AnaMaria
Busca
Facebook AnaMariaTwitter AnaMariaInstagram AnaMariaYoutube AnaMariaTiktok AnaMariaSpotify AnaMaria

Como manter a seguranca por trás das telas? Separamos dicas de especialistas

Jovens estão conectados demais e, em muitos casos, sem que responsáveis sequer saibam onde

*Priscila Correia, do Aventuras Maternas, colunista de AnaMaria Digital Publicado em 28/04/2023, às 09h00 - Atualizado às 14h41

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Pais e responsáveis já perceberam que jovens estão conectados demais. - Annie Stratt/Unsplash
Pais e responsáveis já perceberam que jovens estão conectados demais. - Annie Stratt/Unsplash

Um estudo conduzido pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), apontou que 93% das crianças e adolescentes do país entre 9 e 17 anos são usuárias de internet, o que corresponde a cerca de 22,3 milhões de pessoas conectadas nessa faixa etária.

Os dados evidenciam o que muitas famílias já percebem no dia a dia: seus filhos estão conectados demais e, em muitos casos, sem que os pais e responsáveis sequer saibam o que os filhos estão fazendo quando estão na rede.

A pesquisa reforça, inclusive, a importância dos adultos estarem atentos às atividades online de seus filhos, estabelecendo regras claras para o uso da internet e monitorando o acesso e o comportamento das crianças e adolescentes. É importante ressaltar, ainda, que o acesso precoce às redes sem o devido acompanhamento pode expor os mais jovens à riscos como bullying virtual, exposição a conteúdos inapropriados, contato com estranhos, entre outros perigos.

Além da família, escolas e instituições públicas precisam estar preparadas para orientar e educar jovens sobre a segurança na internet. E para falar sobre o tema, e em como é urgente que nos conscientizemos para lidar com os perigos que a internet pode trazer para nossas crianças e adolescentes, que a coluna de hoje vai trazer uma série de perguntas e respostas de especialistas.

A VIDA REAL

Karina de travessia
Karina, personagem de 'Travessia', está passando o maior drama por conta da internet. (Crédito: TV Globo

Na novela Travessia, que está no ar na TV Globo, dois casos mostram problemas relacionados à Internet. O personagem Theo, que tem uma relação compulsiva com jogos online; e a Karina, que mantem contato com uma pessoa que usa programas de inteligência artificial para fingir ser outra pessoa. Os dois casos, embora ficcionais, poderiam facilmente ser inspirados em histórias reais.

Ana*, mãe de Felipe*, de 12 anos, conta que o filho começou a se viciar em jogo quando tinha por volta de 7 anos, época em que se separou do pai do menino. Em casa, o pai chamava o menino para jogar games mais infantis, como Minecraft, mas sempre com muito controle. " Quando nos separamos, eu estava em uma época de muitas viagens a trabalho e meu filho ficava mais na casa do pai. O resultado foi que, em pouco tempo, ele passou a pensar só em jogo", conta. A mãe lembra que o garoto não respondia mais quando questionado, pegando a comida e indo direto para o quarto, só para continuar jogando.

"A única coisa que controlávamos era que poderia apenas jogar os jogos para crianças. Então, eu e o pai conversamos e começamos a colocar algumas regras. Matriculamos ele em duas aulas de esportes, passou a ficar um tempo maior na escola, e em casa é proibido comer ou fazer qualquer outra atividade perto de uma TV ou qualquer tela", diz. Com o tempo, as coisas foram melhorando e o menino já interage e fez mais amigos, se divertindo como uma criança fazia antes desse mundo dos games aparecer. "No meu caso, precisamos, eu e o pai, unir forças para tirar ele dessa realidade. E como ele ainda era novinho, respeitou e obedeceu a nossas regras. Mas não sei se fosse mais velho, já adolescente, se teríamos o mesmo controle”, conta.

Já na família de Ana Clara*, de 16 anos, embora ela não tenha falado com nenhum avatar criado por inteligência artificial, o caso quase terminou na polícia. Joana*, mãe da menina, conta que a vida de todos ficou de cabeça para baixo quando ela começou a entrar em aplicativos de relacionamento. “Eu sou da época dos trotes pelo telefone e conheço bastante o comportamento de quem está de papo com alguém por quem está interessada. Então, percebi que a Ana pegava o celular e se isolava. Eu sabia que ela não gostava de jogos, mas observei que qualquer tempo livre que tinha ia direto para o quarto com o celular", relata a mãe.

