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Exclusivas / Entrevista

"A resiliência é um exercício contínuo", diz Bárbara Sut, de 'Amor Perfeito'

Sucesso na finalizada 'Amor Perfeito, Bárbara Sut diz que resiliência é um exercício contínuo

Karla Precioso

por Karla Precioso

kprecioso@editoracaras.com.br

Publicado em 21/10/2023, às 08h00

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Bárbara Sut viveu a Sonia em 'Amor Perfeito'. - Instagram/@babisut
Bárbara Sut viveu a Sonia em 'Amor Perfeito'. - Instagram/@babisut

Sucesso em Amor Perfeito, da Globo, no longa Medusa e na comédia A Sogra Que Te Pariu, Bárbara Sut também pode ser ouvida nas plataformas digitais com o álbum autoral Calor: “É um momento em que tenho me desafiado de diferentes formas, explorando a pluralidade do meu trabalho”. E ela realmente é uma mulher plural!  Com uma doçura que lhe é peculiar, também sabe bem ser firme em seus valores. E se reergue diante de qualquer circunstância, ‘amparada’ por uma resiliência ímpar.

“Aprendi que o melhor é resistir. A resiliência é um exercício contínuo, por vezes cansativo, porém faz parte da minha forma de encarar a vida. Uma vez, comprei um Daruma [boneco folclórico japonês], que veio acompanhado da frase ‘sete vezes caio, oito vezes me levanto’. É isso. Sempre que tropeço, procuro encontrar formas novas de me levantar e encontrar graça nisso.”

Com toda essa potência e, ao mesmo tempo, muita leveza, também tem consciência da importância do autoamor: “Gosto de me cuidar, mas não faço loucuras pela estética, até porque acho bonito ver as
marcas do tempo, das minhas experiências e vivências no corpo. Às vezes, vejo fotos antigas e percebo que não tinha uma estria, uma marca ou cicatriz que tenho hoje, mas me sinto muito mais interessante agora, e isso passa também por um cuidado com a saúde mental. Espero continuar com esse olhar generoso comigo e me cuidando sempre na tentativa de ter saúde e alegria”.

Sua personagem Sônia, em Amor Perfeito, escondia um passado de muita dor pela perda do filho, e uma paixão não correspondida. Ainda assim, ela resolveu dar uma nova chance ao amor. Na vida, você acredita que para tudo há sempre uma segunda chance?

Não sei se para tudo, porque generalizações podem ser perigosas. Mas sinto que, em relação ao amor, é preciso encontrar novas formas de acreditar, porque esse é um sentimento poderoso, com um potencial de cura e de gerar conexões. A Sônia vinha de uma família muito amorosa, então acho que ela tem razões para seguir apostando no amor. Fora isso, esse sentimento sempre vale a pena, nem que seja como uma filosofia de vida, um olhar para si mesma. Amor é um ato revolucionário que precisa ser muito incentivado.

Apesar de tanto sofrimento, ela também era resiliente. Bárbara também é assim?

Com o tempo, aprendi que, em alguns momentos, o melhor é resistir. Isso me tornou mais potente e me permitiu ficar mais conectada comigo mesma. A resiliência é um exercício contínuo, por vezes cansativo, porém faz parte da minha forma de encarar a vida. Uma vez, passeando pela Liberdade, em São Paulo, comprei um Daruma, que vinha acompanhado da frase ‘sete vezes caio, oito vezes me levanto’. É isso. Sempre que tropeço, encontro formas novas de me levantar, e encontrar graça nisso.

A personagem se sentia culpada e tinha dificuldade de se acolher, por conta dos erros e frustrações do passado. Na vida real, como você percebe a importância do autoamor para a felicidade?

Uma das minhas prioridades é o cuidado com a saúde mental. Faço análise há muitos anos e vejo como isso me ajudou a me acolher mais, entender o porquê das minhas escolhas, além de mudar padrões.
Sem esse olhar para si, acredito que exista uma tendência a seguirmos repetindo os mesmos ciclos que trazem dor. E também considero importante filtrar o que é nosso e o que é do outro, para justamente
lidar melhor com os sentimentos como a culpa e a frustração.

As principais novelas da Globo eram protagonizadas por pretos: Orlando (Diogo Almeida), em Amor Perfeito, Sol (Sheron Menezes) em 'Vai na Fé' e Aline (Barbara Reis), em Terra e Paixão. Como era fazer
parte disso também, de um elenco empoderado?

