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Como ensinar as crianças sobre morte e luto? Conversa deve ser natural 

Parte do ciclo da vida, o luto é difícil, mas precisa ser abordado

Da Redação Publicado em 05/05/2021, às 10h55 - Atualizado às 10h56

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Abra espaço para que ela expresse seus sentimentos - Pixabay
Abra espaço para que ela expresse seus sentimentos - Pixabay

A partida precoce do ator Paulo Gustavo, vítima de Covid-19 aos 42 anos, trouxe luz a um dilema enfrentado por muitas famílias: como falar sobre morte com as crianças?

Por mais desconfortável que possa ser, é essencial entender e transmitir aos pequenos a naturalidade desse momento, que é parte do ciclo da vida. "A conversa deveria tomar lugar de forma natural, gradual e ilustrativa e não apenas mediante o evento em si", diz a pediatra Francielle Tosatti, especialista em emergências pediátricas pelo Instituto Israelita Albert Einstein. 

Ela lembra que a maioria das crianças já teve, de certa forma, algum contato com a morte no dia a dia, seja vendo um inseto morto, uma flor murcha ou por meio de filmes, como 'Rei Leão' e 'Bambi', por exemplo.

A pandemia, porém, deixou o tema mais próximo e palpável por conta das informações na mídia, ou mesmo por conta de familiares e conhecidos que tenham partido devido a doença. 

"Por isso, tão importante quanto falar sobre morte é entender que a criança sente o luto, de acordo com sua idade e maturidade. Cada um irá reagir de uma forma a ausência, ao clima da casa e as emoções dos familiares", conta a pediatra. 

O LUTO EM CADA IDADE

0 a 2 anos 
Até os dois anos, a criança percebe a morte como uma ausência, sendo fundamental manter a proximidade com os familiares sobreviventes, além de outro cuidador assumir as responsabilidades, no caso de perda de um cuidador próximo, como pais ou avós, sempre mantendo a constância da rotina. 

3 a 6 anos 
A criança começa a assimilar a morte, mas ainda de uma forma muito fantasiosa. "É importante ter muito cuidado com o uso de metáforas como ‘dormiu para sempre’ ou ‘fez uma longa viagem’, pois podem gerar fobias na hora de dormir ou viajar, além de não contribuir com a assimilação da finitude do evento", diz a médica.

Além disso, a visão egocêntrica -comum nessa faixa etária- pode levar a criança a se sentir culpada, adotar comportamentos hostis ou ter regressões de comportamento. Reafirmar constantemente que a criança não teve culpa, acolher e ajudá-la a expressar seus sentimentos fazem parte do suporte que ela precisa e que não só vai curar mas ajudar a entender o luto. De acordo com a pediatra, expressões artísticas como desenhos, tabelas de sentimentos e álbuns de lembranças são facilitadores desse processo. 

9 anos 
Por volta dessa idade a criança começa a entender a morte como algo definitivo e irreversível, podendo requisitar meios concretos para entender a morte, como participação do funeral. Essa é uma possibilidade que fica sujeita à decisão da família, dos seus valores e da sua religiosidade, segundo Francielle.

"É importante que seja uma opção para a criança e não uma imposição. Caso a decisão seja levar a criança, explique como vai ser antes e esteja pronto para trazê-la de volta para casa se ela não quiser ficar". 

E COMO ABORDAR A COVID-19?
Se algum membro da família ou amigo próximo adoecer, é importante tentar incluir a criança no processo desde o começo, para que ela assimile uma cronologia dos acontecimentos. Pais e cuidadores devem estar preparados para responder suas perguntas (que podem ser repetitivas), de forma clara e sem detalhes desnecessários. 

"Abra espaço para que ela expresse seus sentimentos (o lúdico é um excelente facilitador) e ajude-a a entender o que está acontecendo", ensina Francielle. Também mantenha a criança informada da evolução, em casos de internações.

Havendo a possibilidade de uma chamada de vídeo, pergunte a criança se deseja participar e antecipe para ela o que irá ver, como estado de saúde, emagrecimento, dispositivos que possam estar conectados ao corp, entre outros. "Assegure-a de que se ela não quiser ver está tudo bem ,e que você dará notícias", aconselha. 

Se houver falecimento de um ente querido, a criança deverá ser comunicada assim que possível por um cuidador com quem ela tenha vínculo afetivo e em quem confie. "Essa dolorosa realidade será suportável com o afeto, o amor e o respeito dos familiares." 

Também é importante que o adulto não esconda ou falseie suas próprias emoções. Está tudo bem dizer "estou chorando porque tenho saudades", segundo a médica, pois essa vivência ajudará a criança a entender que entrar em contato com sentimentos dolorosos é possível e que a medida que o amor dos nossos queridos nos conforta, as emoções se transformam em lembranças saudosas. 

"Uma das homenagens mais lindas, na minha opinião, e que costuma ser bem assimilada por crianças, é plantar uma rosa ou outra flor para o ente querido, explicando que ele nunca será esquecido e estará sempre no seu coração", aconselha.