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"Tenho muito orgulho de ser baiana e sempre quis ser sambista", diz Daniela Mercury

Daniela Mercury fala ainda sobre documentário musical, a emoção de comandar a folia e o significado especial do primeiro Carnaval pós-pandemia

*Marcos Michalak, colunista de AnaMaria Digital Publicado em 22/12/2023, às 10h09

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Entrevista Exclusiva com Daniela Mercury, sobre ‘Eu Sou O Carnaval’. - Célia Santos/Divulgação
Entrevista Exclusiva com Daniela Mercury, sobre ‘Eu Sou O Carnaval’. - Célia Santos/Divulgação

Em uma imersão profunda nos bastidores do novo álbum ao vivo “Eu Sou O Carnaval”, eu, Marcos Michalak, mergulhei em uma conversa exclusiva com a incomparável Daniela Mercury. Nesta entrevista reveladora, a Rainha do Carnaval compartilha seus pensamentos mais íntimos sobre o documentário musical, a emoção de comandar a folia por quatro décadas e o significado especial do primeiro Carnaval pós-pandemia.

"Tenho muito orgulho de ser baiana e sempre quis ser sambista. Digo aos europeus que eles são existencialistas e nós somos sambistas. Aprendemos, com as filosofias dos africanos, que o ciclo da vida é simples: nascimento, vida e morte e, por isso, devemos agradecer cantando e celebrando coletivamente cada momento de nossa existência. Amo e agradeço por ter nascido em Salvador, uma cidade onde as culturas de vários lugares da África nos enriquece e ensina a viver", afirma.

Prepare-se para conhecer Daniela Mercury além dos palcos, enquanto ela desvenda os segredos por trás da celebração mais esperada do ano!

Como o projeto audiovisual “Eu Sou o Carnaval” reflete a celebração dos 40 anos de carreira de Daniela Mercury?

Há 40 anos cantei pela primeira vez, nos três dias principais de Carnaval. Estava sozinha, em um pequeno trio, puxando o Bloco Kuka Freska. Nessa época, eu já cantava em barzinhos há 5 anos, mas o Carnaval era mais popular e a responsabilidade profissional ainda maior. Por isso, estabeleci meu tempo de carreira a partir de 1983. Construí o meu repertório de álbuns somando a experiência de MPB com os frevos, ijexás, marchas, galopes e sambas tocados nos desfiles carnavalescos. O Carnaval, para mim, é minha identidade como baiana e como artista que dedica a carreira, a música baiana e brasileira. Esse grande projeto, gravado no Carnaval, pode resumir bem o que é a essência e a razão da minha carreira.

Ao abordar o respeito à diversidade e a busca pela inclusão social em seu trabalho, como você enxerga seu papel como artista na promoção desses valores, tanto no cenário musical quanto na sociedade em geral?

Eu faço isso de forma natural. Viver no Brasil, infelizmente, significa lidar com a extrema desigualdade, o racismo, a opressão e a violência contra negros, mulheres, pobres, LGBTQIA+, nordestinos e outras minorias. Isso não é aceitável. É muito estranho que a elite econômica e parte da classe média intelectualizada consigam viver centradas em si mesmas, sem tentar mudar tanta desigualdade. Como artista, consigo me comunicar e participar de campanhas educativas, ser mais ouvida e também uso o meu repertório desde o início da carreira para falar contra a ditadura, a escravidão, o racismo, para afirmar a força das mulheres e para enfrentar a LGBTfobia.

Como você vê sua relação com a Bahia?

Sou filha de portugueses e italianos, mas foi a cultura da Bahia que me forjou como pessoa. Tenho muito orgulho de ser baiana e sempre quis ser sambista. Digo aos europeus que eles são existencialistas e nós somos sambistas. Aprendemos com as filosofias dos africanos que o ciclo da vida é simples: nascimento, vida e morte, e por isso devemos agradecer cantando e celebrando coletivamente cada momento de nossa existência. Amo e agradeço por ter nascido em Salvador, uma cidade onde as culturas de vários lugares da África nos enriquece e ensina a viver.

O projeto “Eu Sou o Carnaval” destaca imagens inesquecíveis e ângulos diferenciados das festas de Salvador e São Paulo. Como foi o processo de seleção dessas cenas e a colaboração com o diretor Juliano Bacelar para capturar a essência única desses eventos?

Ele é um diretor muito talentoso e, por ser baiano, conhece bem como filmar um Carnaval de rua, que é algo dificílimo. Sua grande experiência, bom gosto e baianidade, somados à qualidade das câmeras e dos profissionais filmando, assim como à direção de fotografia, foram determinantes para conseguirmos a beleza e o incrível movimento do drone. A edição também demonstra grande sensibilidade. Deixei-os livres, como deve ser, mas fiz alguns pedidos sobre as músicas que priorizei e também pedi que mostrassem bastante o público. O Carnaval é o público na rua fantasiado de pura felicidade.

Com 40 anos de carreira, “Eu Sou o Carnaval” incorpora músicas que marcaram o carnaval de Salvador. Como você escolheu as canções para esse projeto e como percebe a evolução da música carnavalesca ao longo de sua trajetória artística?

A música carnavalesca se tornou um gênero musical nacional e internacional, deixando de ter como tema somente o próprio carnaval e predominando nas rádios do Brasil por quase 30 anos, influenciando todos os outros gêneros. O Axé se tornou um gênero musical urbano que absorveu toda a influência da música brasileira desde os tropicalistas, de Jorge Ben Jor, Djavan, Clube da esquina, Dorival Caymmi, João Gilberto, Tom Jobim, Novos Baianos, Armandinho e a Cor do Som, Dodô e Osmar, dos sambistas, do rock nacional e do rock nordestino, galopes, forrós e ritmos do nordeste, que se somaram a tantos outros ritmos brasileiros e de fora como os ritmos cubanos, tangos, reggae, Carimbó, Tecno, House, Rap, Hip Hop e mais recentemente os afro Beats, Kuduro e muitos outros ritmos.

O principal, para mim, são as contribuições para o samba, com riquíssimas sínteses surgidas nos blocos afros de Salvador, os sambas- afro e sambas-reggae, a qual são a base dos atuais pagodes e grooves arrastados. Batidas nascidas do candomblé e, portanto, com origem africana. Cada artista de Axé usa diferentes influências em seus arranjos e composições. Eu fiz longas pesquisas e me concentrei em fazer variações de samba com percussão e guitarras pesadas, com o apoio de grandes mestres de percussão, músicos de MPB e Rock, produtores nacionais e estrangeiros, fiz muitos laboratórios e ensaios para chegarmos às ideias e arranjos dos meus álbuns.