas hoje, já adulta, que foram experiências que ajudaram a formar quem sou. Então, ensino que tudo que ele vive é parte de um aprendizado que servirá de alicerce para o crescimento dele, como foi para mim. Procuro passar sempre muitas coisas boas, mas não minimizo as frustrações, pois, no meu ponto de vista, elas são, sim, importantes para refazer um caminho melhor ou mudar uma rota”, complementa.

Para Gabriela Rotunno, mãe da Sophia e da Helena, de 4 anos e 1 ano, tudo o que vivemos, não só na infância, impacta na nossa vida e na criação dos filhos. “Com certeza, ao maternar, a gente replica o que vivemos, de bom e de ruim. Eu tento guiar a criação das minhas filhas pelas experiências positivas que tive quando criança e com o amor incondicional que recebi e também pretendo me diferenciar nos pontos que acho que não foram tão legais”, conta.

gabriela-rotunno
Gabriela Rotunno posa com a família. (Crédito: Arquivo Pessoal)

Para isso, ela lê muito sobre psicologia infantil e educação positiva, faz terapia e uma constante análise dos seus comportamentos diários. Porém, confessa, é super difícil não reproduzir alguns traumas e crenças. “É um esforço e treino diários. Sou humana e nem sempre consigo. É muito difícil lidar com essas situações de sair do controle emocional, porque os gatilhos dos traumas foram acionados. Então, me preocupo muito com meus comportamentos diários, para que nada ocasione sensações ruins nas minhas filhas”, comenta.

E realmente esse início da vida dos nossos filhos pode ser determinante para o restante de suas vidas. Raquel Soares Fontes afirma que os primeiros sete anos de vida da criança é a maior janela de oportunidade. “É nele que as interações parentais (pais e demais cuidadores) acontecem de forma mais presente, principalmente quando observamos a qualidade dessas interações. Elas são os fatores mais importantes e de maior influência no desenvolvimento humano, seja de forma geral e subjetiva. É nesta fase que se forma o que somos e a crenças que levamos por toda a vida. Somos seres sociais, dependemos dessas interações para sobreviver e nos desenvolvermos”, explica.

E continua: “na primeira infância ou no primeiro setênio, a criança está totalmente imersa na experiência e influência dos seus pais ou cuidadores. Ela não sabe ainda o que é o mundo, está formando seu corpo físico, sua visão vai se desenvolvendo ao longo dos primeiros anos, seu cérebro cresce e ela vai fazendo conexões cerebrais poderosas. É uma super máquina que faz de 700 a mil conexões neuronais por segundo até os três anos. E ela conhece e passa a enxergar esse mundo pelas lentes e percepções de quem cuida dela, pelo exemplo que esses cuidadores passam, e pelas experiências e interações sociais e afetivas que a cercam. O mundo é bom? É confiável? É seguro? Eu posso me expressar? (Entenda expressar, chorar!),Eu sou amado? Eu posso me arriscar? Entre tantas outras”.

Telma Abrahão, que é especialista em Neurociência e Desenvolvimento Infantil, explica, ainda, que a primeira infância, que vai até os seis anos, é um período primordial para o desenvolvimento do cérebro. “Os três primeiros anos são fundamentais para a criança construir um forte vínculo e apego seguro com sua mãe ou cuidadores primários. Essa é a base para a próxima etapa que virá. Nos anos seguintes, a criança segue desenvolvendo habilidades sociais, emocionais e cognitivas. Além disso, é a fase em que está sendo desenvolvida a visão sobre si e sobre o mundo, principalmente sobre o senso de pertencimento e capacidade. Crenças positivas sobre si, como 'Sou uma boa criança', 'Me sinto capaz e gosto de quem sou', impactam diretamente nos relacionamentos e resultados futuros do indivíduo”, diz.

E atenção: mudar alguns comportamentos depois que eles se instauram, certamente vai ser mais complicado. “Por exemplo, se você tem uma mãe que sofre violência do pai e ela justifica essa falta de reação, dizendo que o pai a ama etc, a criança vai registrar isso como uma forma de amor e vai buscar isso na sua vida adulta. Se isso não for cuidado ao longo do tempo, então, tudo o que um pai e uma mãe falam para a criança, principalmente até os sete anos, e de forma contínua até os doze, pode se transformar em grandes verdades e grandes crenças, medos e traumas para essa criança, formatando como ela vai se expor para o mundo e como vai sentir o mundo também”, detalha Saschi.