Como o Instagram dela era fechado, por imposição da família, Joana estava tranquila sobre alguém se aproximar, mas não contava com o apps. Só que a adolescente se cadastrou em um desses famosos e colocou dados como se fosse mais velha – ela tinha 14 na época. Ou seja, homens adultos entravam em contato, e a menina se apaixonou por um deles. "O rapaz morava em outra cidade, tinha 20 anos, e começaram a falar pelo Whatsapp. E essa foi a minha sorte, já que pelo aplicativo apenas ela tinha a senha e eu nunca saberia. Certa vez, ela estava usando o Whatsapp pelo computador e deixou aberto quando saiu. E eu fui olhar com quem estava falando, já que o comportamento dela estava tão diferente. Levei um susto. Eram fotos provocantes dos dois lados, com declarações de amor", relembra a mãe.

O susto aumentou quando ela viu que ambos estavam combinando uma viagem. "Não havia ali nada que falasse sobre viajar sem contar para os pais ou fazer algo escondido, mas obviamente que fiquei apavorada com a minha filha estar conversando com quem nunca viu pessoalmente e trocando tantos detalhes pessoais. Ela chegou em casa e eu disse que tinha lido tudo. Acho que precisamos ser honestos com nossos filhos. Ana ficou chateada, muito irritada, mas entendeu a minha posição. Orientei que, se quisesse continuar falando com o rapaz, que ele teria que aparecer para conhecermos ou que eu iria até a polícia para registrar o caso como pedofilia, já que ela é menor e ele estava mandando fotos inapropriadas. Ele sumiu depois disso. Ou seja, provavelmente, se tudo tivesse continuado, teríamos sérios problemas”, diz.

Casos como o de Ana e Felipe são cada vez mais comuns e precisam de atenção redobrada dos responsáveis. Sobre a novela, especificamente, segundo a psicóloga clínica Tatiane Paula, quando falamos de padrões de dependências e compulsões, estamos tratando de comprometimento da área córtex pré-frontal ventromedial, responsável pela tomada de decisão, regulação das emoções e memória. “O jogador compulsivo tem uma maior atividade da área do sistema de recompensa, que libera estímulos aumentados de dopamina, que é um hormônio do prazer. E em alguém viciado em jogos, os níveis de dopamina são muito maiores do que em pessoas que não são compulsivas e/ou dependentes de jogos”, explica Tatiane.

Mas como diferenciar a diversão da compulsão? “O hobby passa a ser um vício quando a pessoa deixa de cumprir atividades rotineiras e tem estreitamento de repertório. As atividades da pessoa que joga de forma compulsiva passam a ser apenas em relação ao prazer imediato que os jogos proporcionam. A vida desse indivíduo passa girar em torno do prazer imediato e não há mais interesse nas atividades que envolvam resultados de longo prazo”, pontua.

Para a educadora e escritora Carolina Delboni, especialista no comportamento adolescente e autora do livro “Desafios da adolescência na contemporaneidade”, o ponto de atenção para o qual os pais precisam ficar de olho em relação a crianças e adolescentes que costumam jogar online, é quando o filho deixa de fazer outras coisas que são esperadas para a faixa etária e só quer jogar. “Quando ele deixa de socializar com amigos, não tem interesse em outros assuntos, não quer parar para comer... quando o jogo ganha o cotidiano do adolescente. Normalmente, ele fica mais agressivo e isso é fácil de perceber porque é uma agressividade cotidiana, de novo. Quando um comportamento passa a ser diário é sinal que temos um problema. O que fazer? Dialogar. Buscar oferecer outros programas, outros eventos. Estabelecer tempo de uso dos jogos, que não pode ser livre e isso vale desde a infância. Se os pais não são capazes de controlar o iPad da criança, o que dirá o celular dos adolescentes. E, num último caso, quando se torna vicio, é preciso buscar ajuda de um profissional”, esclarece.

