É importante abordar o assunto de maneira aberta e saudável com seus filhos
*Priscila Correia, do Aventuras Maternas, colunista de AnaMaria Digital Publicado em 27/10/2023, às 08h00
Em uma era de informação abundante e de fácil acesso à internet, é fundamental que os pais desempenhem um papel ativo na educação sexual de seus filhos. No entanto, iniciar uma conversa sobre sexo com eles pode ser desafiador e, às vezes, constrangedor.
Para ajudar nessa tarefa, na coluna da semana, vamos falar sobre a importância de abordar o assunto de maneira aberta e saudável, fornecendo orientações sobre como os pais podem quebrar as barreiras que envolvem o tema e oferecer aos seus filhos a orientação para tomarem decisões acertadas sobre suas vidas sexuais. É fácil? Não. Mas necessário! E, sim, pode ser menos problemático, para os dois lados, do que a gente imagina.
Questionamentos dos pais sobre como abordar o assunto sexo com os filhos sempre existiram. Atualmente, porém, as perguntas deixaram de ser mais ligadas ao que “acontece” durante o sexo e passaram a ser mais voltadas para outras questões, especialmente voltadas para gênero e orientação, assuntos estes que, muitas vezes, nem mesmo nós compreendemos bem.
Ana*, mãe de Roberta*, de 13 anos, conta que a filha foi direta quando ainda tinha 11 anos, questionando sobre a atração que sentia por meninas. A mãe, confessa, ficou sem saber o que dizer. "Para essa geração de adolescentes, falar sobre sexualidade é normal. Não há tabus. Mas quando eles chegam até nós, se não estivermos preparados para responder, pode ser um problema, já que os filhos sempre têm nos pais sua fonte de informação mais confiável. Na época, falei sobre o que eu achava de alguns questionamentos dela e sugeri que pesquisássemos juntas o que eu não sabia responder. Depois disso, a confiança dela em dividir tudo comigo aumentou ainda mais”, conta.
Para ginecologista e sexóloga Clarissa Silveira, fundadora da sextech Mia care, o momento certo para falar sobre sexo com o filho adolescente depende do desenvolvimento e maturidade individual dele. Por isso, esteja atenta aos sinais de interesse ou curiosidade que ele irá despertar sobre sexualidade. "Isso pode indicar que é hora de abordar o assunto de forma mais direta. Em geral, é recomendável começar a abordar o assunto de maneira gradual a partir dos 9 a 12 anos, à medida que a curiosidade deles aumenta”, pontua.
Já Camila Campos Gentile, sexóloga e diretora da Exclusiva Sex, lembra, ainda, que o importante é sempre estar disposto a falar sobre isso de maneira descontraída, sem dar o tom de tabu ou de algo que não se pergunta. “É aconselhável iniciar as conversas em torno dos 9 a 12 anos, adaptando-se à maturidade e às necessidades individuais do adolescente”, analisa.
Contudo, lembre-se: para educar os adolescentes sobre sexualidade, é preciso, antes de tudo, que os adultos se livrem dos seus próprios tabus. “Você pode ser transformado nessa jornada. O apoio e a compreensão dos pais são fundamentais para o desenvolvimento saudável dos adolescentes em relação à sexualidade”, enfatiza Clarissa.
Abaixo, Clarissa e Camila respondem questionamentos que são comuns à maioria dos pais, sobre diferentes situações.
Clarissa Silveira - O segredo é tratar o assunto com naturalidade. Comece de forma casual, escolha um momento tranquilo e privado. Use linguagem simples e adequada para a idade do seu filho. Esteja disposto a ouvir, a responder perguntas e a manter a conversa livre de julgamentos.
Camila Campos Gentile - Um ambiente privado e tranquilo, seja receptivo, faça perguntas abertas e esteja disposto a ouvir. Iniciar com questões como "O que você sabe sobre sexo?" pode ser eficaz.
Clarissa Silveira - Um diálogo aberto é o ideal. Se seu filho iniciar a conversa, é um sinal de confiança. Responda às perguntas com sinceridade, adequando as informações à idade dele. Se você não souber a resposta, não hesite em dizer que pesquisará juntos, expor suas vulnerabilidades também é uma ótima forma de aproximar do seu filho.
