Especialista responde às principais perguntas relacionadas ao congelamento de óvulos; confira
Não é de hoje que as mulheres têm assumido o controle de suas vidas reprodutivas e, recentemente, com a notícia de que personalidades como as ex-BBBs Juliette e Carla Diaz optaram por congelar seus óvulos, o assunto voltou à tona com grande destaque. Diante desse cenário de crescente interesse e busca por informações sobre o congelamento de óvulos, AnaMaria desvendou tudo relacionado ao procedimento.
Em entrevista exclusiva com a ginecologista Maria do Carmo Borges de Souza, diretora médica da FERTIPRAXIS Centro de Reprodução Humana, tiramos as principais dúvidas acerca do procedimento de congelamento de óvulos e de Fertilização In Vitro. A seguir, compreenda todos os aspectos acerca desse método tão importante para muitas mulheres.
Segundo Maria do Carmo Borges de Souza, a ideia de congelar os óvulos é como fazer uma reserva deles para o futuro. Cada mês, os ovários produzem pequenas estruturas chamadas folículos, que são como as casas dos óvulos. Quando uma mulher decide congelar seus óvulos, é como se ela escolhesse alguns desses folículos para guardar, esperando que um dia eles se tornem óvulos maduros prontos para serem fertilizados.
Quando a mulher está em torno do sexto ao sétimo dia a partir do início da menstruação, um dos folículos assume uma "dominância", o que define que ele vai preparar um óvulo que será disponibilizado no momento da ovulação.
Quando o folículo (um tipo de bolha) se abre e libera o óvulo, se ele encontrar um espermatozoide no caminho, pode se juntar a ele e formar um bebê. Isso acontece nas trompas de Falópio, que são como um caminho para o óvulo fertilizado chegar ao útero e se desenvolver.
“O procedimento inclui, portanto, um estímulo externo (hormônios de uso subcutâneo) a fim de que vários possam crescer e que se tenha vários dominantes. São em média de 8 a 10 dias de estímulo , ajuntando-se uma outra medicação (subcutânea, via oral ou vaginal), para ‘quebrar’ a dominância, permitindo assim a obtenção de vários óvulos maduros no mesmo ciclo”, informa a médica.
Sobre os benefícios do procedimento, Maria do Carmo destaca que seguramente o principal deles é dar à mulher uma autonomia sobre suas decisões reprodutivas. "Ela pode ficar mais tranquila em seguir seus objetivos de vida como estudos, trabalho, viagens, sem que tenha e a cada momento sofrer se ainda não tem um parceiro, se o parceiro poderá concordar ou não com estabelecer uma família, quando isto vai ocorrer etc."
A especialista define o processo de congelar os óvulos como uma “preservação" dos gametas femininos em um determinado momento da vida da mulher — quando estes ainda estão menos afetados pelo tempo. Entenda: seus óvulos estão presentes nos ovários desde que você era um embrião em desenvolvimento no útero de sua mãe, e nesse estágio são extremamente imaturos.
“O momento adequado para fazer o congelamento de óvulos, geralmente, é antes dos 35 anos", explica. Mas fique tranquila: isso não quer dizer que, na véspera do aniversário dos 35 anos, seus óvulos estarão velhos, ainda é possível fazer o procedimento, basta fazer uma avaliação com seu médico antes! "É importante fazer uma avaliação da reserva de óvulos que uma mulher tem, no período da vida entre 30 e 34 anos, por exemplo”, acrescenta Maria do Carmo.
O primeiro passo para a realização do congelamento de óvulos é avaliar a reserva ovariana. Isso é feito por meio da dosagem no sangue do AMH (hormônio anti-mulleriano) e da contagem dos folículos antrais, que são folículos entre 2 e 10 mm de diâmetro, presentes na superfície dos ovários entre o segundo e o quinto dia a partir do início da menstruação.
Maria do Carmo ressalta que, para dosar o AMH, o ideal é estar pelo menos 60 dias sem o uso de anticoncepcionais hormonais e 3 dias sem a ingestão de qualquer suplemento com biotina. Além disso, é importante avaliar as condições de saúde em geral, verificar o uso de medicações específicas para alguma patologia em tratamento, e diminuir ou minimizar o consumo de cigarro, álcool, drogas lícitas ou mesmo ilícitas.
Os custos do congelamento de óvulos vão sempre depender da reserva, das medicações a serem utilizadas, das dosagens necessárias, e do objetivo: “Vai ser buscado um número mínimo que atente ao fator idade da mulher? Vai ser suficiente apenas ter um número ‘possível’? Vai se cogitar repetir procedimentos? Os tratamentos são individualizados, não há uma receita uniforme e que resolva para todas de uma mesma forma”, explica Maria do Carmo.