E a psicóloga e neuropsicóloga Patricia Peixoto concorda: “ A interação parental nesses primeiros anos causa um impacto muito significativo quando se pensa em sinapse, na parte cerebral da criança. Então, se a criança vivencia um ambiente hostil, onde falta amorosidade, abraços, beijos, onde tem gritos, isso vai assustar e toda a comunicação cerebral dela vai ser moldada de acordo com o que ela vivenciar. Então, tudo que acontecer, principalmente nos primeiros anos de vida, causa muito impacto no que a criança vai ser. Não que depois não seja possível mudar algumas coisas, mas o caminho será um pouco mais difícil. Por isso, é muito importante ter uma relação parental positiva. Sabemos que podem ter intercorrências, ter momentos estressantes, mas quando tiver um erro, ter um pedido de desculpas, porque quando a criança vivencia isso é muito benéfico para ela”, detalha.

Mas é preciso entender algo muito importante: proporcionar uma vida segura, amorosa e cheia de positividade, não significa que a criança nunca vá errar. E está tudo bem. Ambientes tensos, instáveis, trazem um sistema operacional instável também para a criança. Então, é importante a criança se sentir segura, para que o melhor dela tenha espaço para se desenvolver. Crianças inseguras limitam a sua expansão de personalidade, de consciência. Já crianças mais seguras se permitem errar mais, e é errando que a gente aprende.

"A gente precisa se colocar à prova para errar ou acertar e crescer nesse processo de errar e acertar. Crianças inseguras acabam ficando com muito medo de errar e da reação do outro, principalmente dos pais, ao erro. E aqui fica também uma dica: abrace o erro do seu filho. Fale “que bom, filho, que bom que você tentou”, “que você buscou novas formas de conseguir resultados”. E isso vale para qualquer coisa na vida dele. Deu errado, mas deu errado porque você tentou, poderia ter dado certo”. Então, não condene absurdamente o erro. O erro faz parte do crescimento, é impossível crescer sem errar, não dá, não tem como. E eu vejo crianças muito ansiosas, com medo de errar, buscando agradar pai e mãe, porque no final querem só esse tempo, esse tempo de qualidade com os pais, que acabam não tendo, por conta de uma estabilidade emocional da família, algum tipo de abuso dos pais, do pai ou da mãe. Então, acho que se eu tivesse que deixar uma mensagem para as mães, seria: valide o erro, chegue junto do erro, o erro é importante. Crianças que têm medo de errar são mais difíceis de crescer e de ganharem maturidade emocional. É importante a gente levar em uma boa o erro”, enfatiza.

O PODER DA FALA

A forma como nos comunicamos com nossos filhos pode ser determinante no que se tornarão quando crescerem. Por isso, Saschi explica que os pais devem optar sempre por explicar o que acontece para os filhos de uma forma que não utilizem seus medos, crenças limitantes ou uma referência limitada e que busquem explicar para os filhos sentimentos, situações e tudo mais, de uma forma mais completa, porém, percebendo antes se nessa complexidade, nessa completude, não estão ali também sugeridos alguns traumas, algumas crenças limitantes, algumas limitações de si mesmos, mas que não são uma generalidade, porque tudo isso vai ajudar na formação do sistema operacional da criança.

Para Raquel, da Casa Sou, se tratando de crianças neurotípicas, é possível afirmar que o cérebro humano tem uma forma muito peculiar de funcionar, processar e entender a linguagem e os comandos. Ela conta que alguns cientistas analisaram cérebros post mortem de recém-nascidos e observaram uma assimetria entre os lobos temporais, sugerindo que as áreas e conexões neurais da fala são determinadas geneticamente e, que já estão formadas e prontas para desempenhar seu papel funcional logo após o nascimento. Contudo, na infância muitas conexões neuronais e regiões corticais de associações ainda não estão totalmente formadas. Principalmente a parte cognitiva do córtex pré-frontal. Portanto, a máxima “crianças são ótimas observadoras e péssimas intérpretes” é real.

"Tudo nessa fase precisa ser muito claro e simples. Nada de sermões ou explicações complexas! Quanto mais se fala nessa fase, mais perdemos. Comandos e combinados simples funcionam mais efetivamente. A ideia é entender como o cérebro é, como ele se desenvolve e o que a criança de cada idade é capaz ou não de processar, entender e fazer. A partir daí, nós, como adultos com cérebro totalmente formados, precisamos planejar formas para se comunicar efetivamente com eles, não para que façam apenas o que queremos, mas para que eles possam aprender habilidades para vida e desenvolver o controle interno. Assim, serão adultos questionadores e não apenas pessoas que apenas cumprem ordens”, detalha.

