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Luana em ‘Terra e Paixão’, Valéria Barcellos dribla a transfobia e faz sucesso entre idosos

Valéria Barcellos fala sobre representatividade, medo e inseguranças enquanto mulher trans

Valéria Barcellos reconhece a importância de seu papel na TV, mas apresenta ressalvas sobre atual momento. - Instagram/@valeriabarcellosoficial
Valéria Barcellos reconhece a importância de seu papel na TV, mas apresenta ressalvas sobre atual momento. - Instagram/@valeriabarcellosoficial

Valéria Barcellos conquistou seu primeiro papel nas novelas como Luana em ‘Terra e Paixão’. Negra e transgênero, ela enfrentou diversos desafios para chegar à posição de destaque – incluindo uma facada nas costas na saída de uma balada em Porto Alegre (RS), há alguns anos.

Atualmente, Valéria celebra a boa receptividade do público à funcionária do Bar da Cândida. A atriz conta, em entrevista à AnaMaria Digital, que recebe carinho especialmente dos idosos. No entanto, ela acredita que o caminho ainda é longo para que as pessoas trans conquistem espaço na TV. Saiba mais!

REPRESENTATIVIDADE

Valéria afirma que não possuía referências profissionais com as quais se identificasse. Com isso, foi ela quem teve que abrir os próprios caminhos para se tornar atriz, cantora, humorista e tantas outras ocupações artísticas que coleciona.

“Eu tive que ser essa referência e fazer dessa referência a minha própria. Dizer: ‘Não, eu não quero ser a caricata. Eu quero ser uma coisa além do humor. Eu quero que tenha um fundo de verdade’”, declara em menção ao estereótipo das personagens.

Ela fez uma analogia para falar sobre a importância de explorar novos territórios – ainda que eles pareçam inalcançáveis. “Eu gosto de pensar naquela história do elefante. Foi criado um elefantinho pequenininho preso em um toco de maneira. Quando ele era pequeno, ele puxava e não conseguia sair”, narra.

A artista, então, completa: “Depois que ele ficou gigantesco, com um puxão ele arrancava aquilo e saia dali, mas acostumou. Esse abrir caminhos é justamente o entendimento de que é possível para qualquer pessoa.”

RECEPÇÃO DO PÚBLICO

A atriz não apenas driblou a transfobia para conquistar espaço na televisão, como chegou diretamente na novela das nove da TV Globo. Ela conta que é abordada pelo público diariamente, além de receber mensagens carinhosas nas redes sociais.

“As senhorinhas me amam, eu acho isso maravilhoso! Me impressiona, pois é justamente a fatia da população que achei que seria mais conservadora com a minha pessoa. Não vou dizer que não seja, mas eu tenho recebido uma recepção gigantesca das pessoas de mais idade”, comemora.

Outra questão que ultrapassou as expectativas de Valéria é a torcida pelo casal Luana e Rodrigo, interpretado por Maicon Rodrigues. Ela declara: “Está sendo muito bonito mostrar que pessoas trans tem o direito e a vontade de ter um amor romântico (...) Essa resposta está me fazendo muito bem e me fazendo pensar que estou no caminho certo”.

MEDO

Por outro lado, Valéria Barcellos enfrenta os temores do preconceito, mesmo diante do sucesso. Ela afirma que a boa recepção de parte dos telespectadores não anula os riscos de ser agredida novamente.

“Eu sinto medo fisicamente e medo psicologicamente… Da violência, do que eu posso passar em termos de atuação e de vivência por parte da Luana. Imagina uma madeira com um prego levantado, aquele prego em destaque, as pessoas tendem a bater para ele ficar nivelado com todo mundo. Eu sou esse prego levantado nesse momento”, compara.

MUDANÇAS

Para Barcellos, estamos longe de uma TV inclusiva para todas as minorias. “A televisão ainda é muito branca, muito cis e heteronormativa. Isso só vai mudar quando nós não formos simplesmente os convidados, mas os proponentes e isso ainda vai demorar um pouquinho”, especula.

Um fator decisivo para a mudança, de acordo com Valéria, é que mais mulheres, negros e LGBTQIAPN+ passem a ocupar posições de comando nas empresas. Enquanto isso, a atriz acredita que os grupos minoritários são apenas ‘permitidos’ no entretenimento – não plenamente aceitos.

Ela completa: “O entendimento de diversidade passa por todas as pessoas que estão em posições de comando perderem privilégio e ninguém quer fazer isso. Nem mesmo eu quero perder os meus privilégios, que são poucos já”.

Para Valéria Barcellos, o mundo está mudando o tempo inteiro. "Não seremos nós as pessoas a verem isso, e nem nossos netos - se tivermos. Talvez os netos dos nossos netos verão isso. Mas não posso dizer que está tudo ruim, pois estou na novela das nove, beijando um menino maravilhoso, mostrando que a gente pode amar e ser amada. Isso já é um grande avanço”, conclui ela.