O QUE FAZER?

theo travessia
Theo, personagem viciado em jogos de 'Travessia'. (Crédito da Imagem: TV Globo)


Tomar uma atitude em relação aos nossos filhos quando percebemos que algo não está bem é fundamental. Entretanto, como pais, sabemos que a teoria é sempre mais fácil que a prática. Afinal, quantos de nós já não falamos “se fosse comigo, ....”. Mas, quando se trata da segurança e saúde física e mental dos nossos filhos, é preciso, sim, ser forte e enfrentar a situação de frente. E para ajudar nessa tarefa, conversamos com diferentes profissionais que podem nos ajudar nesse caminho. Abaixo, um bate-bola sobre as principais aflições e questionamentos de mães e pais sobre como lidar com essa situação.

Aventuras Maternas - Muitos pais gostam de conhecer os amigos dos filhos. Porém, nem sempre os filhos querem apresentá-los. Como equilibrar essa equação? Como impor conhecer os amigos dos filhos sem que entremos na sua privacidade?

Carolina Delboni, educadora e escritora, especialista no comportamento adolescente - Não existe a possibilidade de “impor” um filho adolescente a apresentar seus amigos aos pais, é uma construção. Essa relação precisa ser construída para que o filho ganhe segurança e confiança de levar amigos pra casa. Isso significa que, quando acontecer, os pais precisam respeitar o espaço do filho com os amigos e isso significa não ficar entrando no quarto toda hora, não ficar fazendo perguntas, não ficar contando intimidades do filho... para que o adolescente saiba que não vai “passar vergonha” e se sinta seguro em fazer um novo convite e assim por diante.

Aventuras Maternas - Como abordar os perigos da internet com os filhos sem que fiquem assustados ou curiosos demais?

Rafael F. Silva, psiquiatra - Não podemos negar que a internet tem feito cada vez mais parte do nosso dia a dia. Tanto para adultos quanto para crianças. A facilidade de acesso em qualquer local e em diversos dispositivos fez com que nossas vidas estejam "online" o tempo todo. Porém, com todo esse poder de comunicação que a internet proporciona, também temos vários riscos. A facilidade de acesso e a possibilidade de divulgação de conteúdo de forma anônima, sem filtro ou sem qualquer compromisso com a realidade de fato, pode gerar dúvidas, angústias e perigos. Não vejo como possibilidade real que nos dias de hoje uma criança não tenha acesso à Internet ou que os pais estejam 100% do tempo presentes e controlando o conteúdo, mas conversas sobre os potenciais riscos, a restrição de alguns sites com uso de alguns aplicativos e a observação do comportamento da criança durante o acesso à Internet são pontos essenciais para a segurança.

Aventuras Maternas - Para os pais que descobrem que os filhos se comunicam com pessoas que não conhecem pessoalmente, o que fazer? Afinal, fazer amizades pela internet tem se tornado cada vez mais comum. Até onde é possível controlar os filhos?

Carolina Delboni, educadora e escritora, especialista no comportamento adolescente - De novo, não é possível controlar e sim estabelecer uma relação de confiança e parceria. Uma criança você controla, você pega pelo braço e leva para um lado ou outro. Um adolescente não. Se você não construir uma relação de confiança e parceria com ela, vai perde-lo nessa fase porque não existe controle, existe troca. É preciso sempre dialogar, informar, falar sobre os perigos da internet, das diferenças de relações q existe dentro do mundo virtual, de como eles podem ficar em alertas, mostrar exemplos, casos, contar coisas, dividir as angustias e os medos... é preciso se dispor a se relacionar de maneira franca e aberta com o adolescente para que, quando ele estiver diante de uma situação questionadora, duvidosa, ele seja capaz de perceber/ identifica (porque você o orientou frequentemente) e daí seja capaz de dividir/ pedir ajuda (porque você abriu a porta do diálogo e da confiança).

Aventuras Maternas - As redes sociais estão presentes na vida até de crianças. E o controle nem sempre acontece como deveria. O que fazer, na prática, para evitar problemas?

Carolina Delboni, educadora e escritora, especialista no comportamento adolescente - Dar limite. Controlar quando o filho é criança. Os pais têm sido controlados pelos filhos desde muito pequenos e o papel é outro, mas é preciso entender esse lugar de autoridade e exercer o papel de educador, de adulto.