É preciso falar, ainda, que as palavras e a linguagem podem ser influenciadas também pelo tom da voz usado pelos pais, na forma com que são faladas aquelas palavras. “Às vezes, a criança já vai associar um tom da voz de uma forma negativa, atrapalhando o sistema operacional, ou seja, deixar a criança em sinal de alerta em situações onde ela não precisa, onde ela acha que precisa se esconder, sair correndo. A forma com que é usada a palavra, com que os pais se comunicam com a criança, vai traduzir um pouco sobre o modo de ser dela, como também vai aprender a se comunicar. Então, se os pais só se comunicam através de gritos, de xingamentos, a criança automaticamente vai aprender que essa é a linguagem que deve ser reproduzida. E mais grave do que isso, é ela entender que é amada quando alguém está gritando com ela, sendo essa uma linguagem de amor e afeto”, diz Patricia Peixoto.

E Gabriel Portella, psicólogo da Clínica Núcleo Joy, complementa: “A linguagem utilizada pelos pais desempenha um papel crucial no desenvolvimento cognitivo da criança. Além de influenciar as habilidades linguísticas, a maneira como os pais se comunicam pode moldar o processamento de informações emocionais da criança, afetando sua compreensão do mundo ao seu redor”.

PARA UM FUTURO PROMISSOR

Muitas vezes, nos perguntamos como podemos exercer influências positivas nos nossos filhos para garantir um futuro melhor para eles, mas não sabemos por onde ou como começar, não é mesmo?

Abaixo, Saschi Schmidt nos dá dicas para uma educação consciente:

  1. Antes de brigar com seu filho, perceba o quanto desta irritação é pelo que seu filho fez de errado ou se existe outra coisa que a perturba;
  2. Busque explicar as coisas para seu filho de forma completa, mesmo que em linguagem simples. Assim, sua mente terá mais referências para futuramente tomar suas próprias decisões;
  3. Traga sempre uma referência de amor saudável. Nunca justifique algo errado usando o sentimento como explicação. Não podemos aceitar uma grosseria ou uma agressão por amor;
  4. Reveja o seu sistema operacional e veja quais crenças limitantes, medos, hábitos nocivos e traumas fazem você limitar sua vida e cuide para não passar isso adiante, como medo de ser rejeitada, pensar que só fica rico quem pisa nas pessoas, que você nunca será rico, que não dá para ter tudo na vida, que os homens não prestam e por aí vai. São crenças generalistas que só limitam o crescimento das pessoas e podem limitar do seu filho também;

E, na sequência, Telma Abrahão sugere ideias de técnicas e estratégias para os pais desenvolverem interações mais saudáveis e positivas com seus filhos desde cedo:

  • “Serve and return” é o nome dado em inglês para a resposta do adulto ao comportamento, gesto ou fala da criança. A ciência já comprovou o impacto positivo no desenvolvimento do cérebro infantil quando os pais se mostram emocionalmente presentes, seja devolvendo um sorriso, balançando a cabeça para mostrar que entendeu o que a criança quis dizer ou conversando atentamente com ela;
  • Priorize um tempo de atenção todos os dias - no meio da correria da vida adulta podemos acabar negligenciando as necessidades emocionais dos filhos por afeto e atenção. Que tal chegar do trabalho e dedicar um tempo para estar de corpo e alma com seu filho?;
  • Use menos telas - sair do celular é um primeiro passo para se conectar com os filhos. Quando os pais controlam o próprio uso e limitam o tempo de telas das crianças, surgem mais importes interações em família, seja na hora das refeições, ou para conversar sobre o dia ou ainda jogar algo juntos em família;
  • Leiam histórias, vejam fotos de família juntos e aproveitem esse momento para lembrar de fatos importantes de sua infância e que tragam importantes memórias e aprendizado para seus filhos;
  • Passe mais tempo ao ar livre, leve as crianças para brincar no parquinho, deixe que elas andem descalças na grama, brinquem na terra e sinta as diferentes texturas da natureza. Isso faz um bem danado, não somente para as crianças, mas para o ser humano.

“Estratégias para promover interações saudáveis incluem comunicação aberta e respeitosa, estabelecimento de rotinas consistentes, envolvimento ativo na vida da criança, estímulo ao desenvolvimento cognitivo por meio de brincadeiras educativas e a promoção de uma expressão saudável de emoções, ajudando a criança a desenvolver habilidades de regulação emocional”, conclui Gabriel Portella.