Assim, os valores variam de acordo com estas variantes e ficam em torno de R$ 18 a R$ 20 mil. Hoje, algumas empresas tendem a ajudar ou financiar suas colaboradoras e as clínicas, por vezes, estabelecem algumas possibilidades de financiamentos.
Óvulos, assim como espermatozoides ou mesmo embriões, não têm um prazo máximo para serem mantidos congelados. Maria do Carmo explica que a técnica mais utilizada hoje no mundo é a da vitrificação, um processo em que o líquido interno da célula é retirado e substituído por um crioprotetor.
“Essa substância permite que os óvulos fiquem congelados em um ambiente de -196º C, sem que se formem cristais no seu interior, o que inviabilizaria a viabilidade ao fazer o processo inverso, de descongelamento.”, informa.
A médica ainda ressalta que existem vários casos de nascidos-vivos pós-descongelamento de óvulos, espermatozoides e embriões, de mais de 20 anos. “Hoje se espera perdas minimizadas ao descongelamento, lembrando que o espermatozoide contribui com os outros 50% do processo”, pontua.
O processo de seleção e preparação dos óvulos para uso posterior em técnicas de reprodução assistida, como FIV, envolve várias etapas. Inicialmente, os óvulos são selecionados com base na sua maturidade e qualidade. Em seguida, eles passam por um processo de estimulação ovariana controlada para aumentar a produção de óvulos.
Posteriormente, os óvulos são aspirados dos ovários e avaliados quanto à sua qualidade e viabilidade. Os óvulos de boa qualidade são então preparados para a fertilização, seja por fertilização in vitro (FIV) ou injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), dependendo do caso específico.
“Na prática, a coleta dos óvulos é marcada para ser feita em torno de 36 horas após a aplicação do desencadeador. A partir da aspiração de cada folículo, guiada por ultrassonografia e em um ambiente especial de centro cirúrgico acoplado ao laboratório de reprodução, o conteúdo dos folículos é checado e os óvulos são identificados e colocados em incubadoras que simulam a condição interna das trompas uterinas”, explica Maria do Carmo.
Em algum tempo eles são novamente observados e é verificado seu grau de maturação: os óvulos definidos como metáfase II são os maduros, ideais para o congelamento. Os metáfase I, etapa um pouco mais precoce, de modo geral também são aproveitados para o procedimento de congelamento”, acrescenta.
Antes do procedimento de congelamento de óvulos, é importante que as mulheres sigam algumas orientações. Confira os cuidados necessários antes e depois do procedimento.
Essa escolha é individualizada e depende de cada mulher, juntamente com seu parceiro(a) ou na decisão de uma produção independente. Ela destaca que essa decisão virá naturalmente com a maturidade, e o tempo necessário será diferente para cada pessoa.
“Algumas vezes, vemos várias situações: quem congelou óvulo engravidar naturalmente e manter o congelamento para ‘outros filhos' mais tarde; voltar e usar diretamente aqueles óvulos congelados voltar e conversar sobre a decisão da maternidade solo, as opções variam”, aponta a especialista.
A Fertilização in Vitro (FIV) pode aumentar a chance de gêmeos devido à possibilidade de transferência de mais de um embrião para o útero durante o procedimento. Quando múltiplos embriões são transferidos, há uma maior probabilidade de que mais de um se desenvolva e resulte em uma gravidez gemelar.
No entanto, muitas clínicas de reprodução assistida agora adotam uma abordagem de transferência única de embriões ou limitada para reduzir o risco de gestações múltiplas e complicações associadas.
De acordo com Maria do Carmo, os riscos da estimulação ovariana podem variar desde a não-resposta ao estímulo até o desenvolvimento de folículos vazios, sem óvulos, ou óvulos imaturos, apesar do acompanhamento cuidadoso. Ela ressalta que, embora sejam tomados todos os cuidados pertinentes, nada é garantido.
“A complicação mais significativa é a denominada Síndrome de Hiperestimulação Ovariana (SHO), que ocorre quando há uma resposta muito grande de crescimento dos folículos, resultando em instabilidade hormonal que pode até necessitar de hospitalização e punção de líquido livre dentro da cavidade abdominal”, informa a médica.
No entanto, a especialista enfatiza que essa complicação é extremamente rara hoje em dia, sendo evitada a partir dos cuidados e observações durante os controles ultrassonográficos realizados por uma equipe atenta.
Quer saber mais sobre o congelamento de óvulos e as técnicas de reprodução assistida? AnaMaria separou alguns artigos sobre o tema, para que você esteja preparada para entender tudo sobre esse importante processo!
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