Aventuras Maternas - Você fala sobre quando crianças e adolescentes não encontram seus pares pessoalmente, podem acabar procurando na internet e, por vezes, ter problemas. Qual solução você sugere para isso?

Carolina Delboni, educadora e escritora, especialista no comportamento adolescente - Não é uma sugestão simples ou simplista. Ela tem várias camadas e uma delas é prestar atenção nas relações sociais do filho antes que ele chegue neste lugar. Procure saber o que anda acontecendo na vida dele, como andam as relações na escola (faz quanto tempo que você não marca para conversar com a orientadora da escola?), estimule que ele faça programas com os amigos... As relações sociais na adolescência são vitais para um desenvolvimento saudável e para a descoberta e construção da própria identidade deles. É preciso ficar atento aos filhos, aos comportamentos, as relações e se você perceber que ele só se relaciona pelas redes sociais, vai precisar buscar ajuda. Converse na escola, peça ajuda para a orientadora, procure amigos mais próximos e peça ajuda para tira-lo de casa e converse. Sempre converse. Fale sobre sua preocupação, seus medos, divida com ele o que você esteja sentindo.

Aventuras Maternas - A forma que adultos, adolescentes e crianças absorvem uma mesma notícia é diferente, certo? Pode falar um pouco mais sobre isso?

Carolina Delboni, educadora e escritora, especialista no comportamento adolescente - Claro! Cada um tem uma maturidade e um nível de vivências e experiências completamente diferentes, o que faz com que cada um viva e interprete uma situação dentro das capacidades e conhecimentos que ela tem até aquele momento.

Rafael F. Silva, psiquiatra - Certo. Quando recebemos uma informação ou uma notícia, ela passa inevitavelmente por um "filtro" de todas as nossas experiências de vida, boas e ruins, vivências, traumas, além da nossa bagagem de conhecimento sobre o tema.  Por esse motivo, fica claro que a compreensão de um adulto sobre certo tema não será a mesma que uma criança. Por isso a importância do diálogo, da escuta, para que assim possamos entender melhor o que foi absorvido daquele conteúdo pela criança e possamos ter uma comunicação realmente efetiva.

Carmela Silveira, psicóloga clínica da Santa Casa de São José dos Campos - Sim, exato. A forma é diferente e por isso os pais necessitam tomarem seu papel. Essa é a postura: pais são pais. Através da autoridade de pais, as crianças se sentem mais seguras para pedirem socorro. Não se pede socorro ao amigo. Se pede socorro a quem se confia a vida. O amigo da mesma idade tem as mesmas ideais.

Alexander Bez, psicólogo e escritor - Sim. Principalmente porque a mente das crianças ainda não tem a formação adequada para absorver os conteúdos vistos, não os assimilando. Por isso, os pais devem ter o tato para evidenciar sempre algum perigo, com uma linguagem leve e clara. Estar atento à pedofilia e aos movimentos que possam indicar isso é muito importante, orientar a criança para nunca esconder nada dos pais. Ter um diálogo amplo e preciso, conversar com a criança de acordo com seu tempo cronológico é fundamental. Filtrar os assuntos e conteúdos impróprios auxilia também uma formação psico-intelectual, sem forçar um avanço na idade cronológica, deixando que as funções executivas do cérebro dialoguem com a idade atual.

Aventuras Maternas - Quais traços crianças e adolescentes que ficam muito tempo na internet apresentam que podem sugerir uma tendência suicida? O que os pais devem ficar atentos?

Rafael F. Silva, psiquiatra - Um dos principais sinais de alarme é a mudança de comportamento, que pode ocorrer tanto no ambiente familiar quanto escolar. Tendência suicida não seria exatamente o melhor termo, mas podemos identificar alguns sintomas depressivos comuns em crianças, como isolamento social, irritabilidade, sentimento e discurso de menos valia (quando a criança fala apenas de seus defeitos, se colocando como peso ou inútil), queda do desempenho escolar. Esses são pontos importantes que, ao serem identificados, a orientação é buscar ajuda profissional para uma avaliação.