Camila Campos Gentile - Se seu filho iniciar a conversa, encoraje a abertura e responda com honestidade e empatia. Não julgue e esteja disposto a fornecer informações claras e adequadas à idade.
Clarissa Silveira - Comece com informações básicas sobre anatomia, higiene pessoal, desenvolvimento, puberdade e as mudanças corporais que ocorrem na adolescência. Progrida para conceitos de consentimento, relacionamentos saudáveis, contracepção e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
Camila Campos Gentile - Inclua informações sobre puberdade, anatomia, relacionamentos saudáveis, consentimento, contracepção, doenças sexualmente transmissíveis, e a importância do respeito.
Clarissa Silveira - É muito importante enfatizar a importância de não criar um ambiente de medo em torno da sexualidade. O objetivo principal ao discutir contracepção e doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) com os filhos é fornecer informações que os capacitem a tomar decisões responsáveis e conscientes, sem criar ansiedade ou medo excessivos.
Para isso, o ideal é promover a educação como ferramenta de empoderamento: Explique que o conhecimento sobre contracepção e prevenção de DSTs é uma ferramenta poderosa que lhes permite tomar decisões informadas e seguras. Enfatize que, quando eles entendem como se proteger, podem desfrutar de relacionamentos saudáveis.
Camila Campos Gentile - Aborde a contracepção e as ISTs de maneira simples e informativa, destacando a importância do uso de preservativos e métodos contraceptivos.
Clarissa Silveira - Ensine que o consentimento é fundamental em qualquer relação sexual e que ninguém deve se sentir pressionado. Discuta os sinais de consentimento e como respeitar os limites dos parceiros. Explique que o respeito mútuo, a comunicação aberta e o consentimento são fundamentais para relações sexuais seguras e satisfatórias.
Camila Campos Gentile - Destacando a necessidade do consentimento e que ele ou o outro pode parar a qualquer momento e isso deve ser imediatamente respeitado.
Clarissa Silveira - Primeiramente, é essencial manter a calma e evitar reações impulsivas. Seu filho precisa sentir que pode falar com você sobre sua vida sexual sem medo de punição ou julgamento. Inicie uma conversa aberta, aborde o assunto de maneira respeitosa. Dê a seu filho a oportunidade de explicar suas ações e sentimentos. Se você acreditar que regras mais rígidas são necessárias, estabeleça limites claros e explique as razões por trás deles. Se necessário, procure apoio profissional, se você achar que seu filho está envolvido em atividades sexuais perigosas de maneira persistente e que sua saúde está em risco, considere buscar a ajuda de um terapeuta ou médico especializado em saúde sexual.
Camila Campos Gentile - Mantenha a calma, estabeleça um diálogo aberto, eduque sobre os riscos e promova um diálogo sobre comportamentos sexuais seguros.
Clarissa Silveira - Comece se informando sobre esses temas para compreendê-los melhor. Seu filho precisa entender sobre a diversidade do mundo atual para que ele lide com o assunto de forma natural. É muito importante que você crie um ambiente de respeito para que ele se sinta seguro dentro de casa para expor suas escolhas e sentimentos.
Camila Campos Gentile - Demonstre apoio, amor incondicional e educar-se sobre questões LGBTQIA+. Esteja disposto a buscar ajuda profissional se necessário.
Clarissa Silveira - Primeiramente, ouça atentamente seu filho e valide seus sentimentos. É importante que eles saibam que você está disposto a compreendê-los. Procure profissionais de saúde especializados em questões de identidade de gênero, como psicólogos, terapeutas ou médicos especializados em saúde transgênero. Eles podem fornecer orientação e apoio para seu filho. Acima de tudo, ofereça apoio emocional.
Camila Campos Gentile - Busque um terapeuta especializado em questões de identidade de gênero. Apoie as escolhas do seu filho.
Clarissa Silveira - É fundamental abordar esse tema, a maioria dos adolescentes tem o primeiro contato com a sexualidade através da pornografia. Explique que a pornografia pode não representar relações sexuais reais e que é importante distinguir a fantasia da realidade. Abordar os potenciais efeitos negativos do consumo excessivo de pornografia, pode ser um caminho interessante para conscientizar seu filho.