Me sinto muito honrada! Esse momento é o resultado do esforço de várias gerações que lutaram por
mais representatividade e equidade. É um momento para uma mudança de mentalidade – bem além da mudança de um protagonismo. Digo que é importante ter protagonistas, mas é essencial ter elencos e equipes cada vez mais pretas. É a hora de implantar uma lógica mais alinhada com a prática da filosofia ubuntu: ‘eu sou, porque nós somos’.

Amor Perfeito se passava nos anos 1940, uma época em que as mulheres sofriam muito com as pressões da sociedade. Como você vê essa questão nos dias atuais? Ainda é preciso caminhar muito para chegar a uma sociedade menos sexista e mais igualitária?

Com certeza ainda temos muitos passos importantes para chegar a uma sociedade mais igualitária 
e livre, até porque, conforme vamos avançando, novos desafios surgem. Percebo que a novela conversava com os desafios atuais, criando um jogo entre tempos. Apresentávamos situações nos anos 1940 para que o público pudesse refletir a respeito de seus problemas e desafios presentes. As situações que Sônia enfrentava na trama, infelizmente, ainda são corriqueiras. A relação com um homem mais velho que a ilude, a engravida e a abandona exigindo um aborto... Isso ainda toca no ponto da solidão da mulher preta e da luta de classes, já que ela é abandonada por um homem branco
que não a assume e escolhe uma ‘opção melhor’, como ele mesmo diz, que é uma mulher branca e com dinheiro. Era importante o movimento de resistência da personagem enquanto reconstrói sua autoestima, reencontra o amor-próprio tão minado pela dor, para, enfim, se libertar e tomar as
rédeas de seu destino – o que pode contribuir para a transformação de muitas mulheres da vida real.

Em entrevista, você declarou: “Me identifico com um feminismo negro, decolonial”. Fale mais a respeito.

Me interesso pelas questões raciais por ser um atravessamento constante na minha vida e parte de quem eu sou. E também a forma como o racismo é criado para ser um pilar importante e articular uma lógica colonial de exploração que se mantém até hoje e organiza as relações entre pessoas e nações. A mulher preta nesse contexto é o outro do outro, como diz Grada Quilomba, e, por isso, muitas vezes, não estamos totalmente incluídas, nem em certos discursos do movimento negro, nem em discursos do movimento feminista branco. Por isso, quando me perguntam se eu sou feminista, eu faço questão de frisar esse recorte, do feminismo negro decolonial, que eu acho que melhor dá conta da minha experiência e ambições para o mundo.

Você também tem uma carreira musical e lançou o seu primeiro álbum autoral. Qual o papel da música na sua vida?

A música sempre foi muito importante para mim. Eu estou praticamente o tempo todo ouvindo música e cantando. Muitas vezes, em cenas difíceis, eu escuto ou canto uma música que me ajuda a me conectar com um sentimento mais rapidamente. Eu aprendi francês estudando em casa sozinha e uma das minhas formas de ganhar vocabulário, aprender a pronúncia de palavras e praticar a fala era
a música. Estudei e busquei minha voz de uma forma muito ampla, além da técnica vocal, passando também pelo discurso, potência política que a minha voz poderia ter e pela minha necessidade pessoal de expressão. Minha relação com a música tem muito a ver com esse nó na garganta que se faz a cada gesto de expressão.

Quem é a Bárbara longe dos holofotes?

Eu sou um camaleão! Vivo aplicada em aprender algo novo, sou muito curiosa. Amo estudar, assistir a filmes antigos, ir ao teatro, mas também adoro tomar uma cervejinha com os amigos, dançar, surfar, andar de skate... Sou essa pessoa que gosta de estar em movimento e experimentando novas formas de me conectar.

Tem uma personalidade mais aventureira ou mais ‘contida’?

Acho que eu equilibro essas duas facetas. Sou mochileira, amo viajar, experimentar coisas novas, desafios, mas sem perder de vista a minha segurança e bem-estar. E tem momentos em que só quero
estar confortável, na minha casa, vivendo a rotina e seus detalhes reconfortantes.

Como é a sua relação com o espelho? É vaidosa na medida?

Tem dias que eu gosto mais ou menos de uma coisa ou outra, mas como tudo na vida. Gosto de me cuidar, mas não faço loucuras pela estética, até porque acho bonito ver as marcas do tempo, das minhas experiências e vivências no corpo. Às vezes, vejo fotos antigas e percebo que não tinha uma estria, uma marca ou cicatriz que tenho hoje, mas me sinto muito mais interessante agora, e isso passa também por um cuidado com a saúde mental. Com o passar do tempo, espero continuar com esse olhar generoso comigo e me cuidando, na tentativa de ter saúde e alegria.