Carmela Silveira, psicóloga clínica da Santa Casa de São José dos Campos - Agressividade na escola, com os pais, silêncio e olhar cabisbaixo, visita a sites depressivos e que " ensinam" como cessar a vida... Por isso a necessidade de bloquear sites perigosos. Os pais devem ficar atentos a toda e qualquer mudança comportamental que os adolescentes apresentem: amigos novos; roupas que, até então, não usavam; palavreado diferente do usual; mudanças nas regras familiares etc.

Alexander Bez, psicólogo e escritor - Toda mudança de conduta que evidência, em uma primeira instância, o isolamento social, na sequência a diminuição alimentar, afastamento da família e amigos, e em especial, a verbalização nesse sentido. A atenção deve ser focada nesses pontos e/ou em quaisquer outros que indiquem posturas antagônicas as praticadas habitualmente. Contudo, não há suicídio sem depressão ou algum outro transtorno psicológico, ter o diagnóstico é fundamental para os tratamentos corretos.

Tatiane de Paula Souza, psicóloga clínica cognitivo comportamental especialista em saúde mental – Os sintomas mais observados são isolamento social, prejuízos no desempenho escolar, crises de ansiedade de ausência de conexão, preocupação extrema em relação a estar conectado (quando desconectado há inabilidade em lidar com frustração, seguido de sintomas emocionais graves de abstinência, como irritabilidade, oscilações, insônia), diminuição do interesse por atividades de vida diária. Caso os pais percebam riscos, é importante passar por uma avaliação profissional para identificar sintomas de dependências e compulsões e uma avaliação da saúde mental do indivíduo, para entender o diagnóstico e, assim, conduzir para o melhor tratamento.

Aventuras Maternas - E uma tendencia homicida? O que os pais devem ficar atentos?

Rafael F. Silva, psiquiatra - É muito difícil falar em tendências homicidas em crianças, até porque o senso crítico, noção de causa e consequência ainda não está totalmente apurado antes da idade adulta. O que vemos hoje em dia são crianças e jovens que estão formando suas personalidades baseados em padrões irreais, em um universo virtual onde não existem consequências bem definidas, um ambiente em que, ao primeiro sinal de incômodo com um conteúdo, tudo que precisa ser feito é rolar a página. Esse padrão acaba criando indivíduos com pouca habilidade em lidar com frustrações e que, quando se deparam com uma situação que os desagradam na vida real, acabam agindo de maneira disfuncional.

Alexander Bez, psicólogo e escritor - O isolamento social sempre vai indicar uma condição patológica, independente da situação. Pontos importantes de observar são, a atração em relação a conteúdos de violência e agressividade, violência com animais e interesses nesse tópico, e também a falta de sentimentos nos sofrimentos alheios. Perceber se o filho está integrado em algum grupo radical ou extremista é importante para alertar e fazê-lo se afastar. Pessoas com tendências homicidas não costumam verbalizar os desejos, por isso é muito importante também prestar atenção em alguma violência mais presente e em um padrão mais frequente da prática dessa violência, essa questão será inerente na hora do diagnóstico.

Carmela Silveira, psicóloga clínica da Santa Casa de São José dos Campos – Agressividade, noites em claro no computador; conversas em sites inapropriados.

Aventuras Maternas - Como o contato com a internet sem limites pode afetar a vida dos nossos filhos?

Rafael F. Silva, psiquiatra - O uso abusivo da Internet pode afastar cada vez mais os indivíduos do "mundo real" e dos padrões de convívio, tendo, então, o mundo virtual como referência principal onde, como falamos anteriormente, existem padrões irreais de comportamento, sucesso, entre outros temas.

Carmela Silveira, psicóloga clínica da Santa Casa de São José dos Campos - Pode afetar de forma assustadora. Existem os " predadores virtuais", que aguardam qualquer situação como postagens infantis e abertura de uma conversa " inocente" para envolver nossos adolescentes.

Alexander Bez, psicólogo e escritor - Pode afetar de maneira catastrófica se não administrado, impulsionando tendências que estavam adormecidas a saírem desse contexto mental dormente para uma postura ativa, manifesta. Desencadeando uma tendência ainda não desenvolvida, aumentando a imaturidade, o que pode formar pessoas carentes e deficientes na formação familiar, sem personalidade e opinião própria, tudo isso pode influenciar condutas violentas e transtornos psicológicos, como depressão, ansiedade, entre outros.