Camila Campos Gentile - Sim, é importante falar sobre pornografia e seus impactos, como a representação irrealista e deturpada das relações sexuais. De como ela confunde o que entendemos como prazer. Ter como referência a pornografia limita muito a qualidade da vida sexual.
Clarissa Silveira - Estar disponível para perguntas e encorajar seu filho a questionar é a chave do diálogo aberto sobre sexualidade. Sempre responda de maneira aberta e honesta. Se você não souber a resposta, comprometa-se a pesquisar juntos. Aproveite situações do cotidiano como notícias, filmes ou programas de TV para discutir tópicos relacionados ao sexo de maneira educativa, assim seu filho vai sentir que o ambiente familiar é seguro para discutir o tema.
Camila Campos Gentile - Mantenha um canal de comunicação aberto, esteja disponível, ouça com empatia e encoraje perguntas e discussões regulares.
Clarissa Silveira - A falta de comunicação sobre sexo pode resultar em desinformação, comportamentos de risco e falta de confiança. A chance de contrair infecções sexualmente transmissíveis, de ter uma gestação indesejada ou sofrer abuso sexual é muito maior quando os adolescentes são carentes de educação sexual. É importante manter um canal aberto para orientá-los de forma saudável.
Camila Campos Gentile - A falta de comunicação pode levar a desinformação, comportamentos de risco e problemas emocionais. É importante abordar o assunto para promover relacionamentos saudáveis e seguros.
Hoje, locais para obter informações de qualidade para saber sobre assuntos que a gente desconheça não faltam. E, quando se trata de algo relacionado à sexo, existem inúmeros livros, séries, filmes, entre outros, onde é possível achar muito conteúdo que servirá de apoio na hora de conversar com os filhos.
“Busque sempre fontes confiáveis, como o site do Ministério da Saúde, órgãos de saúde sexual e reprodutiva. Ler junto com seu filho também por ser uma ótima porta de entrada sobre o tema”, avalia Clarissa. Entre os títulos sugeridos pela ginecologista e sexóloga, estão “Sexualidade Começa na Infância”, por Adriana Barbosa e Carina Gambale; “Meu Corpo, meu corpinho”; por Roseli Mendonça; e “Pipo e FIFI”, por Caroline Arcari.
Camila vai além e dá outras sugestões não apenas de livros, como também de sites e filmes, mas faz um alerta fundamental: “Importante verificar se os recursos escolhidos são apropriados para a idade do adolescente e se você está disposto a discutir e responder a quaisquer perguntas que possam surgir a partir do material”.
- "O Que É Isso? -Uma Abordagem Divertida e Educativa sobre Sexo" por Robie H. Harris: Um livro informativo e acessível que aborda questões sobre o corpo, relacionamentos e sexualidade de maneira apropriada para adolescentes.
- "Para Você, Que Vai Ser Mãe ou Pai" por Marcos Ribeiro: Este livro explora questões de sexualidade e relacionamentos a partir de uma perspectiva voltada para adolescentes.
- "Amor Sem Frescura" por Sueli Ramalho: Um livro escrito para adolescentes que aborda questões de relacionamentos e sexualidade de maneira direta e informativa.
- "Clube de Compras Dallas" (2013): Um filme que aborda temas relacionados a doenças sexualmente transmissíveis, incluindo o HIV, de maneira realista.
- "Juno" (2007): Este filme trata de questões de gravidez na adolescência e adoção de uma maneira sensível.
- Planned Parenthood: Oferece informações abrangentes sobre saúde sexual, contracepção, gravidez e muito mais.
- KidsHealth: Um site que fornece informações de saúde, incluindo tópicos sobre sexualidade e puberdade, em linguagem acessível para adolescentes.
- Scarleteen: Um recurso online voltado para jovens que aborda tópicos de saúde sexual, relacionamentos e educação sexual de maneira inclusiva e informativa.
- Amaze: Um site com vídeos educativos sobre sexualidade, destinados a adolescentes.
