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Bem-estar e Saúde / Saúde Mental

Será que tenho Déficit de Atenção? TDAH pode passar despercebido na vida adulta

Entenda como é feito o diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade

Ana Luiza Xavier, com supervisão de Vivian Ortiz Publicado em 05/07/2021, às 08h00

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Desorganização, hiperatividade e impulsividade são sintomas de TDAH - Robert Bye/ Unsplash
Desorganização, hiperatividade e impulsividade são sintomas de TDAH - Robert Bye/ Unsplash

Muita gente costuma acreditar que ser desatento é algo normal, até mesmo um charme. Mas você sabia que desorganização em excesso, impulsividade e dificuldade em se concentrar são sintomas característicos do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, o TDAH? E que, mesmo você tendo chegado a fase adulta, seu diagnóstico pode ser a resposta para a inconstância excessiva que atrapalha seu rendimento em diferentes áreas da vida?

O psiquiatra Thiago Salum Fontana explica que, assim como em casos de autismo, existem vários espectros (níveis) do paciente com TDAH. Quando leves, os sintomas podem passar despercebidos no cotidiano. Se a pessoa tiver um nível mais grave, porém, as consequências de um não tratamento podem ser preocupantes.

Ele relata histórias de pacientes que não conseguem terminar nada, como um curso na faculdade, além de terem dificuldades em se manterem no emprego e sofrerem de esquecimentos graves, a ponto de estarem endividados porque não lembraram de pagar boletos ou que foram levar o filho à escola, mas deixaram a criança em casa. "Essas pessoas acabam sendo totalmente dependentes dos outros. É um adulto que não vai ter a independência que todo adulto tanto quer ter", ressalta o especialista, antes de dizer que tais consequências dependem da gravidade e intensidade dos sintomas de TDAH que a pessoa apresenta. 

MAS QUAIS SÃO OS SINTOMAS?

O principal é a desatenção, que é quando a pessoa tem dificuldade em sustentar sua atenção e concentração por muito tempo, gerando esquecimento e desorganização. "No adulto, a hiperatividade vem como um tédio na monotonia, já o adolescente com TDAH costuma se colocar mais em risco sendo, ao mesmo tempo, desatento. Isso o leva a não conseguir mensurar o perigo", acrescenta o psiquiatra. 

Outro sintoma comum é a impulsividade. Na adolescência, ela pode surgir com o consumo de um alto índice de substâncias psicoativas, tais como álcool, drogas e cigarro. “Esses pacientes também gostam bastante de riscos, o que costuma levá-los a procurar esportes radicais, por exemplo, atrás de adrenalina”, explica Fontana. Ele reforça, porém, que um diagnóstico clínico sempre precisa ser feito por um médico especialista. 

MAS, AFINAL, O QUE É O TDAH?

Trata-se de um distúrbio de neurodesenvolvimento, ou seja, a pessoa nasce com ele e já apresenta sintomas nos primeiros anos de vida. Ele afeta uma área do cérebro chamada pré-frontal, que é a ligação do lobo frontal com o restante do cérebro. Essa área tem relação com vários comportamentos da vida adulta, como o controle inibitório, o crivo social, a noção de certo e errado, do perigoso e seguro. 

Fontana explica que o lobo frontal é a última parte do nosso cérebro que matura, geralmente quando se chega na fase adulta. Nas mulheres, isso acontece por volta de 21 anos e nos homens perto dos 25 anos. Isso explica o motivo de uma criança hiperativa quebrar tudo sem se importar com nada e o fato dos adolescentes serem mais inconsequentes e impulsivos, não medindo riscos. O adulto, no entanto, já tem essa capacidade, esse crivo social que inibe comportamentos mais impactantes.

"Com a maturação [do lobo frontal] acaba que o adulto com TDAH não tem uma inquietação tão grave ou impulsividade, às vezes pode até ter bem menos do que em uma criança, por exemplo. Mas aí aparece a desorganização, a falta de atenção, de rendimento no trabalho, estudos e vida pessoal", explica Fontana.

O médico psiquiatra Vitor Breda acrescenta que alguns indivíduos nascem com uma propensão maior para desenvolver o transtorno, mas que os sintomas dependerão da mistura de fatores genéticos com fatores ambientais. Isso inclui, entre outros, baixo peso ao nascer, exposição ao tabagismo e neurotoxinas, abuso infantil, alimentação e estímulos cognitivos.

TDAH NA VIDA ADULTA?

Breda afirma que a possibilidade de desenvolver TDAH apenas na fase adulta vem sendo investigada e debatida em estudos científicos, ainda sem uma conclusão definitiva sobre o tema. Isso porque o mais comum é a pessoa ter os sintomas ainda na infância, por se tratar de um transtorno do neurodesenvolvimento.

Quem foi diagnosticado com TDAH em sua vida adulta, muito provavelmente, viu esses sinais aflorarem apenas a partir do momento em que passou a ter mais demanda. "Ainda mais se for um TDAH leve, naquela fase em que ela só precisa estudar e não tem obrigações como na vida adulta, que pede muito mais demanda cognitiva", afirma Fontana.

E como é feito esse diagnóstico? Inicialmente, de acordo com os especialistas, são pedidos alguns exames clínicos, justamente para descartar outras possíveis causas das reclamações feitas pelo paciente. Depressão e ansiedade, por exemplo, são umas das maiores causas de distúrbios de atenção e concentração em adultos, sendo muito mais frequentes que o próprio TDAH. Por fim, costuma ser indicado um exame neuropsicológico, que é uma análise de todas as funções cognitivas do indivíduo. 

SOU TDAH MESMO, E AGORA?

Neste momento, é importante fazer acompanhamento tanto com um psiquiatra, que pode indicar psicofármacos e psicoestimulantes, quanto com uma psicóloga. "As psicoterapias são importantes para auxiliar no manejo do comportamento e sintomas, especialmente na população infantil, assim como auxiliar na compreensão e aceitação do transtorno", diz Breda.

Tanto ele quanto Fontana ressaltam ainda a importância de dar atenção ao transtorno, evitando as consequências do não tratamento. "Essas pessoas, muitas vezes, por ter uma inquietação maior, acabam se colocando mais em risco ao fazer uso de drogas ou de atividades mais radicais", destaca Fontana. "Eles também podem ter mais frequentemente dificuldades de relacionamentos e consequentes brigas entre pais e filhos, separações e divórcios, além de menor autoestima e qualidade de vida”, lembra Breda.