Tatiane de Paula Souza, psicóloga clínica cognitivo comportamental especialista em saúde mental – A exposição sem supervisão pode colocar em risco não apenas a criança/adolescente, mas toda a família. Por isso, é importante explicar que crimes e abusos existem na internet tanto quanto na vida real. Cyberbullying, exposição a conteúdos impróprios para a idade, publicação de informações privadas, grooming, abuso e exploração sexual, haters etc são algumas situações “comuns” no ambiente virtual. E crianças e adolescentes não têm autocrítica suficiente para discernir algumas situações. Além disso, equilibrar as atividades no ambiente virtual com a “vida real” é extremamente importante para o desenvolvimento da capacidade cognitiva dos menores. É fundamental lembrar, ainda, que jogos e livre acesso sem supervisão podem causar prejuízos no desenvolvimento sistema nervoso central.

Aventuras Maternas - Para crianças e adolescentes que costumam jogar online, quando é o ponto de atenção? Quais comportamentos “avisam” sobre esse limite? E o que fazer se chegar a esse ponto?

Rafael F. Silva, psiquiatra - A princípio, não há problema em jogar online. A situação passa a ficar preocupante quando esse hábito começa a trazer prejuízos para as demais tarefas do dia a dia, como desempenho escolar e em casos mais extremos, até comprometimento de higiene pessoal e alimentação.

Alexander Bez, psicólogo e escritor - Essencialmente o tempo desprendido. Como a abstenção de tarefas e obrigações, as preterindo em função de privilegiar a atividade online. Os pais devem impor limites de tempo desde cedo, para que não vire uma situação incontrolável.

Aventuras Maternas - A internet está cheia de conteúdos sobre assassinatos, pedofilia e outros crimes. Casos assim, muito divulgados, podem realmente incitar a violência? Fale sobre isso.

Rafael F. Silva, psiquiatra - A Internet deu espaço a qualquer indivíduo que esteja disposto a compartilhar algo, independentemente da intenção dessa publicação. Muitas vezes postagens sensacionalistas acabam ganhando grandes repercussões, causando medo, ansiedade não só nas crianças, mas em toda a população. A diferença é que os adultos, teoricamente, devido a maior experiência de vida, dispõem de mais ferramentas psiquicas para lidar com seus medos e angustias e essa habilidade emocional adquirida ao longo da vida é essencial para lidar com esses momentos. Já as crianças estão em um período em que estão formando suas personalidades e aprendendo a lidar com emoções, não tendo tantas ferramentas ou habilidades emocionais suficientes para lidar com certos assuntos, podendo muitas vezes agir de forma disfuncional.

Alexander Bez, psicólogo e escritor - A influência só se confirma caso a criança / adolescente, ou até mesmo o adulto, já tenham algum transtorno específico. A violência assim, como a agressão, são traços de personalidade e podem (quando realmente diagnosticados), ser impulsionados e/ou piorados por esses estímulos externos. Para aquelas crianças que não têm esses psicodiagnósticos ou alguma pré-tendência mental, e/ou que também não têm exemplos de violência dentro de casa, não vivam em um ambiente violento e sim com respeito, amor, empatia e todas as bases de uma boa educação, esses conteúdos serão inócuos e muito provavelmente criticados por elas.

Carmela Silveira, psicóloga clínica da Santa Casa de São José dos Campos - Sim, casos muito divulgados podem fazer com que a criança comece a entender que aquilo é natural. As condutas precisam ser muito bem conversadas dentro de casa. É de dentro de casa que se sai a estrutura para que essa criança tenha condições de ir para a escola e conversar sobre os problemas, mas a base precisa vir de casa. A minha preocupação hoje em dia é que se está terceirizando a educação dos filhos, deixando para as escolas um ponto muito importante, da família. E essa família se modificou e está tudo bem com relação a isso. Mas o que se necessita é que toda e qualquer educação dessas crianças, mesmo com pais diferentes, padrastos, mães sozinhas, pais sozinhos, foque no respeito. As opiniões precisam ser idênticas, para que essa criança tenha uma estrutura familiar, mesmo que em casas diferentes. Quando isso não existe, essa criança começa a ficar, como a gente chama, “no limbo”, ela fica suspensa e não sabe o que pensar.

Tatiane de Paula Souza, psicóloga clínica cognitivo comportamental especialista em saúde mental – É importante que os pais mantenham um diálogo aberto com os filhos sobre alguns assuntos mais urgentes, especialmente os que envolvem violências. É preciso dizer que muitos crimes que ocorrem virtualmente são, na sua grande base, uma extensão de crimes que ocorrem na vida fora das telas (pessoas que trocam fotos de crianças em situações inapropriadas, por exemplo, normalmente agem da mesma forma fora da tela). Além disso, vale alertar sobre conteúdos que têm origem intencionalmente criminosa e que normalmente chegam por meio de desafios, com o objetivo de conquistar a confiança das crianças e adolescentes para a prática de crimes (alguns desses desafios, inclusive, podem ser fatais).

Aventuras Maternas - Como abordar os perigos da internet com os filhos sem que fiquem assustados ou curiosos demais?

Carmela Silveira, psicóloga clínica da Santa Casa de São José dos Campos - Em primeiro lugar, estabelecer limites e regras. Definir permissões com os filhos é de extrema importância. Ensinar as crianças como lidar com material suspeito. Ter regras em casa, como horário para acessar o computador.

Alexander Bez, psicólogo e escritor - A internet é uma realidade, felizmente ou infelizmente! Saber ter a interação correta realmente é a grande questão, para sobreviver e não cair nas inúmeras armadilhas. Esse diálogo tem que ter coerência e sabedoria, justamente para não incitar medo, como também evitar a curiosidade. Utilizar uma linguagem a qual a criança possa entender de acordo com sua faixa etária. O tópico principal a ser tratado é a confiança, entre pais e filhos, para que eles saibam que podem contar tudo para seus responsáveis, e, assim, os mesmos podem orientar o que fazer e não fazer. Outro ponto a ensinar também é não confiar tão facilmente nos conteúdos vistos, pois é um grande perigo da internet, e é nessa confiança que muitas vezes as crianças são pegas, assim como seguem tendências perigosas, ao confiar nos outros.

Tatiane de Paula Souza, psicóloga clínica cognitivo comportamental especialista em saúde mental – Primeiramente, é preciso ter em mente que todos nós, adultos e crianças, realizamos grande parte das nossas atividades na internet e, como padrão adaptativo de comportamento, diante deste cenário inevitável em que não há como cercear o acesso dos filhos, é muito importante que os pais tenham o controle sobre os eletrônicos dos filhos para monitorar riscos. É importante também que sempre usem uma linguagem condizente com a faixa etária do filho para que este entenda e reconheça os riscos citados. Outra atitude importante é definir as regras de uso e explicar o porquê dessas restrições. Estabelecer um diálogo próximo, para que a criança/adolescente encontre espaço para falar dos assuntos que tenha algum tipo de dúvida, também é importante. Além disso, especialmente para os jovens, deve-se deixar claro que crimes praticados no ambiente virtual também tem consequências reais.

Carmela Silveira, psicóloga clínica da Santa Casa de São José dos Campos destaca ainda que filhos  têm necessidade de ser observados e educados pelos pais. As regras, quando bem dadas e solidificadas em casa deixam a criança mais segura na escola, na casa do amigo, porque ela sabe que em casa ela pode conversar de tudo, que lá ela não vai ser julgada, vai receber as explicações do que é certo, do que é errado. Importantíssimo verificar computadores, celulares e limitar, dar limites. "A criança precisa de limite. E mais do que isso, a criança pede limite. Quando não dá isso, ela bate, chuta, risca o carro e olha para você e diz: Você não vai fazer nada comigo? Eu preciso de limite. O limite precisa ser dado em casa, em família e isso é algo que estamos perdendo pela terceirização da educação familiar. Os pais hoje trabalham tanto que não têm tempo de observar seus filhos e isso é muito preocupante na nossa geração. Terceirizar para as escolas a educação dos filhos é preocupante. Acredito que se colocarem mais psicólogos nas escolas, fazendo esse trabalho de link entre escola e família, vai melhorar", completa.